sexta-feira, 30 de novembro de 2012

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 44

A carteira nem ousou contradizer. Hoje na sua crónica manda a História. A nossa História. A História do 1º de Dezembro de 1640, um dos seus dias Maiores, justamente o que nos devolveu a soberania. E um dos que tão pressurosamente achou este Governo poder descartar com desdém, como um qualquer dia útil de uso corrente sem mais significado do que as modas dos hodiernos dias mundiais de insignificâncias.

Porventura pensaram não se coadunar a celebração desse dia com a progressiva e inexorável perda da soberania que os nossos egrégios tão valorosamente conquistaram.

A História nestes tempos é só a da memória curtíssima, inferior a três meses se possível, para que as mentiras e traições se volatilizem na manga mágica desta política e sociedade indignas. Tudo o resto, todo o passado se destina ao crematório instituído com o fito da destruição das memórias de um povo.

Mas enganam-se. Ainda não chegámos a essa página do livro de ficção tornada realidade. Ainda preservamos a memória. Ainda não nos esvaziaram totalmente. Somos portugueses e sabemos sê-lo.

Podemos nós esquecer o dia que permitiu que Portugal continuasse a ter o seu lugar próprio na História Mundial?

Podemos nós esquecer o esforço dos nossos ancestrais para nos devolver as antigas liberdades que Espanha prometera preservar, já esquecera e estrangulava?

Querem um povo amorfo, dócil e dúctil. Querem desmemoriar-nos. Querem destruir o que resta da nossa dignidade como povo.

Um povo sem passado, sem memória, sem História, só conhece a servidão.

Mas nós temos passado, memória e História. Não nos calaremos perante Miguéis de Vasconcelos nem Condes-Duques de Olivares de paragens mais a norte.

Lembraremos todos os dias a estes senhores para quem as palavras soberania, pátria ou nação nada dizem, que estamos aqui, nós, os Portugueses que não esquecem.

Em união, do mais pequeno ao maior, do mais fraco ao mais forte, de Norte a Sul, tal como em 1640, digamos SIM ao 1º de Dezembro, celebremos este dia, celebremos Portugal!

Leonor Martins de Carvalho

domingo, 25 de novembro de 2012

PONTO DE VIRAGEM

Os meus leitores habituais sabem bem que nunca falo da actualidade. A espuma dos dias nada traz de bom e serve apenas para esconder os temas realmente importantes. Sem quebrar esta minha convicção não posso deixar de destacar um assunto latente. Este ano e por estas semanas estamos a assistir a uma súbita convergência de muitos verdadeiros portugueses que durante décadas andaram desavindos. Monárquicos e republicanos e não só. O facto deste miserável sistema em que vivemos nos ter tirado o mais simbólico de todos os feriados nacionais fez faísca e gerou um impulso. Estou profundamente convencido de que o 1.º de Dezembro será um ponto de viragem. Tenho a certeza de que nada voltará a ser como dantes.

sábado, 24 de novembro de 2012

DEFENSORA DO 1.º DE DEZEMBRO

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 43

Já deram por isso, claro. A carteira é pior que sombra e segue-me onde quer que vá em trabalho, embora chegada ao destino tenha programa diferente. Um programa bem mais divertido com certeza mas desconheço-o, porque a carteira invoca segredo de justiça sem sequer se dignar informar-me a que processo se refere afinal. Saberei depois de sussurrado a jornalistas.

Essas viagens já levaram a duas crónicas escritas em aviões embora o da volta não conte. É estar à porta de casa.

Esta será a primeira crónica completamente escrita em exílio. Não há escolha possível e salta então a saudade para a linha da frente.

Não quero saber das definições esdrúxulas da saudade. Limito-me ao que sinto e parece-me simples. As saudades que provoca a lonjura, pelo menos. Não vou entrar nas outras.

Que fique claro que as saudades antecipadas são uma subespécie perfeitamente normal, não são doença rara a necessitar tratamento especial. Quando nos emocionamos nas despedidas, quando antes da partida procuramos reter na memória tudo o que nos rodeia, não é o exército das saudades em pleno campo de batalha?

Nunca estive emigrada nem nunca passei demasiado tempo fora do país. Simplesmente nunca aconteceu. Mas já senti a necessidade premente de ouvir e falar português. Uma saudade inesperada da língua, do seu som e sabor, que tive de matar sem contemplações.

Como todos, se tiver de emigrar, parto. Também não desisti ainda daquelas resoluções de adolescente, de voltas ao mundo em barco à vela, de estadias sem tempo nos mais longínquos locais. Em qualquer caso sei que a bordo segue a saudade.

Uma aflição, uma sensação indefinida que rebenta em torrente despoletada por uma qualquer insignificância.

Saudade da família, dos amigos, das caras, das vozes, das conversas, dos disparates, das meiguices. Mais tudo o que a memória nos vai deixando na baixa-mar.

Saudade da língua, da gente, do mar, da cor do mar, do sabor a mar, do cheiro a mar, do horizonte, do campo, da planície, do café, da comida, do bairro, do merceeiro, da cabeleireira, das memórias, do pequeno e do infinito…

Até temos saudade dos cheiros. O cheiro a terra molhada noutro país pode até ser agradável mas não me traz qualquer recordação. E embora alguns sons me toquem na memória, são só mera aproximação.

Quando a saudade avança decidida, só apetece voltar ao colo da mãe, ao colo do país, ao aconchego da lareira, às histórias antigas, aos serões, ao barulho das ondas, à vista sem fim…

Ver Lisboa a chegar, emociona sempre. Não somos nós a regressar é ela que regressa. É também o país que regressa. Afinal, trazemo-lo sempre connosco.

Com saudade,

Leonor Martins de Carvalho

DAS DATAS NACIONAIS


Para lá dos feriados religiosos, só há duas datas nacionais: o Dez de Junho e o Primeiro de Dezembro. Para mim, é data nacional toda aquela que engrandece Portugal. O resto são epifenómenos ideológicos.
Marcello Duarte Mathias, Diário de Paris, Asa, Lisboa, 2006.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

OLHA QUE DUAS!!


[Clicar na imagem para aumentá-la. Elas valem a pena!!]

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

LITERATURA E GEOPOLÍTICA

Acabei  de reler O Egipto. Notas de Viagem, de Eça de Queiroz. Experimentei as delícias da narrativa queirosiana, o que não é novidade, pois sempre me acontece quando volto  à sua prosa. A referir neste caso específico, em primeiro lugar, é o facto deste livro pertencer a um género infelizmente raro no nosso país: a literatura de viagens. Finalmente, embora escrito em 1869, cabe aqui destacar que esta é uma obra importantíssima para compreender o papel determinante do Egipto na actual geopolítica e geoestratégia das potências mundiais. 

DOS CICLOS HISTÓRICOS OU DA NOVA RESTAURAÇÃO


Portugal tinha aos 30 de Novembro de 1640 uma situação semelhante à de hoje. Sem soberania política nem autonomia económica. Só a identidade permanecia viva, no Povo. Assim sendo, foi possível, a um grupo de quarenta bravos, fazer a Restauração da Independência Nacional, no 1.º de Dezembro de 1640. Agora, até essa simbólica data nos querem tirar, para apagar Tudo. Vamos deixar?

terça-feira, 20 de novembro de 2012

DA DEGENERAÇÃO DO SANGUE

Se os portugueses de hoje fossem feitos da mesma fibra dos que outrora foram à Índia e ao Brasil estariam agora a partir à descoberta e à conquista da Lua e de Marte. O paralelo, metafórico, é este. O paradigma, infelizmente, é outro.

DA TRADIÇÃO NO PENSAMENTO E NA ACÇÃO

Metido que ando em trabalhos de investigação sobre a minha família, confirmo uma ideia, que há muito defendo — na linha do pensamento de Maurice Barrès —, toda ela límpida e cristalina: é com a nossa terra e com os nossos mortos que mais temos a aprender nesta vida terrena. E — aqui na senda de António Sardinha — concluo: mais ainda do que no amor ao solo, o patriotismo  consubstancia-se integralmente no respeito pelos antepassados. Saibamos pois estar à sua altura, seguindo-lhes os exemplos e transmitindo-os aos nossos filhos.  

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 42

Já não sei se é a carteira que anda a contracorrente do país se este a contracorrente da carteira. Inclino-me para a segunda hipótese só porque gosto de pensar que o país tem alguma coisa contra a carteira. Sempre é mais estimulante…

Em apenas duas coisas país e carteira estão em sintonia. Na tristeza, e também na revolta, a carteira acompanha o estado de espírito geral.

Ora uma situação revoltante há muitos anos, diria séculos, tem sido a destruição do nosso património cultural. De todo o património: imóvel, móvel e imaterial. Os edifícios, os quadros, as estátuas, as tradições, o artesanato, nada tem sido poupado.

Uma destruição quase despreocupada, como se o país pudesse prescindir sem remorsos da sua memória. Como se pedras e tradições fossem empecilhos, vá-se lá saber de quê.

Culpas? Da inocente ignorância à ganância, em conversa íntima com os famosos complexos de que os portugueses não se conseguem livrar. Adoram a palavra progresso mas dão-lhe uma interpretação muito própria, que envolve camartelo e cheiro a novo.

Entre demolições, abandonos ou mesmo restauros desastrosos, é também exemplo o parecer natural colocar estores de caixa exterior em janelas manuelinas. Se a janela sempre ali esteve, porque não haveria de ser tratada como as outras? Afinal é uma janela…

Tem sido assim. Um país que até nem sofreu bombardeamentos, ao contrário de muitos outros, devia ter a obrigação moral de preservar pelo menos o património imóvel. Bem sei que não há dinheiro, mas também sei que quando o houve a rodos, parecia que património se soletrava rotundas.

Felizmente há ainda muitas e boas vontades e exemplos extraordinários em vários Concelhos, mas não chega. Ouvir as recomendações de um senhor, cheio das melhores intenções, ao povo de uma aldeia sobre como combater o bicho da madeira que ataca impiedosamente os seus santos, esclareceu-me muito sobre a necessidade de aproveitar essas boas vontades e formá-las em medidas básicas. Sobre o que podem atrever-se a mexer para preservar e como fazê-lo, e sobre o que nem podem sequer sonhar em tocar sem recorrer a peritos.

O património classificado, sob a tutela de um Instituto, normalmente apodrece enquanto espera por pareceres e dinheiro. O peso burocrático ainda é muito. O que não está classificado anda ao deus-dará, aos trambolhões entre decisões de negociatas e falta de dinheiro para manutenção.

A devastação estende-se às tradições, da língua ao artesanato, passando pela música. Houve recolhas etnográficas em várias alturas, profissionais e amadoras, mas só alguns têm vontade de tentar recuperar o que anda perdido.

Até os deliciosos sotaques se estão a desvanecer. Há procissões a morrer.

Por caprichos de moda e mais com intuitos comerciais criam-se novas tradições infelizmente algumas importadas, desprezando-se as antigas.

Poucos conseguem convencer que o artesanato pode ser uma actividade rentável se bem organizada e que artesanato não são as bonecas de pano aprendidas em revistas importadas de lavores, que podem ser muito engraçadas mas não devem fazer esquecer o artesanato local e genuíno, prestes a dar o triste pio. Não podemos querer lojas de artesanato cópias fiéis das ditas revistas e iguaizinhas do Minho ao Algarve, nenhuma com produtos de tradição portuguesa.

Já existe algum sentido de preservação ainda ténue e por vezes mal direccionado. Parece primordial a formação das populações para que, detendo o conhecimento sobre o seu património, melhor o possa defender.

Neste tempo pode parecer a alguns de certa forma fútil ou a despropósito trazer este assunto à crónica. Não há tempos melhores ou piores. Todos os tempos são bons para não deixar esquecer o património, lembrar que também nós o somos e calculem que para a preservação, pelo menos do imaterial, nem dinheiro é preciso! Que possamos ajudar a salvar alguma coisa já era bom.

Ao deixar desfazer a memória, desfaz-se o país e nós nele.

Leonor Martins de Carvalho

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

TRÊS ANOS DE SAUDADE

Faz hoje três anos que o Pai deixou este mundo. Deus, Pátria e Família perderam assim um fiel servidor. Entretanto, dou por mim no dia-a-dia a ter instintivamente pequenos gestos seus e até a minha caligrafia se tem vindo estranhamente a assemelhar à sua. Também de forma intuitiva acontece-me cada vez mais citar frases suas. Enfim, mistérios da hereditariedade e do espírito. Tradição é isto. E é por isso que aqui estamos.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

NOVES FORA, NADA?

Será que os descendentes dos que fundaram Portugal e dos que fizeram a Pátria crescer ao longo de nove séculos durante trinta gerações a fio vão assistir impávidos e serenos ao País a ser afundado?
Eu, não. Não me conformo, nem me calo.

PINTOR PARA HOJE E SEMPRE

 Avant la Corrida / Before the Bullfight, 1912
AMADEO DE SOUZA-CARDOSO (1887 — 1918)
Óleo sobre Tela, 60 x 92 cm.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

DA ACÇÃO E DO PENSAMENTO

Pior ainda do que não viver de acordo com as próprias ideias é não ter ideias próprias.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

DA REPETIÇÃO

Havendo alguns casos em  possa parecer um sintoma de senilidade, quero crer que a repetiçao é fundamentalmente um sinal de coerência.

MUNDO MODERNO

Muita tecnologia, pouca sabedoria.

DA LITERATURA

O Realismo entrou a matar e quase acabou com o Romantismo. Por outro lado, não sendo canónico dizê-lo, quero crer que Flaubert e Eça fizeram uma síntese — genial, por sinal — entre estas duas correntes da Literatura. Estou-lhes agradecido por isso, leitor e admirador de ambos que sou.

REALIDADE E FICÇÃO NO CINEMA

De todas as Artes, o Cinema é a que melhor consegue fazer o retrato de uma determinada realidade, para memória futura. Por outro lado, tem a capacidade de lançar o seu olhar mais além, no tempo e no espaço, antecipando o futuro.

NÃO ADOPTAMOS!

O blogue Eternas Saudades do Futuro não adoptou nem adoptará o famigerado aborto chamado «Acordo Ortográfico».

domingo, 11 de novembro de 2012

ASSIM VAI A MINHA AMADA PÁTRIA

Estes novos-ricos que nos desgovernam não descansam enquanto não nos tornarem a todos novos-pobres.

SANTO DO DIA

S. Martinho de Tours
(316 —  397)
Bispo
 Fui à missa, comi castanhas e bebi jeropiga. Sempre gostei desta síntese entre o Sagrado e o Profano.

sábado, 10 de novembro de 2012

LIVRO DO MÊS



Estou a devorar o romance histórico Novembro, de Jaime Nogueira Pinto, acabado de editar e que mão amiga me fez chegar anteontem pela noite dentro. Poucas vezes me tenho sentido tão embrenhado num livro de ficção dum autor português como neste caso; e, note-se, tinha eu entre 7 e 9 anos à época dos principais acontecimentos da narrativa...  Por estas e outras razões, hei-de vir aqui prestar contas aos meus caros visitantes sobre as minhas conclusões da leitura desta fundamental e cativante obra. Contudo, faltando-me ainda cerca de 50 páginas para acabá-la, posso desde já dizer, para quem estiver interessado registar, que os seus principais protagonistas  — Henrique e Eduardo, pai e filho  — entraram directamente para a minha pessoalíssima e restrita galeria de grandes personagens da Literatura Portuguesa. Agora, vou ali terminá-la.

É A HORA!

Bandeira usada por Portugal
na Guerra da Restauração
da Independência Nacional
(1640 — 1668)
Agora, que perdemos de novo a soberania, e se aproxima o dia 1.º de Dezembro, ocorre-me perguntar:
— Existem hoje portugueses, patriotas e valentes, como aqueles de 1640? E, se os há, de que estão eles à espera?

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

CARTEIRA DE SENHORA

DIA 41

Numa das viagens a carteira enjoou, sendo agora, provavelmente, a única utilizadora mundial dos apropriados sacos de papel que as companhias aéreas tão precavidamente têm à disposição naquela espécie de bolsa no banco do senhor da frente. A senhora do lado espreitou pelo canto do olho, entre incrédula e enojada, mas à falta de explicação racional decidiu-se pela cautelosa posição “deixa-me lá fingir indiferença, não vá isto ser possível e afinal ser eu a ignorante”. Para além deste percalço, fui obrigada pela segunda vez a escrever uma crónica, ou grande parte dela, num avião. Já faltou mais para a renomear “crónica de uma carteira voadora”.

Nem só de política vive esta crónica porque dela também não vivem os homens. Nem as carteiras. Aliás, contemplando de um alto com boa vista a medíocre (para não dizer péssima) qualidade dos políticos demonstrada ao longo dos anos, bem pior estaríamos se assim fosse. Vivemos mal também por causa da política mas vivemos, felizmente, para além dela.

Se alguns dos princípios, valores, preceitos morais ou como lhes queiram chamar, que deviam reger o nosso dia-a-dia fossem replicados na política, acredito que o mundo andaria bem melhor.

Será esse afinal o problema? É o facto de na nossa própria vida já ninguém se guiar por princípios e valores, morais, éticos, religiosos ou outros? Será um problema geracional? Será que apenas alguns são afectados e logo por mero acaso fazem parte da classe política? Ou é vírus geral? É então por ser geral que temos os políticos que merecemos? São apenas espelho do que é hoje o povo português? E será mesmo assim tão difícil ter valores na política? Será que os jovens entram na política cheios de boas intenções, bons princípios e boas vontades e só depois são “formatados”? Ou a ausência de valores já é condição sine qua non da sua estreia?

O teste é americano de escolha múltipla, admitindo várias respostas.

Costumo dizer que falta, a muitos dos que se movimentam naqueles becos obscuros da política, terem andado na catequese. Mal não lhes tinha feito e talvez ficasse qualquer coisa parecida com uma consciência naqueles cérebros. Uma consciência que parece fazer igualmente falta a muitos outros…

Afinal, que valores deveriam existir nessas altas esferas? Assim de repente, voam da minha caneta uns tantos, se bem que uns possam abranger os outros: honra, palavra, honestidade, carácter, humildade, lealdade, verdade, serviço…

Sem valores, ou com eles distorcidos sobretudo pelo egoísmo e pela ganância, teremos como resultado apenas canibais. Desaparece até o que nos caracteriza como seres humanos. Já se nota.

Não tinha qualquer intenção que um tema político voltasse à baila tão cedo. Entrou sem pedir licença. Hoje em dia é o que acontece. A falta dos tais valores…

Leonor Martins de Carvalho

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

ESPÍRITO VERSUS MATÉRIA

Para evitar estes tempos de merda, mergulho de corpo e alma na Idade Média.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

DA VOZ DO INVISÍVEL DONO

Tenho para mim que os estrangeirados, mesmo os bem disfarçados, se apanham pela boca, como os peixes, devido ao seu vocabulário. Sempre me arrepiei todo ao ouvir: «implementar», «deslocalizar», «complicado», «incontornável», «sustentável», «assertivo», «evento», «elencar», «alavancar», «socialite» (o que é esta merda?). Agora, descobriram um novo anglicismo, o qual me dá vontade de vomitar: «resiliência». Bem sei que os donos deles, que residem no outro lado do Atlântico, usam essas palavras; mas, na versão original. Escusavam os deste lado de ser tão deslumbradamente parolos e poderiam tentar encontrar correspondências na Língua Portuguesa para esses extraordinários conceitos anglo-saxónicos. Porém, isso seria sopôr que os provincianos a que temos direito pensam pela sua própria cabeça.  
 

DO FUTURO DO CINEMA PORTUGUÊS

Um País que não tenha uma Cinematografia própria, reconhecida de imediato a olho nu pelos cinéfilos do mundo inteiro através das suas marcas identitárias, não tem futuro. Não se trata de filmar o folclore e de registar as belas paisagens — a publicidade (institucional e comercial) tomou conta desse departamento, para vender o seu peixe, e até o faz bem.

O que quero dizer com isto é que Portugal precisa de fazer um Cinema com uma linguagem autêntica, que corresponda de facto ao modo de pensar e sentir dos Portugueses. O teste parece-me fácil: se o público gostar é porque os filmes são genuínos. Este tornou-se, aliás, o principal problema; as pessoas andam zangadas com os filmes portugueses. Como às vezes sucede na vida, até se zangam com o que desconhecem; mas, cheira-lhes que nem vale a pena espreitar. E — atente-se —, o povo é sábio nos seus instintos, por mais ignorante que possa parecer e — hoje, infelizmente — ser.

O Cinema é uma necessidade cultural do século XXI, como já tinha sido, também, durante todo o século XX — ou, pelo menos, desde que criou, para si próprio, as bases estéticas para se exprimir de forma autónoma em relação às outras Artes (esse nascimento da linguagem cinematográfica deu-se com Griffith, em 1915). Portanto, se um País não for capaz de criar produtos no domínio da maior indústria cultural conhecida, é lícito afirmar-se que está a abrir uma brecha para a entrada de filmes estrangeiros que venham ocupar esse espaço. Não há aqui qualquer nostalgia do tipo «patriotismo da sardinha assada», que, desde sempre, me repugna. Há, isso sim, a consciência de que um Povo só tem futuro se existir culturalmente, e que, sendo o Cinema a maior e mais moderna forma de expressão artística, quem não tem filmes, a que possa chamar seus, é como quem não tem Língua.

Os filmes de uma Cinematografia Nacional reconhecem-se de imediato. Todos nos quedamos fascinados perante o Cinema Clássico Americano (o das décadas de 1930 e 1940), como certamente admiramos — os que o conhecemos… — o Cinema Mudo Alemão e Russo, ou, ainda, nos identificamos com o Cinema Moderno Italiano e Francês, para só falar dos exemplos mais divulgados da História do Cinema.

A estas fitas associamos rostos e corpos — as «estrelas» (do que os americanos chamaram «Star System»). Reside aqui uma lacuna nacional a superar urgentemente: o Cinema Português precisa de novas estrelas, como de pão para a boca. São elas que alimentam os sonhos dos espectadores na sala escura, através de processos de identificação ou negação, amor ou ódio, fascínio ou repulsa (sem entrar em tretas psicanalíticas, que só servem par esvaziar de magia e sensualidade personagens e pessoas). Certo, certinho, é que sem o brilho das estrelas o Cinema não cativa. Uma estrela é mais do que um bom actor. Tem aquele «não sei o quê» que só o espectador, no seu íntimo, sabe reconhecer; e, primeiro do que ele, o realizador — a quem cabe a tarefa de descobrir, revelar e lançar esses seres únicos. Apesar de tudo, Portugal teve já as suas «divas» do celulóide.

Outro aspecto fundamental a não perder de vista são as histórias que estão na base dos filmes. Tecnicamente designados por argumentos ou guiões — após a sua passagem para linguagem cinematográfica —, é nestes que reside o segredo do sucesso das películas.

A propósito, ocorre-me dizer o seguinte: «Pela boca morre o peixe»; isto é, podemos ter uma iluminação magnífica, belos enquadramentos, actores irrepreensíveis, e tudo o mais; mas, se os diálogos forem ridículos — sabem do que estou a falar… —, a fita não tem pernas para andar.

Antes de chegar aos diálogos, no entanto, o tropeção pode ainda dar-se numa outra fase — na história, propriamente dita (aproveito a ocasião para perguntar se alguém sabe porque carga de água é que ultimamente aparece história impropriamente escrita?...). Esta, pode ser baseada numa obra literária (falando-se, assim, em adaptação), ou escrita de raiz (argumento original). Aqui, é obrigatório ter a noção de que escrever para Cinema não é o mesmo do que escrever um livro ou ser-se jornalista… Há toda uma técnica que urge aprender e dominar. Graças a Deus, temos bons exemplos portugueses para estudar.

Se o Cinema é a Arte da repetição (mas essa é outra conversa), aproveito para deixar aqui mais um dito que anda na boca do nosso povo há anos, e que reza mais ou menos assim: «Tendo nós novecentos anos de História, com tantas histórias, porque é que não retiramos daí inspiração para criarmos argumentos para os nossos filmes?». Pois… Não sei, ou prefiro não saber. Mas, é fácil de perceber que a vida de Dom Afonso Henriques daria uma extraordinária longa-metragem, com todos os ingredientes de que os espectadores gostam: um herói, acção, aventuras, perseguições, sexo, amor, batalhas, viagens, paisagens, mistério, segredos, traição, ódio, sangue, e por aí fora… Já que estamos lançados, aproveito para lembrar que todo e qualquer um dos nossos Reis daria um filme de fundo bom em qualquer parte do planeta. Não é exagero, é uma convicção formada no visionamento e análise de centenas de filmes históricos. Um possível slogan para estas películas de época seria: «Oitocentos anos de Monarquia são a nossa garantia».

Pelo meio — entre as histórias, que se escrevem e planificam a fim de passarem a imagens em movimento com som e tudo, e as estrelas, também já nossas conhecidas, que brilham na tela — ficam os recursos técnicos de várias áreas estéticas: imagem, som, montagem, direcção artística (cenários e guarda-roupa). Nestas matérias, não julgo haver problemas de maior. Afinal, temos dos melhores profissionais do mundo nestes ofícios artísticos. Bem sei que alguns andam lá por fora a lutar pela vida, mas talvez regressem para ajudar a criar, definitivamente, uma Indústria de Cinema em Portugal. Havendo mercado, haverá dinheiro e remuneração condigna para quem a merece.

Falemos então agora de mercado, palavra que aparentemente não cola com Arte. Mas se não casar é que é o diabo, pois a Arte ficará solitária e estéril… É chegada a hora de deitar fora todos os preconceitos contra a relação dos filmes com o público. As fitas só têm razão de ser na medida em que comuniquem com as pessoas e que estas se revejam nas películas. Tudo isto pode — e deve — ser feito sem cedências de carácter artístico. Um bom filme deve ser fruído por toda a gente (note-se que o público não é uma massa e é composto por indivíduos de culturas e sensibilidades distintas), com prazer e proveito, à medida dos seus apetites estéticos, ou, simplesmente, lúdicos.

Entendamo-nos: os mais simples contentar-se-ão com a superfície do filme, os mais atentos mergulharão na história, e os mais exigentes tirarão as suas próprias conclusões. As grandes fitas estão assim construídas. São feitas a pensar em todos, mas à medida das necessidades e capacidades culturais de cada um.

É tudo tão simples que quando oiço para aí certos pequenos e médios intelectuais da nossa praça a escreverem palavras extraordinárias sobre Cinema, que só servem para complicar o que é claro como a água límpida, até me arrepio todo.

Finalmente, guardei ainda um pouco de tinta para falar de financiamentos. Embora Portugal tenha hoje — mais do que nunca — uma burguesia burgessa, inculta, e pouco dada a investimentos culturais (salvas raríssimas e honrosas excepções), é aí — apesar de tudo — que reside a esperança para um salto de escala da produção nacional. Os cineastas do futuro terão de libertar-se dos subsídios, e começar a pensar na preparação dos seus projectos com outras mais saudáveis engenharias financeiras. Todas as grandes Cinematografias estrangeiras (tirando a Soviética) se edificaram sobre uma estrutura económico-financeira empresarial privada. Já tinham reparado nisso?

E, por aqui me fico, antes que ofenda alguma alma mais sensível de algum confrade cinéfilo...

Apesar de todo o meu desgosto, atrás expresso, em relação ao actual panorama do Cinema Português (sendo sério, não poderia ter dito outra coisa), a minha esperança é muito maior do que o meu pessimismo e acredito no surgimento, no século XXI, de uma Indústria de Cinema em Portugal (feita por portugueses, mas aberta às co-produções lusófonas e europeias) capaz de produzir obras suficientes, em qualidade e quantidade, para serem exportadas para o planeta inteiro, superando barreiras linguísticas com boas traduções e legendagens, e, especialmente, tratando assuntos que cativem os públicos mundiais pela sua originalidade e identidade.

Em frente, Cineastas do meu País!

Nota: Artigo escrito para a revista Alameda Digital. Republicado em novas versões nos blogues Eternas Saudades do Futuro, Jovens do ResteloDelito de Opinião e no jornal O Diabo.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

DA ONTOLOGIA DO BLOGUE

Quem vier aqui à procura de um blogue sobre Cinema — tipo sebenta e tudo —, bem pode tirar o cavalinho da chuva; e, deve mas é ir a correr inscrever-se nas minhas aulas. Neste sítio só falo do que me apetece, e quando me apetece. E é um pau. Siga a marcha, que se faz tarde, e o tempo está a arrefecer.

sábado, 3 de novembro de 2012

PELA BOCA MORRE O PEIXE

Os meninos copinhos de leite a quem coube agora desgovernar-nos dizem que precisamos de uma «refundação». Também sou dessa opinião. Cheira-me é que eles escolheram mal a palavra para os seus obscuros intentos. Porém, há males que vêm por bem... Talvez a palavra ajude ao despertar da consciência dos Portugueses. E, num futuro próximo, quando chegar a hora, será certamente feita uma verdadeira Refundação   noutro sentido, doutra maneira e por homens do calibre do nosso Fundador. Graças a Deus, D. Afonso Henriques está nos antípodas dessa gente, para bem de todos nós. 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

CARTEIRA DE SENHORA


DIA 40

Como a carteira ainda anda a meditar na próxima fábula, que prevejo esteja pronta lá para a quadringentésima trigésima quinta crónica, achou por bem que esta, a quase redonda quadragésima, pudesse espelhar o que vai na alma de muitos e ao mesmo tempo a despertasse.

Uma amiga grega perguntou-me como é que estávamos. Disse-lhe que, como eles, éramos resistentes, que haveríamos de sobreviver. Nós e eles.

A verdade é que se não nos deixam sair, a nós e a eles, deste poço sem fundo, se persistem em atar-nos com cabos de aço, e ainda se aproveitam da situação económica para, em chantagem de baixo nível, brincarem ainda mais com os países e suas soberanias invocando falsamente que é o caminho da salvação, as certezas tremem.

Entretanto, nunca o provérbio “paga o justo pelo pecador” foi tão intensamente aplicado como em Portugal e provavelmente também na Grécia.

E quem foram os pecadores? Todos, como ainda insistem em afirmar? Vista por uma pessoa comum a história é simples e aponta o dedo a vários.

Em primeiro lugar a classe política que nos meteu na Europa e no euro a trouxe-mouxe sem ligar a soberania, tradições e mesmo à economia, colaborou na destruição sem apelo nem agravo da produção nacional, pudesse ou não vir a ser competitiva e depois gastou à tripa-forra naquilo a que chamaram investimentos em prol do desenvolvimento mas que foi mais desenvolvimento de bolsos e carreiras profissionais.

Em segundo lugar alguns dos que receberam fundos europeus apenas para os esbanjar e cuja ganância os qualifica.

Em terceiro, mais uns tantos que, na ilusão vendida todos os dias pelos bancos e por esta sociedade, se endividaram até “mais do que permitia a força humana”…

Sei que os reformados não foram com certeza, e estão a arcar como se fossem os culpados.

Mesmo quando ainda poucos viam que a dívida até ia nua e por maioria de razão hoje ainda mais, trataram de nos vender e escravizar, comem-nos a carne e os ossos e agora querem acabar connosco de vez.

Algures deve estar um cartaz onde os sucessivos governos escreveram “Portugal em saldo”. A leiloeira começou as licitações. Teremos (já vamos tendo!) um país retalhado, pertença de outros.

Não estou a escrever nada de novo. Este é o género de textos que aparece diariamente. A revolta, o sentimento de impotência já se estendeu a Portugal inteiro, e só lemos desabafos, gritos, angústia, revolta, uma verdadeira catarse nacional.

Ou continuamos com a angústia e revolta permanente ou vamos à lide e pegamos o touro. Em nome dos que já nem forças têm…

Independentemente do que possamos fazer no campo social é sobretudo na política e na forma de fazer política que temos de arranjar solução. Para que isto não volte a acontecer.

Façam o favor de pensar. Pensar no que podem fazer para que algo mude em Portugal. Que cada um procure o que achar mais útil para que essa mudança aconteça. Se não se sentem representados lutem para que isso se altere. Pode ser por exemplo encontrar pessoas idóneas que se possam candidatar nas autárquicas contra os oligarcas do costume, assinar e divulgar petições que pugnem por mudanças na lei eleitoral, organizar e participar em debates, escrever para e nos jornais, comentar nos meios de comunicação, voltar a falar com vizinhos e amigos para criar e participar em grupos que possam servir de pressão, seja o que for, mas sair de casa. Sobretudo largar a Internet, a televisão, deixar a casa quente e ir para o terreno.

Chegou a hora de voltarmos a ser heróis que “por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”. Que de nós se orgulhem os vindouros.

Leonor Martins de Carvalho

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

PRIMEIRO DE NOVEMBRO

Dia certo para me recordar de que os corpos de todos os meus pessoalíssimos e queridíssimos santos, sábios e heróis repousam mortos debaixo de terra.
Por outro lado, e por todo o lado, vivinhos da silva, rastejam os vermes sub-humanos, desta desgraçada vida pós-moderna, que hoje em dia nos (des)governam.