sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Os anos 10 do século passado deram a Portugal o Integralismo Lusitano. A mesma década deu à Europa o Futurismo. Desejo que em 2011 se comecem a desenhar novos movimentos — éticos e estéticos — do mesmo calibre.
O CONTENTOR E O CONTEÚDO
No vida real, incomodam-me as pessoas que estão sempre a mudar de estilo; na virtual, incomodam-me as que estão sempre a mudar de imagem. Por isso, este blogue irá manter o seu cabeçalho. No entanto, estrearei aqui novidades no próximo ano... Afinal, há que mudar (ligeiramente) as formas, para melhor passar as (mesmas) mensagens.
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
NATAL
Natal. Nasceu Jesus. O boi e a ovelha
deram-lhe o seu alento, o seu calor.
De palha o berço, mas também de Amor.
Desce luz, desce paz de cada telha.
deram-lhe o seu alento, o seu calor.
De palha o berço, mas também de Amor.
Desce luz, desce paz de cada telha.
Nem um carvão aceso nem centelha
de lume vivo. A dor era só dor,
até que a mão trigueira dum pastor
floriu em pão, em leite, em mel de abelha.
de lume vivo. A dor era só dor,
até que a mão trigueira dum pastor
floriu em pão, em leite, em mel de abelha.
Natal. Nasceu Jesus. Dias de festa.
Até o cardo é hoje rosa, giesta,
até a cinza arde como brasa.
Até o cardo é hoje rosa, giesta,
até a cinza arde como brasa.
E nós? Que vamos nós dar a Jesus?
Vamos erguer tão alto a sua Cruz
que não lhe pese mais do que flor ou asa.
Vamos erguer tão alto a sua Cruz
que não lhe pese mais do que flor ou asa.
FERNANDA DE CASTRO
(1900 — 1994)
(1900 — 1994)
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
ESTA VAI PARA O ROBERTO DE MORAES
A Chama
Este fogo resume uma tradição viva. Não uma imagem vaga, mas uma realidade. Uma realidade tão tangível como a dureza desta pedra ou o sopro do vento. O símbolo do Solstício é que a vida não pode morrer. Os nossos antepassados acreditavam que o Sol não abandona os homens e que volta todos os anos ao encontro da Primavera.
Cremos, como eles, que a vida não morre e que, para lá da morte dos indivíduos, a vida colectiva continua.
Que importa o que será amanhã. É levantando-nos hoje, afirmando que queremos permanecer como somos, que o amanhã pode vir.
Levamos em nós a chama. A chama pura deste fogo de fé. Não um fogo de lembrança. Não um fogo de piedade filial. Um fogo de alegria e de intensidade que temos que acender sobre a nossa terra. Lá queremos viver e cumprir o nosso dever como homens, sem renegar nenhuma das particularidades do nosso sangue, da nossa história, da nossa fé, amalgamadas nas nossas recordações e nas nossas veias...
Tudo isto não é a ressurreição de um rito abolido. É a continuação de uma grande tradição. De uma tradição que mergulha as suas raízes no mais profundo das idades e que não quer desaparecer. Uma tradição em que, cada modificação, só deve reforçar o sentido simbólico. Uma tradição que a pouco e pouco revive.
Cremos, como eles, que a vida não morre e que, para lá da morte dos indivíduos, a vida colectiva continua.
Que importa o que será amanhã. É levantando-nos hoje, afirmando que queremos permanecer como somos, que o amanhã pode vir.
Levamos em nós a chama. A chama pura deste fogo de fé. Não um fogo de lembrança. Não um fogo de piedade filial. Um fogo de alegria e de intensidade que temos que acender sobre a nossa terra. Lá queremos viver e cumprir o nosso dever como homens, sem renegar nenhuma das particularidades do nosso sangue, da nossa história, da nossa fé, amalgamadas nas nossas recordações e nas nossas veias...
Tudo isto não é a ressurreição de um rito abolido. É a continuação de uma grande tradição. De uma tradição que mergulha as suas raízes no mais profundo das idades e que não quer desaparecer. Uma tradição em que, cada modificação, só deve reforçar o sentido simbólico. Uma tradição que a pouco e pouco revive.
JEAN MABIRE
(1927 — 2006)
(1927 — 2006)
PALAVRAS DUM HOMEM CULTO COM QUEM CONVIVI
“Historical sense”
Penso por vezes experimentar aquilo a que os ingleses chamam “historical sense” e os franceses chamam “déjà vu”, embora o sinta fugitivamente pois, ao que creio, é dom bastante raro.
Quero dizer que, de tempos a tempos, ao ouvir uma voz, o som de uma melodia, ao ver uma casa, ao deparar com um recanto de jardim ou ângulo de paisagem, tenho o sentimento exacto (ou julgo tê-lo) de já ter vivido aquele instante, habitado aquela casa, visitado esses sítios, ouvido tais vozes, em tempos recuados.
De resto, nunca tive a impressão de ser um indivíduo completamente despegado, isolado, desligado do mundo, mas, tão somente, um dos anéis de uma longa, extensa corrente.
Dentro dos dons que recebi e sou depositário, leio em mim próprio uma parte imensa de recordações e fundo, de lembranças, de memórias hereditárias.
Quero dizer que, de tempos a tempos, ao ouvir uma voz, o som de uma melodia, ao ver uma casa, ao deparar com um recanto de jardim ou ângulo de paisagem, tenho o sentimento exacto (ou julgo tê-lo) de já ter vivido aquele instante, habitado aquela casa, visitado esses sítios, ouvido tais vozes, em tempos recuados.
De resto, nunca tive a impressão de ser um indivíduo completamente despegado, isolado, desligado do mundo, mas, tão somente, um dos anéis de uma longa, extensa corrente.
Dentro dos dons que recebi e sou depositário, leio em mim próprio uma parte imensa de recordações e fundo, de lembranças, de memórias hereditárias.
ROBERTO DE MORAES
(1939 — 2010)
(1939 — 2010)
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
DOS CAVALHEIROS
Os cavalheiros são humildes porque na sua busca da bondade e no seu amor à gentileza descobrem as limitações da humanidade e concluem que não existe bem sem Deus.
DOS ESTETAS
Os estetas são humildes porque na sua busca do belo e no seu amor à arte descobrem as limitações da humanidade e concluem que não existe beleza sem Deus.
DOS INTELECTUAIS
Os intelectuais são humildes porque na sua busca do conhecimento e no seu amor à sabedoria descobrem as limitações da humanidade e concluem que não existe verdade sem Deus.
domingo, 19 de dezembro de 2010
RENOVADOS VOTOS DO BLOGUE ETERNAS SAUDADES DO FUTURO
Um Santo e Feliz Natal a todos os seus leitores.
LIVRO PARA HOJE (117)
Natal... Natais — Oito Séculos de Poesia sobre o Natal, antologia organizada por Vasco Graça Moura, edição do jornal Público, Lisboa, 2005.
Livro obrigatório numa bilblioteca portuguesa. Poemas de Natal da autoria dos melhores Poetas Portugueses, numa bela edição, com capa dura e tudo.
QUEM, DO NATAL?
Quem esperamos? Quem,
No silêncio, na sombra, no deserto?
O menino divino de Belém,
Ou o rei Encoberto?
Esperamos alguém:
Qualquer que tenha o coração aberto.
É demais esta ausência, este vazio!
Quem adorar, servir, como Deus e senhor?
— O que estender a ponte sobre o rio
Da miséria e pavor!
O que apascente e semeie em desafio!
O que disser: — Eu sou! E for.
ANTÓNIO MANUEL COUTO VIANA
(1923 — 2010)
No silêncio, na sombra, no deserto?
O menino divino de Belém,
Ou o rei Encoberto?
Esperamos alguém:
Qualquer que tenha o coração aberto.
É demais esta ausência, este vazio!
Quem adorar, servir, como Deus e senhor?
— O que estender a ponte sobre o rio
Da miséria e pavor!
O que apascente e semeie em desafio!
O que disser: — Eu sou! E for.
ANTÓNIO MANUEL COUTO VIANA
(1923 — 2010)
RELATÓRIO E CONTAS DESTA VIDA DE BLOGUISTA
Faz hoje 4 anos que estou no Blogger. Entrei e logo me estreei no blogue colectivo do meu Liceu. Só um mês depois me aventurei a solo com o Eternas Saudades do Futuro. Entretanto, desde 19 de Dezembro de 2006 para cá, já tive, aproximadamente, 10000 consultas ao Perfil.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
DA VANTAGEM DOS (SUPORTES) CLÁSSICOS
Tenho o blogue meio empancado. Não consigo publicar imagens. Vou aproveitar a deixa e voltar já à leitura. Os livros nunca se avariam.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
LIVRO PARA HOJE (116)
História de Portugal, Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa, Nuno Gonçalo Monteiro, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2009.
Esta é a melhor e a mais actualizada síntese da História de Portugal. Aconselho a todos a sua leitura, com a muito minha profunda convicção de que quem não conhece o passado não pode perceber o presente nem preparar o futuro.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
BLOGUE DO DIA (129)
Ruin'arte, de Gastão de Brito e Silva.
Só agora o descobri — mea culpa —, mas logo vi que temos aqui um blogue luminoso.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
DA FÉ APESAR DE TUDO E TODOS
Vi hoje na missa um rapaz sozinho. Filho de pais de famílias tradicionais mas infelizmente separados e convertidos à esquerda ateia. Ele estava ali e rezava. Lá fora chovia que Deus a dava! Naquele momento senti claramente que quem Acredita nunca está só.
sábado, 11 de dezembro de 2010
RELIGIÃO E ARTE
Antes de mais quero agradecer este muito honroso convite para pronunciar, neste encontro, umas simples e breves palavras. Principiarei por dizer-vos ter pensado que as éticas, se não também mesmo as artes, seriam derivadas das religiões que procuram dar uma explicação da existência do ser humano face à sua inserção concreta no cosmos. Universo e homem, criações dum ser transcendente, colocam-nos problemas inquietantes para cuja solução o Verbo, que se fez carne em Cristo, nos trouxe insuperáveis graças divinas.
As Artes desde os primórdios sempre estiveram estreitamente ligadas às religiões e o cristianismo foi pródigo em expressões artísticas depois da passagem de Cristo pela terra e até aos dias de hoje.
Sou um homem do cinema, do cinema que é a sétima das artes, logo a mais recente de todas as expressões artísticas, pois não tem mais que um século, enquanto outras terão milénios. Em dois dos meus filmes, figurava um Anjo. No ACTO DA PRIMAVERA, baseado em um auto popular, da família dos chamados Mistérios ainda no século XVI. Este figurava a Paixão de Cristo, projecto que realizei em 1962, e onde a figura de um Anjo fazia parte do próprio contexto religioso desse Auto. No outro filme, CRISTOVÃO COLOMBO - O ENIGMA , realizado já em 2007, o Anjo não constava do contexto da história do livro em que me baseei. No entanto, pareceu-me bem introduzir o Anjo da Guarda, aqui o da nação portuguesa, como prévia configuração do Destino, tantas vezes adverso e tantas outras favorável às acções humanas, como aconteceu nessa feliz viagem do navegador que, pela primeira vez, encontrou as ilhas americanas de Antilhas. Isto levou-me a repensar as figuras dos Anjos fora e dentro das Igrejas, parecendo-me conotadas com prefigurações dos espíritos. Ora se os espíritos são um só, então temos nele a natureza de Deus.
Considerando, porém, a religião e a arte, ambas se me afiguram, ainda que de um modo distinto é certo, intimamente voltadas para o homem e o universo, para a condição humana e a natureza Divina. E nisto não residirá a memória e a saudade do Paraíso perdido, de que nos fala a Bíblia, tesouro inesgotável da nossa cultura europeia? Acossados pelas especulações da razão, sempre se levantam terríveis dúvidas e descrenças, a que se procura opor a fé do Evangelho que remove montanhas. E os seres humanos caminham na esperança, apesar de todos os negativismos. Como diz o padre António Vieira: «Terrível palavra é o NON, por qualquer lado que o tomeis é sempre NON...», terminando por lembrar que o NON tira a ESPERANÇA que é a última coisa que a natureza deixou ao homem.
Se as artes nada mais aspiram a ser que um reflexo das coisas e acções vivas dos procedimentos e sentimentos humanos do universo real ou em fantasias imaginadas, pode aceitar-se o que um realizador mexicano, Artur Ripstein, classificou dum modo magnífico e surpreendente o cinema como sendo o espelho da vida. E é-o de facto.
Não querendo alongar-me mais, aproveito a circunstância para, como pertencente à família cristã, de cujos valores comungo, e que são as raízes da nação portuguesa e a de toda a Europa, quer queiramos ou não, saudar com profunda veneração sua Santidade, o Papa Bento XVI em visita ao nosso País e rogar filialmente que nos deixe a Sua bênção.
Manoel de Oliveira
[Discurso proferido durante o encontro de Sua Santidade o Papa Bento XVI com pessoas da cultura portuguesa no Centro Cultural de Belém aos 12 de Maio de 2010.]
As Artes desde os primórdios sempre estiveram estreitamente ligadas às religiões e o cristianismo foi pródigo em expressões artísticas depois da passagem de Cristo pela terra e até aos dias de hoje.
Sou um homem do cinema, do cinema que é a sétima das artes, logo a mais recente de todas as expressões artísticas, pois não tem mais que um século, enquanto outras terão milénios. Em dois dos meus filmes, figurava um Anjo. No ACTO DA PRIMAVERA, baseado em um auto popular, da família dos chamados Mistérios ainda no século XVI. Este figurava a Paixão de Cristo, projecto que realizei em 1962, e onde a figura de um Anjo fazia parte do próprio contexto religioso desse Auto. No outro filme, CRISTOVÃO COLOMBO - O ENIGMA , realizado já em 2007, o Anjo não constava do contexto da história do livro em que me baseei. No entanto, pareceu-me bem introduzir o Anjo da Guarda, aqui o da nação portuguesa, como prévia configuração do Destino, tantas vezes adverso e tantas outras favorável às acções humanas, como aconteceu nessa feliz viagem do navegador que, pela primeira vez, encontrou as ilhas americanas de Antilhas. Isto levou-me a repensar as figuras dos Anjos fora e dentro das Igrejas, parecendo-me conotadas com prefigurações dos espíritos. Ora se os espíritos são um só, então temos nele a natureza de Deus.
Considerando, porém, a religião e a arte, ambas se me afiguram, ainda que de um modo distinto é certo, intimamente voltadas para o homem e o universo, para a condição humana e a natureza Divina. E nisto não residirá a memória e a saudade do Paraíso perdido, de que nos fala a Bíblia, tesouro inesgotável da nossa cultura europeia? Acossados pelas especulações da razão, sempre se levantam terríveis dúvidas e descrenças, a que se procura opor a fé do Evangelho que remove montanhas. E os seres humanos caminham na esperança, apesar de todos os negativismos. Como diz o padre António Vieira: «Terrível palavra é o NON, por qualquer lado que o tomeis é sempre NON...», terminando por lembrar que o NON tira a ESPERANÇA que é a última coisa que a natureza deixou ao homem.
Se as artes nada mais aspiram a ser que um reflexo das coisas e acções vivas dos procedimentos e sentimentos humanos do universo real ou em fantasias imaginadas, pode aceitar-se o que um realizador mexicano, Artur Ripstein, classificou dum modo magnífico e surpreendente o cinema como sendo o espelho da vida. E é-o de facto.
Não querendo alongar-me mais, aproveito a circunstância para, como pertencente à família cristã, de cujos valores comungo, e que são as raízes da nação portuguesa e a de toda a Europa, quer queiramos ou não, saudar com profunda veneração sua Santidade, o Papa Bento XVI em visita ao nosso País e rogar filialmente que nos deixe a Sua bênção.
Manoel de Oliveira
[Discurso proferido durante o encontro de Sua Santidade o Papa Bento XVI com pessoas da cultura portuguesa no Centro Cultural de Belém aos 12 de Maio de 2010.]
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
ELEIÇÕES NA BLOGOSFERA
Anda tudo num virote por causa de umas eleições de blogues («blog do ano», «blogger do ano» e «blog revelação do ano»). A selecção dos candidatos é feita num programa televisivo de uma estação comercial generalista. Bastaria dizer isto, para poder dizer que está tudo dito. Contudo, confesso que aproveitei a deixa e fui lá votar (a coisa faz-se aqui: Combate de Blogues) — e votei em O Insurgente para «blog do ano» e no Estado Sentido para «blog revelação do ano».
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
SOM DO DIA
Salve, nobre Padroeira
Do Povo, teu protegido,
Entre todos escolhido,
Para povo do Senhor.
(Coro - intercalado)
Ó glória da nossa terra,
Que tens salvado mil vezes,
Enquanto houver Portugueses,
Tu serás o seu amor.
Com tua graça e beleza
Um jardim não ornas só,
Linda flor de Jericó,
De Portugal és a Flor!
Flor de suave perfume,
Para toda a Lusa gente,
Entre nós, em cada crente
Tens esmerado cultor.
Acode-nos, Mãe piedosa,
Nestes dias desgraçados,
Em que vivemos lançados
No pranto, no dissabor.
Lobos famintos, raivosos
O teu rebanho atassalham,
As ovelhas se tresmalham,
Surdas à voz do pastor.
Da fé a lâmpada santa,
Que tão viva outrora ardia,
Se teu zelo a não vigia,
Perde o restante fulgor.
Ai! da Lusa sociedade,
Se o sol do mundo moral
Se apaga… Ó noite fatal!
Ó noite de negro horror!
És a nossa Padroeira,
Não largues o padroado
Do rebanho confiado
A teu poder protector.
Portugal, qual outra Fénix,
À vida torne outra vez.
Não se chame Português
Quem cristão de fé não for.
Do Povo, teu protegido,
Entre todos escolhido,
Para povo do Senhor.
(Coro - intercalado)
Ó glória da nossa terra,
Que tens salvado mil vezes,
Enquanto houver Portugueses,
Tu serás o seu amor.
Com tua graça e beleza
Um jardim não ornas só,
Linda flor de Jericó,
De Portugal és a Flor!
Flor de suave perfume,
Para toda a Lusa gente,
Entre nós, em cada crente
Tens esmerado cultor.
Acode-nos, Mãe piedosa,
Nestes dias desgraçados,
Em que vivemos lançados
No pranto, no dissabor.
Lobos famintos, raivosos
O teu rebanho atassalham,
As ovelhas se tresmalham,
Surdas à voz do pastor.
Da fé a lâmpada santa,
Que tão viva outrora ardia,
Se teu zelo a não vigia,
Perde o restante fulgor.
Ai! da Lusa sociedade,
Se o sol do mundo moral
Se apaga… Ó noite fatal!
Ó noite de negro horror!
És a nossa Padroeira,
Não largues o padroado
Do rebanho confiado
A teu poder protector.
Portugal, qual outra Fénix,
À vida torne outra vez.
Não se chame Português
Quem cristão de fé não for.
Padre Francisco Rafael da Silveira Malhão (1794 - 1860)
Nota 1: O Hino da Padroeira foi composto por ocasião da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, pelo Papa Pio IX, em 8 de Dezembro de 1854.
Nota 2: O 8 de Dezembro é o dia da Imaculada Conceição ou de Nossa Senhora da Conceição — Padroeira de Portugal a partir das Cortes de 1645-1646 do Reinado de D. João IV, 8.º Duque de Bragança, em cujas veias corria o sangue de D. Nuno Álvares Pereira, Rei que devolveu aos Portugueses uma Pátria livre com a Restauração da Independência Nacional levada a cabo pelos 40 Conjurados no 1.º de Dezembro de 1640.