DA GENEALOGIA APLICADA
Há uma boa dúzia de anos, bebia uma imperial de fim de tarde na esplanada sobre a praia quando reparei no velho banheiro sentado no muro sobre a mesma com um pequeno grupo de antigos companheiros de faina marítima que o tinham vindo visitar.
De entre eles, há um que, em tom desconfiado, atira:
-- Ouve lá, eles aqui tratam-se todos por tio e tia!?...
O velho banheiro, que tem sempre réplica para tudo, mesmo quando não sabe a resposta, abarca toda a praia com um grande gesto e remata:
-- É que eles aqui são todos primos.
Lembro-me que lancei uma gargalhada interior, selada com um golo de deliciosa cerveja gelada.
Passado todo este tempo, fruto das minhas consabidas investigações histórico-genealógicas, estou em condições de afirmar (salvo uma ou duas excepções, as quais, como é consagrado, confirmam a regra) o seguinte: naquela famosa praia do Oeste, as famílias que lá veraneiam, acantonadas desde sempre em toldos e barracas, são, de facto, mais ou menos remotamente, parentes entre si; e, mais interessante ainda, além de outras ligações, todas entroncam em antepassados comuns daquela zona da histórica província da Estremadura.