sábado, 20 de outubro de 2018

EM PORTUGAL JÁ NÃO HÁ HOMENS?

Reencontrei recentemente uma velha amiga que há muito abandonou a pátria. Casada com um inglês, fascinada pela cultura germânica, versão anglo-saxónica, disparou-me com a seguinte frase: «Sabes..., o problema de Portugal é que já não tem homens.» Contive o meu ímpeto inicial para lhe responder de forma patriótica e marialva, fiz uma pausa, e perguntei-lhe: «O que é que isso quer dizer?» Ela apresentou-me então, de forma prática e exemplificada — à boa maneira britânica, lá está —, a seguinte tese: «O meu bisavô, que era à época o representante da nossa família, teve três rapazes e quatro raparigas; desses rapazes, só o meu avô, que era filho-segundo, teve filhos varões: o meu pai e o meu tio, além das três tias; o meu tio, que por acaso até era mais novo, morreu solteiro e sem filhos; o meu pai teve-me a mim e às manas, que tu também conheces, e nenhum rapaz. A nossa família, ao fim de 500 anos, extinguiu-se com a morte do meu pai.» Retorqui de pronto: «As famílias não se extinguem assim, estás aqui tu e tens dois filhos lindos». Riu-se e disse-me com tom superior: «Esse é o vosso problema em Portugal. Nós em Inglaterra consideramos as famílias extintas quando ficam sem filhos varões porque é por eles que os apelidos devem passar de geração em geração.» Embora não me tenha sentido directamente atingido por esta teoria, pois, graças a Deus, a varonia está assegurada na minha família, fiquei a pensar nisto... Será esta a fonte do mal nacional?