quarta-feira, 30 de novembro de 2011
HINO DA RESTAURAÇÃO
Portugueses, celebremos
O dia da Redenção.
Em que valentes Guerreiros
Nos deram, livre, a Nação.
A Fé dos Campos d'Ourique
Coragem deu, e Valor,
Aos Famosos de Quarenta
Que lutaram com Ardor.
P'rà frente! P'rà frente!
Repetir saberemos
As proezas portuguesas.
Avante! Avante!
É voz que soará triunfal
Vá avante Mocidade de Portugal!
(Composto em 1861 por Eugénio Ricardo Monteiro d'Almeida)
Com ou sem feriado, haveremos sempre de o cantar!
[Para o ouvir, cantado e musicado, clicar na letra.]
O dia da Redenção.
Em que valentes Guerreiros
Nos deram, livre, a Nação.
A Fé dos Campos d'Ourique
Coragem deu, e Valor,
Aos Famosos de Quarenta
Que lutaram com Ardor.
P'rà frente! P'rà frente!
Repetir saberemos
As proezas portuguesas.
Avante! Avante!
É voz que soará triunfal
Vá avante Mocidade de Portugal!
(Composto em 1861 por Eugénio Ricardo Monteiro d'Almeida)
Com ou sem feriado, haveremos sempre de o cantar!
[Para o ouvir, cantado e musicado, clicar na letra.]
terça-feira, 29 de novembro de 2011
MATÉRIA E ESPÍRITO NA CRISE CONTEMPORÂNEA
Confortem-se os estômagos e alimentem-se os cérebros, pois estes últimos — que são, realmente, os primeiros — também estão necessitados de cultura como de pão para a boca; e, depois, esperemos que neles se gerem e formulem soluções de futuro.
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
EXPRESSO DO OCIDENTE
Quarta-feira, 23 de Novembro
A Sábado publica hoje um apontamento delicioso: ao mesmo tempo que, insaciável, a maioria parlamentar nos exige mais e mais sacrifícios e cortes, resolve chumbar na Comissão de Ambiente uma proposta que visava matar a sede dos senhores deputados com a água da torneira que quase todos bebemos. Mas qual quê! A bem da Nação, os mui ilustres representantes do povo disseram que não, amparados por um qualquer parecer que assegurava não oferecer a alternativa as mesmas "condições de higiene". Para a história, ficará o contributo para o défice: entre janeiro e Novembro de 2010 o parlamento abateu 45.288 garrafas de 33 cl, 1.986 de litro e meio e 78.200 copinhos de plástico. Não há dúvida que o legislador é genial a gozar com o pagode que lhe paga as mordomias - e, no caso vertente, as manias.
Quinta-feira, 24 de Novembro
Greve geral, dia de glória do sr. Carvalho da Silva. A manhã ameaça um ou outro tumulto, com os vidros de três repartições de finanças a conhecerem as capacidades de estranhos cocktails molotov, mas a coisa fica por aqui se descontarmos a tradicional loucura de boa parte dos famigerados piquetes de greve cuja utilidade, aparentemente, é apenas a de impedir que os cidadãos que o pretendem possam exercer o seu direito a trabalho. Sejamos claros: mais de trinta anos passados sobre o carnaval revolucionário, já correu tempo bastante para que os senhores deputados pudessem dar-se ao trabalho de rever a Lei da Greve, nomeadamente introduzindo a proibição deste tipo de actuação inacreditável dos piquetes. Nas televisões, observamos as imagens de cavalheiros musculados impedindo de trabalhar companheiros a quem um dia de salário faz falta. E isto, tanto mais em época de dificuldades, mais do que revoltante é até vergonhoso. Que de uma vez por todas haja coragem para que se possa pôr fim a esta pouca vergonha da "obrigatoriedade de fazer greve". Lateralmente, olhando a minha zona, quer parecer-me que, à falta de transportes, a malta - muita dela, pelo menos -, baldou-se à labuta e aproveitou os minutos de fama da CGTP para fazer ponte. Em paralelo, uma das principais agências de rating voltou a fazer cair o país colocando-o agora no equivalente aos campeonatos de futebol do INATEL. No conjunto, quase nada de verdadeiramente novo.
Sábado, 26 de Novembro
Olhando as notícias de ontem e de hoje, vai ficando clara como a água (que os senhores deputados não bebem) a actuação dos grupos anarquistas e de extrema-esquerda que pretendem fazer do dia-a-dia de Portugal uma enorme praça grega. À desobediência que se observou na quinta-feira em frente da Assembleia da República, juntam-se agora indicações da presença em Lisboa de militantes estrangeiros "extremamente violentos" mais ou menos profissionais da delinquência de rua, do incêndio, do motim e do cocktail molotov. A par, vêm a público ligações deste tipo de grupos de extrema-esquerda com os gangues de "jovens" dos mais problemáticos bairros perigosos das zonas de Lisboa e de Setúbal. E para rematar o quadro, há relatos de cada vez mais frequentes tentativas de intrusão e ataque informático a sites e intranets de vários organismos e organizações cá do burgo. Mas aparentemente, apesar das notícias, nada se passa salvo a detenção, por umas horas, de meia dúzia de operacionais de extrema-esquerda que, como é sabido, nada mais pretendem do que a defesa intransigente de cada vez mais direitos, liberdades e garantias. Imaginem agora vosselências se estivesse em causa a sempre tenebrosa extrema-direita que, de uma das vezes que anunciou uma conferência, teve direito a rusga à escala nacional com dezenas largas de buscas, detenções, programas televisivos e demais carnaval! Imaginem mais ainda: que a tenebrosa extrema-direita tinha levado a cabo ataques informáticos ao Estado, pirotecnia diversa com cocktails molotov e tentativa de invasão das escadarias de São Bento, tudo com ajuda de um qualquer cidadão alemão. Pois é... já estão a ver como acabava, não estão? A esta hora, ainda as ruas haviam de estar patrulhadas pelo exército, polícia a cada esquina e os submarinos do dr. Portas a defender o Estado de Direito no lago do Campo Grande...
Domingo, 27 de Novembro
Para variar à tentação de olhar o que passou, façamos o exercício inverso de olhos postos no futuro. Na próxima quinta-feira teremos ao que parece a última oportunidade de, em dia feriado, celebrar o 1º de Dezembro e os Heróis da Restauração da Independência. Porque é preciso salvaguardar a memória histórica e transmiti-la às gerações vindouras, que não sejam poucos a deslocar-se, em todo o país, às respectivas cerimónias evocativas. E desde logo, à Praça dos Restauradores, em Lisboa, onde decorrerão os tradicionais actos organizados pela Sociedade Histórica da Independência de Portugal. Na hora da morte de mais um símbolo da nossa vontade de ser Comunidade de Destino independente, que não sejam poucos a dizer presente.
A Sábado publica hoje um apontamento delicioso: ao mesmo tempo que, insaciável, a maioria parlamentar nos exige mais e mais sacrifícios e cortes, resolve chumbar na Comissão de Ambiente uma proposta que visava matar a sede dos senhores deputados com a água da torneira que quase todos bebemos. Mas qual quê! A bem da Nação, os mui ilustres representantes do povo disseram que não, amparados por um qualquer parecer que assegurava não oferecer a alternativa as mesmas "condições de higiene". Para a história, ficará o contributo para o défice: entre janeiro e Novembro de 2010 o parlamento abateu 45.288 garrafas de 33 cl, 1.986 de litro e meio e 78.200 copinhos de plástico. Não há dúvida que o legislador é genial a gozar com o pagode que lhe paga as mordomias - e, no caso vertente, as manias.
Quinta-feira, 24 de Novembro
Greve geral, dia de glória do sr. Carvalho da Silva. A manhã ameaça um ou outro tumulto, com os vidros de três repartições de finanças a conhecerem as capacidades de estranhos cocktails molotov, mas a coisa fica por aqui se descontarmos a tradicional loucura de boa parte dos famigerados piquetes de greve cuja utilidade, aparentemente, é apenas a de impedir que os cidadãos que o pretendem possam exercer o seu direito a trabalho. Sejamos claros: mais de trinta anos passados sobre o carnaval revolucionário, já correu tempo bastante para que os senhores deputados pudessem dar-se ao trabalho de rever a Lei da Greve, nomeadamente introduzindo a proibição deste tipo de actuação inacreditável dos piquetes. Nas televisões, observamos as imagens de cavalheiros musculados impedindo de trabalhar companheiros a quem um dia de salário faz falta. E isto, tanto mais em época de dificuldades, mais do que revoltante é até vergonhoso. Que de uma vez por todas haja coragem para que se possa pôr fim a esta pouca vergonha da "obrigatoriedade de fazer greve". Lateralmente, olhando a minha zona, quer parecer-me que, à falta de transportes, a malta - muita dela, pelo menos -, baldou-se à labuta e aproveitou os minutos de fama da CGTP para fazer ponte. Em paralelo, uma das principais agências de rating voltou a fazer cair o país colocando-o agora no equivalente aos campeonatos de futebol do INATEL. No conjunto, quase nada de verdadeiramente novo.
Sábado, 26 de Novembro
Olhando as notícias de ontem e de hoje, vai ficando clara como a água (que os senhores deputados não bebem) a actuação dos grupos anarquistas e de extrema-esquerda que pretendem fazer do dia-a-dia de Portugal uma enorme praça grega. À desobediência que se observou na quinta-feira em frente da Assembleia da República, juntam-se agora indicações da presença em Lisboa de militantes estrangeiros "extremamente violentos" mais ou menos profissionais da delinquência de rua, do incêndio, do motim e do cocktail molotov. A par, vêm a público ligações deste tipo de grupos de extrema-esquerda com os gangues de "jovens" dos mais problemáticos bairros perigosos das zonas de Lisboa e de Setúbal. E para rematar o quadro, há relatos de cada vez mais frequentes tentativas de intrusão e ataque informático a sites e intranets de vários organismos e organizações cá do burgo. Mas aparentemente, apesar das notícias, nada se passa salvo a detenção, por umas horas, de meia dúzia de operacionais de extrema-esquerda que, como é sabido, nada mais pretendem do que a defesa intransigente de cada vez mais direitos, liberdades e garantias. Imaginem agora vosselências se estivesse em causa a sempre tenebrosa extrema-direita que, de uma das vezes que anunciou uma conferência, teve direito a rusga à escala nacional com dezenas largas de buscas, detenções, programas televisivos e demais carnaval! Imaginem mais ainda: que a tenebrosa extrema-direita tinha levado a cabo ataques informáticos ao Estado, pirotecnia diversa com cocktails molotov e tentativa de invasão das escadarias de São Bento, tudo com ajuda de um qualquer cidadão alemão. Pois é... já estão a ver como acabava, não estão? A esta hora, ainda as ruas haviam de estar patrulhadas pelo exército, polícia a cada esquina e os submarinos do dr. Portas a defender o Estado de Direito no lago do Campo Grande...
Domingo, 27 de Novembro
Para variar à tentação de olhar o que passou, façamos o exercício inverso de olhos postos no futuro. Na próxima quinta-feira teremos ao que parece a última oportunidade de, em dia feriado, celebrar o 1º de Dezembro e os Heróis da Restauração da Independência. Porque é preciso salvaguardar a memória histórica e transmiti-la às gerações vindouras, que não sejam poucos a deslocar-se, em todo o país, às respectivas cerimónias evocativas. E desde logo, à Praça dos Restauradores, em Lisboa, onde decorrerão os tradicionais actos organizados pela Sociedade Histórica da Independência de Portugal. Na hora da morte de mais um símbolo da nossa vontade de ser Comunidade de Destino independente, que não sejam poucos a dizer presente.
Pedro Guedes da Silva
domingo, 27 de novembro de 2011
CANÇÃO DO DIA
À memória do Rei D. Miguel, o Tradicionalista, toureiro e fadista, e o último Rei de Portugal que o Povo, verdadeiramente e apaixonadamente, amou.
LIVRO DO DIA
Fado e Tauromaquia no Século XIX, de António Manuel Morais, Hugin Editores, Lisboa, 2003.
sábado, 26 de novembro de 2011
TUDO ISTO É FADO
Perguntaste-me outro dia
Se eu sabia o que era o fado
Eu disse que não sabia
Tu ficaste admirado
Sem saber o que dizia
Eu menti naquela hora
E disse que não sabia
Mas vou-te dizer agora
Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras
Amor ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado
Se queres ser meu senhor
E teres-me sempre a teu lado
Não me fales só de amor
Fala-me também do fado
É canção que é meu castigo
Só nasceu p'ra me perder
O fado é tudo o que eu digo
Mais o que eu não sei dizer
Letra: Fernando Carvalho
Música: Aníbal Nazaré
Se eu sabia o que era o fado
Eu disse que não sabia
Tu ficaste admirado
Sem saber o que dizia
Eu menti naquela hora
E disse que não sabia
Mas vou-te dizer agora
Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras
Amor ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado
Se queres ser meu senhor
E teres-me sempre a teu lado
Não me fales só de amor
Fala-me também do fado
É canção que é meu castigo
Só nasceu p'ra me perder
O fado é tudo o que eu digo
Mais o que eu não sei dizer
Letra: Fernando Carvalho
Música: Aníbal Nazaré
GÉNEROS ARTÍSTICOS E IDENTIDADES NACIONAIS
Portugal tem o Fado, os Estados Unidos da América têm o Western.
PREPARANDO O NATAL
Amanhã, dia 27 de Novembro, primeiro Domingo do Advento, vamos pôr o Estandarte de Natal do Menino Jesus à varanda e deixá-lo lá até 6 de Janeiro.
Site recomendado: Estandartes de Natal.
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
25 DE NOVEMBRO LITERÁRIO
Esta data está ligada a dois escritores muito meus. Nasceu Eça de Queiroz em 1845. Morreu Mishima em 1970. Hoje ao serão irei relê-los. É esta a melhor maneira de homenageá-los.
PORQUE HOJE É 25 DE NOVEMBRO
Recordemos o completíssimo e interessantíssimo número da revista Alameda Digital consagrado ao tema de fundo «Do PREC ao 25 de Novembro».
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
DO FADO
Os leitores que, com toda a paciência do mundo, me vão seguindo, através deste blogue, já sabem que a Música faz parte do meu universo e que não consigo sequer imaginar o nosso planeta sem a inspiradora Arte inspirada por Euterpe e Polímnia. Relembrado isto, também já se sabe que, entre erudita e popular, prefiro toda, desde que boa, ou, dito de outra forma, feita à minha maneira. Assim, de Bach a Chet Baker, de Schubert a David Sylvian, de Wagner a Velvet Underground, de Purcell a Portishead, e por aí fora, por coordenadas estéticas muito minhas, que aqui vou revelando, cá se vai ouvindo um pouco de tudo, e vibrando com esses e outros compositores e intérpretes, ao meu gosto. Contudo, ainda não tinha confessado (nem às paredes), mas vou dizer agora, o seguinte: de entre todos os géneros musicais, só um me leva, literalmente, às lágrimas, sinal evidente de que me toca, com a sua aparente simplicidade, nas profundezas da alma — o Fado.
terça-feira, 22 de novembro de 2011
LEMBRETE E ESCLARECIMENTO SOBRE UMA SÉRIE CINÉFILA
Sessão Dupla [clicai aqui e ide por aí abaixo]
Esta série de mensagens, em construção, destina-se a sugerir — aos caros leitores cinéfilos que por aqui passam — um conjunto de sessões de visionamento com dois filmes (com recurso a DVD, já se sabe), deixando no ar uma pergunta para reflexão:
— Haverá relação entre ambas as obras?
Esta série de mensagens, em construção, destina-se a sugerir — aos caros leitores cinéfilos que por aqui passam — um conjunto de sessões de visionamento com dois filmes (com recurso a DVD, já se sabe), deixando no ar uma pergunta para reflexão:
— Haverá relação entre ambas as obras?
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
EXPRESSO DO OCIDENTE
Quinta-feira, 17 de Novembro
Nas vésperas da passagem de mais uma cerimónia de evocação dos Restauradores da Independência Nacional, parece cada vez mais claro que, na sua obsessão de cortar feriados deitando mão da já famosa aldrabice de que o corte vai elevar aos píncaros a lusa produtividade, a coligação de centro-direita fará cair o 1º de Dezembro como feriado nacional. Não creio que alguém se espante, tal é o desprezo reinante pelos conceitos de Soberania e Independência, valores hoje vistos como uma espécie de último reduto do obscurantismo. Mas se isso, como disse, na verdade não espanta, o mesmo já não diria - enfim, pelo menos totalmente... - da posição que o Senhor D. Duarte de Bragança entendeu adoptar a este respeito. Pois calculem os meus caros amigos que afirmou não haver problema algum na queda do 1º de Dezembro para - agarrem-se bem nesta parte - o fundir com o 25 de Abril e o 5 de Outubro, celebrando tudo a 10 de Junho. Li e não sei que diga... eu já só pretendo que o pretendente se mantenha longe dos holofotes no seu habitual sossego, de modo a menos comprometer a Causa que também é a minha. E quem lhe sentir saudades sempre pode comprar a Hola! e lobrigar as fotografias de nuestro hermano Juan Carlos. Pelos vistos, parece que para a esmagadora maioria dos nossos patrícios é praticamente a mesma coisa...
Sexta-feira, 18 de Novembro
Confesso não estranhar de maneira nenhuma a detenção de Duarte Lima, agora transformada em prisão preventiva. Aliás, o que eu frequentemente estranho é como é que ainda por aí circulam livremente uma série de figurões com carreira política nos bandos do sistema, ainda por cima com direito a subvenção vitalícia que todos pagamos através do confisco a que estamos sujeitos de malha cada vez mais apertada. Isto esclarecido, indigna-me o circo que ontem pude parcialmente presenciar. Por razões a que sou alheio - vivo aqui no bairro há mais anos do que o dr. Lima -, calha sermos vizinhos o que fez com que, da minha janela das traseiras, tenha podido entreter-me por uma horita com o corropio das jornalistas e dos fotógrafos, os carros de exteriores, as luzes, as sirenes, os advogados e magistrados, enfim... com o palco e as luzes da justiça lusa. E indigno-me. Segundo leio nas gazetas, parece que toda a gente soube antecipadamente da missão, incluindo o visado, menos eu e o resto da vizinhança. Ou seja, enquanto aquecíamos na almofada as últimas horas de sono, perdemos todos o espectáculo das sete da matina em ponto. E mais me intriga: se quiseram montar o circo com aparato - e querem frequentemente, pelo que vemos nas televisões - e agarrar o espectador à janela, por alma de quem é que depois não retiram o meliante pela frente, à vista dos contribuintes mais curiosos? Isto assim não há Direito!...
Sábado, 19 de Novembro
Quem já absorveu na perfeição o fim anunciado das comemorações do 1º de Dezembro é o Instituto de Emprego e Formação Profissional. A fazer fé no i de hoje, que chama o assunto à capa, o organismo tem-se carteado amiúde com o cada vez maior número de desempregados cá do burgo em missivas cujo assunto é "Ofertas de emprego noutros países da Europa" e que, ao que garante a imprensa, visam chamar os felizes contemplados a uma reunião onde lhes é proposta a emigração e as suas virtudes como saída única para o estado a que isto chegou. A correspondência vem a público dias depois do Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Alexandre Miguel Mestre, ter declarado que os jovens deveriam meter os pés ao caminho e cruzar fronteiras, ao invés de se manterem por cá numa alegada "zona de conforto" que, estimo eu, só a criatura terá conseguido lobrigar. Isto pode até parecer o contrário à primeira vista mas afigura-se-me bem ilustrativo daquele "de povo de missionários / a povo demissionário" que o enorme talento do nosso Rodrigo Emílio em tempos produziu.
Noutro plano, está aqui o vídeo político da semana. Numa intervenção no Parlamento Europeu onde é deputado, Nigel Farage, líder do UKIP (United Kingdom Independence Party), descreve em dois minutos a Europa que temos. Recomendo a audição.
Domingo, 20 de Novembro
Eleições em Espanha que por serem a 20 de Novembro nos recordam aquele célebre "Sin novedad en el Alcazar". Com efeito, estava há muito anunciada a vitória mais ou menos esmagadora do PP de Mariano Rajoy que agora, na melhor linha dos Passos Coelho deste mundo, levará avante as políticas que a tecnocracia financeira do momento lhe impuser. Aliás, tal e qual titulava há um ou dois dias um dos pasquins de referência de Madrid: "gane quien gane, manda Merkel". Talvez porque também o tenham entendido antecipadamente e com clareza, boa parte dos espanhóis optou hoje por não votar aumentando a abstenção com relação às eleições gerais anteriores. Lá como em quase todo o lado, cada vez mais descontentamento e cada vez mais gente a não se dar ao trabalho de ir meter o papelinho na urna (já para não mencionar números crescentes de brancos e nulos). Um dia, podem escrever, isto vai rebentar. Resta saber para que lado tombará.
Nas vésperas da passagem de mais uma cerimónia de evocação dos Restauradores da Independência Nacional, parece cada vez mais claro que, na sua obsessão de cortar feriados deitando mão da já famosa aldrabice de que o corte vai elevar aos píncaros a lusa produtividade, a coligação de centro-direita fará cair o 1º de Dezembro como feriado nacional. Não creio que alguém se espante, tal é o desprezo reinante pelos conceitos de Soberania e Independência, valores hoje vistos como uma espécie de último reduto do obscurantismo. Mas se isso, como disse, na verdade não espanta, o mesmo já não diria - enfim, pelo menos totalmente... - da posição que o Senhor D. Duarte de Bragança entendeu adoptar a este respeito. Pois calculem os meus caros amigos que afirmou não haver problema algum na queda do 1º de Dezembro para - agarrem-se bem nesta parte - o fundir com o 25 de Abril e o 5 de Outubro, celebrando tudo a 10 de Junho. Li e não sei que diga... eu já só pretendo que o pretendente se mantenha longe dos holofotes no seu habitual sossego, de modo a menos comprometer a Causa que também é a minha. E quem lhe sentir saudades sempre pode comprar a Hola! e lobrigar as fotografias de nuestro hermano Juan Carlos. Pelos vistos, parece que para a esmagadora maioria dos nossos patrícios é praticamente a mesma coisa...
Sexta-feira, 18 de Novembro
Confesso não estranhar de maneira nenhuma a detenção de Duarte Lima, agora transformada em prisão preventiva. Aliás, o que eu frequentemente estranho é como é que ainda por aí circulam livremente uma série de figurões com carreira política nos bandos do sistema, ainda por cima com direito a subvenção vitalícia que todos pagamos através do confisco a que estamos sujeitos de malha cada vez mais apertada. Isto esclarecido, indigna-me o circo que ontem pude parcialmente presenciar. Por razões a que sou alheio - vivo aqui no bairro há mais anos do que o dr. Lima -, calha sermos vizinhos o que fez com que, da minha janela das traseiras, tenha podido entreter-me por uma horita com o corropio das jornalistas e dos fotógrafos, os carros de exteriores, as luzes, as sirenes, os advogados e magistrados, enfim... com o palco e as luzes da justiça lusa. E indigno-me. Segundo leio nas gazetas, parece que toda a gente soube antecipadamente da missão, incluindo o visado, menos eu e o resto da vizinhança. Ou seja, enquanto aquecíamos na almofada as últimas horas de sono, perdemos todos o espectáculo das sete da matina em ponto. E mais me intriga: se quiseram montar o circo com aparato - e querem frequentemente, pelo que vemos nas televisões - e agarrar o espectador à janela, por alma de quem é que depois não retiram o meliante pela frente, à vista dos contribuintes mais curiosos? Isto assim não há Direito!...
Sábado, 19 de Novembro
Quem já absorveu na perfeição o fim anunciado das comemorações do 1º de Dezembro é o Instituto de Emprego e Formação Profissional. A fazer fé no i de hoje, que chama o assunto à capa, o organismo tem-se carteado amiúde com o cada vez maior número de desempregados cá do burgo em missivas cujo assunto é "Ofertas de emprego noutros países da Europa" e que, ao que garante a imprensa, visam chamar os felizes contemplados a uma reunião onde lhes é proposta a emigração e as suas virtudes como saída única para o estado a que isto chegou. A correspondência vem a público dias depois do Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Alexandre Miguel Mestre, ter declarado que os jovens deveriam meter os pés ao caminho e cruzar fronteiras, ao invés de se manterem por cá numa alegada "zona de conforto" que, estimo eu, só a criatura terá conseguido lobrigar. Isto pode até parecer o contrário à primeira vista mas afigura-se-me bem ilustrativo daquele "de povo de missionários / a povo demissionário" que o enorme talento do nosso Rodrigo Emílio em tempos produziu.
Noutro plano, está aqui o vídeo político da semana. Numa intervenção no Parlamento Europeu onde é deputado, Nigel Farage, líder do UKIP (United Kingdom Independence Party), descreve em dois minutos a Europa que temos. Recomendo a audição.
Domingo, 20 de Novembro
Eleições em Espanha que por serem a 20 de Novembro nos recordam aquele célebre "Sin novedad en el Alcazar". Com efeito, estava há muito anunciada a vitória mais ou menos esmagadora do PP de Mariano Rajoy que agora, na melhor linha dos Passos Coelho deste mundo, levará avante as políticas que a tecnocracia financeira do momento lhe impuser. Aliás, tal e qual titulava há um ou dois dias um dos pasquins de referência de Madrid: "gane quien gane, manda Merkel". Talvez porque também o tenham entendido antecipadamente e com clareza, boa parte dos espanhóis optou hoje por não votar aumentando a abstenção com relação às eleições gerais anteriores. Lá como em quase todo o lado, cada vez mais descontentamento e cada vez mais gente a não se dar ao trabalho de ir meter o papelinho na urna (já para não mencionar números crescentes de brancos e nulos). Um dia, podem escrever, isto vai rebentar. Resta saber para que lado tombará.
Pedro Guedes da Silva
sábado, 19 de novembro de 2011
QUAL 5 DE OUTUBRO?
A propósito da abolição de feriados que está a ser tratada, espantam-se algumas pessoas mais ingénuas com o facto de os republicanos se prepararem para deixar cair o 5 de Outubro. Passo então a explicar: a partir do momento que, em boa hora, vários monárquicos se lembraram de recuperar o dia 5 de Outubro (de 1143) como data da Fundação da Nacionalidade, as acções associadas a esta comemoração logo agregaram milhares de pessoas — da internet à rua, de Norte a Sul de Portugal —, contrastando com a meia-dúzia de caquéticos pindéricos que insistem em continuar a celebrar 1910. Vai daí, toca mas é rapidamente a acabar com esse feriado, não vá ele ajudar a propagar a imparável dinâmica patriótica e monárquica em torno de 1143.
DAS LIGAÇÕES NA BLOGOSFERA
Não tenho idade para explicações, mas venho aqui pôr alguns pontos nos is. Estas, são próprias da primeira idade, quando os meninos mal-comportados, que se deixam apanhar a fazer algum disparate, têm de prestar contas; não sendo este manifestamente o caso, adiante. Podem as ditas também surgir na última idade, quando esta, infelizmemte, é acompanhada de desorientação, e a pessoa se justifica por tudo e por nada. Estando eu nos quarentas, encontro-me numa zona intermédia, imune a essas contaminações infantis ou senis.
Assim sendo, e dito isto, venho aqui apresentar, de forma simples e resumida, a lógica das minhas ligações (os ferverosos anglófilos dizem links) a outros blogues e sítios (sites, para aqueloutros).
Antes de mais nada, convém saber que as ligações se dividem em duas categorias: as permanentes e as temporárias.
Comecemos pelo fim. No meu caso, no que a estas últimas diz respeito, a coisa é simplissíssima: nas mensagens que vou escrevendo, estabeleço ligação àquilo que refiro directamente, se estiver on-line, e eu disso tiver conhecimento, e me apetecer; essa é que é essa. De seguida, muito naturalmente, a ligação vai morrendo, pois vai ficando para baixo, para finalmente ser arquivada no respectivo mês de publicação da mensagem. Tenho pena, mas é a lei da vida blogosférica.
Em relação às primeiras aqui nomeadas — as permanentes —, o critério, para já, no que me toca, processa-se da seguinte forma: introduzi na coluna da direita — «outros sítios onde escrevo», o busílis desta questão — a ligação à única revista on-line onde escrevi até hoje; e, ainda, aos blogues colectivos onde colaboro como co-autor (um deles, aliás, onde me estreei nestas andanças da blogosfera). É o que há, é o que lá está.
Vem tudo isto a propósito de uns zunzuns que para aqui me chegaram, por interpostas pessoas, da parte de umas alminhas muito sensíveis, a queixarem-se de que eu não fazia links aos supraditos meninos e meninas. Agora, já podem dormir descansados; e — se for caso disso —, imprimir e emoldurar este diploma.
Assim sendo, e dito isto, venho aqui apresentar, de forma simples e resumida, a lógica das minhas ligações (os ferverosos anglófilos dizem links) a outros blogues e sítios (sites, para aqueloutros).
Antes de mais nada, convém saber que as ligações se dividem em duas categorias: as permanentes e as temporárias.
Comecemos pelo fim. No meu caso, no que a estas últimas diz respeito, a coisa é simplissíssima: nas mensagens que vou escrevendo, estabeleço ligação àquilo que refiro directamente, se estiver on-line, e eu disso tiver conhecimento, e me apetecer; essa é que é essa. De seguida, muito naturalmente, a ligação vai morrendo, pois vai ficando para baixo, para finalmente ser arquivada no respectivo mês de publicação da mensagem. Tenho pena, mas é a lei da vida blogosférica.
Em relação às primeiras aqui nomeadas — as permanentes —, o critério, para já, no que me toca, processa-se da seguinte forma: introduzi na coluna da direita — «outros sítios onde escrevo», o busílis desta questão — a ligação à única revista on-line onde escrevi até hoje; e, ainda, aos blogues colectivos onde colaboro como co-autor (um deles, aliás, onde me estreei nestas andanças da blogosfera). É o que há, é o que lá está.
Vem tudo isto a propósito de uns zunzuns que para aqui me chegaram, por interpostas pessoas, da parte de umas alminhas muito sensíveis, a queixarem-se de que eu não fazia links aos supraditos meninos e meninas. Agora, já podem dormir descansados; e — se for caso disso —, imprimir e emoldurar este diploma.
MÁXIMAS MUITO MINHAS (5)
Os vinhos são como os indivíduos: a idade distingue os bons dos que não prestam — os primeiros, amadurecem; os segundos, azedam.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
MÁXIMAS MUITO MINHAS (3)
Falar de imagens sem mostrar ilustrações constitui um estímulo à imaginação de quem ouve.
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
1.º DE DEZEMBRO DE 1640 — DIA DA RESTAURAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA NACIONAL
Para lá dos feriados religiosos, só há duas datas nacionais: o Dez de Junho e o Primeiro de Dezembro. Para mim, é data nacional toda aquela que engrandece Portugal. O resto são epifenómenos ideológicos.
Marcello Duarte Mathias, Diário de Paris, Asa, Lisboa, 2006.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
DOIS ANOS DE ETERNA SAUDADE
Artur Costa Pinto Marchante
(Sousel, 10.08.1931 — Lisboa, 15.11.2009)
(Sousel, 10.08.1931 — Lisboa, 15.11.2009)
Celebrar-se-á hoje uma Santa Missa de sufrágio pela alma do Pai.
MÁXIMAS MUITO MINHAS (2)
Não basta olhar — é preciso ver; e, para tal, é necessário lavar os olhos entre os olhares.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
EXPRESSO DO OCIDENTE
Segunda-feira, 7 de Novembro
Alargado fim de semana madrileno, opção sempre válida para escapar um pouco aos dias arrastados e agora mais escuros deste cada vez mais triste fado lusitano. De barrio em barrio, dias corridos a pinchos, cañas e tapas, deparo-me com ruas repletas de gente de dia e de noite que igualmente garantem o sustento das tão habituais como enormes filas para as salas de cinema da Gran Vía, apesar da chuva menos convidativa e da crise que também pela capital espanhola se vai sentindo. Mas apesar da dita, tenho como certo que os espanhóis se vão safar dos estragos um nadinha melhor do que nós e cá estaremos para ver se o escriba tem ou não razão. Perante os dias difíceis, por quase toda a cidade observo uma economia de portas abertas e boa disposição; há tradições que se mantêm e são muito poucas, na verdade, as tiendas que tomam por exemplo o domingo como descanso semanal. A contrastar com uma Lisboa de portas fechadas e menos sorrisos, em que o programa habitual do novo-riquismo promovido nas últimas décadas decreta, se tanto, romarias parolas a centros comerciais gigantes e desagradáveis. Acresce que em pleno Barrio de Salamanca, nas melhores (e mais caras) lojas de Madrid, se lobrigam uma série de artigos que - vá lá a gente entender a razão… - custam por cá mais quarenta ou cinquenta euros a peça, quando somos nós a ganhar em média menos umas centenas valentes por mês da radiosa e fulgurante moeda comum. Ainda alguém me explicará um dia a razão destes pormenores.
Mas sendo menos mau do que por estas bandas, não se pense que a coisa corre de feição. Pelo contrário, em plena campanha eleitoral é evidente a cada esquina a derrota mais ou menos esmagadora que espera os socialistas de Rubalcaba nas eleições gerais do próximo 20 de Novembro. Mariano Rajoy vai chegar por fim a primeiro-ministro e a coisa, de tão óbvia, quase não constituirá notícia daqui por oito dias. E se é de eleições que tratamos, saiba quem se interesse pelo estado das chamadas "fuerzas nacionales" (e similares) que desta vez não há muito que seguir em plena noite eleitoral: as esperanças estão depositadas nos resultados da Plataforma per Catalunya em Barcelona - onde os mais optimistas chegam a admitir a eleição como deputado do líder Josep Anglada - e do movimento España 2000 em Castellón, Valência. Tudo o mais, as siglas de sempre, ou não existe ou, se existe, é só no papel.
Regressado à Pátria, observo no jornal que a "Justiça" pretende levar a tribunal um sem-abrigo que terá tentado furtar seis chocolates no valor de 14,34€ de um supermercado Lidl à Rua de Agramonte, no Porto. A coisa não se consumou porque o desgraçado foi apanhado pelo segurança de serviço, mas a administração da cadeia de supermercados alemã recusa retirar a queixa. Tivesse o homem roubado um banco ou tivesse ao invés adquirido um outro com dinheiro que lhe não pertencia e, ao invés do procedimento criminal, seria agora credor de uma comenda no próximo 10 de Junho. Por vontade minha, regressava de imediato ao aeroporto em busca do primeiro avião que me retornasse a um sítio decente. Para minha infelicidade, o cinto apertado não o permite.
Alargado fim de semana madrileno, opção sempre válida para escapar um pouco aos dias arrastados e agora mais escuros deste cada vez mais triste fado lusitano. De barrio em barrio, dias corridos a pinchos, cañas e tapas, deparo-me com ruas repletas de gente de dia e de noite que igualmente garantem o sustento das tão habituais como enormes filas para as salas de cinema da Gran Vía, apesar da chuva menos convidativa e da crise que também pela capital espanhola se vai sentindo. Mas apesar da dita, tenho como certo que os espanhóis se vão safar dos estragos um nadinha melhor do que nós e cá estaremos para ver se o escriba tem ou não razão. Perante os dias difíceis, por quase toda a cidade observo uma economia de portas abertas e boa disposição; há tradições que se mantêm e são muito poucas, na verdade, as tiendas que tomam por exemplo o domingo como descanso semanal. A contrastar com uma Lisboa de portas fechadas e menos sorrisos, em que o programa habitual do novo-riquismo promovido nas últimas décadas decreta, se tanto, romarias parolas a centros comerciais gigantes e desagradáveis. Acresce que em pleno Barrio de Salamanca, nas melhores (e mais caras) lojas de Madrid, se lobrigam uma série de artigos que - vá lá a gente entender a razão… - custam por cá mais quarenta ou cinquenta euros a peça, quando somos nós a ganhar em média menos umas centenas valentes por mês da radiosa e fulgurante moeda comum. Ainda alguém me explicará um dia a razão destes pormenores.
Mas sendo menos mau do que por estas bandas, não se pense que a coisa corre de feição. Pelo contrário, em plena campanha eleitoral é evidente a cada esquina a derrota mais ou menos esmagadora que espera os socialistas de Rubalcaba nas eleições gerais do próximo 20 de Novembro. Mariano Rajoy vai chegar por fim a primeiro-ministro e a coisa, de tão óbvia, quase não constituirá notícia daqui por oito dias. E se é de eleições que tratamos, saiba quem se interesse pelo estado das chamadas "fuerzas nacionales" (e similares) que desta vez não há muito que seguir em plena noite eleitoral: as esperanças estão depositadas nos resultados da Plataforma per Catalunya em Barcelona - onde os mais optimistas chegam a admitir a eleição como deputado do líder Josep Anglada - e do movimento España 2000 em Castellón, Valência. Tudo o mais, as siglas de sempre, ou não existe ou, se existe, é só no papel.
Regressado à Pátria, observo no jornal que a "Justiça" pretende levar a tribunal um sem-abrigo que terá tentado furtar seis chocolates no valor de 14,34€ de um supermercado Lidl à Rua de Agramonte, no Porto. A coisa não se consumou porque o desgraçado foi apanhado pelo segurança de serviço, mas a administração da cadeia de supermercados alemã recusa retirar a queixa. Tivesse o homem roubado um banco ou tivesse ao invés adquirido um outro com dinheiro que lhe não pertencia e, ao invés do procedimento criminal, seria agora credor de uma comenda no próximo 10 de Junho. Por vontade minha, regressava de imediato ao aeroporto em busca do primeiro avião que me retornasse a um sítio decente. Para minha infelicidade, o cinto apertado não o permite.
Quarta-feira, 9 de Novembro
Titulavam ontem as gazetas que os "investidores reagem com entusiasmo ao anúncio da demissão de Berlusconi". Os mesmos pasquins juram hoje que "o anúncio da demissão do primeiro-ministro italiano arrastou os juros da dívida italiana para valores acima da barreira psicológica dos 7 por cento". Descontada a clarividência sempre independente da lusa imprensa, querem lá ver que afinal de contas o problema não estava no mulherengo dono do Milan?!…
Quinta-feira, 10 de Novembro
Já bem distante dos "huevos rotos con salsichón, patatas y jamón" que me animaram a incursão madrilena, constato que o mundo - pelo menos o meu - parece querer manter-se focado em questões gastronómicas. Num dos raros momentos em que a minha televisão não sintoniza a SportTV, verifico que afinal Armando Vara e Manuel Godinho - o sujeito da "Face Oculta", para quem não saiba - mal se conheciam. Mais ainda: em juízo, o amigo do engenheiro Sócrates que é também afamado banqueiro e homem de negócios exemplares terá dito que apenas recebeu do sr. Godinho uns robalos, um pão-de-ló e - pasme-se! - uma camisola do Esmoriz! Já Vara, por ser gente educada, recorda-se de ter agradecido o gesto com a oferta ao sucateiro de umas alheiras. E assim estamos, numa verdadeira caldeirada. Rios de dinheiro gastos entre investigações e profissionais da justiça, escutas, centenas de testemunhas e prometidos recursos e, afinal de contas, estaremos apenas na presença de dois cavalheiros que gostam de trocar uns presentes apesar de quase não se conhecerem.
Sexta-feira, 11 de Novembro
Mais uma greve. Apesar de uma dívida acumulada na casa dos dez mil milhões de euros, as empresas de transportes públicos insistem em tornar num inferno a vida dos incautos que ainda são clientes das ditas e que, para cúmulo, são quem paga os ordenados daquela canalha - do pica-bilhetes até ao administrador. Pode ser que, com o andar - ou o não andar, neste caso - da carruagem, qualquer dia também eles fiquem em terra. Se calhar já faltou mais.
Sábado, 12 de Novembro
Sucedem-se as substituições de governos eleitos por conselhos de administração nomeados de fora. Depois de Papademos, em Atenas, ter tomado o lugar de um Papandreu que - escândalo dos escândalos! - teria assumido o desplante de referendar o milésimo pacote de "ajuda externa", agora é a vez de Mario Monti assumir ao que tudo indica o lugar de Berlusconi à frente do governo italiano. Já toda a gente sabe disto, pelo que não constitui novidade. O que talvez nem toda a gente saiba é que tanto Papademos como Monti - os dois técnicos colocados, sem eleições, à frente dos governos dos respectivos países - são dois influentes pontas-de-lança da Comissão Trilateral, uma organização internacional mais ou menos sinistra fundada em 1973 por David Rockfeller. Sem juízos de valor, não posso deixar de anotar a curiosidade e de recordar que já nos anos 80 e 90 do passado século a estrutura em causa foi objecto de diversas publicações e estudos nas principais revistas do movimento nacionalista e nacional-revolucionário europeu. Provavelmente, este é apenas mais um exemplo de que não é impossível ter razão antes do tempo. Em jeito mais ou menos lateral, eis até uma boa ocasião para recordar que uma das pessoas que mais coisas terá editado sobre a referida Trilateral - o editor espanhol Pedro Varela - está preso faz hoje exactamente onze meses pelo único crime de editar e vender uns livros incómodos. Eis o lado mais asqueroso das "amplas liberdades democráticas" desta Europa sempre tão plural em tudo o que lhe convém.
Por cá, as coisas não correm melhor. No Expresso, Isabel Jonet - presidente do Banco Alimentar Contra a Fome - dá conta de uma duríssima realidade que tenderá a agravar-se em 2012: há cada vez mais gente a precisar de ajuda e há cada vez menos pessoas e empresas com possibilidade de ajudar. A consequência é que, ao que tudo indica, será necessário diminuir em 2012 o número de instituições apoiadas, levando menos auxílio às pessoas no momento em que estas mais precisam dele. E estamos a falar de toneladas de bens de primeira necessidade, meus caros.
Titulavam ontem as gazetas que os "investidores reagem com entusiasmo ao anúncio da demissão de Berlusconi". Os mesmos pasquins juram hoje que "o anúncio da demissão do primeiro-ministro italiano arrastou os juros da dívida italiana para valores acima da barreira psicológica dos 7 por cento". Descontada a clarividência sempre independente da lusa imprensa, querem lá ver que afinal de contas o problema não estava no mulherengo dono do Milan?!…
Quinta-feira, 10 de Novembro
Já bem distante dos "huevos rotos con salsichón, patatas y jamón" que me animaram a incursão madrilena, constato que o mundo - pelo menos o meu - parece querer manter-se focado em questões gastronómicas. Num dos raros momentos em que a minha televisão não sintoniza a SportTV, verifico que afinal Armando Vara e Manuel Godinho - o sujeito da "Face Oculta", para quem não saiba - mal se conheciam. Mais ainda: em juízo, o amigo do engenheiro Sócrates que é também afamado banqueiro e homem de negócios exemplares terá dito que apenas recebeu do sr. Godinho uns robalos, um pão-de-ló e - pasme-se! - uma camisola do Esmoriz! Já Vara, por ser gente educada, recorda-se de ter agradecido o gesto com a oferta ao sucateiro de umas alheiras. E assim estamos, numa verdadeira caldeirada. Rios de dinheiro gastos entre investigações e profissionais da justiça, escutas, centenas de testemunhas e prometidos recursos e, afinal de contas, estaremos apenas na presença de dois cavalheiros que gostam de trocar uns presentes apesar de quase não se conhecerem.
Sexta-feira, 11 de Novembro
Mais uma greve. Apesar de uma dívida acumulada na casa dos dez mil milhões de euros, as empresas de transportes públicos insistem em tornar num inferno a vida dos incautos que ainda são clientes das ditas e que, para cúmulo, são quem paga os ordenados daquela canalha - do pica-bilhetes até ao administrador. Pode ser que, com o andar - ou o não andar, neste caso - da carruagem, qualquer dia também eles fiquem em terra. Se calhar já faltou mais.
Sábado, 12 de Novembro
Sucedem-se as substituições de governos eleitos por conselhos de administração nomeados de fora. Depois de Papademos, em Atenas, ter tomado o lugar de um Papandreu que - escândalo dos escândalos! - teria assumido o desplante de referendar o milésimo pacote de "ajuda externa", agora é a vez de Mario Monti assumir ao que tudo indica o lugar de Berlusconi à frente do governo italiano. Já toda a gente sabe disto, pelo que não constitui novidade. O que talvez nem toda a gente saiba é que tanto Papademos como Monti - os dois técnicos colocados, sem eleições, à frente dos governos dos respectivos países - são dois influentes pontas-de-lança da Comissão Trilateral, uma organização internacional mais ou menos sinistra fundada em 1973 por David Rockfeller. Sem juízos de valor, não posso deixar de anotar a curiosidade e de recordar que já nos anos 80 e 90 do passado século a estrutura em causa foi objecto de diversas publicações e estudos nas principais revistas do movimento nacionalista e nacional-revolucionário europeu. Provavelmente, este é apenas mais um exemplo de que não é impossível ter razão antes do tempo. Em jeito mais ou menos lateral, eis até uma boa ocasião para recordar que uma das pessoas que mais coisas terá editado sobre a referida Trilateral - o editor espanhol Pedro Varela - está preso faz hoje exactamente onze meses pelo único crime de editar e vender uns livros incómodos. Eis o lado mais asqueroso das "amplas liberdades democráticas" desta Europa sempre tão plural em tudo o que lhe convém.
Por cá, as coisas não correm melhor. No Expresso, Isabel Jonet - presidente do Banco Alimentar Contra a Fome - dá conta de uma duríssima realidade que tenderá a agravar-se em 2012: há cada vez mais gente a precisar de ajuda e há cada vez menos pessoas e empresas com possibilidade de ajudar. A consequência é que, ao que tudo indica, será necessário diminuir em 2012 o número de instituições apoiadas, levando menos auxílio às pessoas no momento em que estas mais precisam dele. E estamos a falar de toneladas de bens de primeira necessidade, meus caros.
Pedro Guedes da Silva
domingo, 13 de novembro de 2011
DA ONTOLOGIA DO BLOGUE
Quem vier aqui à procura de um blogue sobre Cinema — tipo sebenta e tudo —, bem pode tirar o cavalinho da chuva; e, deve mas é ir a correr inscrever-se nas minhas aulas. Neste sítio só falo do que me apetece, e quando me apetece. E é um pau. Siga a marcha, que se faz tarde, e o tempo está a arrefecer.
sábado, 12 de novembro de 2011
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
LUA CHEIA
Por força da refracção da luz na atmosfera, qual lente ampliadora, a Lua Cheia apresenta-se-nos sempre maior na forma de nascente. Contudo, a de hoje parece-me especialmente monumental.
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
VIDA E OBRA DOS AUTORES DA SÉTIMA ARTE
O autor dos filmes é o realizador.
Para que meio-mundo acreditasse nisto, foi necessário os jovens turcos dos Cahiers du Cinéma produzirem vasta teoria sobre a matéria, vertida em letra de forma em artigos da sua referida revista.
Cá para mim, no entanto, quem tivesse olhos de pensar já teria percebido, ao ver os grandes filmes da «golden age» de Hollywood, que, embora agrupados em géneros — categorias de produção industrial, mas também estéticas —, as ditas fitas tinham uma assinatura, toda ela marca d’água autoral, por parte do realizador.
Faça-se o teste: entremos numa qualquer sala de cinema, a meio da exibição de um filme, vendados (sem saber ao que vamos, olhos e ouvidos tapados); depois, libertados, recuperados os dois sentidos, e após dois minutos em contacto audiovisual com a película projectada na tela, tentemos adivinhar quem é o seu realizador. Arriscado e divertido jogo voyeur este...
Porém, parece-me que quem for verdadeiramente cinéfilo — amigo do Cinema —, e tiver uma cultura filmográfica à altura, logo acertará na mouche: Antonioni, Fellini, Dreyer, Bergman, Ford, Hawks, Bresson, Truffaut, Kurosawa, Ozu — nomes saídos automaticamente, ao correr da pena —, e muitos outros, que poderíamos acrescentar por aí fora, têm linguagens estéticas de tal forma fortes que ninguém que ame verdadeiramente a Sétima Arte poderá confundi-los entre si.
Esta conversa toda tem por objectivo servir de introdução à defesa de uma abordagem — infelizmente pouco canónica para os padrões académicos culturalmente correctos — da História do Cinema através da Vida e Obra dos Autores.
Bem sei que não podemos ignorar as três grandes épocas: mudo, sonoro e moderno; nem as principais correntes: expressionismo alemão, impressionismo francês, mudo russo, neo-realismo italiano, nouvelle-vague francesa, etc; nem tão pouco os géneros clássicos, que atingem o paradigma nos E. U. A., com os seus genres indígenas: western, gangsters, musical, aos quais eu gosto de acrescentar o film-noir.
Contudo, olhando noutra direcção, proponho que revisitemos esta Arte, que já atingiu a bela e matura idade de cem anos, tendo os realizadores — grandes mestres técnicos e criadores estéticos — como fios-condutores da sua História.
Para que meio-mundo acreditasse nisto, foi necessário os jovens turcos dos Cahiers du Cinéma produzirem vasta teoria sobre a matéria, vertida em letra de forma em artigos da sua referida revista.
Cá para mim, no entanto, quem tivesse olhos de pensar já teria percebido, ao ver os grandes filmes da «golden age» de Hollywood, que, embora agrupados em géneros — categorias de produção industrial, mas também estéticas —, as ditas fitas tinham uma assinatura, toda ela marca d’água autoral, por parte do realizador.
Faça-se o teste: entremos numa qualquer sala de cinema, a meio da exibição de um filme, vendados (sem saber ao que vamos, olhos e ouvidos tapados); depois, libertados, recuperados os dois sentidos, e após dois minutos em contacto audiovisual com a película projectada na tela, tentemos adivinhar quem é o seu realizador. Arriscado e divertido jogo voyeur este...
Porém, parece-me que quem for verdadeiramente cinéfilo — amigo do Cinema —, e tiver uma cultura filmográfica à altura, logo acertará na mouche: Antonioni, Fellini, Dreyer, Bergman, Ford, Hawks, Bresson, Truffaut, Kurosawa, Ozu — nomes saídos automaticamente, ao correr da pena —, e muitos outros, que poderíamos acrescentar por aí fora, têm linguagens estéticas de tal forma fortes que ninguém que ame verdadeiramente a Sétima Arte poderá confundi-los entre si.
Esta conversa toda tem por objectivo servir de introdução à defesa de uma abordagem — infelizmente pouco canónica para os padrões académicos culturalmente correctos — da História do Cinema através da Vida e Obra dos Autores.
Bem sei que não podemos ignorar as três grandes épocas: mudo, sonoro e moderno; nem as principais correntes: expressionismo alemão, impressionismo francês, mudo russo, neo-realismo italiano, nouvelle-vague francesa, etc; nem tão pouco os géneros clássicos, que atingem o paradigma nos E. U. A., com os seus genres indígenas: western, gangsters, musical, aos quais eu gosto de acrescentar o film-noir.
Contudo, olhando noutra direcção, proponho que revisitemos esta Arte, que já atingiu a bela e matura idade de cem anos, tendo os realizadores — grandes mestres técnicos e criadores estéticos — como fios-condutores da sua História.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
CINEASTAS DE SALVAÇÃO
De lá para cá; ou seja, de Oriente para Ocidente:
Ozu, Tarkovsky, Dreyer, Bresson, Oliveira.
Ozu, Tarkovsky, Dreyer, Bresson, Oliveira.
domingo, 6 de novembro de 2011
LER, VER E VIVER
O mais importante que aprendi foi com livros que li, filmes que vi e momentos que vivi. Espero que continue a ser assim.
A DE AUTOR
Alfred Hitchcock (1899 — 1980) nasce em Londres. Sendo, pois, à partida, um homem directamente herdeiro do espírito vitoriano do século XIX, revela, no entanto, um extraordinário sentido de utilização dos modernos meios de marketing e publicidade (antecipando-os), para divulgar as suas obras. Cedo irá transformar em marca icónica o seu nome, tornando-o reconhecível e apetecível para toda a comunidade mundial de cinéfilos, e, mesmo, para os grandes e despersonalizados públicos generalistas. Revela-se, ainda, e dentro desta estratégia de comunicação global, um especialista nas relações públicas; especialmente com a imprensa, com o objectivo de se promover profissionalmente.
Dito isto, há que afirmar, de imediato, que toda esta comunicação eficaz era apenas a ponta-de-lança de uma obra complexa e profunda. Vamos a ela, que é o fulcro da questão!
Hitchcock, oriundo de uma família de classe média-baixa, é instruído pelos jesuítas. Se refiro este facto é porque os seus filmes virão a reflectir uma série de conhecimentos que terá assimilado nos seus estudos feitos numa escola católica destes, bem conhecidos pela vasta cultura que forneciam; terá, também, através dos referidos jesuítas, tomado contacto com G. K. Chesterton (1874 — 1936), que lerá entusiasmado na juventude. Outras influências literárias que o marcaram, mais tarde, como erudito auto-didacta que era, foram Edgar Allan Poe (1809 — 1849) e Oscar Wilde (1854 — 1900).
Por outro lado, devorava jornais e lia revistas de criminologia e de cinema. Curioso é constatar o casamento entre estas fontes de inspiração para o seu despertar como autor de filmes. Os seus temas serão, principalmente, os seguintes: falsos culpados, assassínios, trocas de identidade, medo, voyeurismo, paixões frias mas arrebatadoras.
Porém, antes de chegar à realização de fitas, começa por desenhar intertítulos para filmes mudos, escrever argumentos e trabalhar como assistente de realização. Esta conjugação, de conhecimento prático da técnica cinematográfica com a cultura que ia adquirindo pela leitura, possibilita uma mestria na criação das suas narrativas fílmicas, apimentadas com o tão apregoado suspense.
Na sétima arte, Hitch (gostava de ser assim tratado) bebeu de várias fontes: Fritz Lang (1890 — 1976) e F. W. Murnau (1888 — 1931) — esses dois mestres do mudo alemão — foram determinantes para a estruturação da sua linguagem estética. Esteve na UFA — os grandes estúdios de Berlim — e conheceu-os pessoalmente. Lá trabalhou e lá filmou. Esta marca será visível, claramente, nos seus filmes mudos; e, mais subtilmente, nos sonoros.
O seu género eleito será o melodrama policial, pontuado de fantástico e de mistério. Esbate, pois, assim, as fronteiras de vários géneros convencionais, criando uma abordagem própria, com elementos retirados de todos eles.
No que toca à realização, o seu estilo é essencialmente visual, dando-nos a sensação de que aquelas histórias só fazem sentido em cinema; ou seja, por escrito não teriam o mesmo impacto. Sabia de tal forma o que queria que a montagem das suas películas seguia ao milímetro o que ele próprio tinha definido na planificação (última fase do argumento, em que este fica pronto a ser filmado). A esta atitude chama-se trabalhar com «guião de ferro». Hitch dizia que o acto de rodar era uma maçada, pois já sabia exactamente como seria o filme ao tê-lo definido na planificação. Esta ideia traduz uma inabalável confiança do cineasta em si próprio, enquanto director de actores, e uma invulgar capacidade de visualização.
Hitchcock assentava a sua estética numa cumplicidade com o espectador. Dava-lhe alguns conhecimentos secretos sobre a acção, mantendo-o ansioso pelo desfecho da narrativa. Esta tensão psicológica pode até levar o espectador a querer comunicar com a personagem ameaçada na tela, para a avisar do perigo... Eis a força manipuladora do suspense.
Não havendo, no entanto, técnica que resista à falta de ideias, é preciso deixar bem explícito que o cinema de Hitch assenta em temas fortes, já atrás referidos. Recapitulando, e desenvolvendo: a culpa — com o inocente falso culpado como fio-condutor da narrativa, entrando aqui, por vezes, a troca de identidades; o medo — pontuado pelo susto, e nas margens do terror; o desejo — com simbologia e alegorias sexuais; a ansiedade — mantida pelo suspense; o voyeurismo — peeping-tom, em bom inglês, espreitando e violando a esfera privada e íntima; a autoridade — que assegura a investigação criminal, mas também pode ser desafiada (detestava polícias vulgares, de «ronda»); a morte — sob a forma de assassínio, o crime mais grave, e que os espectadores, morbidamente, gostam de ver no recatado conforto da sala escura. Todos eles temas de identificação e projecção psicológica do espectador. Eis o cinema, na sua mais poderosa forma alquímica, servido pela mão do mestre Hitchcock.
Importante é vencer o medo, esperar para ver o desfecho, e perceber que a chave dos seus filmes é o triunfo final da luz sobre as trevas. Toda a sua obra é uma variação sobre este principal grande tema.
E, se não menciono um único filme do realizador, a justificação é simples: devem ser vistos todos, cronologicamente — dos mudos aos sonoros, dos ingleses aos americanos, dos filmados a preto-e-branco aos rodados a cores —, com o objectivo de se conseguir captar, na sua plenitude, toda a sua temática de fundo, e todo o seu estilo visual e sonoro profundo; enfim, todas as suas indeléveis marcas autorais.
Dito isto, há que afirmar, de imediato, que toda esta comunicação eficaz era apenas a ponta-de-lança de uma obra complexa e profunda. Vamos a ela, que é o fulcro da questão!
Hitchcock, oriundo de uma família de classe média-baixa, é instruído pelos jesuítas. Se refiro este facto é porque os seus filmes virão a reflectir uma série de conhecimentos que terá assimilado nos seus estudos feitos numa escola católica destes, bem conhecidos pela vasta cultura que forneciam; terá, também, através dos referidos jesuítas, tomado contacto com G. K. Chesterton (1874 — 1936), que lerá entusiasmado na juventude. Outras influências literárias que o marcaram, mais tarde, como erudito auto-didacta que era, foram Edgar Allan Poe (1809 — 1849) e Oscar Wilde (1854 — 1900).
Por outro lado, devorava jornais e lia revistas de criminologia e de cinema. Curioso é constatar o casamento entre estas fontes de inspiração para o seu despertar como autor de filmes. Os seus temas serão, principalmente, os seguintes: falsos culpados, assassínios, trocas de identidade, medo, voyeurismo, paixões frias mas arrebatadoras.
Porém, antes de chegar à realização de fitas, começa por desenhar intertítulos para filmes mudos, escrever argumentos e trabalhar como assistente de realização. Esta conjugação, de conhecimento prático da técnica cinematográfica com a cultura que ia adquirindo pela leitura, possibilita uma mestria na criação das suas narrativas fílmicas, apimentadas com o tão apregoado suspense.
Na sétima arte, Hitch (gostava de ser assim tratado) bebeu de várias fontes: Fritz Lang (1890 — 1976) e F. W. Murnau (1888 — 1931) — esses dois mestres do mudo alemão — foram determinantes para a estruturação da sua linguagem estética. Esteve na UFA — os grandes estúdios de Berlim — e conheceu-os pessoalmente. Lá trabalhou e lá filmou. Esta marca será visível, claramente, nos seus filmes mudos; e, mais subtilmente, nos sonoros.
O seu género eleito será o melodrama policial, pontuado de fantástico e de mistério. Esbate, pois, assim, as fronteiras de vários géneros convencionais, criando uma abordagem própria, com elementos retirados de todos eles.
No que toca à realização, o seu estilo é essencialmente visual, dando-nos a sensação de que aquelas histórias só fazem sentido em cinema; ou seja, por escrito não teriam o mesmo impacto. Sabia de tal forma o que queria que a montagem das suas películas seguia ao milímetro o que ele próprio tinha definido na planificação (última fase do argumento, em que este fica pronto a ser filmado). A esta atitude chama-se trabalhar com «guião de ferro». Hitch dizia que o acto de rodar era uma maçada, pois já sabia exactamente como seria o filme ao tê-lo definido na planificação. Esta ideia traduz uma inabalável confiança do cineasta em si próprio, enquanto director de actores, e uma invulgar capacidade de visualização.
Hitchcock assentava a sua estética numa cumplicidade com o espectador. Dava-lhe alguns conhecimentos secretos sobre a acção, mantendo-o ansioso pelo desfecho da narrativa. Esta tensão psicológica pode até levar o espectador a querer comunicar com a personagem ameaçada na tela, para a avisar do perigo... Eis a força manipuladora do suspense.
Não havendo, no entanto, técnica que resista à falta de ideias, é preciso deixar bem explícito que o cinema de Hitch assenta em temas fortes, já atrás referidos. Recapitulando, e desenvolvendo: a culpa — com o inocente falso culpado como fio-condutor da narrativa, entrando aqui, por vezes, a troca de identidades; o medo — pontuado pelo susto, e nas margens do terror; o desejo — com simbologia e alegorias sexuais; a ansiedade — mantida pelo suspense; o voyeurismo — peeping-tom, em bom inglês, espreitando e violando a esfera privada e íntima; a autoridade — que assegura a investigação criminal, mas também pode ser desafiada (detestava polícias vulgares, de «ronda»); a morte — sob a forma de assassínio, o crime mais grave, e que os espectadores, morbidamente, gostam de ver no recatado conforto da sala escura. Todos eles temas de identificação e projecção psicológica do espectador. Eis o cinema, na sua mais poderosa forma alquímica, servido pela mão do mestre Hitchcock.
Importante é vencer o medo, esperar para ver o desfecho, e perceber que a chave dos seus filmes é o triunfo final da luz sobre as trevas. Toda a sua obra é uma variação sobre este principal grande tema.
E, se não menciono um único filme do realizador, a justificação é simples: devem ser vistos todos, cronologicamente — dos mudos aos sonoros, dos ingleses aos americanos, dos filmados a preto-e-branco aos rodados a cores —, com o objectivo de se conseguir captar, na sua plenitude, toda a sua temática de fundo, e todo o seu estilo visual e sonoro profundo; enfim, todas as suas indeléveis marcas autorais.
sábado, 5 de novembro de 2011
NOTAS SOBRE O CINEMATÓGRAFO
Já que não tens que imitar, como os pintores, escultores, romancistas, a aparência das pessoas e dos objectos (as máquinas fazem-no por ti), a tua criação ou invenção fica-se pelos laços que apertas entre os diversos fragmentos de real capturados. Há também a escolha dos fragmentos. O teu faro decide.
ROBERT BRESSON
(1907 — 1999)
(1907 — 1999)
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
DA FORMA DO DISCURSO E NÃO SÓ
Duas coisas se perdem neste meio de comunicação. Sim, porque é de pôr em comum que se trata; pois, embora escreva estas notas soltas, ao correr do teclado, como se de um diário pessoal secreto se tratasse, sei bem que estão aí desse lado. Afinal, é como se deixasse o caderno de apontamentos propositadamente esquecido na mesa do café, ou no compartimento do comboio, para poder ter, duplamente, o perverso prazer voyeur de ver alguém pegar nele e lê-lo — atitude esta que, vice-versa, por educação e pudor, nunca teria em relação ao de outrém.
Dizia eu que duas coisas se perdem nesta «escrita à máquina» na «rede»: são o tom e a caligrafia.
O primeiro, vai todo pelo som e é o núcleo fundamental da linguagem oral, na medida em que reforça — ou cria, até, em certos casos — o verdadeiro significado das palavras.
A derradeira, será a caligrafia. Sobre esta, múltiplas análises podem os especialistas produzir. Constato com tristeza que está em vias de extinção. É com nostalgia que deito os olhos a cartas escritas à mão, redigidas ainda na boa tradição epistolar, registo esse por onde passou tanta correspondência dos nossos antepassados. Assim se namorou, se relataram viagens, se fizeram negócios, se participaram casamentos e nascimentos, se tomaram decisões privadas e públicas. Assim se fez História. E a grafologia não deixava mentir.
Vem tudo isto a propósito (ou a despropósito) de ter descoberto, não sem estranheza, que a minha letra está a mudar.
Dizia eu que duas coisas se perdem nesta «escrita à máquina» na «rede»: são o tom e a caligrafia.
O primeiro, vai todo pelo som e é o núcleo fundamental da linguagem oral, na medida em que reforça — ou cria, até, em certos casos — o verdadeiro significado das palavras.
A derradeira, será a caligrafia. Sobre esta, múltiplas análises podem os especialistas produzir. Constato com tristeza que está em vias de extinção. É com nostalgia que deito os olhos a cartas escritas à mão, redigidas ainda na boa tradição epistolar, registo esse por onde passou tanta correspondência dos nossos antepassados. Assim se namorou, se relataram viagens, se fizeram negócios, se participaram casamentos e nascimentos, se tomaram decisões privadas e públicas. Assim se fez História. E a grafologia não deixava mentir.
Vem tudo isto a propósito (ou a despropósito) de ter descoberto, não sem estranheza, que a minha letra está a mudar.
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
ETERNAS SAUDADES DO FUTURO
O blogue Eternas Saudades do Futuro aproxima-se dos 5 anos de vida (60 meses!). Será já, se Deus quiser, no próximo 21 de Janeiro de 2012.
Antes dessa marcante data, num pré-balanço (para os indivíduos das sondagens poderem prever o futuro...), passo a debitar os actuais números do blogue:
— 11.527 consultas ao perfil do autor.
— 5.151 mensagens publicadas.
— 95 seguidores.
— 165.492 visitas.
— 320.595 páginas vistas.
Antes dessa marcante data, num pré-balanço (para os indivíduos das sondagens poderem prever o futuro...), passo a debitar os actuais números do blogue:
— 11.527 consultas ao perfil do autor.
— 5.151 mensagens publicadas.
— 95 seguidores.
— 165.492 visitas.
— 320.595 páginas vistas.
DA ARTE E DO ESPÍRITO
A arte nasce e afirma-se onde quer que exista uma ânsia eterna e insaciável pelo espiritual, pelo ideal: ânsia que leva as pessoas à arte. A arte contemporânea tomou um caminho errado ao renunciar à busca do significado da existência em favor de uma afirmação do valor autónomo do indivíduo. (...) O artista é sempre um servidor, e está eternamente a tentar pagar pelo dom que, como que por milagre, lhe foi concedido. O homem moderno, porém, não quer fazer nenhum sacrifício, muito embora a verdadeira afirmação do eu só possa expressar-se no sacrifício. Aos poucos, vamo-nos esquecendo disso, e, inevitavelmente, perdemos ao mesmo tempo todo o sentido da nossa vocação humana...
ANDREI TARKOVSKY
(1932 — 1986)
(1932 — 1986)
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
AS TRÊS ETAPAS DA VIDA DUM TRADICIONALISTA
Primeiro, começamos a ser conhecidos por sermos filhos de quem somos; depois, passamos a ser conhecidos por sermos simplesmente quem somos; e, finalmente, acabamos a ser conhecidos por sermos pais de quem somos.
Percorridas as três etapas, teremos a recompensa da missão cumprida.
Percorridas as três etapas, teremos a recompensa da missão cumprida.
DITO E FEITO
Apetece-me dizer que nada tenho para escrever. E faço-o. Preto no branco. Pior seria escrever coisas que nada querem dizer. É o que para aí há mais. Em livros, revistas e jornais.
terça-feira, 1 de novembro de 2011
HOJE MORREU UM PORTUGUÊS DE CORPO E ALMA
D. Nuno Álvares Pereira, O Santo Condestável
Crato, 24.06.1360 — Lisboa, 01.11.1431
Condestável de Portugal
Crato, 24.06.1360 — Lisboa, 01.11.1431
Condestável de Portugal
A Igreja Católica elevou em 26.04.2009 aos altares de todo o mundo para culto universal com o nome de S. Nuno de Santa Maria no dia 6 de Novembro aquele que até agora em Portugal deu o mais perfeito exemplo de Fé e Heroísmo ao serviço de Deus, Pátria e Rei.
Imagem: Pintura de Jaime Martins Barata (1899-1970).
ONTEM, HOJE E AMANHÃ
31 de Outubro — Festa de Samhain. Início do ano Celta. Noite do fogo novo e da inspiração, conhecida também por Halloween. Celebração pagã.
1 de Novembro — Festa de Todos os Santos. Uma das maiores do Ano Litúrgico, e das mais características e queridas dos Católicos.
2 de Novembro — Dia de Fiéis Defuntos ou «Dia de Finados». Jornada de íntima comunhão com os que já partiram e momento de esperança para os Crentes.
1 de Novembro — Festa de Todos os Santos. Uma das maiores do Ano Litúrgico, e das mais características e queridas dos Católicos.
2 de Novembro — Dia de Fiéis Defuntos ou «Dia de Finados». Jornada de íntima comunhão com os que já partiram e momento de esperança para os Crentes.