segunda-feira, 29 de março de 2021

COM UM BRILHO GRANDE NOS OLHOS

Recebi de repente a violenta notícia da partida para sempre da Mónica. 
Veio-me de imediato à mente a sua elegante silhueta. Ora delineada por um classicismo sóbrio, ora marcada por um vanguardismo chique. De uma ou outra forma, o denominador comum era o seu irrepreensível bom gosto. Aliava a essa sedutora presença a arte de bem conversar. Conseguia fazê-lo horas seguidas, sem perder o fôlego nem o fio à meada. E com um permanente brilho nos negros olhos aveludados, o qual se tornava ainda mais intenso quando parava para encarar e escutar alguém que lhe tinha despertado a atenção pela pose ou pela palavra. Também num ápice se levantava e lançava numa pista de dança para bailar noite dentro, de preferência até ao raiar da aurora. A sua apaixonada e apaixonante alegria de viver fascinava quem com sensibilidade tivesse a sorte de com ela se cruzar. Requintada conhecedora do que de melhor havia no mundo, incluindo os lugares mais secretos, aqui e em toda a parte, pisava com igual estilo o palácio e a taberna. Mais além ainda, era senhora duma desprendida generosidade, sinal distintivo do seu nobre carácter. Por fim, o seu sexto sentido (sim, existe) revelava uma intuição para pessoas e coisas que era da ordem da magia.