terça-feira, 12 de julho de 2022

NÃO HÁ BRANCO NOS FILMES A CORES

A esteticamente radical afirmação é de Marguerite Duras. Querida antiga aluna minha de Cinema fez-me chegar de Barcelona uma série de imagens de uma exposição consagrada à extraordinária autora francesa, com fotografias, filmes, vídeos e textos variados. Saltaram-me à vista vários pensamentos desta sobre o valor do branco, essa erradamente por muitos chamada cor, que na verdade resulta da reflexão de todas as cores. Duras confessa que foi um amigo japonês (quem conhece a sua obra imagina de quem estamos a falar) que lhe mostrou a brancura como ela nunca tinha visto. Foi num jardim, à luz da Lua Cheia. Marguerite viu, assim, pela primeira vez, a alvura, em todo o seu esplendor, nas margaridas e nas rosas brancas desse jardim. 
Noutro texto redigido por si, a escritora franca avança para o Cinema (também realizou filmes e vídeos, quase sempre a partir da sua obra literária) e cunha duas frases que adquirem todas elas o valor profundo de um aforismo. Reza assim, numa tradução minha ao correr das teclas: «Não há branco nos filmes a cores. A verdadeira brancura - aquela da neve, aquela da espuma do mar, aquela das flores brancas nas noites de Lua Cheia - só é dada nos filmes a preto e branco. 
O que quero partilhar com os meus queridos leitores, além destas sábias reflexões da Duras, é o belo acaso do momento da chegada a mim destes textos ter coincidido com a minha primeira exposição de fotografia a preto e branco (depois de 12 a cores, ao longo de 25 anos), onde - finalmente - o branco e a luz são, de facto, o leitmotiv. Que o diga a personagem tenista, interpretada pela R., desta minha nova série agora exposta. Mas talvez a L., que me presenteou com todos estes mágicos documentos, tivesse pressentido isso, lá no outro extremo da Península, e tudo isto seja complementar. A ver vamos...