segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

O FUTURO DAS SAUDADES ETERNAS

 
Doze anos serão muito tempo, mas quando as impressões que deles emanam sobre nós são boas nunca achamos demais.  Recordo, como se hoje fosse, esse período áureo da Blogosfera, a época em que se debatia, em vez de meramente adicionar. E de como todos nós que, conhecíamos as cintilações do espírito do João Marchante, o tentávamos convencer a criar um blogue próprio, onde, mais continuadamente, com elas nos pudesse brindar. Isto porque havia já algum tempo em que intervinha, sob a modesta protecção de uma identidade que era uma remissão literária, nas caixas de comentários das páginas dos que lhe eram mais próximos.
Entre outros, o Duarte Branquinho e o ávido sujeito que, neste momento, escreve insistiam, mais do que a correcção permitia, na tão ambicionada entrada on line, para lá das intervenções ocasionais. E, portanto, exultámos quando esta casa foi inaugurada. Nela viriam a ser tratados tantos temas elevados, com a qualidade, o espírito crítico e o entusiasmo que lhes faziam jus... Ao conhecimento e gosto, nas Artes como nas Letras, na História como na Política, dedicou nosso Autor prodígios de acuidade, em prosa concisa que, todavia, não conseguia sequer velar a erudição e o golpe de asa que a animava.
Sendo – como sou - admirador das possibilidades que o bloguismo oferece, no sentido de proporcionar companhias regulares que desenvolvam as nossas aproximações ao que nos rodeia, reconheço, não obstante, o perigo de uma tal forma de redigir ficar aprisionada no efémero, por não beneficiar das facilidades de releitura que um livro repousando na prateleira da biblioteca faculta. Também por isso, não desisto de ver passada à edição em papel uma selecção dos escritos aqui publicados que mais agradem ao seu criador.
Mas, entretanto, o perigo não é demasiado grande: quer a força própria da escrita em (muito) apreço, quer a dimensão que reforçava a capacidade de ela ser memorizada, iam ao encontro da intemporalidade que o próprio nome do espaço inculca. O brilhantismo, livre de peias, heterodoxo face ao poder dominante e fortemente personalizado, com que os temas foram sendo abordados sempre me fez lembrar o que os denominados Anarquistas de Direita franceses corporizavam, pese a vinculação do Dono da Casa à doutrinação Católica e a polidez natural que se lhe reconhece o afastarem dos aspectos mais rebarbativos de semelhante plêiade…
Saudade foi o nome mágico e pleno de sucesso com que nós, portugueses, conferimos às recordações sobre as quais incidia o nosso afecto e de que queríamos alguma acção sobre a nossa vida psíquica. Ao eternizar o vector sentimental na direcção do porvir, estamos a esterilizar a componente de resignação que implicasse e a substituí-la pela Virtude, no seu melhor também Teologal, da Esperança. Eis a significação mais radical que consigo retirar da designação Eternas Saudades do Futuro, a de, em total convergência com o primeiro dos «QUATRO QUARTETOS» eliotianos, reconhecer as limitações da linearidade temporal na nossa enformação pessoal, mas não deixando que elas nos tolham. De forma a escaparmos ao dilema de Gena Rowlands, no final de «UMA OUTRA MULHER», quando se interrogava sobre «se uma recordação é algo que se tem, ou algo que se perdeu». Graças à dúzia de anos que ora festejamos, mantemos sempre presente toda uma intervenção que, antes, nos cativou e, decerto, nos continuará a potenciar. O que leva a que, ao endereçarmos os devidos parabéns, estejamos a significar um monumental Obrigado! Bem hajas, João, mais do que o prazer, tenho a confessar o orgulho de Contigo ter travado combates comuns.

Paulo Cunha Porto