O FUTURO DAS SAUDADES ETERNAS
Doze anos serão muito tempo, mas quando as impressões que deles emanam
sobre nós são boas nunca achamos demais.
Recordo, como se hoje fosse, esse período áureo da Blogosfera, a época
em que se debatia, em vez de meramente adicionar. E de como todos nós que,
conhecíamos as cintilações do espírito do João Marchante, o tentávamos
convencer a criar um blogue próprio, onde, mais continuadamente, com elas nos
pudesse brindar. Isto porque havia já algum tempo em que intervinha, sob a
modesta protecção de uma identidade que era uma remissão literária, nas caixas
de comentários das páginas dos que lhe eram mais próximos.
Entre outros, o Duarte Branquinho e o ávido sujeito que, neste momento,
escreve insistiam, mais do que a correcção permitia, na tão ambicionada entrada
on line, para lá das intervenções
ocasionais. E, portanto, exultámos quando esta
casa foi inaugurada. Nela viriam a ser tratados tantos temas elevados, com
a qualidade, o espírito crítico e o entusiasmo que lhes faziam jus... Ao
conhecimento e gosto, nas Artes como nas Letras, na História como na Política,
dedicou nosso Autor prodígios de acuidade, em prosa concisa que, todavia, não
conseguia sequer velar a erudição e o golpe
de asa que a animava.
Sendo – como sou - admirador das possibilidades que o bloguismo oferece,
no sentido de proporcionar companhias regulares que desenvolvam as nossas
aproximações ao que nos rodeia, reconheço, não obstante, o perigo de uma tal
forma de redigir ficar aprisionada no efémero, por não beneficiar das
facilidades de releitura que um livro repousando na prateleira da biblioteca
faculta. Também por isso, não desisto de ver passada à edição em papel uma
selecção dos escritos aqui publicados que mais agradem ao seu criador.
Mas, entretanto, o perigo não é demasiado grande: quer a força própria
da escrita em (muito) apreço, quer a dimensão que reforçava a capacidade de ela
ser memorizada, iam ao encontro da intemporalidade que o próprio nome do espaço
inculca. O brilhantismo, livre de peias, heterodoxo face ao poder dominante e
fortemente personalizado, com que os temas foram sendo abordados sempre me fez
lembrar o que os denominados Anarquistas
de Direita franceses corporizavam, pese a vinculação do Dono da Casa à
doutrinação Católica e a polidez natural que se lhe reconhece o afastarem dos
aspectos mais rebarbativos de semelhante plêiade…
Saudade foi o nome mágico e
pleno de sucesso com que nós, portugueses, conferimos às recordações sobre as
quais incidia o nosso afecto e de que queríamos alguma acção sobre a nossa vida
psíquica. Ao eternizar o vector sentimental na direcção do porvir, estamos a
esterilizar a componente de resignação que implicasse e a substituí-la pela
Virtude, no seu melhor também Teologal, da Esperança. Eis a significação mais
radical que consigo retirar da designação Eternas Saudades do Futuro, a de, em
total convergência com o primeiro dos «QUATRO
QUARTETOS» eliotianos, reconhecer
as limitações da linearidade temporal na nossa enformação pessoal, mas não deixando
que elas nos tolham. De forma a escaparmos ao dilema de Gena Rowlands, no final
de «UMA OUTRA MULHER», quando se
interrogava sobre «se uma recordação é
algo que se tem, ou algo que se perdeu». Graças à dúzia de anos que ora
festejamos, mantemos sempre presente toda uma intervenção que, antes, nos
cativou e, decerto, nos continuará a potenciar. O que leva a que, ao
endereçarmos os devidos parabéns, estejamos a significar um monumental Obrigado! Bem hajas, João, mais do que o
prazer, tenho a confessar o orgulho de Contigo ter travado combates comuns.
Paulo Cunha Porto
Paulo Cunha Porto
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