terça-feira, 31 de maio de 2011

RELATÓRIO & CONTAS DA CASA

O Eternas Saudades do Futuro obteve neste Maio de 2011 o maior número de visitas dos últimos 12 meses.

POLÍTICAS PRÁTICAS DOS TEMPOS MODERNOS III

Temos de lhes aplicar o mesmo princípio: pôr-lhes um fim.

POLÍTICAS PRÁTICAS DOS TEMPOS MODERNOS II

Cortam-se os abonos de família, subsidiam-se os abortos.

POLÍTICAS PRÁTICAS DOS TEMPOS MODERNOS I

Cortam-se árvores doentes e aplica-se a eutanásia.

EU TENHO UM PALPITE

A maior surpresa destas eleições será a grande votação dos pequenos partidos. Aqueles que não tiveram direito a debates mano-a-mano nas televisões, são desprezados pelos jornais e não aparecem nas sondagens; enfim, aqueles que são olimpicamente ignorados pelos me(r)dia. Pois é, cheira-me que o sistema vai apanhar um valente susto com eles! E é bem feito.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

EXPRESSO DO OCIDENTE

Terça-feira, 24 de Maio
As gazetas publicavam ontem inúmeras fotos do comício do PS em Évora onde, perante a ausência de portugueses, o aparelho socialista deitou mão de indianos, africanos e paquistaneses. Levados até às imediações da belíssima Praça do Giraldo em autocarros com ar condicionado, o bando de Sócrates prometia aos imigrantes incautos uma pequena marmita que lhes pudesse matar a fome que, dizem os especialistas no terreno, vai alastrando por estes dias um pouco por toda a parte. A cereja no topo de tão extraordinário bolo foi vista na SIC: questionado pelo jornalista, um dos indivíduos presentes confessava ter sido arregimentado pela Embaixada de Moçambique. Curiosamente ou talvez não e pelo menos que eu tenha visto, pois que não houve um único jornal, rádio ou televisão que se tenha lembrado de seguir o rasto do deslize investigando a pista moçambicana. Há coisas extraordinárias.
Já hoje pela manhã, tomava eu um café em plena esplanada da Praça de Londres quando vejo à minha volta dar-se início a uma concentração para uma grande arruada do PSD, o que equivale por dizer que me encontrava à hora errada no sítio errado. Apesar de tudo, a coisa permite-me verificar que, tal como em Évora, a presença entusiástica de populares é nula. Como não houvesse neste caso marmita, a poderosa máquina laranja descia então a Guerra Junqueiro com o inenarrável Fernando Nobre, Pedro Pinto e mais uns dez desconhecidos de tenra idade - vá, que fossem quinze… - que, perante a indiferença generalizada, gritavam pelas virtudes da laranja como se não houvesse amanhã.
A questão da indiferença é interessante e, creio que todos nós estamos disso bem conscientes (incluindo os homens das máquinas partidárias), o género engrossa a militância a cada dia que passa. O que se compreende: vamos a votos daqui por pouco mais de uma semana com programa eleitoral antecipadamente aprovado e que, ainda para mais, nos vai sair muito caro. A mando de instituições que nos são estranhas - qual protectorado -, dizem-nos que devemos eleger 230 deputados entre os responsáveis de sempre, gente que servirá, desta vez mais do que nunca, para coisa nenhuma. Ainda para mais, que opinião tem a generalidade dos portugueses dos "seus" representantes? "A opinião tem pela Câmara dos Deputados um sentimento unânime e unanimemente declarado: o tédio. Diz-se mal da Câmara por toda a parte. Os jornais mais sérios falam constantemente da sua improdutividade. Aparecem contra ela panfletos satíricos. (…) De que provém este desdém geral? De um surdo fermento de hostilidade que haja entre nós contra os grandes corpos do Estado? Da convicção nascida da experiência diária? (…) A opinião é legítima e fundada em experiência. A Câmara (tomemos a actual, para exemplo) não tem princípios, nem ideias, nem consciência, nem independência, nem patriotismo, nem ciência, nem eloquência, nem seriedade. (…) O que se quer dizer é que, como corpo constituído, sentada nas suas cadeiras, com o seu presidente, a sua campainha e os seus contínuos - a Câmara tem a falta absoluta de qualidade que a ilustrariam e a abundância de defeitos que a desonram". Sabem quem disse? Foi o nosso Eça, com a actualidade de sempre mas há mais de cem anos!

Sexta-feira, 27 de Maio
Os mercados, pela mão da União Europeia e do também nosso FMI, resolveram encostar a Grécia definitivamente à parede. Como tivessem falhado rotundamente os não-sei-quantos pacotes de austeridade que já foram impostos aos gregos e que vêm massacrando a sua economia, a União Europeia a que Atenas também pertence descobriu agora a pólvora que, a seu ver, solucionará o imbróglio montado: mais um severo pacote de austeridade, estimo que para aí o centésimo! O plano era perfeito e visto até com merecimento pelo primeiro-ministro Papandreou, não se desse o caso dos gregos não terem ido nisso - pelo menos para já. A oposição recusou assinar a papelada, as manifestações intensificaram-se (desta vez com mortos, segundo os ecos que chegam da terra do Sócrates autêntico), a revolta é crescente. A resposta não se fez esperar: a Comissão Europeia, numa inversão curiosa do célebre dito popular, afirma categoricamente que sem palhaços não há dinheiro, numa posição de "amigo" em que é acompanhada pelo FMI. Pelo caminho, crescem as vozes que asseguram não ter a Grécia qualquer hipótese de cumprir com o acordado, ao passo que também se observam com progressiva intensidade opiniões que apontam para a inevitabilidade da economia grega se ver forçada a regressar ao velho Dracma a curto ou médio prazo. Independentemente do final desta história, seja ela feliz ou não, é curioso registar o sepulcral silêncio sobre este tema dos políticos portugueses que prosseguem em campanha alegre. Tanto mais que, para muitos economistas insuspeitos, olhando o caso grego podemos eventualmente observar com antecedência o nosso próprio futuro. Mas entretidos com comícios e com os faits divers típicos da temporada eleitoral, as criaturas da troika portuguesa ainda não se terão apercebido de que o mais certo é que também nós nos possamos ver gregos com os resultados da sua já histórica irresponsabilidade. Voltando ao nosso Eça, que é muito cá de casa, isto "não é uma existência, é uma expiação".

Domingo, 29 de Maio
Ufa, fartos que estamos do carnaval instalado nas ruas de todo o país, é caso para gritar a plenos pulmões: já só falta uma semana! O resultado, esse, posso declará-lo já sem risco de falhar - escusam os meus caros amigos de aguardar pelas 20h00 do próximo domingo: vai ganhar a troika interna com maioria clara de dois terços. Fiel de uma balança que tenderá a cair para o lado laranja, o CDS (que nos últimos dias me diverte quando o observo a defender nas esquadras o contrário do que vem escrito no memorando que assinou) fará de qualquer modo governo com quem for preciso. E daqui por três semanas, os nossos patrícios que vão eleger esta troika estarão a engrossar as fileiras das manifestações que se intensificarão ao longo da próxima legislatura. Mas a vitória da troika, essa, está garantida. Não acreditam? Leiam o Eça: "Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente possuem o poder, perdem o poder, reconquistam o poder, trocam o poder… (…) Ora como todos os ministros são tirados deste grupo de doze ou quinze indivíduos, não há nenhum deles que não tenha sido por seu turno esbanjador da fazenda e ruína do país… Não há nenhum que não tenha sido julgado incapaz de dirigir as coisas públicas - pela imprensa, pela palavra dos oradores, pelas incriminações da opinião… E todavia serão estes doze ou quinze indivíduos os que continuarão dirigindo o País, neste caminho em que ele vai feliz, abundante, rico, forte, coroado de rosas e num chouto tão triunfante!"

Pedro Guedes da Silva

DO PODER DE SEDUÇÃO DO FACEBOOK

Publiquei no meu mural, há 9 horas, o seguinte: «Apetece-me começar a ler um livro de um autor que nunca tenha lido. Sugestões...». Na sequência disto, até agora, tive lá 41 comentários. Esta velocidade de resposta, aliada a uma generosidade na partilha, por parte dos amigos, é imbatível. Não admira que haja quem se vicie nessa rede social.

Adenda (5.6.11) : Entretanto, já tenho lá 70 comentários...!

domingo, 29 de maio de 2011

DA AMIZADE

Mais do que a partilha de recordações únicas, o que distingue os melhores amigos é a partilha de um sentido de humor inacessível aos demais.

CATARINA SAYS...








Olhamos, perguntamos, procuramos, mas nada parece ser mais importante que a cor dos olhos.

São os olhos que dizem tudo.

A expressão de um olhar tem em si a possibilidade de todas as palavras do mundo, e mesmo assim não chegam por vezes, para descrever um olhar.

Os olhares quando do fundo, trocam-se na mesma medida. Só assim podem comunicar justa e encontradamente.
Mas não é fácil às vezes assumir o silêncio que pede um olhar de segundos, que no entanto pode ser eterno.
"Fui ao ver-te, tudo o que vi" escreve alguém que admiro pela posse das palavras que me dá a ler, e a reter.
Num olhar de segundos, trocado, cruzado, igualado, o mundo pára estanque, como se nada mais existisse do que esse momento. Tudo o que se vê nesse tempo, são os olhos do outro espelhando a alma.
É talvez por isso que todas as palavras não cheguem, porque, como se descreve afinal a sensibilidade da alma? São os olhos mesmo, o espelho da alma? São. Todos sabemos que sim, mesmo que por vezes tentemos escapar a essa radiografia, dizendo palavras soltas, impensadas ou pensadas, para não comprometer a soltura da alma.
Os olhares vêm com legendas.
Contam que o coração bate, que a alegria é imensa, ou que a tristeza também.
Ontem num instante apareceu-me um arco íris, estava como suspenso na minha janela.
Foi a exactidão do momento. Foram os olhos de Deus ali, em mim. Os olhos de Deus têm todas as cores, por isso eu soube.
Olhos de surpresa e alegria tive eu seguramente pelo espanto do momento. Era sim a minha alma a registar. Para sempre. Agradecendo.
Nesse instante foi tudo o que vi, foi tudo o que senti.

Catarina Hipólito Raposo

AVISO AOS VISITANTES

Peço desculpa aos leitores do blogue, mas, só agora me é possível publicar a mensagem que a Catarina Hipólito Raposo nos traz esta semana. É já a seguir. Não perdem pela demora.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

«NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA»

Enquanto os televisores vendem o seu peixe, fazendo render a espuma dos dias, os computadores mergulham na profundidade das coisas. No Eternas Saudades do Futuro, pelo menos, tenta-se; e, muito por causa da Catarina Hipólito Raposo, do Francisco Cabral de Moncada e do Pedro Guedes da Silva, vai-se conseguindo. Se ainda não conhece este blogue, aventure-se agora, pois pode ser que não dure para sempre. Clique nos arquivos mensais, e deixe-se perder lá dentro, ganhando novos pontos-de-vista sobre a vida e o mundo cá fora.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

DA LITERATURA E DO CINEMA

Um bom ensaio tem sempre uma narrativa e uma boa ficção tem sempre uma tese.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

SEM AGENDA



O Vírus de Derrida


Adivinham os meus caros leitores o que é este edifício?... Quererão fazer um pequeno esforço e arriscar? Posso adiantar que não é resultado do terrorismo islâmico...; nem de um sismo de grau 8...; nem de uma implosão mal calculada... Vá lá, não conseguem mesmo?... Então pronto, eu digo: é apenas mais uma simpática surpresa -- uma das últimas -- do nosso querido e idolatrado Frank Gehry superstar, e trata-se, nem mais, ladies and gentlemen,...que do magnífico, do fantástico, do incomparável... Lou Ruvo Center for Brain Health, em Las Vegas, EUA, destinado ao tratamento, diagnóstico precoce e prevenção de doenças como o Alzheimer, o Parkinson, etc. Sem dúvida apropriado, não lhes parece?... Sem mais comentários.


Falar de Gehry é falar do que poderia chamar-se o "bando dos cinco", incluindo, para além deste, os nomes sonantes de Peter Eisenmam, David Liebeskind, Rem Koolhaas e Zaha Hadid, havendo ainda um razoável número de outros menos conhecidos. São os chamados arquitectos desconstructivistas, um dos últimos e talvez o máximo must da arquitectura mundial, e o sector mais "festivo" do seu starsystem. Estes nomes e as respectivas "obras primas" têm vindo a ser, há cerca de duas décadas a esta parte, sinónimo certo de excitação e de sucesso e, portanto, suprema tentação para empresários, instituições e políticos em busca de rápida promoção e reconhecimento, em todo o mundo, como aconteceu também já entre nós, primeiro no Porto, com a Casa da Música, e depois em Lisboa, nesta última cidade, porém, felizmente não concretizada, para bem dos alfacinhas e do autarca de então, o Dr. Santana Lopes.


Como terá sido possível chegar até isto? O Desconstuctivismo é ...«um estilo constructivo caracterizado por formas despedaçadas, estilhaçadas ou torcidas, evocativas de destruição física, em contradição evidente com a razão de ser primordial da arquitectura, que é a de oferecer um abrigo viável. Mas os seus promotores e teóricos defendem que se trata apenas um novo estilo, com o mesmo direito de ser levado à prática de qualquer outro.» (Salingaros, 2004)


O matemático e arquitecto americano Nikos Salingaros, que já aqui apresentei há algumas semanas atrás, tem sido um estudioso e crítico desta persistente moda cultural(?) e arquitectónica, cuja forma de propagação e aceitação, pelos seus devotos e pela opinião pública, já foi comparada, inclusivamente, a um autêntico vírus mental (por favor, caro leitor, sem ironia, se se conserva são, como bem espero, é vital não se deixar "infectar" pela imagem acima, ou outras parecidas). No artigo «The Derrida Virus», que é um capítulo do seu livro «Anti-Architecture and Deconstruction», Umbau-Verlag, Solingen, Alemanha, 2004, revela-nos e explica-nos, inclusive através da análise da fonte original, a génese, as motivações e o modo de propagação deste movimento, e conclui referindo a única forma pela qual ele poderá ser travado. Transcrevo seguidamente a tradução de uma selecção de passagens desse capítulo.


«Introdução -- Desde os anos 60 que a Desconstrução tem procurado minar todas as estruturas normalmente ordenadas. "A Desconstrução é um método de análise de textos baseado na ideia de que toda a linguagem é inerentemente instável e mutável e de que é o leitor e não o autor quem principalmente determina o significado. Foi introduzido pelo filósofo Francês Jacques Derrida nos finais dos anos 60." (Encarta World English Diccionary, 1999). Isto significa que os textos não têm um significado último e que a sua interpretação cabe ao leitor. Assim, a Desconstrução pretende ser uma libertação da prevalência da certeza.


Precisa de algo possuidor de uma ordem real ou latente, para actuar e depois destruir. É, portanto, totalmente parasitária. Salvo uma notável excepção, o que os seus defensores dizem sobre ela jaz encoberto de confusão. Sendo ela um ataque à lógica, não produz declarações lógicas. De acordo com Derrida: "Todas as afirmações do tipo 'a Desconstrução é X' ou 'a Desconstrução não é X' começam por errar o alvo, ou seja, são falsas, no mínimo. Uma das coisas principais, na Desconstrução, é a sua demarcação em relação à ontologia e sobretudo à terceira pessoa do presente do indicativo: S é P." (Collins & Mayblin, 1996; p. 93).


Contudo, a Desconstrução pode ser compreendida pelo que na realidade faz. Desmantela as estruturas, as afirmações lógicas, as crenças tradicionais, as experiências observadas, etc. Quando são criticados por isso, os desconstructivistas insistem em dizer que se limitam a analisar e a comentar o texto. Esta abordagem parece-se com o modo como os vírus sobrevivem e proliferam.


O próprio Derrida chamou à Desconstrução um "vírus": i. e. um código passivo que se multiplica utilizando um hospedeiro. A sua estratégia está em conseguir ser "ingerido" por um hospedeiro confiante; forçar o mecanismo interno do hospedeiro a produzir novas cópias do vírus; e espalhar o maior número possível dessas cópias, para maximizar a possibilidade de infectar novos hospedeiros. O vírus precisa de invadir e destruir um hospedeiro mais complexo do que ele próprio, mas não pode viver por si só. Originária de França, a Desconstrução "infectou" a maior parte das disciplinas universitárias, em toda a parte. Numa declaração incaracteristicamente clara, Derrida revelou os seus objectivos: "Tudo o que fiz ... é dominado pela noção de um vírus, que poderia ser chamada uma parasitologia, uma virologia, podendo o vírus ser muitas coisas ... O vírus é em parte um parasita que destrói, que introduz desordem na comunicação. Mesmo de um ponto de vista biológico, é isto que acontece com um vírus; ele faz "descarrilar" um mecanismo de tipo comunicacional, a sua codificação e descodificação ... [ele] não está vivo nem morto ... [eis] tudo o que tenho feito desde que comecei a escrever." (Brunette & Wills, 1994; p. 12). Felizmente, como a grande maioria não consegue perceber semelhante coisa, só indirectamente foi a sociedade afectada por ela (Salingaros, 2002).»


...«A Desconstrução tem tido um sucesso notável no desmantelamento da literatura, das artes e da arquitectura. Tal como os vírus biológicos, ela é cuidadosa no equilíbrio que procura garantir entre a sobrevivência do hospedeiro e o seu grau infeccioso. Só parcialmente é o hospedeiro destruído, já que a destruição total interromperia o processo de transmissão. Ela decompõe conjuntos coerentes de ideias, dividindo os módulos naturais pré-existentes em sub-módulos. Alguns destes sub-módulos são então selectivamente destruídos para que os seus componentes possam ser depois aleatoriamente reagrupados numa síntese incoerente.»


...«A Arquitectura Desconstructivista -- ...Nos anos 80, Derrida trabalhou com Peter Eisenman num projecto para o Parc de La Villette, em Paris. Pretendia-se a criação de um pequeno jardim que incorporasse espaço des-ontologificado (seja lá isso o que for), mas que por sorte nunca foi feito. As palavras de Derrida sobre o projecto demonstram a atitude anti-arquitectónica da Desconstrução: "[É uma crítica de] tudo aquilo que subordinou a arquitectura a qualquer outra coisa -- o valor, digamos, da utilidade, ou da beleza, ou da vivência ... não para construir qualquer outra coisa que fosse inútil, feia, ou inabitável, mas para libertar a arquitectura de todas essas finalidades externas, desses objectivos alheios ... para contaminar a arquitectura ... Penso que a Desconstrução surge ... quando se desconstroi uma filosofia arquitectónica, ou pressupostos arquitectónicos -- por exemplo, a hegemonia da estética, da beleza, a hegemonia da utilidade, da funcionalidade, do viver, do habitar. Mas depois, é necessário reinscrever esses motivos na obra." (Norris, 1989).


Ora, acontece que os fins da arquitectura são precisamente o que Derrida rejeita: a estética, a beleza, a utilidade, a funcionalidade, o viver e o habitar. Estas coisas são o seu próprio fundamento, são absolutamente essenciais, e só muito improvavelmente poderão ser alheias à sua prática. A arquitectura não se submeteu nunca, na verdade, a nada mais do que isso; ela resulta e é uma expressão de necessidades humanas.


A Desconstrução aplicada a edifícios elimina as suas qualidades arquitectónicas, "reinscrevendo" uma aparência de ordem superficial e inútil, a qual aparece apenas em motivos abstractos. Mesmo o próprio Derrida reconhece que a sua noção de arquitectura não é, propriamente, arquitectura. A sua proposta é uma arquitectura da morte para o novo milénio.


Num discurso publicado pela Senhora Eisenman, diz Derrida: "Se eu fosse obrigado a parar aqui e dizer o que deveria ser a arquitectura do novo milénio, diria: no seu tipo, não deveria ser nem uma arquitectura do sujeito, nem uma do Dasein (do ser, da existência, da vida). Mas então, talvez ela tenha de desistir do seu nome arquitectura, que tem estado ligado a estas diferentes mas de algum modo, contínuas, formas de pensar. De facto, talvez ela esteja já em vias de perder o seu nome, talvez a arquitectura se esteja já a tornar alheia ao seu nome." (Derrida, 1991).»


...«Tudo dito e feito, a Desconstrução na arquitectura é uma mera continuação -- depois de uma longa pausa -- do movimento Constructivista dos anos 20, exemplificado pelo Clube Rosakov, para o Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes de Moscovo, de Konstantin Melnikov, e pelo Monumento ao Congresso da Terceira Internacional Comunista, de Vladimir Tatlin, não construído. A vanguarda pós-revolucionária Russa casou a política radical com um estilo de arquitectura "partida". Dificilmente encontramos deslocamento geométrico intencional, na arquitectura de antes do movimento Constructivista (e do seu contemporâneo movimento Bauhaus, na Alemanha). No "A Dictionary of Architecture" (1999; pp. 162-163), James Stevens Curl define assim este movimento: "Constructivism: Movimento esquerdista anti-estético, anti-arte, supostamente pro-tecnologia, originário da USSR ... Os aspectos anti-ambientais, as formas recortadas, inclinadas ou dobradas e a expressão de elementos mecânicos presentes no Constructivismo Russo, constituíram comprovadamente fortes precedentes ... para os seguidores do Desconstuctivismo, com destaque para Hadid, Koolhaas, e Liebeskind."»


...«O vírus de Derrida infectou a arquitectura contemporânea mesmo antes da última moda desconstructivista. O seu impacte pode ser visto em edifícios "pós-modernistas" (populares entre 1965 e 1985, e portanto, contemporâneos da difusão da Desconstrução na filosofia e na literatura). Estes são marcados pela agregação de elementos arquitectónicos não cooperantes mas identificáveis. Isso é o que o vírus de Derrida faz precisamente quando actua sobre a arquitectura como um todo, em vez de desmantelar um determinado conceito num determinado edifício. Ele usa, então, um reportório aleatório de elementos tirados de diversos edifícios, estilos históricos e materiais mais antigos, e reagrupa-os de tal modo a evitar a coerência da combinação.


As reacções aos edifícios pós-modernistas, tais como a Neue Staatsgalerie, em Estugarda, não são tão alarmantes como as feitas aos desconstructivistas, porque o vírus de Derrida opera neles em menor número de escalas. O conjunto é inquietante pela forma como é arranjado (de facto, não arranjado), mas os componentes parecem não levantar objecção, e ser mesmo atractivos. Sendo os elementos menores copiados de estilos arquitectónicos genuínos, tendem a ser coerentes à sua escala menor, e interna. No caso pós-modernista, a desordem é manifestada só na escala maior, que é incoerente. No caso desconstrutivista, o vírus Derrida actua em muitas escalas diferentes, de tal forma que até a distribuição dos elementos arquitectónicos mais pequenos resulta aleatória.»


...«Muitos arquitectos tentam inovar desesperadamente, enquanto zelosamente evitam as necessidades humanas porque estas apontam para a arquitectura tradicional, pré-modernista. Arquitectura agradável e confortável, que se assemelhe a edifícios não-modernistas mais antigos, é tabu por razões ideológicas. É difamada pelo "sistema" da arquitectura. Este é o segredo inconfessado da arquitectura contemporânea: um manto de inovação questionável esconde uma doutrina de ódio pelas formas tradicionais. Infelizmente, a grande maioria do público ignora o que se passa dentro do fechado "sistema" da arquitectura.»


...«Uma vez que o vírus não está vivo (nem morto), não pode ser morto, e não faz sentido atacá-lo com os critérios do ridículo ou da lógica, tais como a verdade e a coerência. Essas técnicas servem para desmascarar e desmantelar sistemas infinitamente mais complexos, que têm uma vulnerabilidade correspondente. O vírus de Derrida é simplesmente uma peça de informação codificada nos circuitos neuronais humanos e no ambiente físico externo. Reside na mente de indivíduos doutrinados, programados para o espalhar, em edifícios e em textos que nos infectam pelos meios visuais. A única forma de o travar, portanto, é travar os seus modos de transmissão da informação.»


...«É improvável que os convertidos à Desconstrução possam ser persuadidos a abandonar o seu caminho irracional. Contudo, é provável que a sanidade e a racionalidade possam ser restauradas entre as futuras gerações de arquitectos.» Nikos Salingaros


Francisco Cabral de Moncada

terça-feira, 24 de maio de 2011

NOTA EDITORIAL

Pedro Guedes da Silva não pôde ontem enviar a sua crónica semanal para a coluna «Expresso do Ocidente» por motivo familiar de força maior. Pelo que conheço do Pedro, na próxima semana regressará com renovada energia.

Por outro lado, já se sabe que é necessário mudar, volta e meia, certos detalhes, para que o essencial permaneça. Assim sendo, excepcionalmente, Catarina Hipólito Raposo escreve nesta semana à Segunda-Feira e ao Sábado.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

CATARINA SAYS...






A vida é arte do encontro. (embora haja tanto desencontro pela vida)


Dizia, escrevia o Vinicius.
Diz quem sabe da vida, a troco do preço da Vida no que ela traz de encontro e desencontro também.
A arte do encontro tem encontro marcado com a tela da vida.
Para os encontros temos de estar acordados. Descentrados de nós e abertos aos outros. A magia da vida trata do resto: Porque a geografia do lugar, o compasso do tempo e a geometria do espaço já estão desenhados em papel vegetal por cima do nosso mapa.
Quando os encontros se fazem, toca o alarme por todos os lados.
Sabemos de dentro de nós, que aquela pessoa veio para ficar. Veio para marcar terreno nos nossos dias, seja de que forma for, e porque razão for.
O encontro com os outros gera o encontro connosco: revemo-nos na linguagem, numa frase, num sorriso, numa música, nos sapatos, no olhar, na atitude..não importa.
Os encontros são equações com denominadores comuns. Estamos ligados e por isso nos encontramos.
Os encontros são abraços invisíveis, e ás vezes visíveis, à mão de semear.
Os encontros são autoritários nisto: Não se marcam, encontram-se.
Basta estar acordado.


O Paraíso encontra-se nos perdidos e achados.

Catarina Hipólito Raposo

JÁ BAIXÁMOS AO 3.º MUNDO?

Será impressão minha ou, atendendo ao design, às cores, às caras e às mensagens, os outdoors desta campanha eleitoral têm como target cidadãos de outro mundo?

UNS BEBEM CHÁ COM MEL

Outros bebem chá com fel.

UNS TÊM FÉ

Outros têm fezadas.

domingo, 22 de maio de 2011

SÓ PARA PORTUGUESES QUE AMAM A PÁTRIA

sábado, 21 de maio de 2011

PERGUNTARAM-ME O QUE É A (MINHA) DIREITA...

... E eu respondo, com o respectivo sinistro contraponto e tudo:
A Direita é Católica, a esquerda é laica;
A Direita é Patriótica, a esquerda é internacionalista;
A Direita é Monárquica, a esquerda é republicana;
A Direita é Social, a esquerda é socialista,
A Direita é Orgânica, a esquerda é comunista,
A Direita é Tradicional, a esquerda é relativista,
A Direita é Espiritual, a esquerda é materialista.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

TEXTO FUNDAMENTAL PARA QUEM ANDA NA BLOGOSFERA

Velhas lutas, novas armas, por João Távora.

AMOR

PAIXÃO

quinta-feira, 19 de maio de 2011

BLOGUE DO DIA (150)


Chegado ao n.º 150, encerro, da melhor maneira, esta série «Blogue do Dia». A partir de agora, arranjarei outras formas, mais criativas, de destacar e divulgar os blogues da minha preferência.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

SEM AGENDA





Duncan Stroik e As Raízes da Arquitectura Sacra Modernista (Parte II)

Apresento seguidamente a tradução da segunda e última parte do instructivo artigo do arquitecto americano Duncan Stroic, intitulado «The Roots of Modernist Church Arquitecture», originalmente publicado no Adoremus Bulletin, St. Louis MO, Out. 1997. A Parte I do mesmo artigo foi aqui transcrita na semana passada.

...«As Igrejas como Escultura Abstracta -- Ao passo que a maioria das igrejas Católicas construídas nos EU antes de 1940 eram de estilos tradicionais, muitas congregações Protestantes, Unitaristas e Cristãs-Científicas ensaiaram formas de edifícios industriais.

O Unity Temple de Frank Lloyd Wright, de 1904, é um auditório cúbico com ornamentação geométrica e floral, enquanto o seu "querido Mestre", Louis Sullivan, projectou a St. Paul's United Methodist Church, em 1914, como um teatro Romano abstracto.

Na Alemanha dos finais dos anos vinte Otto Bartning projectou igrejas Evangélicas circulares de vidro e betão armado, com pouca iconografia e articulação.

Dominikus Bohm seguiu o seu exemplo no projecto de algumas igrejas católicas expressionistas incluindo St. Engelbert, um edifício circular completado com coberturas parabólicas.

Rudoph Schwartz também projectou igrejas Católicas com a utilização de geometrias abstractas e o espaço fluido do "Estilo Internacional".

Schwartz e Bohm estavam ambos ligados ao movimento litúrgico, na Alemanha, e criaram espaços abstractos para o culto Católico muito antes do Vaticano II. Depois da II Grande Guerra, o movimento Modernista foi mundialmente acolhido como expressão do triunfo tecnológico da guerra. Muitos padres seguiram o exemplo governamental e das grandes empresas, construindo igrejas de formas abstractas, assimétricas e futuristas, com materiais modernos.

Em França, o Padre Dominicano Pierre Marie-Alan Couturier encomendou pinturas murais, tapeçarias, paineis de azulejo e vitrais a quinze dos mais conhecido artistas modernistas, para a igreja rural de Notre Dame, em Assy.

Também com o patrocínio do Padre Couturier, o arquitecto Francês Le Corbusier projectou talvez as duas mais conhecidas igrejas deste século: a igreja de peregrinação de Notre Dame du Haut, em Ronchamp e o Mosteiro Dominicano de Ste. Marie de la Tourette.

Le Corbusier fez saber muito claramente desde o início que não era um homem religioso, e aceitou os projectos porque lhe foi dada liberdade para exprimir as suas ideias numa paisagem aberta e desimpedida. Ronchamp é o epítome de uma igreja como escultura abstracta e foi comparada por Le Corbusier a um templo do sol.

La Tourette, por outro lado, é um edifício rigorosamente ortogonal com uma capela de betão que se assemelha a um espaço tumular, e um claustro sem utilização prática.
O mosteiro teve muitos problemas, incluindo uma alta incidência de depressão devido às suas celas de tipo prisional e outros espaços opressivos, tendo sido obrigado a fechar (durante algum tempo tornou-se um retiro para arquitectos).

Acreditando que toda a "verdadeira arte" é " arte sacra", o Padre Couturier defendeu a ideia de ser preferível ter um artista ateu a produzir arte Cristã ou a projectar igrejas, a ter um artista piedoso mas medíocre. Esta premissa opunha-se à visão histórica da igreja como um "sermão de pedra", como uma obra de fé do arquitecto, da paróquia e dos artesãos.

Para o Padre Couturier o edifício da igreja já não era visto como um professor, um pastor ou um evangelizador, mas sobretudo como um espaço funcional de encontro. De igual modo, o arquitecto já não era um co-criador inspirado; em vez disso, o seu trabalho tornou-se veículo da sua expressão pessoal e do "espírito da época".

O Progressismo Litúrgico -- É de notar que fora os casos de Wright nos EU e de Aalto na Finlândia, houve poucos "mestres" modernistas interessados no projecto de igrejas ou sinagogas (Le Corbusier recusou outros convites). Uma parte da crença no "homem moderno" era que a religião era algo de não científico e, portanto, que as igrejas eram também algo de irrelevante para as necessidades contemporâneas. Ao passo que quase todos dos Modernistas vinham de formações culturais Protestantes, a maioria eram ateus ou agnósticos. Mies van der Rohe e Eero Saarinen foram excepções. As igrejas deste último podem ser vistas como objectos sublimes; no entanto, as suas imitações perderam todo o poder icónico dos originais.

Os Beneditinos nos EU foram o equivalente dos Dominicanos em França, sendo grandes patronos de arte e arquitectura Modernista, assim como liturgicamente progressistas. Em Collegeville, Minnesota, contrataram Marcel Brauer, originário da Bauhaus, e em St. Louis convidaram Gyo Obata, projectista do Aeroporto de St. Louis, para alguns novos mosteiros. Esses edifícios eram lustrosos, não tradicionais, e foram aclamados pelos críticos de arquitectura do "sistema".

Ao mesmo tempo que esses edifícios eram construídos, iam sendo elaborados os documentos do Vaticano II. Apesar de sucintos, os capítulos relativos às artes são poéticos, inspiradores e em consonância com a tradição artística do Catolicismo. Contudo, apesar da intenção do Concílio de reformar e recuperar a liturgia, em particular a liturgia do Cristianismo primitivo, os arquitectos não demonstraram muito interesse na recuperação da arquitectura Cristã primitiva.

A aceitação pelo Concílio dos estilos da época contemporânea, e a rejeição de limitações a qualquer estilo particular, podem ser vistas como uma cuidadosa abertura da janela ao Modernismo. O "sistema" da arquitectura, que por esta altura já se achava generalizadamente divorciado da sua tradição histórica, avançou então como um dilúvio. Alguns arquitectos e projectistas tais como Anders Sovic, Frank Kaczmarcic e Robert Hovda, esforçaram-se então, na esteira de Schwarz e Couturier, na defesa de uma arquitectura moderna imbuída de uma teologia Cristã. Baseando os seus pontos de vista nos estudos dos especialistas em liturgia Jungmann, Bouyer e outros, promoveram um tipo de edifício que pode visto como uma "não-igreja", pondo todo a ênfase na assembleia e sem orientação hierárquica, nem elementos fixos, nem uma linguagem arquitectónica tradicional.

Esta rejeição pelos arquitectos da maior parte do desenvolvimento da arquitectura e da liturgia da Cristandade, a par da promoção de uma estética abstracta, pareceu ser o baptismo, a confirmação e o casamento do Modernismo com a Igreja.

Estes princípios de que resultam os "espaços" litúrgicos modernos, mais tarde incorporados no documento emitido pelo Comité Episcopal para a Liturgia, de 1978, "O Ambiente e a Arte no Culto Católico", são, essencialmente, os dogmas iconoclastas do Modernismo dos anos 20.

A "Desconstrução" do Modernismo -- Ironicamente, ao mesmo tempo que a Igreja Católica se reconciliava com o Modernismo, no princípio dos anos 60 a profissão da arquitectura assistia ao começo de uma séria crítica do Modernismo.

Nos seus edifícios e escritos, os arquitectos Robert Venturi, Louis Kahn e Charles Moore propuseram uma nova/antiga arquitectura da memória, do símbolo e do significado, gerando o que passou a ser conhecido por movimento "Pós-moderno". Eles inspiraram também o trabalho de muitos outros arquitectos, entre os quais John Burgee, Michael Graves, Allan Greenberg, Philip Johnson, Thomas Gordon Smith e Robert Stern, que se dedicaram de bom grado ao planeamento urbano humanista e a um conjunto de estilos arquitectónicos variados.

Embora continue a haver obediência ao estilo Modernista, muitas das crenças filosóficas deste têm vindo a ser questionadas e criticadas ao longo dos últimos trinta anos. Tanto o movimento conservacionista e os historiadores da arquitectura, como os arquitectos Modernistas arrependidos e os desastres estruturais ocorridos em edifícios, têm evidenciado as limitações e fracassos do Modernismo.

Os projectistas e os decisores litúrgicos, por outro lado, mal reconheceram a crítica do Modernismo e continuam hoje ainda a promover a construção de igrejas Moderno-revivalistas ou até "desconstrutivistas", como se pode testemunhar em dois recentes concursos internacionais, um para uma nova igreja em Roma, e outro para a Catedral de Los Angeles.

Uma Tradição Vital -- De Volta ao Futuro -- Se bem que a maior parte dos arquitectos em actividade depois da II Grande Guerra tenham pouca formação no que respeita à arquitectura clássica e medieval, verifica-se a existência de um número cada vez maior de arquitectos em todo o mundo a utilizar linguagens estéticas tradicionais, bem como escolas de arquitectura a ensinar alternativas humanistas ao Modernismo.

Os capítulos do catecismo da Igreja Católica que transmitem os ensinamentos do sinal, da imagem e da igreja como símbolo visível da casa do Pai, são, ou podem ser, uma grande inspiração tanto para os arquitectos como para os pastores e para os leigos.

Nas décadas mais recentes temos visto um certo número de novas ou renovadas igrejas Católicas que exprimem essas aspirações e as do Vaticano II, através da restauração do sinal, do símbolo e da tipologia. Entre elas inclui-se a renovação da St. Mary's Church, em New Haven, a renovação da Cathedral of the Madeleine, em Salt Lake City, a paróquia de San Juan Capristano, na Califórnia, a Immaculate Conception Church, em New Jersey, St. Agnes, em New York, e a Brentwood Cathedral, em Inglaterra.

Estas construções, e outras, indicam-nos que o futuro da arquitectura Católica ultrapassará os estreitos limites da estética Modernista para regressar à ampla e viva tradição da arquitectura sagrada.» Duncan Stroik

Primeira imagem acima: Capela do Our Lady of Guadalupe Seminary, em Denton, Nebrasca, EUA, 2010, Arqº. Thomas Gordon Smith

Segunda imagem acima: Igreja de Notre Dame du Haut, em Ronchamp, França, 1955, Arqº. Le Corbusier

Francisco Cabral de Moncada

ÀS VEZES ATÉ PARECE QUE ME LÊEM...

Eis que, depois de ter escrito aqui um postal sobre a discriminação eleitoral, soube agora que os partidos que ainda não têm assento parlamentar vão estar logo à noite, a partir das 22 horas, num debate na RTP 1.

«... MEMORIES MAKE US CRY...» (COISAS DA INTERNET)

MÚSICA ROMÂNTICA PARA NOITE DE LUA CHEIA

terça-feira, 17 de maio de 2011

INFORMAÇÃO POLÍTICA AOS MEDIA

Neste momento, existem 19 partidos legalizados em Portugal. Destes, todos (menos um) concorrem às próximas eleições. Agora, que já sabem isto, podem tratá-los com igualdade e sem discriminação, como obriga a lei, nas estações de rádio e nos canais de televisão.


PODEROSA CONVERGÊNCIA ESTÉTICA

Noite de Lua Cheia, com trovoada, chuva e vento. A Natureza em todo o seu esplendor. Graças a Deus.

OLIVENÇA É TERRA PORTUGUESA

No próximo dia 20 de Maio passam 210 anos sobre a ocupação de Olivença. Estranhamente, não ouço os políticos portugueses ditos patriotas falarem desta causa nacional. Será que não dá votos? Ou talvez a troika não deixe...

segunda-feira, 16 de maio de 2011

EXPRESSO DO OCIDENTE

Terça-feira, 10 de Maio
Regressam a Lisboa reflexos edificantes dos arredores de Paris: de madrugada, em Odivelas, um grupo de "jovens" (para usar a terminologia oficial dos partidos do sistema e da opinião que se publica) resolve invadir uma esquadra de polícia com a intenção de libertar um detido. No fundo, uma forma criativa e inovadora de fazer justiça pelas próprias mãos. Minutos depois, mais de cinquenta indivíduos estão devidamente concentrados e organizados para fazer frente às autoridades, forçando a reacção dos agentes e lançando o caos pelas imediações. Nada de novo, aquilo que antes apenas nos era trazido pela eurovisão varre agora - de forma mais ou menos literal - a área metropolitana de Lisboa. Teimosas que são a desmentir a terminologia oficial, as imagens televisivas deixam perceber o que está à vista de quem queira ver: a imigração desregrada a que vimos assistindo nos últimos anos, aliada a uma Lei da Nacionalidade irresponsável, cria verdadeiros barris de pólvora em volta das nossas cidades criando condições para a emergência de delinquência e de criminalidade. Já a campanha eleitoral, campanha alegre como sempre, passou totalmente ao lado: esta semana como em todas as que a antecederam, discutia "pintelhos".

Quarta-feira, 11 de Maio
Ventos do Norte: provavelmente por pressão clarividente do Partido Popular Dinamarquês (não confundir com o nosso), talvez por vontade de continuar a assegurar um nível de vida sossegado e acima da média aos seus nacionais - ou talvez mesmo porque lá tenham chegado as imagens de Odivelas!… -, a Dinamarca anunciou a sua decisão de, muito em breve, mandar Schengen àquela parte. Para já, investe 20 milhões de euros na aquisição ou melhoramento de equipamentos que permitam o eficaz controlo das suas fronteiras, colocando em marcha um regime de vigilância a que de início chama "regular" e "aleatório". Se pensarmos que há não muito tempo já franceses e italianos se tinham chateado por conta de tão brilhantes acordos e que a contestação aos ditos cresce um pouco por todo o lado (menos por cá), sempre se pode manifestar alguma esperança na possibilidade de ver ruir um dos mais estúpidos documentos que a "construção europeia" já conseguiu parir.

Quinta-feira, 12 de Maio
Seja bem-vindo a Portugal: o Tribunal da Relação do Porto mandou em paz um psiquiatra local, condenado em primeira instância a cinco anos de prisão com pena suspensa e ao pagamento de 30.000 euros. A criatura tinha violado em plena consulta uma doente que sofria de depressão e que, para mais, estava grávida. O extraordinário Acórdão entende que "o simples desrespeito pela vontade da ofendida não pode ser qualificado de violência", prosseguindo como segue: "Os factos provados não permitem concluir que, ao empurrar a ofendida contra o sofá, o arguido visou coarctar-lhe a possibilidade de resistência aos seus intentos ou se, como esse acto pretendeu apenas o arguido concretizar a cópula que, de outra forma não conseguiria, dado o avançado estado de gravidez da vítima - 34 semanas". Já um nadinha enojado, chamo a atenção dos meus caros amigos para a passagem dedicada ao sexo oral. Reza como segue: "Não se vislumbra como é possível considerar o acto de agarrar a cabeça como traduzindo o uso da violência de modo a constranger alguém à prática de um acto contra a sua vontade. A não ser que se admitisse que o mero acto de agarrar a cabeça provoca inevitável e automaticamente a abertura da boca". Algo me disse logo no segundo ano da licenciatura que melhor faria eu em pirar-me do curso de Direito onde inadvertidamente um dia me inscrevi. Vejo que me assistia a razão: que nojo…

Sábado, 14 de Maio
De Nova Iorque chega a notícia da detenção do director-geral do FMI, o socialista Dominique Strauss-Khan, por violação de uma empregada do Hotel onde estava alojado. Se arranjar forma de ver o processo transferido para a Comarca do Porto… safa-se!

Domingo, 15 de Maio
Aqui há uns dois ou três meses, no facebook, recordo-me de assistir perplexo a uma discussão em que uma série de rapaziada com mentalidade de extrema-esquerda exultava com as dificuldades crescentes de várias instituições de ensino privado. A bem da Nação e das loucuras de Trotski, de Estaline, de Louçã e de génios similares, viam com bons olhos o progressivo tombo - literal, neste caso - de uma série de crianças no ensino público (que, está bom de ver, para esta gente devia ser o único com direito a existir). Ocorre-me o episódio na sequência de um trabalho ontem publicado no Expresso em que se dizia já terem encerrado 60 escolas privadas desde o início do ano, como corolário lógico da crise em que a troika caseira nos enfiou. A par disso, era possível ler testemunhos de pais que, em desespero, se vêem forçados a não renovar as matrículas dos seus filhos por não lhes ser mais possível fazer face à pesada factura mensal que em tempos optaram por pagar para bem das crianças que trouxeram ao mundo. Lida a peça, de imediato imaginei o sorriso largo dos indivíduos de que falei no início. Talvez o tenham perdido hoje, ao lobrigar as páginas 18 e 19 do Diário de Notícias: sucede então que os sacrifícios e as dificuldades tocam a todos e isso também tem reflexos dramáticos no ensino público. Como? Através do abandono. A fazer fé no DN, são cada vez mais os miúdos de 15 anos que pura e simplesmente abandonam os estudos para assim lhes ser possível trabalhar e prestar auxílio às respectivas famílias - 9,3% dos miúdos com mais de 15 anos segundo os últimos dados oficiais. Conclusão? O impacto real da economia e estes efeitos de bola de neve dão-se muito mal com as cartilhas de extrema-esquerda e, pior ainda, com os intelectuais que, mesmo timidamente, as conseguem defender.

Pedro Guedes da Silva

domingo, 15 de maio de 2011

PORQUE HOJE É DIA INTERNACIONAL DA FAMÍLIA

Família, torna-te aquilo que és — uma comunidade de vida e de amor!

BEATO PAPA JOÃO PAULO II
(1920 — 2005)

CATARINA SAYS...





Pessoas grandes que nos fazem grandes.

A Luisa durante muito tempo entrou em mim. Sabia mais de mim do que eu. Porque me via de fora, vendo de dentro. E foi por isso uma enorme ajuda.
A ela contei os meus segredos em voz alta. Sairam de mim sem fronteiras, directos para o espaço que foi nosso durante 3 anos de frequência constante. Saíram de mim, para nunca mais voltarem. Limparam-se as feridas e assim se curaram. Fui ficando mais leve. Fui ficando mais direita, de olhos em frente, a aprender que vida se vence e se abraça ao largo.
Somos as nossas circunstâncias.
Somos o que fomos, e alegria é a de saber que podemos ser agora o que queremos.
O passado já não pesa, porque já passou.
Muitas vezes quis abraçar a Luisa. Era sempre (por questões éticas) um abraço imaginário, mas estava lá na corrente das coisas que a gente sabe, mesmo que invisíveis...
A Luisa contou-me a minha história em preto e branco. Porque na altura eu vivia num nevoeiro.
A Luisa lembrou-me que o Céu tem cor, e que os papagaios de papel voam livres, que é bom comer chocolate, que as mimosas cheiram bem mesmo que sejam amarelas, e que a música é para ser ouvida no carro aos berros.
Muitas vezes penso nela. Estará a pintar as vidas de outras pessoas, com uma tela de cores infindável.
Para sempre, obrigada Luisa.


Catarina Hipólito Raposo

NOTA EDITORIAL

Por causa de um problema técnico que afectou este blogue, a coluna semanal «Catarina Says...» só agora irá ser publicada.

sábado, 14 de maio de 2011

DIVA A DOBRAR

Gisele Bündchen.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

MATANDO A SEDE NAS FONTES DE FÁTIMA

A assunção das cantilenas
à Matter de dores e penas,
Regina das soberanas,

reboa, ressoa, ecoa entre açucenas
e hossanas!...

— Fátima, em pleno e em peso,
a fervilhar
de fontes de fervor...

Eu, por mim, rezo:
sem cessar,
rezo,
Senhor,
a pardo marulhar
aceso
da récita maior,

e de sorte a acompanhar
melhor Itálico
o rumor
do popular
clamor
que até o azul solar do ar
sabe de cor

Fátima: alto-mar
e altar-mor!

RODRIGO EMÍLIO
(1944 — 2004)

DUPLAMENTE FÓRA DE MODA

Estou fóra de moda por ser católico, patriota e monárquico. E, principalmente, estou fóra de moda por ser assim desde sempre e nunca ter mudado ou virado de casaca.

INVOLUÇÃO

De «Deus, Pátria e Rei» baixámos para «Adeus, Pátria e Rei».

ACTUAL MAL NACIONAL

Logomaquia.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

BLOGUE DO DIA (149)


Porque Lisboa precisa de quem a defenda.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

SEM AGENDA







Duncan Stroik e As Raízes da Arquitectura Sacra Modernista (Parte I)

Há quem diga, e eu julgo encontrar-me entre os que também assim pensam, que a fealdade, obra do homem, é um pecado. Penso não haver grandes dúvidas de que todos os que conservam as suas capacidades sensoriais e intelectuais, acompanhadas de uma vontade sã, e estas três superiormente dirigidas pela consciência -- dentro de um amplo e generoso domínio a que poderemos sem grande risco chamar normalidade -- estarão em princípio equipados pela natureza para distinguir, sem grandes hesitações, o agradável do desagradável, o atractivo do repulsivo, o harmonioso do angustiante, em suma, o belo do feio. Semelhante aptidão se observa aliás também, dentro das mesmas margens de normalidade, quanto à capacidade inata de todo o homem para distinguir o bem do mal, o justo do injusto, e a coroar todas as distinções, pois todas resume, a verdade do erro. Por meio destas diversas categorias de distinções fundamentais poderemos decerto chegar, se tudo correr bem, a uma relativa realização do bem, do belo, do justo, do verdadeiro enfim. Estes valores supremos interligam-se, completam-se e mutuamente se implicam, formando o único todo que pode dar sentido coerente a todos os nossos actos e ao conjunto das nossas vidas, individualmente ou enquanto membros de comunidades.

Vem tudo isto para sublinhar uma verdade hoje muito esquecida: o belo, a beleza estética em tudo o que nos rodeia, é algo de absolutamente fundamental nas nossas vidas, associada aos outros valores supremos referidos. Não podemos dispensar o belo. Por conta de uma ideologia de base radicalmente individualista e materialista, o desprezo e a negação do belo, modernamente tão preterido por outras pretensas prioridades da vida, como a hiper-liberdade do "eu", o económico, o útil, o rápido, em suma, tudo o que possa proporcionar ao homem-massa (tanto o homem da rua como as "elites") o máximo de prazer ou poder instantâneos, tem-nos arrastado a todos não para o utópico e cantado paraíso, mas para um verdadeiro inferno na Terra. Basta ter dois olhos, e dois dedos de testa, para ver isso mesmo.

No mundo ocidental, o panorama da arquitectura sagrada, e particularmente a das igrejas católicas há mais de cem anos a esta parte, constitui um caso exemplar da emergência e posterior triunfo da acima referida ideologia, ou conjunto de ideologias, e da ruptura brutal com o passado verificada na concepção e construção de novas igrejas, operada não só por via de influências secularistas de raiz protestante como, a partir do início do século XX, da conquista obtida pelo chamado Modernismo, nas artes e na arquitectura em geral, e nas sacras em particular.

Duncan Stroik é um dos mais proeminentes arquitectos norte-americanos clássicos contemporâneos e um grande autor de arquitectura sacra, com um significativo número de igrejas e outros edifícios religiosos já construídos, com elevadíssima qualidade estética, funcional e constructiva. Sendo também um brilhante escritor dos temas da sua preferência, decidi hoje dar-lhe a palavra, para nos expor as suas ideias (traduzidas para português), publicadas no Adoremus Bulletin, St. Louis MO, Out. 1997, sob o título «The Roots of Modernist Church Arquitecture».

As Raízes da Arquitectura Sacra Modernista

«A Igreja nunca considerou um estilo como próprio seu. ...Seja também cultivada livremente na Igreja a arte do nosso tempo, a arte de todos os povos e regiões, desde que sirva com a devida reverência e a devida honra às exigências dos edifícios e ritos sagrados.» Sacrosantum Concilium, nº. 123

«Se você quiser ver arquitectura Modernista notável, você terá que dispor de muito tempo e do seu próprio Learjet.» Robert Krier

«Para muitos observadores instruídos, seria de crer que os edifícios reducionistas destinados ao culto Católico Romano, hoje em dia, são o corolário directo dos ensinamentos da Igreja, dos estudos litúrgicos modernos e da teologia contemporânea. E, decerto, a ser assim, a arquitectura Modernista deveria ser considerada o estilo da Igreja oficialmente aprovado, e, por tal modo, difícil de criticar.

De facto, nos anos sessenta a seguir ao Concílio Vaticano II, houve um grande surto de construção de igrejas austeras e frequentemente assemelhadas a edifícios comerciais ou industriais, assumindo a convicção de que seriam assim legitimadas pelo espírito do Vaticano II.

Mas todos esses caixotes de betão, esses abrigos tipo-celeiro e essas massas esculturais tiveram os seus precedentes na era pré-conciliar. De facto, já desde os primórdios do Modernismo, em finais do século XIX, se verificou a experimentação de igrejas com formas radicalmente novas. A ideia de adoptar para as igrejas os modelos de auditórios, teatros Gregos, casas gigantes ou teatros circulares, foi gerada a partir do baixo culto da igreja Protestante, enquanto que o reducionismo das igrejas post-Conciliares se baseou no movimento da arquitectura Modernista na Europa.

A Teologia Moderna e A Arte Modernista -- Deve assinalar-se que a corrente arquitectura de igrejas não é só filha da teologia moderna, mas também o é dos "mestres" do Modernismo: Le Corbusier, Walter Gropius, Alvar Aalto, Mies van der Rohe, Frank Lloyd Wright e outros. A Igreja aceitou de bom grado, e até adoptou, a arquitectura secular nos seus edifícios sagrados. Contudo, ao promover este "Estilo Internacional", não terá a Igreja desavisadamente adoptado a filosofia do Modernismo e involuntariamente prejudicado a sua própria teologia?

Primeiro, é bem sabido que a base filosófica da arquitectura Modernista pode ser achada, tal como a sua "prima" teológica, no Iluminismo Francês e no Racionalismo Alemão. E também é digno de nota que existe um paralelo entre a arquitectura da Reforma Protestante e a arquitectura iconoclástica dos finais deste século (séc. XX).

Com a Reforma, as igrejas foram despidas da estatuária, das pinturas e dos símbolos tradicionais. As novas igrejas foram projectadas como "casas-de-encontro", como se se recuasse para a Cristianismo primitivo, em que os crentes se reuniam na casa uns dos outros. Tendo a arquitectura perdido a seu valor como signo do sagrado, passou a ser vista como um mero meio de viabilizar as necessidades materiais ou funcionais da assembleia. Os conceitos da igreja como auditório e como teatro circular, provêm de edifícios do Calvinismo inicial, projectados para que as pessoas pudessem ver e ouvir o pregador, tais como em Charenton, França.

O Modernismo foi particularmente atraído para os tipos do auditório e do teatro devido às suas pretensões científicas de correcção acústica e visual, bem como pela convicção de que a forma de um edifício deve ser ditada pela sua função.

Durante a Reforma, a destruição do altar, do sacrário e da capela-mor foi uma prática comum, e, frequentemente, substituiu-se o altar por um púlpito ou por uma fonte baptismal, como ponto focal. As proscrições teológicas da Reforma contra as imagens e os símbolos foram retomadas pelos Modernistas no século XX, dando lugar a uma estética minimalista obrigatoriamente austera e com ausência de imagens.

A Necessidade de Romper com o Passado -- Um princípio essencial do Modernismo no virar do século foi a necessidade de romper com o passado, para encontrar uma arquitectura nacional ou uma "arquitectura do nosso tempo".

De acordo com a filosofia de Hegel, os edifícios foram vistos como um reflexo do espírito da época particular da sua construção, e portanto distintos dos de épocas ou estilos precedentes. Tal era confirmado pela crença no "homem moderno", o qual, pelo seu ineditismo histórico, exigia uma arquitectura inédita, de preferência científica, progressista, e abstracta.

Os primeiros promotores do Modernismo, tais como Louis Sullivan, Frank Lloyd Wright e Otto Wagner, fizeram ver bem claro que toda a aparência de elementos históricos ou de estilos, não é do nosso tempo e deve ser rejeitada.

De começo, esta rejeição da tradição foi feita pela subtracção ou pela abstracção dos motivos tradicionais nos edifícios. Mais tarde, inspirada pela pintura e pela escultura não-objectivas, a arquitectura Modernista procurou acabar com as distinções entre chão e tecto, interior e exterior, janela e parede, e sagrado e profano, distinções essas que sempre acompanharam, historicamente, a glória da arquitectura.

Triunfalismo Tecnológico -- Esteticamente, a arquitectura Modernista foi inspirada por obras de engenharia incluindo pontes, edifícios industriais e pavilhões de exposições temporárias, que eram grandes, económicos e de construção rápida. A máquina foi um paradigma essencial: o arquitecto suíço Le Corbusier pretendeu afirmar que o avião, o barco e o carro fossem modelos a seguir numa arquitectura funcional. Tal como um avião era projectado para o voo eficiente, assim uma casa era uma máquina para viver. Tal como os aspectos antropológicos, espirituais e tradicionais do domus para habitar e para criar uma família foram deitados fora na "casa como máquina para viver", assim também o ritual, o ícone e o sacramento seriam igualmente saneados da "igreja como máquina para reuniões".

Elaborando sobre os textos de Viollet Le Duc e de John Ruskin, o historiador Nicholas Pevsner e outros defenderam que a era moderna exigia não só o uso de materiais modernos tais como o aço, o vidro e o betão armado, mas que os mesmos também fossem visivelmente expressos nos edifícios.

Foi também defendido que um estilo moderno se gerava a partir do uso de materiais modernos e que esses materiais inerentemente implicavam e conduziam a uma estética reducionista. Isto era, em parte, uma crítica da construção, naquele tempo em curso, de edifícios de alvenaria tais como a St. Patrick's Cathedral e a National Shrine of the Immaculate Conception, construídos no século XX, bem como muitas capelas e igrejas construídas à maneira Clássica ou Medieval.

De facto, ao mesmo tempo que Auguste Perret construía, em Paris, uma igreja-salão Modernista em betão, Ralph Adams Cram e outros construíam igrejas Góticas e Renascentistas de betão armado (em West Point e na Califórnia), acabadas com ornamentação, molduras e esculturas. Tal como os antigos Romanos, que usavam betão oculto nas paredes e nas cúpulas de edifícios Clássicos, os arquitectos tradicionalistas do início do século XX usaram com brilhantismo a mais corrente tecnologia de construção, aquecimento e canalização, tudo dentro de uma estética humanista.» (continua) Duncan Stroik

Francisco Cabral de Moncada

TRIUNFO DOS ARRIVISTAS E SEUS TROFÉUS

Novo-riquismo é uma ideologia que se caracteriza pelo ódio a tudo quanto seja antigo. Árvores e casas são os alvos preferidos dos seus seguidores e «abate» e «demolição» as suas palavras-de-ordem. Instalados que estão no poder há décadas em Portugal, basta darmos uma volta pelo nosso País para podermos ver o resultado dos seus ataques terroristas: pauzitos ridículos e caixas desumanizadas substituíram árvores centenárias e casas históricas.

terça-feira, 10 de maio de 2011

CINEMA NACIONAL DE DIMENSÃO UNIVERSAL

Em 1953, ano em que apenas se produzem e estreiam cinco filmes em Portugal, anunciando assim uma tendência de empobrecimento após os Anos de Ouro das décadas de 1930 e 1940, surge — como lufada de ar fresco e tiro no escuro — o melhor filme de sempre, da nossa cinematografia, sobre o Ultramar.
Chaimite, de Jorge Brum do Canto — autor maior da História do Cinema Português, completamente apagado nos dias de hoje pela historiografia oficial —, é a segunda longa-metragem nacional sobre a matéria. Facto estranho este, que confirma o inexplicável desinteresse dos nossos produtores pelo tema (que tem pano para mangas, aliás). É o primeiro filme da empresa de produção Cinal, dirigida pelo Professor Luís Pinto Coelho, que se caracteriza por películas de qualidade.
Jorge Brum do Canto atingiu, nesta obra, uma autenticidade nas resconstituições de época e militares, como nunca mais o nosso Cinema logrou alcançar. Se, no que diz respeito à imagem, ao som e à montagem, percebemos que estamos na presença de um esteta — Brum do Canto iniciou-se com a Geração de 1930, profundamente ligada à modernidade cultural portuguesa, onde também se perfilaram, como cinéfilos ou cineastas, Leitão de Barros, Cottinelli Telmo, António Lopes Ribeiro, Chianca de Garcia, Dr. Ricardo Jorge, João Ortigão Ramos, Dr. Félix Ribeiro, Domingos Mascarenhas, e muitos outros, de igual calibre, que se constituíram como tertúlia cinematográfica no Cine-Teatro S. Luís (aberto em 1928) —, por outo lado, no que se refere à História, é um cineasta profundamente conhecedor do assunto abordado que avança para este arriscado registo épico de Chaimite.
O filme — na linha de Feitiço do Império (1940), de António Lopes Ribeiro — mostra o heróico esforço português para defender o Ultramar dos ataques estrangeiros — neste caso inglês, sendo assim premonitório das cobiças americana e soviética —, e não é, como muitas vezes erradamente se refere, uma fita contra a revolta vátua, nem, muito menos, contra a sua identidade enquanto povo. Digamos que é um filme pela positiva: eleva Portugal, respeitando os que se lhe opunham directamente; mas denuncia os ingleses, que pretendem levar os moçambicanos à revolta contra Portugal para alimentar os seus apetites imperiais.
Mouzinho de Albuquerque (interpretado por Jacinto Ramos) destaca-se como grande protagonista, herói e fio-condutor da narrativa, não apagando, note-se, os outros camaradas de armas — Caldas Xavier (Augusto Figueiredo) e Paiva Couceiro (o próprio Brum do Canto, num notável trabalho de actor).
É que este cineasta era o protótipo do artista-total: neste filme assina o argumento, os diálogos, a planificação, a realização, a montagem, e actua. Sabia-se ainda fazer rodear dos melhores: a demonstrá-lo encontramos na música Joly Braga Santos, e na fotografia — de belíssimos e ousados enquadramentos — César de Sá e Aurélio Rodrigues, para além de termos o Major Vassalo Pandayo como consultor militar.
A biografia de um criador contém, quase sempre, a chave para a sua Obra. Neste caso, a tradição familiar, em que Jorge Brum do Canto bebeu, revela-se fundamental. Nascido e criado numa família católica e monárquica — próxima da Família Real e amiga de Paiva Couceiro —, habituou-se a pensar pela sua própria cabeça — nunca se envolveu institucionalmente com o Estado Novo, embora dele fosse simpatizante — e foi um Homem Culto e Livre. Sabemos que apreciava António Ferro, pelo projecto que este tinha para as Artes Nacionais, e, por sua vez, era admirado por Carmona.
Encontramos como tema principal do seu Cinema, nas suas próprias palavras, «a Terra e o Povo». Portugal e os Portugueses vão ser, assim, os protagonistas de uma filmografia que se esplana, entre 1924 e 1929, por 23 filmes — do vanguardista A Dança dos Paroxismos (1929) ao policial O Crime de Simão Bolandas (1978-1984), passando por documentários e obras de ficção. Quem quiser encontrar a nação em toda a sua diversidade e plenitude, terá de ver A Canção da Terra (1938), Lobos da Serra (1942), Fátima, Terra de Fé (1943), Um Homem às Direitas (1944), e A Cruz de Ferro (1969).
Voltando a Chaimite: a acção desenrola-se, temporalmente, entre 1894, momento do ataque a Lourenço Marques pelos africanos, e 1897, altura em que Mouzinho, Comissário Régio de Moçambique, vence definitivamente os vátuas, derrotando Maguiguana, que tinha escapado durante a captura de Gungunhana. A fita alia este lado épico a um tom intimista, ao mostrar a Mulher de Mouzinho, presença discreta mas firme, verdadeira apoiante e companheira das empresas do herói. Paralelamente, o realizador dá-nos ainda uma história de amor entre um soldado e uma bela rapariga, com um final feliz. Cabe aqui destacar que Chaimite tem também valor como documento histórico para o estudo da vida colonial da época, que é retratada com verosimilhança e mestria, desde a da cidade até à do mato.
Para a «coisa militar», Brum do Canto baseou-se no livro A Guerra de África em 1985, de António Ennes, e em textos do próprio Mouzinho, o que assegura o rigor histórico-militar. Ainda no campo da autenticidade, é de realçar que os indígenas africanos falam nos seus dialectos próprios — muda a tribo, muda a língua —, criando assim um verdadeiro realismo, tão em voga nesses mesmos anos de 1950 noutras paragens. O difícil será, como neste caso, juntar, no mesmo filme, uma escala monumental, num registo de credível reconstituição histórica, a um intimismo de fino recorte humano. E, se termino falando na escala, é porque Chaimite atinge uma grandiosidade no tratamento do espaço e dos cenários, servindo o argumento na sua enorme dimensão épica, como nunca mais o Cinema Português — e, de um modo geral, a Arte Nacional — conseguiu fazer.
Saibam os jovens realizadores pôr os olhos em Chaimite, para se poderem aventurar em novas e belas criações, com som e imagens em movimento, nesta linguagem universal que o Cinema é — e que sai sempre enriquecida quando trata temas que dizem respeito aos Povos, como aqui bem se vê.
Veja-se, pois!

BLOGUE DO DIA (148)


Porque sou português e gosto de cavalos e de touros e da festa brava.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

EXPRESSO DO OCIDENTE

Terça-feira, 3 de Maio
Superiormente agendada para o intervalo de um Real Madrid que prende mais gente às televisões do que todos os nossos pulhíticos juntos, eis que pelas 20h30 o engenheiro Sócrates se dirige à Nação. Para finalmente nos lembrar os sacrifícios a que teremos direito? Não, jamé! - como jurava o outro para quem a margem Sul era o deserto. Ladeado por aquilo que parecia ser a figura de cera do desaparecido ministro Teixeira dos Santos, Sócrates apronta-se para a grande não declaração do ano (não sem antes ter perguntado, imagino eu, "Ó Luís, fico melhor assim ou assado?"). Não se aprendeu nada: que não subia isto, que não nos tiravam aquilo, que poderíamos continuar a beneficiar do melhor dos mundos - por ele criado, já se vê; ou seja, veio o notável primeiro-ministro, com a proverbial lata que lhe é tão característica, dizer que não nos assaltava no bolso esquerdo. Preferia fazê-lo de outro modo. Qual? Saberemos quando falarem os "senhores estrangeiros" (como ouvi há dias), que são de facto quem manda.

Quinta-feira, 5 de Maio
Um nadinha antes de almoço falou a troika, aproveitando a ocasião para fazer desmoronar o castelo de ilusões que paira na cabeça do engenheiro: depois de estudarem o país num curto par de semanas, os senhores esboçaram em trinta páginas - em contraste com as propostas eleitorais dos partidos lusos, três ou quatro centenas de páginas que nunca ninguém leu, nem mesmo o revisor de texto - o programa de governo que vai a votos a 5 de Junho e que, pelas minhas contas, será sufragado por mais de oitenta por cento dos lúcidos eleitores lusos (entre os quais eu não me conto, convém referir para efeitos de memória futura). E ao contrário de Sócrates, a troika disse logo ao que vinha: vamos viver bastante pior nos próximos anos dado que, basicamente, um pouco por todo o lado vamos pagar mais, deduzir menos e receber quase nada. Para compensar - e estimo eu que para que os nossos "parceiros" europeus possam vender algumas carruagens e matérias conexas -, tudo indica que poderemos dentro em breve seguir de TGV para Madrid (diz-se mesmo que a Easyjet terá ficado em pânico com a anunciada concorrência…). Uma ideia que, como é sabido, deixa a Pátria entusiasmadíssima, em especial todos quantos (e são cada vez mais) se querem meter a andar daqui para fora um dia destes.
Ainda assim, pouco simpatizante das sucessivas machadadas na Soberania Nacional que hoje a tornam pouco mais do que uma selecção de futebol, permito-me não partilhar do entusiasmo da esmagadora maioria dos comentadores e analistas que vão ditando a opinião pública, também eles com responsabilidades pesadas de umas décadas no estado a que isto chegou. É que bem vistas as coisas, não há forma de evitar a comparação com os nossos parceiros de resgate. E se assim é, ora atentem os meus caros amigos nos resultados da intervenção de "auxílio internacional" na Grécia: os gregos, agora abancados em esplanadas a ver correr os dias de sol a sol fruto de um desemprego que cresceu 50%, receberam a rapaziada que os vinha ajudar quando os juros da dívida cotavam nos 7% lobrigando agora essas mesmas taxas bater recordes de 25%! A dívida, essa, galga já os 150% do PIB e as nossas conhecidas agências de rating, naturalmente, classificam o país inteiro - todo um berço da Cultura Clássica - como "lixo". Pelo meio, os nossos companheiros gregos não só não ficaram melhor como têm agora 110 mil milhões de euros para pagar, o que me lembra aquela máxima de que com amigos destes ninguém precisa de inimigos. Mas enfim, na minha perspectiva sempre amiga das mais admiráveis varandas do planeta, enquanto mantiverem a tutela sobre Santorini já não perderam tudo. Acresce o seguinte: dizem os economistas de serviço às televisões que "o caso grego é diferente". E porquê? "Porque lá as contas estavam marteladas, os governantes gregos eram uns aldrabões", rematam. Ficamos mais esclarecidos, já se vê que os nossos são gente de seriedade acima de qualquer suspeita.

Sexta-feira, 6 de Maio
Numa campanha que em quase nada se distingue da comédia, o desnorte dos lusos partidos é cada vez mais notório. Enquanto PS e PSD, aluados de todo, cantam vitória e reclamam os louros das nossas desgraças como se na verdade deles dependesse a existência (e o juro) do dinheiro, o CDS, como habitualmente, dá duas no cravo e três na ferradura para acabar por dizer que sim a tudo - e cá estaremos para ver se assim não será. Já a extrema-esquerda, apostadora que era da tese do quanto pior, melhor e do corte radical de ordenados, subsídios de férias, de Natal e do mais que houvesse, vê-se agora sem a pretendida muleta de campanha. Do mal o menos, pode sempre acontecer que os submarinos da armada UE/FMI afundem a jangada do bloco. Pelo meio, as sondagens apontam para um empate técnico que obedece a alguma lógica: é quase tudo tão mau no quadro político português que não se vê razão de monta para que alguém pudesse estar muito à frente.
Pela hora de jantar, na RTP, arrancam os habituais debates entre candidatos escolhidos a dedo. O único momento digno de registo foi protagonizado por José Manuel Coelho que, de vassoura na mão, irrompeu nas instalações da televisão que todos pagamos (sem que daí advenha vantagem visível) ao passo que polícias vários perseguiam o ex-candidato presidencial que reclamava apenas o cumprimento da Lei. O episódio é um bom retrato do país. Aplauda-se.

Domingo, 8 de Maio
Como estas coisas são altamente contagiosas, a maluqueira dos partidos portugueses atingiu a União Europeia (ou vice-versa, ou talvez seja mesmo em duplo sentido). A respeitável Der Spiegel jurava a pés juntos há menos de vinte e quatro horas que a Grécia ameaça saltar fora do Euro, o que teria motivado uma reunião de urgência de ministros das Finanças da zona (sem que o nosso tenha sido convidado). Talvez pelos brilhantes resultados obtidos pelas medidas impostas à economia grega de que falei antes, parece insustentável ao governo de Atenas manter uma caminhada com este ritmo rumo ao abismo. Ou pelo menos mantê-la sem que o povo grego, um destes dias, se chateie mesmo a sério e sem retorno. Em resposta, cada capital da União diz sua coisa, em sucessivos desmentidos aos desmentidos, numa esquizofrenia em que já quase ninguém se entende - boas notícias, portanto, para os que desde sempre recusam o federalismo europeu.
Pelo meio, arrancou a guerra internética - diz-se que com o alto patrocínio da Câmara Municipal de Cascais! Nas cada vez mais influentes redes sociais, propaga-se um vídeo que visa puxar as orelhas aos malditos finlandeses que, como se sabe e a fazer fé na imprensa lusa, andaram anos a fio a gastar o nosso dinheiro a ponto de nos terem deixado na bancarrota. Felizmente que temos o engenheiro para que estas maldades nórdicas não passem em claro. Mas mais do que o vídeo, que até é uma peça interessante se visasse apenas aumentar a auto-estima das massas, confesso que me espanta o generalizado entusiasmo com a peça, a incapacidade para perceber a quem aproveita o filme e, sobretudo, a sua irritabilidade para com a estimável Finlândia que, provavelmente, até vai mesmo acabar por entrar com algum. Em tempos de mediania, onde faltam referências e âncoras, onde não se vislumbram com nitidez aliados nem inimigos, parece que os portugueses com computador encontraram finalmente um alvo. A propósito, convém que Cascais compre já uma outra bazuca de gigabytes: é que os nossos velhos aliados também não parecem muito virados para fazer de lorpas.

Pedro Guedes da Silva

DOS HERÓIS DO PASSADO QUE TÊM FUTURO

Acabei, agorinha mesmo, de reler a biografia de Henrique Paiva Couceiro escrita por Vasco Pulido Valente.
O autor não resiste a tentar apoucar, aqui e ali, o Herói Português. No entanto, o livrinho tem méritos. A saber: é mais uma achega para a criação de hábitos de leitura na área da arte da biografia; género raro em Portugal, vá-se lá saber porquê — por falta de homens interessantes no nosso passado histórico não será, certamente. Por outro lado, se VPV demonstra maus fígados (fruto das libações perigosas?...) na análise que faz de certos episódios da vida e obra de Paiva Couceiro, até aí desperta no leitor curiosidade de conhecer o eterno capitão. Falo por mim.
Devo confessar que, estranhamente, na idade do culto dos heróis — nacionais e outros —, sendo eu já monárquico militante, nunca o coloquei no meu altar de santos, heróis e sábios. Este livrinho deu-me uma enorme vontade de partir à (re)descoberta de Henrique de Paiva Couceiro: homem de fé profunda e carácter férreo. Características estas caídas em desuso, e que devem incomodar bastante os intelectuais a que hoje temos direito; os quais, no que diz respeito a consistência de valores e personalidade, são, em geral, pouco mais do que gelatina.
Leia-se, pois.

UMA PINTORA MUITO CÁ DE CASA

Mulher Adormecida, 1935
TAMARA DE LEMPICKA (1898 — 1980)
Óleo sobre Tela, 33 x 42 cm

sábado, 7 de maio de 2011

BLOGUE DO DIA (147)


Porque hoje foi um dia de surf.

CATARINA SAYS...





"Ao desígnio da matéria opõe-se um outro,
Onde o perfume da eternidade é tão intenso que basta fechar os olhos para a ver"

Partilhar está na ordem do dia. Partilhar deve ser a palavra posta em pratica sem hesitações.
Partilhar é dar o que se sente.
Ordenar a ordem da realidade na partilha da verdade.
Estamos ligados, não estamos sozinhos.
Que a globalização sirva exactamente para contrariar as ilhas do individualismo, e que se desenhe através dos meios que temos, (e não são poucos, diga-se) um mapa mundo de comunicação comum.
De que serve guardar para nós, as coisas boas que temos, que pensamos, que criamos, que imaginamos? Não nos leva a lugar nenhum, porque os outros não nos adivinham...A partilha é o oposto disto, é dar o que sabemos pensar, é deixar entrar os outros nos nossos sonhos que assim se tornam mais possíveis, é estar atento e multiplicar.
A partilha gera partilha, e assim se contagia.
Este é o networking que vale a pena, pelo encontro e mais valia que surge, no reconhecimento de não sermos únicos, sendo, mas pelo resgate da compreensão dos outros por nós.
E depois é escolher, porque na liberdade de expressão que temos, em boleia gratuita, podemos escolher quem queremos pela diferença ou igualdade de pensamento, de atitude.
É muito através dos outros que crescemos aprendendo. Há pessoas no meu mapa que já sei que não abro mão. Porque passaram a fazer parte dele. E preciso dessas pessoas para que a minha vida se ria e respire melhor..
Só me faz sentido que assim seja. Não vale tudo, claro. Não se dá ao desbarato impondo as nossas regras aos outros. Eu falo de partilha humilde, falo de dar o melhor que sabemos e temos, porque algures alguém pode vibrar e crescer com isso.
É evidente que a partilha requer transparência acima de tudo. Requer que se assuma o que se é numa verdade estanque e sem batotas. Essa contabilidade interna que podemos todos fazer, quando nos apetecer sem cobranças, sem facturas.
E esta é a verdadeira liberdade: a da escolha.
Mas, para se escolher, é preciso estar aberto e mostrar o que se é.
A Alma não se deve poupar num acto egoísta ou solitário...para a Economia da Alma, existe igualmente a lei da oferta e da procura, ou seja: dar e receber e assim evoluir.
Numa medida equilibrada e ponderada.

Partilhar é dar de nós, é o direito nosso e dos outros de existir assim mesmo. E sê-lo. Percebemos assim melhor para que serve a eternidade. Ficamos mais perto de nós, através dos outros.

Catarina Hipólito Raposo

sexta-feira, 6 de maio de 2011

NAS NUVENS

ENTRE UMAS E OUTRAS VENHA O DIABO E ESCOLHA

Pior do que gente mal-educada só mesmo gente ressabiada.

IDENTIDADE E TRADIÇÃO

Português que sou, fui ontem à corrida de toiros no Campo Pequeno. E levei os meus filhos. Encontrei lá amigos meus que fizeram exactamente o mesmo. Enquanto assim for, Portugal não morrerá.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

SEM AGENDA

Entre o Liberalismo e o Absolutismo


Resolvi trazer hoje ao conhecimento dos leitores deste espaço um notável pequeno texto, com o mesmo título acima, integrado no livro Razões Reais, Universitária Editora, Lisboa (3ª Edição, revista e ampliada, 2002) do Dr. Mário Saraiva (1910 - 1998), figura das mais importantes e originais do pensamento monárquico nacional e da sua corrente mais recentemente apelidada por Neo-Integralismo. Para todos os que ainda não conhecem este autor, ou não o conhecem suficientemente -- monárquicos ou não monárquicos -- julgo que será deveras instructivo passar a conhecê-lo, já que por ele nos é revelado, assim o julgo, a uma luz renovada, o caminho de um futuro possível, libertador da Nação, por tantos há tanto desejado. Inteiramente fiel ao legado intelectual e moral de que foi discípulo e um dos principais continuadores, trata-se aqui de uma indispensável clarificação e actualização, nos dias de hoje, da essência monárquica, como bem reconheceu e enalteceu, no seu belo prefácio da referida obra, Pequito Rebelo (1893 - 1983), um dos fundadores daquele tão influente -- como, hoje por hoje, tão injusta e lamentavelmente esquecido -- movimento cultural e político, que foi o Integralismo Lusitano.


«Não teria sentido que ainda hoje a questão do poder real se pusesse nos mesmos termos em que há século e meio tão apaixonadamente se debateu entre os nossos bis e trisavós. Tal hipótese denunciaria um absurdo arcaísmo político, uma lamentável inércia do pensamento, indiferente às duras experiências entretanto vividas e de olhos fechados às exuberantes realidades do nosso tempo. Aliás, em nenhuma das duas soluções contrárias e extremas -- liberalista ou absolutista -- se respeita ou compreende o verdadeiro espírito da Realeza.


O demo-liberalismo, sonegando todos os poderes efectivos ao Rei, desprestigiou e inutilizou quase por completo a Monarquia. Soberana de facto era a maioria parlamentar a quem o Rei devia, constitucionalmente, obediência.


E como haveria o monarca de exercer as funções de árbitro nacional desprovido de poder?


A doutrina absolutista, por motivo oposto, inutilizou igualmente a Monarquia. Fazendo do Rei um "governante" absorvente, transformando-o num ditador, anulou as virtualidades da instituição real. Em lugar da personificação da unidade nacional, da instância de apelo e de justiça ("Aqui del Rei!"), fez dele causa de discussões e divisões, alvo de crítica e de oposição, objecto de ódios, em que redundam geralmente as prolongadas oposições ao governo em política. E a oposição ao rei-governante confunde-se fatalmente com a oposição à Monarquia.


O Integralismo Lusitano marcou neste ponto uma sensata solução intermédia, enunciando a conhecida máxima de Gama e Castro: "O Rei governa mas não administra".


Queria com isso indubitavelmente significar que a autoridade é inseparável da dignidade real, mas que ao Povo cabe o direito activo de conduzir a administração pública.


Assim, nestes termos, ficou a questão até aos nossos dias. O que nunca se fez foi a destrinça, algo difícil, entre governo e administração. Daí as vagas ideias que mais ou menos pairam sobre o assunto quando se quer uma definição actual e explícita das funções do Rei.


Por nós, temos insistido em que, em princípio, o Rei não deve arcar com as responsabilidades do governo corrente, isto é, das funções comuns do executivo, nem a elas estar directamente ligado. Tais funções e responsabilidades são, por natureza, encargo próprio de um governo ou ministério.


O facto de fazermos depender do Rei a nomeação e a demissão dos ministérios já tem sido interpretado por alguns críticos como causa necessária da responsabilidade real, ainda que indirecta, na sua acção governativa.


Não cremos que justamente assim seja. O governo responde pelos seus actos perante o Rei, mas também responde perante a Assembleia parlamentar, que ambas as entidades, cada uma por seu modo, são representativas da Nação. À Assembleia incumbe, exactamente como principal função, fiscalizar o Governo e isso responsabiliza-a na obra deste. Enquanto o não censure ou não lhe manifeste a sua desconfiança, implicitamente fica entendido que o acompanha. Apenas numa circunstância pareceria legítimo cobrir com a responsabilidade real a responsabilidade do governo: no caso teoricamente admissível de o rei persistir pessoalmente em manter no poder um Governo reprovado pela opinião nacional. Apenas nesse caso, aliás improvável.


Mas a monarquia é o regime tradicional das liberdades populares («Nos liberi sumus»...) e o Rei o seu melhor garante.


Não o poderia ser o monarca coacto do Liberalismo. Também o Rei há-de ser livre («Rex noster liber est»...), se encarnar a nação livre. A liberdade real é o penhor indispensável da suprema justiça.


Um árbitro justo, independente do poder executivo, é o que é difícil conseguir, por muitos artifícios que se tentem, nos regimes de base electiva e que, com naturalidade, é fácil de possuir através da realeza.


Mas se o Rei fosse chefe do próprio governo, onde estaria a arbitragem, a jurisdição para a qual se apelasse e que, em última instância, pudesse decidir contra esse governo?


Voltemos um pouco atrás, à formula que o Integralismo perfilhou. -- governar, mas não administrar.


É evidente que, diante da centralização absorvente que o demo-liberalismo do século XIX operara, o Integralismo, ao enunciar que o Rei não administra, tinha em vista preservar as prerrogativas e o direito de administração autónoma que o povo local mantinha. Na verdade, era dentro de cada velho município que se determinava a vida pública quase totalmente.


A interferência do poder real na administração municipal fazia-se em grau mínimo, e notemos que o termo administração abrangia dentro dos seus limites a maior parte do poder legislativo e executivo que a regia.


É claro que o municipalismo -- bela florescência das liberdades populares na Idade Média -- foi definitivamente ultrapassado; mas não morreu nem jamais morrerá o espírito que o inspirou. Creio que seríamos felizes se o país inteiro pudesse ser o conjunto dos seus municípios, tendo no Rei o defensor dos respectivos forais.


Imaginar as disposições foraleiras dos municípios portugueses vivendo à sombra protectora da instituição real, talvez fosse o meio mais seguro de traçar o esquema de uma Constituição que, para já, nos serviria de suma política.


Entretanto, passando do idealismo à prática, num esforço objectivo de concretização, procuremos distinguir o que, à face do tempo actual, se colocaria no âmbito do ministério-governo ou ficaria debaixo da alçada régia.


Na lógica do nosso pensamento, parece não oferecer quaisquer hesitações atribuir ao ministério-governo a gerência e responsabilidade dos seguintes departamentos: Finanças, Economia, Comércio, Indústria, Agricultura, Obras Públicas, Comunicações, Educação, Saúde e Assistência, Trabalho, Transportes, Previdência Social.


Com efeito, estes departamentos compreendem aquela matéria que hoje podemos classificar de administração, segundo o sentido do escritor José da Gama e Castro. Governar, para o autor de «O Novo Príncipe», como para os integralistas, não era concentrar numa só mão todos os poderes; não era gerir directamente nem administrar, mesmo de forma indirecta.


A descentralização foi, pelo contrário, um dos pontos principais de resistência doutrinária do Integralismo. Por governo real significava-se aqui, essencialmente, a fiscalização atenta da conduta da gerência ministerial e do parlamento e o zelo activo pelo equilíbrio harmónico dos poderes do Estado.


Nunca será demais repetir que o papel por excelência da Realeza, inigualável, e que a todos supera, é o de personificar a unidade da Pátria e que a sua principal função, tradicionalmente expressa e aceite, é a de «defensora dos descaminhos do reino». Decerto que o Rei, cujas atribuições não se confinam estritamente nos limites do Estado, mas que é também chefe de Estado, há-de deter em suas mãos, em potência, um poder supremo; também a Nação o possui e o pratica, quando deixa de haver Rei de facto ou de direito. Mas o poder real exerce-se principalmente ao vigiar e moderar o parlamento e o ministério-governo, órgãos normais de administração e legislação.


Do carácter nacional e apartidário do Rei deduz-se que lhe deverão competir aqueles sectores que por natureza são exclusivamente nacionais. Contam-se, neste caso, as Forças Armadas, a Diplomacia e o Poder Judicial.


Em primeiro lugar, as Forças Armadas. Constitui um dos absurdos das repúblicas de partidos submeter à autoridade e ao mando de um ministro político ou de um presidente eleito as forças militares da Nação, pelo risco fatal de serem transformadas em instrumento de partido. Claro que pode perguntar-se: -- Quem haveria então de as comandar, se nesses regimes, ordinariamente, o Presidente é ele mesmo um político do partido? -- Só o Rei -- respondemos.


Numa monarquia de amanhã, o Governo deveria dispor dos corpos policiais suficientes para a manutenção da ordem pública, mas a Marinha, a Força Aérea e o Exército deveriam conservar-se independentes dos governos e apenas subordinados às ordens do Rei. A sua eficácia de árbitro nacional redundaria assim evidentemente fortalecida.


Por outro lado, há que salvaguardar a independência dos Tribunais e da Magistratura e evitar que a condução da Diplomacia caia na mão de governos efémeros, o que a diminuiria e lhe tiraria prestígio. As relações externas, pela sua continuidade e permanência, têm de estar sob a alçada de um poder que não morra. Esse poder é o do Rei.


Defesa Nacional, Diplomacia, Poder Judicial, eis tarefas de carácter nacional e apartidário que só um magistrado supremo, independente, moderador e agregador poderá desempenhar a contento. Dentro desta orientação inovadora, caberia ao Rei designar pessoalmente os ministérios responsáveis por tais tutelas.


Esclareça-se que o que acabámos de escrever configura apenas uma tentativa de desbravar um caminho até à data muito pouco pisado. Media via entre o Liberalismo e o Absolutismo, síntese integradora de contrários, importa traçá-lo doravante em linhas mais direitas.» Mário Saraiva


Francisco Cabral de Moncada