segunda-feira, 30 de abril de 2012
Indico agora aos meus queridos leitores um site que abrirá brevemente ao público contendo as minhas criações em vídeo e em fotografia desde 1987. Projectos, vídeos, exibições, instalações, séries fotográficas, exposições, biografia, bibliografia, notícias, etc. Em português e em inglês. Tudo à distância de um clique.
sábado, 28 de abril de 2012
sexta-feira, 27 de abril de 2012
CARTEIRA DE SENHORA
DIA 13
Desta feita resolvi abanar a carteira para ver se lhe baralhava os planos. Ultimamente acabo sempre a fazer exortações a pender para o político-patriótico naquilo que me tem saído em sorte. Duvido muito da eficácia desses reptos e pretendia qualquer coisinha mais corriqueira que não me levasse a tais devaneios. Veremos.
Tendo saído secamente cabeleireiro, como que em birra, parece assunto inócuo e decididamente feminino o que arredará com toda a certeza leitores masculinos, a não ser que se interessem pelos mistérios insondáveis das suas caras-metades num local que lhes é normalmente inacessível, um mundo com um vocabulário próprio, poliglota, do brushing, nuances e permanentes, reservado às habituées.
Não serei exemplar único e vou ao mesmo cabeleireiro desde a adolescência. Deve ser por isso que ela se atreve a fazer toda a espécie de experiências começadas por “m”, de macabras a mortíferas passando por maquiavélicas, aproveitando-se de saber-me mansa nestas coisas, das que não refila perante o choque do inesperado. Sou cobaia de todas as empregadas novas que ela quer treinar, mas garanto que qualquer dia peço ajuda à Associação Nacional de Protecção das Cobaias.
É um microcosmo, um cabeleireiro de bairro. As senhoras normalmente vão em dias fixos, e por isso conheço melhor as das quintas e das sextas, embora se decidir aparecer numa quarta ou num sábado, é certo e sabido que vou reconhecer as mesmas senhoras das quartas e sábados de antanho.
Indo muitas vezes à quinta-feira, já se habituaram a que leve o alinhavo desta crónica (um dia até me perguntaram se eu tinha de decorar o papel todo) e que, de caneta na mão, releia, resmungue entre dentes, rasure e acrescente. Aliás, estou a escrever em directo, vocês desse lado é que vêem a emissão em diferido…
Sendo de bairro é naturalmente o cabeleireiro de várias gerações, mesmo que já aí não vivam todas, como é o meu caso, porque ainda lá vai a minha mãe e passou a ir também a minha filha. É habitual a opção ida em família, em que se concentram no mesmo espaço, mas em vários estádios de completitude, avó, mãe, filhas e netas. Enquanto a avó adormeceu no secador com os rolos, a mãe espera que a tinta faça efeito, a filha faz brushing e a neta está sentada na cadeira, para ela gigante, com um penteador (outra palavra secreta dada ao babete gigante com que nos embrulham) que lhe deixa apenas a cabecita de fora esperando com ar desconfiado que lhe cortem os caracóis.
As mais velhas vêm de bengala, andarilho ou de braço dado com a empregada. Outras telefonam aos maridos e esperam pacientemente que as venham buscar. De vez em quando há visitas: alguém abre a porta para anunciar um nascimento ou um casamento ou uma criança que só quer espreitar e cumprimentar.
Como noutros lados há clientes que barafustam sempre e de tudo: da temperatura da água ou do secador, da forma de lavar, do corte ou da tinta. Umas trazem os seus próprios produtos ou têm-nos lá guardados, conferindo cuidadosamente para ver se alguém andou a usar os seus queridos champôs. Outras teimam em dar um toque pessoal depois de a cabeleireira ter tocado o apito final, pondo ganchos e mais ganchos, acertando franjas e puxando o cabelo até acabarem por estragar por completo o que tão cuidadosamente acabara de ser feito. Há depois aquelas odiosas que chegam 5 minutos antes do fecho e querem que se lhes faça um trabalho que vai demorar 2 horas.
As figuras em que as mulheres se encontram num cabeleireiro são de fugir: ou têm umas toucas de plástico na cabeça com mil e um furinhos de onde saem uns tufos de cabelo (nunca fiz mas acho que é para as tais nuances), ou têm a cabeça cheia de rolos de vários tamanhos, feitios e cores, ou ainda o cabelo cheio de tinta moldado em formas que lembram aquelas esculturas sem título. Por isso, a situação mais humilhante na vida de uma mulher é um homem entrar por ali dentro nesse preciso momento. Não estamos literalmente preparadas, quer mental quer fisicamente. Só que nestes cabeleireiros de bairro é sempre um risco. O menino que lá cortou o cabelo até aos cinco anos, habituou-se, cresceu e volta não volta aparece, com o maior dos desplantes. Esquece-se que já não tem cinco, tem trinta e cinco, é lindo de morrer e nós naquelas figuras.
Já é mundial e cientificamente reconhecido o facto de 98% das revistas cor-de-rosa serem lidas nos cabeleireiros (não, não é nos médicos, esses só têm revistas pseudo-intelectuais ou de viagens, já maiores de idade, o que em tempo revisteiro significa mais de dois anos). Depois das leituras há as conversas, cujos temas andam em roda-viva à volta, e por esta ordem, do conteúdo das revistas, da família e da família dos outros, do bairro e até de política (mas nunca futebol senhores! por mais que tente, não pega). Entre as silenciosas e as palradeiras estão as que peroram do alto da sua cadeira e do seu penteador para que ouçam bem a sua sapiência sobre a família real inglesa.
Quando uma mulher está em baixo, vai ao cabeleireiro, porque levanta a moral. Convence-nos de que somos as mulheres mais bonitas do mundo. Basta estar à porta e ver o seu olhar cabisbaixo à entrada e o ar triunfante da saída. Saem guerreiras prontas para a vida.
No entanto, quando chegar o dia da batalha, umas preferem ir ao cabeleireiro antes e outras só depois.
Leonor Martins de Carvalho
quarta-feira, 25 de abril de 2012
DA MÚSICA MODERNA PORTUGUESA
Andando eu para aqui a ouvir discos antigos e a ver velhos vídeos, confirmo, depois de todos estes anos, a muito minha certeza desde os anos 80 do século passado: as três melhores bandas de sempre da música moderna portuguesa são os Heróis do Mar, os Pop Dell' Arte e os Sétima Legião; e, cheira-me que serão precisas muitas décadas para serem igualadas.
terça-feira, 24 de abril de 2012
TROCAS E BALDROCAS E ALTAS ENGENHOCAS
Irrequietos que são, os senhores do Blogger já andaram para aqui outra vez a inventar novas fórmulas e formatos, sem consultarem os bloguistas. A minha eterna pergunta, de conservador, é simples: Porquê mexer naquilo que está bem? Não devem ter mais nada com que se entreter...
sexta-feira, 20 de abril de 2012
CARTEIRA DE SENHORA
DIA 12
A carteira deve andar revoltada. De há um tempo para cá que só me aparecem papéis rasgados em evidente fúria. Sou obrigada a reconstruir pacientemente o quebra-cabeças e acabo por descobrir várias palavras que foram rasuradas com a força de uma emoção que não posso qualificar de aprazível.
Somos um povo gregário ou individualista? Para além disso, gregários ou eremitas, assumimo-nos como grei?
No edifício onde trabalho houve há alguns anos um problema de salmonelas (ou algo similar) e nunca mais ninguém confiou na água da companhia, mesmo após os prometidos ajustes. Trataram assim de encomendar aquelas torres circulares abraçadas a garrafão e de copos acoplados, empilhados como espada em riste, que simpaticamente nos davam a escolher entre água normal ou fresca. As minhas teimosas reminiscências bucólicas imediatamente as baptizaram de fontes ou nascentes.
Claro que veio a crise e levou as torres. O medo do regresso à água da torneira obrigou quase todos a abastecerem-se no supermercado, de onde voltam sobrecarregados ora com garrafões, ora com garrafas. Eu, que até redescobri a água da companhia (morro mais depressa do tabaco que de uma probabilidade ínfima de bactéria), andei a sugerir que bastava calcularem o número de garrafões e garrafas usadas por semana num determinado andar ou em vários e pedirem ao supermercado que as mandasse entregar, aliviando as cargas diárias de uns e, em troca, as filas na caixa de outros. Passaram 4 meses. Tudo como dantes. Se pergunto porque não o fazem, “Ah! pois, és capaz de ter razão…”. Não são capazes de se organizar. Cada um por si, mesmo contra toda a lógica.
Numa praia com quilómetros de areal, chegamos às oito da manhã. Ninguém à vista, mas mesmo assim, escolhemos um sítio bem longe do apoio de praia. Pelas dez horas aparecem os segundos clientes da praia, um casal. Claro que não há melhor sítio em todos os quilómetros quadrados disponíveis que o metro quadrado ao lado da nossa toalha.
São dois pequenos exemplos da nossa tortuosa mentalidade. Parece que ao fim de milhares de anos deixámos de entender o essencial e, teimosos, persistimos em ser gregários nas alturas erradas.
Quando ouvimos e acreditamos nos políticos de falinhas mansas e ambições bravas somos rebanho.
Quando nos juntamos à porta dos tribunais para insultar e agredir os réus somos populaça (estranhamente em casos de crime económico só vi uma vez alguém a fazê-lo, mas estava sozinho).
Mas quando lutamos juntos ao lado da Maria da Fonte, somos grei.
Quando abraçamos entusiasticamente uma causa como foi Timor, somos grei.
Quando, em completo silêncio, com duzentas mil pessoas de uma ponta à outra da régua política desfilamos na manifestação da geração à rasca, submergida inesperadamente por todas as gerações indignadas que sem falar mostraram não ser mudas, somos grei.
Quando nos fecham o centro de saúde ou nos querem desmontar a freguesia e logo organizamos vigílias e nos manifestamos na capital mostrando o que somos na diversidade, somos grei.
Quando criamos mil e umas associações cívicas porque não queremos desistir e tentamos assim furar a rede de arame farpado com que o sistema nos cercou, somos grei.
Quando resistimos e não nos calamos perante a destruição que nos ameaça soçobrar, somos grei.
Sem grei não há Nação. Saibamos sê-la. Com honra e valentia.
A carteira deve andar revoltada. De há um tempo para cá que só me aparecem papéis rasgados em evidente fúria. Sou obrigada a reconstruir pacientemente o quebra-cabeças e acabo por descobrir várias palavras que foram rasuradas com a força de uma emoção que não posso qualificar de aprazível.
Somos um povo gregário ou individualista? Para além disso, gregários ou eremitas, assumimo-nos como grei?
No edifício onde trabalho houve há alguns anos um problema de salmonelas (ou algo similar) e nunca mais ninguém confiou na água da companhia, mesmo após os prometidos ajustes. Trataram assim de encomendar aquelas torres circulares abraçadas a garrafão e de copos acoplados, empilhados como espada em riste, que simpaticamente nos davam a escolher entre água normal ou fresca. As minhas teimosas reminiscências bucólicas imediatamente as baptizaram de fontes ou nascentes.
Claro que veio a crise e levou as torres. O medo do regresso à água da torneira obrigou quase todos a abastecerem-se no supermercado, de onde voltam sobrecarregados ora com garrafões, ora com garrafas. Eu, que até redescobri a água da companhia (morro mais depressa do tabaco que de uma probabilidade ínfima de bactéria), andei a sugerir que bastava calcularem o número de garrafões e garrafas usadas por semana num determinado andar ou em vários e pedirem ao supermercado que as mandasse entregar, aliviando as cargas diárias de uns e, em troca, as filas na caixa de outros. Passaram 4 meses. Tudo como dantes. Se pergunto porque não o fazem, “Ah! pois, és capaz de ter razão…”. Não são capazes de se organizar. Cada um por si, mesmo contra toda a lógica.
Numa praia com quilómetros de areal, chegamos às oito da manhã. Ninguém à vista, mas mesmo assim, escolhemos um sítio bem longe do apoio de praia. Pelas dez horas aparecem os segundos clientes da praia, um casal. Claro que não há melhor sítio em todos os quilómetros quadrados disponíveis que o metro quadrado ao lado da nossa toalha.
São dois pequenos exemplos da nossa tortuosa mentalidade. Parece que ao fim de milhares de anos deixámos de entender o essencial e, teimosos, persistimos em ser gregários nas alturas erradas.
Quando ouvimos e acreditamos nos políticos de falinhas mansas e ambições bravas somos rebanho.
Quando nos juntamos à porta dos tribunais para insultar e agredir os réus somos populaça (estranhamente em casos de crime económico só vi uma vez alguém a fazê-lo, mas estava sozinho).
Mas quando lutamos juntos ao lado da Maria da Fonte, somos grei.
Quando abraçamos entusiasticamente uma causa como foi Timor, somos grei.
Quando, em completo silêncio, com duzentas mil pessoas de uma ponta à outra da régua política desfilamos na manifestação da geração à rasca, submergida inesperadamente por todas as gerações indignadas que sem falar mostraram não ser mudas, somos grei.
Quando nos fecham o centro de saúde ou nos querem desmontar a freguesia e logo organizamos vigílias e nos manifestamos na capital mostrando o que somos na diversidade, somos grei.
Quando criamos mil e umas associações cívicas porque não queremos desistir e tentamos assim furar a rede de arame farpado com que o sistema nos cercou, somos grei.
Quando resistimos e não nos calamos perante a destruição que nos ameaça soçobrar, somos grei.
Sem grei não há Nação. Saibamos sê-la. Com honra e valentia.
Leonor Martins de Carvalho
quinta-feira, 19 de abril de 2012
DA ALQUIMIA NA FOTOGRAFIA
A imagem fotográfica revela a alma da pessoa retratada ou da personagem construída.
DA POSE E DA POSSE NA FOTOGRAFIA
Fotografar é: coleccionar pessoas, fixar personagens e guardar momentos.
segunda-feira, 16 de abril de 2012
sexta-feira, 13 de abril de 2012
CARTEIRA DE SENHORA
DIA 11
Um dos meus irmãos deu a entender de forma indirecta mas certeira - servem mesmo para isso os irmãos - que as crónicas da carteira versam assuntos já muito tratados e debatidos. Será assim, mas a carteira não sabe disso. Não tem acesso a bibliotecas nem às maravilhas da tecnologia. Além do mais, existe alguma coisa no Universo sobre a qual não tenha já perorado alguém? Nós, os últimos da fila, limitamo-nos a fazer de eco, na tentativa de parecerem uns ecos originais, cheios de trinados e floreados para disfarçar. Vem isto a propósito do tema com que a carteira me resolveu brindar esta semana.
Qualquer citadino tem, pelo menos através de um dos seus 4 costados, uma terra que pode chamar sua. Ou duas, ou três ou até mesmo quatro.
As raras excepções que não gostam de ficar órfãs, acabam por recorrer à adopção e depois de muito calcorrearem, descobrem o seu paraíso privado e compram o seu cantinho, passando então a pertencer à categoria dos que vão à terra, mesmo que lhe dêem outro nome para parecer mais chique.
Ir à terra é um conceito abrangente utilizado por facilitismo mas também por afeição. O outro interlocutor ou já sabe de antemão qual é a dita, ou se estiver mesmo interessado, obriga ao esmiúço, opção sempre entusiasticamente recebida que dá direito a descrição completa do itinerário mais rápido, em alternativa o mais bonito, e todo um circuito guiado da terra à imagem dos autocarros turísticos descapotáveis que nos deixam entrar e sair em qualquer estação, com a diferença de este, afinal, só abrir a porta no fim.
Há quem nunca chegue a nomear a terra, optando por uma designação mais alargada que serve múltiplos propósitos: os complexados, os ciosos da sua privacidade e até os presunçosos (pensam que o “vou ao Alentejo” sempre soa mais chique que dizer que vai para São Pedro de Gafanhoeira).
Aliás, quando as pessoas se acabam de conhecer, naquele tactear inicial em busca de afinidades, uma das zonas preferidas do tacto é a terra de origem. Começam geralmente pela grandeza maior, a Província, e na coincidência, vão descendo para o Distrito, depois o Concelho, até à freguesia e à aldeia. Claro que ninguém duvida que a freguesia de cada um é a mais bonita do Concelho, do Distrito e quiçá da Província.
Nesta procura incessante quase desesperada de pontos de contacto, às vezes palmilham o percurso inverso tentando encontrar nele os elos perdidos. No fim, em desespero de causa, acabam muito contentes só por serem de Províncias adjacentes ou mesmo entremeadas. Ainda que um seja do Algarve e outro do Minho encontram no facto de terem espanhóis como vizinhos aquela faísca para o abraço do reconhecimento, enquanto vão elogiando a sua própria terra.
Entre os urbanos que têm terra, há os que a desprezam e renegam. Outros voltam uma vez por ano, de sorriso forçado, e esmeram-se em mostrar que são diferentes, superiores, e que a vida na aldeia é um atraso de vida.
Depois há os que adoram, põem-se a caminho sempre que podem, mantêm aí uma horta que tentam fazer sobreviver a todo o custo, voltam a conviver na tasca ou no café como se de lá nunca tivessem saído. A tristeza do regresso ao subúrbio sem cor é compensada com um carro atulhado até ao tecto com tudo o que conseguem levar e lhes faça lembrar a terra nos dias cinzentos que se seguem até à próxima ida à terra.
Há os que a exaltam e os que a calam. Os que sonham em voltar e os que a baniram dos seus horizontes. Os que lá se sentem em casa e os que só gostam da estrada que lhes apressa a saída.
Há muito quem use a expressão “santa terrinha” num esgar e em tom trocista. Fiquem sabendo que é por isso mesmo que é santa, porque os viu nascer ou aos seus pais e ainda lhes atura despautérios e desprezos.
Quem esquece as raízes, não as acarinha e rega, não pode ter frutos, ou serão estes secos, mirrados ou podres.
Ir à terra chega a ser, em Portugal, quase uma filosofia de vida, e enquanto existir a ida à terra, eu sei que Portugal tem coração. Vive.
Um dos meus irmãos deu a entender de forma indirecta mas certeira - servem mesmo para isso os irmãos - que as crónicas da carteira versam assuntos já muito tratados e debatidos. Será assim, mas a carteira não sabe disso. Não tem acesso a bibliotecas nem às maravilhas da tecnologia. Além do mais, existe alguma coisa no Universo sobre a qual não tenha já perorado alguém? Nós, os últimos da fila, limitamo-nos a fazer de eco, na tentativa de parecerem uns ecos originais, cheios de trinados e floreados para disfarçar. Vem isto a propósito do tema com que a carteira me resolveu brindar esta semana.
Qualquer citadino tem, pelo menos através de um dos seus 4 costados, uma terra que pode chamar sua. Ou duas, ou três ou até mesmo quatro.
As raras excepções que não gostam de ficar órfãs, acabam por recorrer à adopção e depois de muito calcorrearem, descobrem o seu paraíso privado e compram o seu cantinho, passando então a pertencer à categoria dos que vão à terra, mesmo que lhe dêem outro nome para parecer mais chique.
Ir à terra é um conceito abrangente utilizado por facilitismo mas também por afeição. O outro interlocutor ou já sabe de antemão qual é a dita, ou se estiver mesmo interessado, obriga ao esmiúço, opção sempre entusiasticamente recebida que dá direito a descrição completa do itinerário mais rápido, em alternativa o mais bonito, e todo um circuito guiado da terra à imagem dos autocarros turísticos descapotáveis que nos deixam entrar e sair em qualquer estação, com a diferença de este, afinal, só abrir a porta no fim.
Há quem nunca chegue a nomear a terra, optando por uma designação mais alargada que serve múltiplos propósitos: os complexados, os ciosos da sua privacidade e até os presunçosos (pensam que o “vou ao Alentejo” sempre soa mais chique que dizer que vai para São Pedro de Gafanhoeira).
Aliás, quando as pessoas se acabam de conhecer, naquele tactear inicial em busca de afinidades, uma das zonas preferidas do tacto é a terra de origem. Começam geralmente pela grandeza maior, a Província, e na coincidência, vão descendo para o Distrito, depois o Concelho, até à freguesia e à aldeia. Claro que ninguém duvida que a freguesia de cada um é a mais bonita do Concelho, do Distrito e quiçá da Província.
Nesta procura incessante quase desesperada de pontos de contacto, às vezes palmilham o percurso inverso tentando encontrar nele os elos perdidos. No fim, em desespero de causa, acabam muito contentes só por serem de Províncias adjacentes ou mesmo entremeadas. Ainda que um seja do Algarve e outro do Minho encontram no facto de terem espanhóis como vizinhos aquela faísca para o abraço do reconhecimento, enquanto vão elogiando a sua própria terra.
Entre os urbanos que têm terra, há os que a desprezam e renegam. Outros voltam uma vez por ano, de sorriso forçado, e esmeram-se em mostrar que são diferentes, superiores, e que a vida na aldeia é um atraso de vida.
Depois há os que adoram, põem-se a caminho sempre que podem, mantêm aí uma horta que tentam fazer sobreviver a todo o custo, voltam a conviver na tasca ou no café como se de lá nunca tivessem saído. A tristeza do regresso ao subúrbio sem cor é compensada com um carro atulhado até ao tecto com tudo o que conseguem levar e lhes faça lembrar a terra nos dias cinzentos que se seguem até à próxima ida à terra.
Há os que a exaltam e os que a calam. Os que sonham em voltar e os que a baniram dos seus horizontes. Os que lá se sentem em casa e os que só gostam da estrada que lhes apressa a saída.
Há muito quem use a expressão “santa terrinha” num esgar e em tom trocista. Fiquem sabendo que é por isso mesmo que é santa, porque os viu nascer ou aos seus pais e ainda lhes atura despautérios e desprezos.
Quem esquece as raízes, não as acarinha e rega, não pode ter frutos, ou serão estes secos, mirrados ou podres.
Ir à terra chega a ser, em Portugal, quase uma filosofia de vida, e enquanto existir a ida à terra, eu sei que Portugal tem coração. Vive.
Leonor Martins de Carvalho
terça-feira, 10 de abril de 2012
PEDRO GUEDES DA SILVA TEM A PALAVRA
Foi no início de Fevereiro de 2011 que o João Marchante me desafiou a regressar ao mundo dos blogues para escrevinhar umas linhas nestas suas Eternas Saudades de Futuro. Aceite a tarefa, seguiram-se trinta e cinco edições do "Expresso do Ocidente" nas quais procurei, na medida do possível, seguir a actualidade que nos vai dando cabo do presente.
Um ano depois - problemas diversos já me vinham afectando a assiduidade a que me tinha comprometido e que esta casa merece… -, novos desafios pessoais obrigam-me a fazer cessar esta colaboração semanal. Resta-me então agradecer a infinita paciência a todos os que seguiram o "Expresso do Ocidente", endereçando ao nosso amigo João Marchante um forte abraço na certeza de que mais uma vez coincidiremos, de futuro, aqui ou noutro qualquer espaço não virtual, sempre que esteja em causa a defesa de uma ideia de Portugal que nos une, pela qual nos batemos e da qual, felizmente, teimamos em não abdicar. Até breve!
Um ano depois - problemas diversos já me vinham afectando a assiduidade a que me tinha comprometido e que esta casa merece… -, novos desafios pessoais obrigam-me a fazer cessar esta colaboração semanal. Resta-me então agradecer a infinita paciência a todos os que seguiram o "Expresso do Ocidente", endereçando ao nosso amigo João Marchante um forte abraço na certeza de que mais uma vez coincidiremos, de futuro, aqui ou noutro qualquer espaço não virtual, sempre que esteja em causa a defesa de uma ideia de Portugal que nos une, pela qual nos batemos e da qual, felizmente, teimamos em não abdicar. Até breve!
Pedro Guedes da Silva
domingo, 8 de abril de 2012
sábado, 7 de abril de 2012
REFLEXÃO CULTURAL
Realizo e exibo Vídeo-Arte, desde 1987 (há 25 anos); faço e exponho Fotografia, desde 1997 (há 15 anos); escrevo e publico um Blogue, desde 2007 (há 5 anos). Pergunto-me qual será a nova forma de expressão artística em que também irei criar a partir de 2017...?
sexta-feira, 6 de abril de 2012
quinta-feira, 5 de abril de 2012
DO FUTEBOL
Não sendo hábito vir aqui falar de Futebol, abro hoje uma excepção para dizer que tenho um enorme orgulho em ser do Benfica. Há qualquer coisa neste grandioso e glorioso Clube que me faz lembrar Portugal. Refiro-me à sua dimensão épica e ao seu sentido trágico. Quem não perceber o que estou a dizer, leia Camões, Eça e Pessoa.
quarta-feira, 4 de abril de 2012
TRIUNFO DOS ARRIVISTAS E SEUS TROFÉUS
Novo-riquismo é uma ideologia que se caracteriza pelo ódio a tudo quanto seja antigo. Árvores e casas são os alvos preferidos dos seus seguidores. «Abate» e «demolição» são as suas palavras-de-ordem. Instalados que estão no Poder há décadas em Portugal, basta darmos uma pequena volta pelo nosso País para podermos ver o resultado dos seus ataques terroristas: palitos ridículos e caixotes desumanizadas substituíram árvores centenárias e casas históricas.
JARDINAR EM ABRIL
Semear estrelas-do-Egipto, girassóis e malmequeres. Colher lilases e margaridas. Plantar begónias, dálias, gladíolos e jarros.
terça-feira, 3 de abril de 2012
ACORDOS ORTOGRÁFICOS DE TRISTE MEMÓRIA
Para além do actual lamentável Acordo Ortográfico, a mim, encanita-me especialmente o de 1945. Tirou-me o trema. Um dia hei-de aqui vir falar da necessidade dele na Língua Portuguesa.
SIMPÁTICA CAPICUA
O Eternas Saudades do Futuro conta com 121 seguidores. Desconheço a maior parte deles. Assim se mede o alcance do blogue.
segunda-feira, 2 de abril de 2012
PARABÉNS AOS MADREDEUS!
É bom pensar que mais de metade da minha vida tem sido vivida ao som desta banda. Acompanho-a desde o seu início, no longínquo e para mim saudoso ano de 1987, através de concertos ao vivo, discos e vídeos. E tenho a certeza que a minha vida teria sido muito diferente (para pior, sem dúvida) sem os Madredeus. Por isso, é caso para dizer:
— Bem-hajam por tudo e venham mais 25 anos!
— Bem-hajam por tudo e venham mais 25 anos!
DO PENSAMENTO POLÍTICO
Perguntam-me se as referências do Integralismo Lusitano são estas? Não, essas (e mais algumas de semelhante importância) são as raízes da Action Française. O Integralismo Lusitano nasceu directamente destes (e de mais alguns de igual calibre) senhores. Movimentos políticos paralelos mas filiados nas identidades históricas e filosóficas específicas de cada Pátria. Por isso, genuínos que foram, continuam hoje a despertar o interesse e a paixão de jovens académicos e pensadores, cem anos depois.
MAIS PALAVRAS ANTIGAS MAS MUITO ACTUAIS
Ao município o que é do município, à província o que é da província, ao Estado o que é da Nação.
LE PLAY
(1806 — 1882)
(1806 — 1882)