sexta-feira, 31 de agosto de 2007

VIDA DE CÃO

As mulheres são como as gatas: não aparecem quando são chamadas, aparecem quando lhes apetece; por isso, sempre me fascinaram, umas e outras.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

EUFEMISMOS PÓS-MODERNOS (2)

Os bandalhos e os desleixados são agora chamados «descontraídos».

ATRACÇÃO FATAL

Lobo velho que sou, quanto mais vejo e sei, acredito, cada vez com mais força, que existe uma atracção entre os Melhores. Inter Pares, portanto. E aqui é que começa o problema para os mesquinhos de serviço, que tudo querem regular e gostam de puxar para baixo. Na medida em que se trata de Iguais (os Superiores são sempre semelhantes entre si), estes apurarão, através da reprodução (sendo a atracção superior e completa tem um princípio espiritual e um fim biológico), todos as qualidades, mas também todos os defeitos, pois os Melhores também os têm, e não são poucos; embora as virtudes os superem largamente, e sejam inacessíveis aos outros indivíduos: constituindo isto o que verdadeiramente interessa, ao projectar os Melhores ainda mais além. Até os animais não-racionais promovem, através de semelhante fórmula de selecção natural, o apuramento das respectivas espécies. Assim, há uma negação da ponderada mediania, promovida pelos tempos modernos, e conseguida através de duvidosos equilíbrios, muito ao gosto do senso-comum. Nestas coisas, como noutras, sempre preferi o aristocrático bom-gosto, ao bom-senso burguês e ao senso-comum popular. Deixo aqui estas coordenadas teóricas, para cada um introduzir os casos que quiser, e exemplificar à sua vontade, pois tenho para mim que não há nada como testar na prática o que se afirma.

NAVEGAR À VISTA

A cada dia que passa, ligo mais aos detalhes. São, cá para mim, e por causa de coisas que eu cá sei, os grandes definidores das pessoas. Irrita-me que se utilize o sinónimo «pormenores» para detalhes, pois estes são, precisamente e pelo contrário, os maiores indicadores da beleza e da personalidade de uma mulher: um anel ou uma pulseira (no dia e no lugar certos), um gesto (a maneira de mexer no cabelo, puxando-o ao alto, revelando os braços nus, para logo o deixar cair, ondulante e renovado), o livro que se lê e a forma como se o lê (levantando a cabeça, de vez em quando, e esticando o pescoço, para olhar o horizonte), o tom e o volume da voz (ajustados a cada momento e espaço), etc e tal. Enfim: aqueles pequenos nadas que são tudo.

AO PRINCÍPIO ERA O VERBO

Uma coisa que me está a causar, por estes dias, uma suave alegria, por estranho que possa parecer, é o afastamento físico do meu computador pessoal. Eu explico: assim sendo, não posso (porque não sei fazê-lo de outra maneira) publicar imagens, neste diário na rede; e, desta forma, recupero o prazer simples do uso da palavra. Possam então estas palavras sugerir imagens, remando contra a maré contemporânea, toda ela feita só de imagem.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

HÁ MENSAGENS ANÓNIMAS QUE VALE A PENA RECEBER

Fazes-me dançar nua no meio da rua.
Tua,
Bailarina

PRESENÇAS QUE INTERESSAM

O meu amigo Pedro Guedes completou recentemente quatro anos de presença na blogosfera, com o seu Último Reduto. Sobre ele, já disse aqui o que tinha a dizer; e, não é pouco, pois até gosto de ser sucinto.

SE É QUE ME FAÇO ENTENDER

As mulheres atravessam sempre uma fase na vida em que só falam dos filhos. Depois, certo dia e sem aviso prévio, as crianças «dão o grito do Ipiranga». Aí é que vão ser elas! Mais ainda, e por outro lado: aí é que elas vão ser elas.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

NOITES DE LUA CHEIA

Chegou o momento de fazer mais algum «trabalho de campo sociológico», numa festa prestes a iniciar-se, à beira-mar e à luz do luar, com fogo-de-artifício e percurssões ao vivo, e tudo. Tivesse eu vinte anos, seria «actor»; assim, serei voyeur, ou talvez não só. Até depois.

CICLOS DE VIDA

Há claramente ciclos de vinte anos na vida humana. E não o afirmo com base apenas na observação física e psicológica da espécie. Constato que, até aos vinte anos, os filhos passam as férias com os pais. Aos vinte, desaparecem. Aos quarenta, estão regressados, também eles já pais. Aos sessenta, estão livres das responsabilidades da paternidade, com os filhos criados, e são talvez avós descontraídos. Aos oitenta, serão sábias figuras patriarcais e reverenciais, para toda a família. Aos cem, chegam os abençoados por Deus.
A luz solar ajuda a ver com mais clareza tudo isto. Experimentem.

DELEITE ICONOGRÁFICO

É um prazer ver novamente a águia bicéfala bordada nas camisolas dos atletas russos.

NOITES QUENTES DE ONTEM E DE HOJE

Não me lembro de ter acertado tão bem no «livro de férias» (tenho sempre a sensação de que só usa esta expressão quem habitualmente nada lê ao longo do ano) como neste Agosto. Tenho-me deliciado com a releitura do 2.º volume de Em Busca do Tempo Perdido, de Proust: muito especialmente com a 2.ª parte do mesmo, toda ela praia, com poéticas e pictóricas descrições; e, ainda e principalmente, suas estranhas e encantadoras relações humanas. Encantadoras porque há uma suspensão de todas as convenções sociais e as pessoas se entregam, por esses dias, em toda a sua plenitude, umas às outras, antes da rentrée vir repor a ordem social. Proust é que a sabia toda.

CORPO SÃO, MENTE SÃ: O TANAS!

A praia é amiga do corpo, mas prejudicial à mente. Não digo que queime os miolos; mas, o que é certo é que concebi hoje mentalmente vários postais, entre saudáveis actividades físicas de raquetes e mergulhos, mas não me consigo agora lembrar de nenhum.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

DIÁLOGOS LATERAIS (DE CAIR PARA O LADO)

Uma jovem surfista polaca (linda de morrer) acabou de me fazer uma pergunta informática. Depois, dissertou sobre a matriz linguística e étnica dos polacos: caramba, elas pensam! Valeu a pena ter-me metido recentemente nisto dos computadores, e ter desde pequenino cultivado o gosto pelas Línguas e pelos Povos.
[Nota: Passado num cyber club do meu lugar de veraneio.]

DIÁLOGOS EM FUNDO (UM ESPECTÁCULO!)

O chico esperto português preocupa-se em falar Inglês com sotaque perfeito; mas, quanto a compreender a estrutura da Língua: não vale a pena.
[Nota: Reflexão feita num cyber club do meu lugar de veraneio, baseada num diálogo ouvido à retaguarda.]

PARA O TOMAZ HIPÓLITO (E DEMAIS AMIGOS SOLTEIROS E BONS RAPAZES)

Podes e deves aparecer neste hot spot, pois, de repente, elas chegam de toda a parte, à procura das melhores ondas do Mundo, e isto parece-se com uma produção da Wallpaper.

DA MOBILIDADE SOCIAL BALNEAR

Já só comem sardinha mas ainda arrotam postas de pescada.

DA LUTA DE CLASSES

As senhoras das melhores famílias portuguesas deram agora em andar de chinelas. Pela amostra, falta-lhes ainda umas gerações para atingirem a graciosidade e a sensualidade do chinelar das mulheres do povo. Só estas, por enquanto, conseguem ter movimentos felinos nesses ligeiros preparos. Tudo o que é superior leva várias gerações a ser edificado. E, o corpo bamboleante, que levou séculos a esculpir e a coreografar, de uma sensual rapariga de um bairro tradicional e popular, não será ultrapassado do pé para a mão, ou, neste caso, da mão para o pé, sem mais nem menos e de um dia para o outro, por arrivistas aristocratas. Está visto que as lindíssimas mulheres do povo português não abdicam dos seus históricos pergaminhos. Não fossem elas as mais belas mulheres do Mundo.

TESTE DO MEDIUM

Dá-me ideia que esta traquitana está meio encravada, e não quer publicar nem por nada...
[Nota póstuma: Afinal, isto funciona quase às mil maravilhas; e, quanto à companhia... é que nem vos digo nada...!]

domingo, 26 de agosto de 2007

DO ESTAR E DO SER

Permaneço a banhos num lugar de exaltantes e iodados ares atlânticos. E o pior é que já não há matas para, a seguir, passear preparando a rentrée. A propósito: quem estiver em Lisboa, poderá ver a fita Fonte Bela, fiel e simbólico retrato dos delírios utopistas colectivistas aprilinos; cá em casa chamamos-lhes, simplesmente: «roubalheira agrária».

SOBRE FILIPADOS, MAS PARA TODO O MUNDO

Também escrevi ali um Postal de Férias.

sábado, 25 de agosto de 2007

DO MAR

Recebo agora, na já falada mesa corrida, tipo conventual, mas com computadores em cima, uma nova vaga de gente. São surfistas. Sempre tive um certo fascínio por esta saudável e moderna tribo de nómadas guerreiros. Tive até amigos especialistas nesta matéria, quando ainda não se falava tanto deste desporto em Portugal. Com alegria vi depois continuada essa tradição em novas gerações lusitanas. Talvez por isso não me deixe surprender, por estes dias, ao observar jovens portugueses aventurarem-se na arte do bodyboard taco-a-taco com malta estrangeira que sabe da poda. Sendo eu mais de sequeiro, o facto assume, aos meus olhos, proporções épicas.

O FUTURO É DAS MULHERES

Este local é paradisíaco. Escrevo agora rodeado de lindíssimas jovens internautas («inter», de internet; «nautas», de navegantes, como os nossos Gamas e Cabrais) alemãs e italianas. As mulheres estão cada vez mais na net. As mulheres lêem cada vez mais. As mulheres fumam cada vez mais. As mulheres bebem cada vez mais. As mulheres estão cada vez mais bonitas. Cada vez gosto mais de mulheres.
Post Scriptum: Melhor do que uma mulher que muito fuma e muito bebe é uma mulher que nada bebe e nada fuma. Melhor do que tudo ainda é uma mulher que muito fuma e muito bebe mas permanece inalterável, como que, estando nua, se comportasse como estando vestida, e vice-versa. Parece complicado, mas não é; é, isso sim, arriscado.

LITERATURA DE FÉRIAS PARA O FUTURO

É certinho que regresso sempre à base com o triplo dos títulos que trago para férias. Não consigo resistir às feiras do livro que montam arraias nas estâncias balneares. Adquiri mais um volume de Sermões do Padre António Vieira (numa simpática edição da Bertrand, com prefácio de Vitorino Nemésio e encadernação do editor). Só me ocorre registar este facto porque todos os anos, instintivamente, compro um livro do Padre António Vieira. Já são muitos. Guardo-os todos na última (a mais alta) prateleira da minha estante mais pessoal. Quando chegar a hora, sei que conto com eles para o que der e vier.

POSTAL DE FÉRIAS

Depois de uma temporada em praia fortemente iodada e salinada, excitante dos sentidos, o corpo e a alma anseiam por repouso no campo, elemento propício à serenidade.
Na boa linha dos contrastes, que tanto aprecio, aproveito para referir o extraordinário facto de estar a escrever este postal num cyber club, ao som de Fado.
Coisa triste é não dar com os travessões (sinal gráfico de pontuação tão ao meu gosto e tão necessário ao ritmo da escrita) nesta maquineta.
Finalmente, coisa deliciosa, e coincidência verdadeiramente espantosa, é ter (não pude deixar de reparar agora mesmo), a dois lugares de distância, nesta mesa corrida, não para banquetes mas para internautas, uma bloguista que leio com atenção. Sei-o, pois também está a postar no seu blogue! E é tão bela quanto a sua prosa. Será que, num golpe de asa, lhe dirigirei a palavra, ou vice-versa?...
Mundo estranho, este, o das novas tecnologias da comunicação à distância...!

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

POSTAL DE VERÃO PARA MATAR SAUDADES

Não resisti à tentação da blogosfera.
Venho aqui, entre bonitas teenagers em bikini (o que não deixa de ser agradável), enviar este postal de férias. Dedico-o a todos os meus leitores; muito em especial àqueles que me têm enviado simpatiquíssimos e-mails (aos quais só responderei, calmamente, em Setembro).
O Verão está ventoso em terras de Portugal, recordando-nos, assim, que vivemos num País europeu e atlântico. Deus sabe o que faz.
Agora, feito o gosto ao dedo, vou ali comer uma sapateira e beber umas imperiais, que em férias não se pode perder tempo...!

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

MIL E UM POSTAIS E ALGUMAS NOITES

Vou ali fazer uns footings e dar uns mergulhos, comer uns mariscos cozidos e uns peixes grelhados, beber umas cervejas geladas e uns vinhos brancos frios, pintar a manta e fazer trinta por uma linha; e, deixo aqui 1001 postais, para se entreterem e consumirem muito devagarinho — façam bom proveito.

PAISAGEM PARA HOJE (4)

Escócia.

LIVRO PARA HOJE (4)

Ulisses, James Joyce, tradução de João Palma-Ferreira, edição Livros do Brasil, colecção Dois Mundos, n.º 179, Lisboa, 2005.

DISCO PARA HOJE (10)

Country Life, Roxy Music.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

DORMIR A SESTA EM PLENO VERÃO É UMA TENTAÇÃO

Audrey Tatou.
[Fotografia pilhada à má fila do maravilhoso E Deus Criou A Mulher.]

CARTA DE GUIA DE SOLTEIROS PARA RAPAZES (SE BEM ME LEMBRO) — V

Os amores de Verão não se enterram na areia, como diz o povão. Os amores de Verão são para a vida.

CARTA DE GUIA DE SOLTEIROS PARA RAPAZES (SE BEM ME LEMBRO) — IV

As quecas das queques são freaks e as quecas das freaks são queques.

AVISO AOS RAPAZES POR CAUSA DAS RAPARIGAS — II

Se puserem as vossas vidas nas mãos delas, elas dar-vos-ão com os pés.

EUFEMISMOS PÓS-MODERNOS (1)

Os mal-educados e os mal-agradecidos são agora tratados como «distraídos».

AINDA AS ONDAS

…We are not slaves bound to suffer incessantly unrecorded petty blows on our bent backs. We are not sheep either, following a master. We are creators. We too have made something that will join the innumerable congregations of past time. We too, as we put on our hats and push open the door, stride not into chaos, but into a world that our own force can subjugate and make part of the illumined and everlasting road.
The Waves, Virginia Woolf.
[Nota: Personagem Bernard falando. Com um grande abraço ao meu velho amigo PedroV, co-autor dos blogues Filipa de Lencastre e Criativamente.Rita.]

POSTAL N.º 991

Mais um golpe de asa e temos uma milena!

QUEM SOU EU?

Existiram na minha vida muitas salas e muitos Bernard. Existiu alternadamente o homem encantador e frágil; o homem enérgico mas orgulhoso; o espírito brilhante e cínico; o bom companheiro mas, sem dúvida, terrivelmente maçador; o homem amável mas frio; o homem de aspecto desarranjado mas também (passemos para a sala ao lado) o dandy pretensioso e demasiado bem vestido. Porém, a meus próprios olhos eu era diferente de tudo isso e nenhum desses Bernard me dizia respeito.
As Ondas, Virginia Woolf, tradução de Francisco Vale, edição Relógio D'Água.

LIVRO PARA HOJE (3)

Mensagem, Fernando Pessoa.

PAISAGEM PARA HOJE (3)

Ponta de Sagres.

DA ALMA DO POVO

A quadra é o vaso de flores que o Povo põe à janela da sua alma. Da órbita triste do vaso obscuro a graça exilada das flores atreve o seu olhar de alegria. Quem faz quadras portuguesas comunga a alma do Povo, humildemente de todos nós e errante dentro de si própria.
FERNANDO PESSOA
(1888 — 1935)

DISCO PARA HOJE (9)

Ontem e Hoje, João Ferreira-Rosa.

DATAS DE ONTEM, HOJE E SEMPRE

14 de Agosto:
1318 — Fundação da Ordem de Cristo;
1385 — Batalha de Aljubarrota.

DIRECTAMENTE DAS CAVERNAS

DÁ-LHE, QUE AINDA MEXE!

Esta rapaziada está a armar um verdadeiro 31 com o mistério da kultura que nos desgoverna. Bravo!

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

O MELHOR DO MUNDO SÃO AS MULHERES

Women In Film:
Mary Pickford, Lillian Gish, Gloria Swanson, Marlene Dietrich, Norma Shearer, Ruth Chatterton, Jean Harlow, Katharine Hepburn, Carole Lombard, Bette Davis, Greta Garbo, Barbara Stanwyck, Vivien Leigh, Greer Garson, Hedy Lamarr, Rita Hayworth, Gene Tierney, Olivia de Havilland, Ingrid Bergman, Joan Crawford, Ginger Rogers, Loretta Young, Deborah Kerr, Judy Garland, Anne Baxter, Lauren Bacall, Susan Hayward, Ava Gardner, Marilyn Monroe, Grace Kelly, Lana Turner, Elizabeth Taylor, Kim Novak, Audrey Hepburn, Dorothy Dandridge, Shirley MacLaine, Natalie Wood, Rita Moreno, Janet Leigh, Brigitte Bardot, Sophia Loren, Ann Margret, Julie Andrews, Raquel Welch, Tuesday Weld, Jane Fonda, Julie Christie, Faye Dunaway, Catherine Deneuve, Jacqueline Bisset, Candice Bergen, Isabella Rossellini, Diane Keaton, Goldie Hawn, Meryl Streep, Susan Sarandon, Jessica Lange, Michelle Pfeiffer, Sigourney Weaver, Kathleen Turner, Holly Hunter, Jodie Foster, Angela Bassett, Demi Moore, Sharon Stone, Meg Ryan, Julia Roberts, Salma Hayek, Sandra Bullock, Julianne Moore, Diane Lane, Nicole Kidman, Catherine Zeta-Jones, Angelina Jolie, Charlize Theron, Reese Witherspoon, Halle Berry.

PARA A FILIPA QUE TEM 20 ANOS

DEPURADOR

Escolho a melhor (não tenhamos medo das palavras) de cada categoria.

ECLÉCTICO

Gosto de coisas de proveniências muito diferentes.

DISCO PARA HOJE (8)

Simple Pleasure, Tindersticks.

LIVRO PARA HOJE (2)

Poemas de Deus e do Diabo, José Régio.

PAISAGEM PARA HOJE (2)

Serra da Arrábida.

OLHAR ESPIRITUAL

Não basta olhar, é preciso ver.

EPIFANIA ADIADA

Por pudor, os olhares afastaram-se no momento destinado à convergência.

REFOCAGEM MENTAL

Engarrafadas as memórias, e lavados os olhos, aguardemos pelos sinais dos novos tempos.

FOCAGEM EPISTEMOLÓGICA

A cada dia que passa, vejo pior ao perto e melhor ao longe.

DESFOCAGEM

A epifania aqui tão próxima e eu sem óculos de ver ao perto.

MÚSICA E CINEMA

Descobri agorinha mesmo — via recém-actualizado e sempre bem informado blogue Brava Dança — o imperdível Ciclo de Cinema do Festival de Paredes de Coura. Grandes filmes sobre grandes bandas. É para «ontem, hoje e amanhã» — como dizia o outro.

domingo, 12 de agosto de 2007

DA ARRUMAÇÃO MENTAL E DA COSMOVISÃO

O Homem afirma-se organizando à sua maneira o Mundo em seu redor. Só há duas formas de o fazer: desenhando ou escrevendo, com todas as suas variantes técnicas — das manuais às mecânicas, das estáticas às dinâmicas.

PAISAGEM PARA HOJE (1)

Serra de Sintra.

LIVRO PARA HOJE (1)

Bichos, Miguel Torga.

DISCO PARA HOJE (7)

Os Dias da MadreDeus, Madredeus.

sábado, 11 de agosto de 2007

A GIRL AND A GUN OU O MEU CASTING

Juliette Lewis.

A GIRL AND A GUITAR — THAT'S ALL FALKS! (NÃO ACONSELHÁVEL A BETINHOS)

«Rid Of Me», Polly Jean Harvey.

UM LIVRO NO VERÃO DE HÁ 82 ANOS

Folheio, embevecido, uma deliciosa edição, a que chamaríamos hoje «livro de bolso», que contém as românticas novelas Raphaël e Graziella, de Alphonse de Lamartine (1790 — 1869). Seguindo o original da 1.ª edição francesa, de 1849, foi impressa na Escócia, em Francês, para a «Collection Nelson», dos famosos «Nelson, Editeurs», sediados em Paris, e com escritórios em Londres, Edimburgo e Nova Iorque. O livrinho tem uma dedicatória, do meu Avô João Augusto Firmino Marchante para a minha Avó Luísa Firmino Costa Pinto, grafada no Estoril (os meus Bisavós Mariano e Catarina passavam lá férias, no Chalet Nita, com todos os seus seis filhos solteiros, onde se incluía, à época, a minha Avó Luísa) e datada do Verão de 1925. O enamorado Avô João ter-se-á deslocado à Costa do Sol — igualmente alentejano, cursava Medicina em Lisboa —, para visitar a sua prima-direita, e já então jovem amada, «a banhos» nos Estoris. Lá deixou esta romântica oferta, com autógrafo e tudo. Viriam a casar dois anos depois, há exactamente 80 anos. Como deve ter sido bom veranear e namorar no Estoril desses tempos.

PELO ESPÍRITO É QUE VAMOS

Salvo em alguns iletrados do povo e da sociedade, para os quais a diferença dos géneros é letra morta, o que aproxima não é a comunidade de opiniões, é a consanguinidade dos espíritos. Um académico do género de Legouvé e que fosse partidário dos clássicos aplaudiria da melhor vontade o elogio de Victor Hugo por Maxime Du Camp ou por Mézières que o de Boileau por Claudel. É um só nacionalismo que basta para aproximar Barrès dos seus eleitores, que não devem fazer grande diferença entre ele e o senhor Georges Berry, mas não é o mesmo dos seus colegas da Academia que, com as mesmas opiniões políticas mas com outro género de espírito, lhe hão-de até preferir adversários como os senhores Ribot e Deschanel, que se sentem muito mais perto da sua feição de fiéis monárquicos que de Maurras e de Léon Daudet, apesar de estes desejarem também o regresso do rei.
Em Busca do Tempo Perdido — À Sombra das Raparigas em Flor (1918), Marcel Proust, tradução de Pedro Tamen, edição Relógio D'Água Editores, Lisboa, Julho de 2003.

DISCO PARA HOJE (6)

To Bring You My Love, P J Harvey.

ELOGIO DOS PROVÉRBIOS III

«Amor com amor se paga»;
Porque não pagas amor?
Olha que Deus não perdoa
A quem é mau pagador.
Provérbio Popular Português.

ELOGIO DOS PROVÉRBIOS II

Não disseram Platão nem Séneca coisa melhor que o disseram as nossas velhas: «muito riso, pouco siso».
Provérbio Popular Português.

ELOGIO DOS PROVÉRBIOS I

Aristóteles chamou aos adágios: relíquias da antiga filosofia, perdida pelos vários acontecimentos do tempo; o qual, ainda que é muito poderoso para consumir e gastar tudo o que alcança, sempre deixa algumas faíscas, que assim chamou também o mesmo filósofo aos provérbios, em respeito da antiga sabedoria, que depois alguns curiosos foram tirando pelo discurso do mesmo tempo, filosofando cada um conforme ao talento que Deus lhe deu.
Padre Frei Aleixo de Santo António, Filosofia Moral (1640).

DO DIA P'RÀ NOITE

De dia:
Sorridente, sossegada e pura;
De noite:
Insolente, acelerada e puta.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

DISCO PARA HOJE (5)

Treasure, Cocteau Twins.
Sem comentários. Este é para se ouvir em religioso silêncio.

AINDA OS COSTADOS ALENTEJANOS

Decorreu ontem, no Campo Pequeno, uma Corrida de Gala à Antiga Portuguesa. Quer isto dizer que a Corrida de Toiros é precedida de um cortejo histórico, à maneira das Touradas Reais do tempo de El-Rei D. João V, com as personagens vestidas à época e representando as funções simbólicas que exerciam nessa 1.ª metade do século XVIII. Logo de seguida, passa-se às cortesias contemporâneas e a faena inicia-se. A Praça esteve completamente cheia, os cavaleiros tourearam magnificamente e os forcados foram de extrema bravura. A RTP em boa hora escolheu esta tourada para corrida dos seus 50 Anos. Acertou em cheio. Por cá, todo contente, pude vê-la no remanso do sofá — alentejano desnaturado que sou, não honrando os antepassados e parentes dados a essas lides de Sol e Toiros.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

DA MUSA ALENTEJANA

Tu és risonha, sossegada e pura.
Verso do Conde de Monsaraz (1852-1913) .

DEVE SER PORQUE SOU MEIO ALENTEJANO...

... Sempre me meteu espécie ver uns gajos enfiados nuns ridículos colantes calções de licra no pino do Verão e à torreira do sol a pedalar por esse país fora....!

NOVA EMENTA

Este blogue passa a apresentar 150 mensagens na página principal. Se conseguirem saborear estes postais todos sem apanharem uma indigestão, podem passar ao arquivo. Tudo à mão de colher.

MEU FADO

But the only one here now is me
I'm fighting things I cannot see
I think is called my destiny
that I am changing

«Marlene on the Wall», Suzanne Vega (1985), Suzanne Vega.

DISCO PARA HOJE (4)

Getz/Gilberto, Stan Getz e João Gilberto.
A gravação — registada em 1963, em Nova Iorque — tem António Carlos Jobim no piano e Gertrude Gilberto na voz. Do outro mundo, portanto. Desaconselhável a almas gémeas separadas.

CHAMA-SE SAUDADES

Por estes dias, por causa das férias, as tertúlias semanais que animo, no âmbito do informal Clube dos Amigos da Sétima Arte — CASA, encontram-se suspensas e desmobilizadas. Começo a sentir um qualquer síndroma de carência.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

PARA RIR ÀS BANDEIRAS DESPREGADAS

Cada vez temos menos razões para rir. Os que puxamos e pensamos pela nossa cabeça. As anedotas são coisas de imbecis e infelizmente aumentam à medida que desaparece o bom e antigo fino humor. Pois alegremo-nos. Descobri este postal do Rui A.
De escangalhar a rir!

VOU ALI TOMAR CHÁ E JÁ VENHO QUE ELA ESTÁ À ESPERA

Scarlett Johansson.

JÁ ESTÁ!

7777.

DISCO PARA HOJE (3)

Segredo, Amália.
Com esta bela voz, e esta bela prosa — que manifestamente não mereço —, sinto-me hoje abençoado pelas Nove Musas e pelas Três Graças.

ETERNAS SAUDADES DO FUTURO

Quando se vir com a água o fogo arder
e misturar co dia a noite escura,
e a terra se vir naquela altura
em que se vêm os Céus prevalecer;

O Amor por razão mandado ser,
e a todos ser igual nossa ventura,
com tal mudança, vossa fermosura
então a poderei deixar de ver.

Porém não sendo vista esta mudança
no mundo (como claro está não ver-se),
não se espere de mim deixar de ver-vos.

Que basta entrar em vós minha esperança,
o ganho de minh' alma e o perder-se,
para não deixar nunca de querer-vos.


LUÍS VAZ DE CAMÕES
(1524 — 1580)

ETERNAS SAUDADES — II

Que me quereis, perpétuas saudades?
Com que esperança ainda me enganais?
Que o tempo que se vai não torna mais
e, se torna, não tornam as idades.

Razão é já, ó anos, que vos vades,
porque estes tão ligeiros que passais,
nem todos para um gosto são iguais,
nem sempre são conformes as vontades.

Aquilo a que já quis é tão mudado
que quase é outra cousa; porque os dias
têm o primeiro gosto já danado.

Esperanças de novas alegrias
não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,
que do contentamento são espias.


LUÍS VAZ DE CAMÕES
(1524 — 1580)

MAR ALTO

Tendo eu já de nascença tendência — coisas que vêm riscadas na alma, não há nada a fazer — para ser um camoniano assolapado — ora épico, ora lírico —, ao dar de caras com uma Lusitana Combatente, n'A Ilha dos Amores, fico apanhado de todo.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

DISCO PARA HOJE (2)

Doolittle, Pixies.
E agora vou ali dar um mergulho e volto mais logo.
Às tantas, como quem não quer a coisa, comecei uma rubrica diária no blogue.

ALMAS GÉMEAS

Tema «Henry Lee» (Letra Tradicional / Nick Cave e Música de Nick Cave), do Ábum Murder Ballads (1986), de Nick Cave And The Bad Seeds.
Interpretado aqui por Nick Cave e PJ Harvey.

HORÁRIOS TROCADOS

Juliette Binoche.

7777

Está quase...

BIBLIOGRAFIA OBRIGATÓRIA

Se, citando mais uma vez Fernando Pessoa, (...) Uma nação que habitualmente pense mal de si mesma acabará por merecer o conceito de si que anteformou. Envenena-se mentalmente —, então há que procurar os indícios de veneno mental que, no pensamento como na literatura, sob os alibis da crítica social, do racionalismo e do progressismo, tem vindo a deitar por terra a nossa identidade nacional, a nossa personalidade colectica, a nossa independência política.
A Ideia de Portugal na Literatura Portuguesa dos Últimos Cem Anos, António Quadros, edição Fundação Lusíada, Colecção Lusíada — Ensaios, n.º 1, Lisboa, 1989.

O POETA E A ALMA DA NAÇÃO

Os entes psíquicos chamados nações têm cada um, no mistério espiritual da sua constituição, um segredo de virtualidade que se furta tanto à análise teórica do sociólogo como à síntese prática do político.
(...)
Assim uma nação tem uma alma, um corpo espiritual invisível à razão, que é suprema apenas no mundo da experiênia, um destino indeterminável pela lógica, incriável pela vontade serva e pelo pensamento pseudo-nosso.
Nada nos diz que essa alma não exista; antes nos segreda a experiência intuitiva da vida que, deveras, uma nação tem um espírito, uma pessoa, um seu destino, como um homem.
FERNANDO PESSOA
(1888 — 1935)

BOA CAUSA

BOM GOSTO

BOM AMBIENTE

BOA ONDA

BOA COMPANHIA

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

ARRUMANDO A BIBLIOTECA AO SOM DE NICK CAVE E AO SABOR DE PLATÃO

Estive a arrumar a minha biblioteca. Tenho cá para mim que o corpo-a-corpo com os livros é dos exercícios físicos mais violentos. As costas já não andavam grande coisa. Agora, estou todo partido. Calha bem, pois acredito ser este o estado ideal para ler e assimilar na plenitude os pensamentos contidos nos volumes. Digamos que é um tratamento em duas partes: primeiro, adormecem-se os sentidos; finalmente, com a alma expurgada, faz-se a ascenção para as Ideias.

DISCO PARA HOJE (1)

The Boatman's Call, Nick Cave And The Bad Seeds.
Dedico-o à J. Não a vejo desde 1999, e redescobri-a através deste blogue. Assim, vale a pena andar aqui.

NOVOS PROVÉRBIOS AO CORRER DAS TECLAS (1)

Em casa onde não há Platão, todos opinam e ninguém tem razão.

O ERRO DE DESCARTES

«Seis», por Pedro Arroja, no Portugal Contemporâneo. Na mouche!

SENTIDOS INVISÍVEIS

À Sofia, leitora — do que (aqui) escrevo — com «olhos de pensar», e que disso me dá conta com coragem e clareza. Afinal, os Amigos são para estas coisas. Obrigado.
Faz parte da natureza activa do artista representar a passiva natureza e a limitada vida com a sua visão transformadora e transcendente. O seu olhar filtra o espaço e o tempo e devolve o mundo numa síntese criadora desenhada à sua luz. Por isso uso óculos escuros. Razão tinha Platão.
[Nota: Dedicatória reescrita a 9 de Setembro de 2007.]

domingo, 5 de agosto de 2007

AVISO AOS RAPAZES POR CAUSA DAS RAPARIGAS — I

As mulheres é que escolhem os homens, embora deixem nos homens a sensação de que foram eles a conquistá-las. E nem precisam de ser bonitas, inteligentes e cultas para que assim seja. É a vida. Habituem-se.

PARA FUGIR AO LIXO MEDIÁTICO

Quando quero saber notícias de Portugal e do Mundo consulto O Insurgente. E basta.

MEMÓRIA VERSUS RECORDAÇÃO

A recordação não tem apenas que ser exacta; tem que ser também feliz; é preciso que o aroma do vivido esteja preservado, antes de selar-se a garrafa da recordação. Tal como a uva não deve ser pisada em qualquer altura, tal como o tempo que faz no momento de esmagá-la tem grande influência no vinho, também o que foi vivido não está em qualquer momento ou em qualquer circunstância pronto para ser recordado ou pronto para dar entrada na interioridade da recordação.
In Vino Veritas, Kierkegaard, tradução do dinamarquês por José Miranda Justo, edição Antígona, Lisboa, 2005.

LARGO DO SÉCULO, 1986

Retrato de João Marchante,
tirado por (?),
no Largo do Século,
em 1986.

Não faz muito o meu estilo botar aqui fotografias minhas (é a segunda vez que o faço). Mas, tendo uma jovem geração querido muito saber como era eu nos tais mui apregoados anos 80 do século passado em Lisboa, cá vai. Aproveito para dizer que esta fotografia é tirada na sequência de tardes de pesquisa criativa e deambulações poéticas ao longo do Príncipe Real e suas cercanias, onde se conversava muito e se registava mais ainda — quer escrevendo e desenhando, em antigos cadernos de folhas brancas e capas pretas, quer fotografando. Neste caso, caso não topem, saibam que se trata do Largo do Século, que, por estes anos, servia de palco às saudosas Manobras de Maio, bem como a concertos vários, e ainda albergava um simpático arraial nos Santos Populares; este arraial fazia parte, com os de São Pedro de Alcântara e de Santa Catarina, do trio dos meus lugares preferidos para celebrações nocturnas, pagãs e profanas dos nossos queridíssimos S. António, S. João e S. Pedro. E, que saudades tenho de tudo isto, meu Deus! Diga-se que o grupo que está ligado a esta fotografia era constituído, nesta soalheira incursão pós-prandial, pelas manas A. e C., pela I., pelo R., e por eu mesmo. A câmara fotográfica rodava habitualmente entre todos, e, por isso, não sei dizer ao certo quem terá disparado e registado este momento para a posteridade, e para postar — passadas duas décadas! — num blogue (quem sonharia tal coisa, à época?).

sábado, 4 de agosto de 2007

DO SUBLIME NO CINEMA

Trailer inglês para o filme Mauvais Sang (França, 1986), de Leos Carax, com Juliette Binoche, Denis Lavant, Julie Delpy e Michel Piccoli.

Assisti estarrecido a este obra, no Quarteto, depois de já ter visto Boy Meets Girl (França,1984), e antes de ter devorado, em Madrid, Les Amants du Pont-Neuf (França, 1991), do mesmo autor. Esta é, para mim, a mais sublime e apaixonada trilogia feita por um realizador à medida de uma actriz: Juliette Binoche — contracenando sempre com Denis Lavant, qual alter-ego de Leos Carax. Quando lhe levaram Binoche, Carax deixou de respirar Cinema.

Dedico este trailer à Filipa, que nasceu nesse 1986 dos meus vinte anos, e que já vê os filmes com olhos de ver.

ELAS (7)

As mulheres bonitas não são bonitas, são belíssimas.

ELAS (6)

As mulheres bonitas não gostam de homens bonitos, gostam de homens que andam com mulheres bonitas.

ELAS (5)

As mulheres bonitas não pedem conselhos, dão conselhos.

ELAS (4)

As mulheres bonitas não seguem a moda, fazem a moda.

ELAS (3)

As mulheres bonitas não estão nos bares, estão nos cafés.

ELAS (2)

As mulheres bonitas não saem à noite, saem de manhã.

ELAS (1)

As mulheres bonitas não aparecem nas revistas masculinas, aparecem nas femininas.

PLUS ULTRA

Sou — ai! —, eu sei que sou: bem-educado, reaccionário e romântico. Um bico de obra, é o que é! Nestes tempos de pensamento único, meteram na cachola do povoléu que ser-se bem-educado é sinónimo de ser-se parvo. Uma chatice. Volta e meia dou comigo a ter de pôr na ordem o portuga boçal e banal. Resultado: fica o pobrezinho de queixada descaída de espanto perante a reacção do educadinho. Esse mesmo portuga-tipo — que não o típico, que isso é outra conversa e trata-se de boa gente —, depois de se manifestar desconfiado perante alguma tirada da minha parte, julgando-me conservador, arrisca o ataque. Cobarde que é, só o faz quando mete no bestunto que não haverá reacção. Mas aí é que a coisa fia mais fino. O reaccionário — contrariamente ao conservador, que finge não perceber a boca ordinária e disfarça — reage, respondendo na mesma moeda, sendo que o troco usado se revela mais do que suficiente para esse peditório. Finalmente, sou romântico, já se sabe. Também aqui existe um equívoco que se pode revelar terrível para esses descerebrados. O portuguesinho confunde romantismo com sentimentalismo e lamechice. Está-se bem de ver que essa é uma característica bem sua, todo ele coração. Cumpre as regras burguesas do relacionamento social e sente-se feliz, todo ele tolo e contentinho. Filio-me eu, por outro lado e bem pelo contrário, na tradição romântica que vê na Alma o motor da vida. Procuro a minha Alma, a Alma de Portugal e a minha Alma gémea. Provavelmente nunca as encontrarei; mas, pelo menos, para além de tudo o mais, levo a vida a olhar para longe e para cima.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

OUTRA MÓNICA MEDITERRÂNICA

Monica Vitti em L'Avventura (Itália/França, 1960) de Antonioni.
Um País que gera Monica Vitti e Monica Bellucci é, certamente, eleito por Deus. Cá para mim, a manifestação do eterno feminino, na sua plenitude, só se dá na diversidade dos corpos e dos rostos como espelhos da alma. Abençoada seja, pois, a bela Itália. Saibamos lá voltar sempre em busca da nossa matriz estética e ética de orgulhosos europeus cultos. E não tenhamos medo de mandar a descaracterizada treta new age — feita para formatar por igual desprevenidos consumidores culturais — àquela parte!

DIAS QUE VALEM POR DOIS PARA DOIS

Duas
Limonadas
Entornadas.
Dois
Cineastas
Libertados.
Duas
Cervejas
Geladas.
Dois
Passeios
Adiados.
Duas
Vidas
Partilhadas.
Dois
Amigos
Encontrados.
Duas
Conversas
Inacabadas.
Dois
Caminhos
Cruzados.
Duas
Almas
Desassossegadas.
Dois
Espíritos
Cultivados.
(continua)
[escrito e reescrito ao aroma e sabor das saudades]

HÁ SEMPRE UMA MÓNICA MEDITERRÂNICA QUE ZELA POR NÓS

Monica Bellucci.

LEITURAS PARA AS FÉRIAS DE VERÃO

Tendo eu a fatalidade, sob a forma de vício, de ler — «antes esse que o vício das mulheres», dizia a minha santa Avó, que não ficou cá para assistir à derrota da leitura, pelas ditas, durante quase dez anos a fio — várias obras ao mesmo tempo, permanentemente, numa crónica dispersão que me obriga a esforços contorcionistas para retomar livros interrompidos, e acontecendo ir em breve retirar-me durante duas semanas, lembrei-me de alinhar quinze volumes, pois, no meio de tal turbilhão, verifica-se sempre a média de consumo dar um livro por dia em tempo de férias. Limitei-me a tirar da estante volumes com marcadores dentro (alguns, aí esquecidos; outros, assinalando actuais leituras), por ordem aleatória. Como é perceptível, para quem já me vai conhecendo, quase todos correspondem a releituras. Quase todos são Poesia e Romance, porque é Verão, ou porque sou assim mesmo, ou porque estou assim. Então, cá vai:
Poesias, de Álvaro de Campos;
Livro do Desassossego, de Bernardo Soares;
A Minha Andorinha, de Miguel Esteves Cardoso;
As Flores do Mal, de Charles Baudelaire;
Em Busca do Tempo Perdido — À Sombra das Raparigas em Flor, de Marcel Proust;
As Afinidades Electivas, de Goethe;
As Sobrinhas da Viúva do Coronel, de Guy de Maupassant;
Cartas de Amor, de Alfred de Musset e George Sand;
Ele foi Mattia Pascal, Luigi Pirandello;
Morte em Pleno Verão, de Yukio Mishima;
Iluminações — Uma Cerveja no Inferno, de Jean-Arthur Rimbaud;
India Song, de Marguerite Duras;
O Sol Nasce Sempre (Fiesta), de Ernst Hemingway;
Paixão em Florença, de Somerset Maugham;
Amores, de Ovídio.

THOSE DANCING DAYS ARE GONE

Come, let me sing into your ear;
Those dancing days are gone,
All that silk and satin gear;
Crouch upon a stone,
Wrapping that foul body up
In as foul a rag;
I carry the sun in a golden cup.
The moon in a silver bag.
Curse as you may I sing it through;
What matter if the knave
That the most could pleasure you,
The children that he gave,
Are somewhere sleeping like a top
Under a marble flag?
I carry the sun in a golden cup.
The moon in a silver bag.
I thought it out this very day.
Noon upon the clock,
A man may put pretence away
Who leans upon a stick,
May sing, and sing until he drop,
Whether to maid or hag;
I carry the sun in a golden cup.
The moon in a silver bag.
WILLIAM BUTLER YEATS

VER PARA CRER

Acabei de topar, no electrodoméstico de visão à distância, com o ministro da Defesa — que, por sinal, é co-autor da recomendável Nova História Militar de Portugal — de camuflado, óculos escuros e gravata côr-de-rosa. Um flash na noite!

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

NO PAÍS DO BOTA ABAIXO

Agora, quando o Museu Nacional de Arte Antiga estava a funcionar como nunca, lembraram-se de demitir a sua Directora, que é, provavelmente, a melhor gestora cultural que temos nos nossos Museus (e, digo já que não conheço a Senhora de parte nenhuma, por causa das coisas). Não me lembro de ter ido tanto a este Museu como nos últimos três anos, plenos de intensa actividade cultural, de que destacaria inesquecíveis exposições temporárias de qualidade internacional — O Desenho no Renascimento e no Barroco, O Brilho das Imagens, Colecção Rau, Frei Carlos e o Belo Portátil , entre outras —, interessantes visitas guiadas e, ainda, sofisticadas festas no magnífico jardim.
Neste País é assim: os melhores são para abater.

LISBOA REVISITADA (5)

Na cidade nocturna luminosa
com mil olhos aquáticos pintados.
(...)
Y. K. CENTENO

LISBOA REVISITADA (4)

A BRASILEIRA, 1983
Havia mesas dos dois lados: cada
uma com dezassete cadeiras voadoras
— discussões teológicas, tertúlia
Agora, só dum lado, as mesas, em filas promíscuas
e um balcão corrido pra beber de pé
a bica e a política — ao fundo já se vê
Pasolini perdido perante o espelho
ressuscitado Fra Angélico e Santo
pra que se faça luz em pleno génio
ANTÓNIO BARAHONA

LISBOA REVISITADA (3)

(...)
Esqueço o comércio das aulas e faço das ruas do
Bairro Alto estradas caravaneiras.
(...)
JOÃO MIGUEL FERNANDES JORGE

LISBOA REVISITADA (2)

TEJO
Aqui e além em Lisboa — quando vamos
Com pressa ou distraídos pelas ruas
Ao virar da esquina de súbito avistamos
Irisado o Tejo:
Então se tornam
Leve o nosso corpo e a alma alada
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
(1919 — 2004)

LISBOA REVISITADA (1)

Demoro-me
à frente desta janela,
surpreendida e recolhida.
Quem nesta hora me pintasse...
pintaria a mulher
que busca o embevecimento,
que goza
e quer gozar
um fugaz momento
de contemplação.
Noto
(não estou informando
o hipotético pintor...)
que levanto um braço
para traçar,
ou para segurar.
IRENE LISBOA

ESCLARECIMENTO À CLIENTELA

Os destaques, a bold ou negrito (entre o anglicismo e o portuguesismo venha o diabo e escolha...!), nos quatro postais anteriores, são da minha responsabilidade, porque me apeteceu. Ainda não tenho livro de reclamações para puristas, puritanos e outros castiços. Quando tiver, aviso. Boas leituras. Os referidos sites ou sítios têm pano para mangas para quem aprecia fatos à medida. Acredito que cada leitor pode ir fazendo o seu enxoval ou a cama em que se há-de deitar.

POR AÍ FORA SEMPRE A ABRIR EM DIRECÇÃO AO FUTURO

UM POUCO MAIS ALÉM

OUTRO SÍTIO INICIÁTICO

UM SÍTIO PARA IR ENTRANDO MUITO DEVAGARINHO

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

ETERNO RETORNO (3)

Secrets of the Beehive (1987) , David Sylvian.
A melancólica pérola melódica que ouvimos no postal anterior corresponde à faixa de abertura deste álbum dos meus vinte anos. Conseguia ouvi-lo durante dias a fio. Se bem me lembro, era ao fim da tarde, antes de me lançar à aventura pelas longas noites de Lisboa, que me deixava inundar por esta atmosfera romântica de refinado bom-gosto contemporâneo. O culto deste e doutros discos servia de toque a rebate para a convergência de uma élite (escol, em bom Português) de jovens da época. Hoje, arrumadas as memórias, e dispersas essas pessoas, é com menos spleen e mais saudades do futuro que o oiço. Antes assim, que para a frente é que é o caminho.

SETEMBRO EM AGOSTO

«September», David Sylvian.

À S.

Drawing Hands, 1948
M. C. ESCHER (1898 — 1972)
Litografia, 28,2 x 33,3 cm
Colecção Cornelius Van S. Roosevelt.
Em sibilino sofrido silêncio.