LISBOA, CRÓNICA POÉTICA (7)
E pensava
enquanto acariciava Lisboa
num vagaroso mas vigoroso travelling
registando uma cidade deserta e destruída
em plano-sequência mental
que aquele chauffeur de táxi
mudo e velho
mas que sabia captar
apreciar e classificar
o seu aroma
como ninguém
era ainda a única pessoa que tinha pedalada para a acompanhar
nas suas deambulações
de vinte e quatro horas diárias
como hoje e sempre
depois do matinal banho de emersão a céu aberto
ritualizando a redenção
e da habitual dança solitária ao nascer do Sol
dando corpo ao manifesto
transportando-a ele sucessivamente em direcção
às leituras privadas a pedido
de manhã e à tarde
dando voz ao manifesto
às subidas aos arranha-céus
ao cair da noite
procurando um porto de abrigo
na normalidade dos lares
aos bailados eróticos públicos
num clube de streap-tease
profanando o corpo
às actuações como vocalista
num clube de rock
profanando a voz
à prática compulsiva de sexo
com desconhecidos arrancados à noite
de novo em casa
ritualizando o amor e a morte
ao banho no lago
ritualizando a recuperação da alma.
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