segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Reproduzo agora aqui, com um beijo de bem-haja, o simpático texto que a minha amiga bloguista Maria, autora do acutilante Farpas, escreveu — de um só fôlego! — para a secção «Quem somos» do novo blogue colectivo onde colaboro Jovens do Restelo.
O João escreve para desassossegar. Inconformista por natureza, não se detém no politicamente correcto. Ao mesmo tempo defende a tradição, muitas vezes contra a opinião dominante. Mas já se sabe, todas as pessoas que pensam pela sua cabeça fogem do guião e o João foge ao guião. E ainda bem. O João é um monárquico convicto, orgulhoso na sua educação católica. O que nos dias de hoje é sinal de coragem moral. Desenganem-se, no entanto, se pensam que estão perante um anacrónico cultural, o seu blog Saudades do Futuro (um belo nome) é o exemplo de que estamos perante um vanguardista cultural. Às ideias, orgulhosamente de direita, junta a estética, os livros, o cinema (com especial destaques para as musas, é verdade, há que dizê-lo) e a música, desde punk e new wave à erudita. João foi um lisboeta marcante dos anos 80, e que conseguiu estar na encruzilhada entre o vanguardismo do Bairro Alto e o conservadorismo do Banana's. João é assim um futurista monárquico e católico. A sua paixão pela sétima arte é mais do que confessada. Apaixonado pelos clássicos, João Marchante é especialista em História do Cinema e dá aulas em cursos alternativos por si arquitectados. Será João um intelectual? Deixo aqui um post do Eternas Saudades do Futuro: "Os intelectuais são humildes porque na sua busca do conhecimento e no seu amor à sabedoria descobrem as limitações da humanidade e concluem que não existe verdade sem Deus".
Maria Teixeira Alves
AGENDA MONÁRQUICA PARA AMANHÃ
Será celebrada, dia 1 de Fevereiro, Missa pelas Almas de S. M. F. El-Rei Dom Carlos I e do Príncipe Real Dom Luís Filipe, na Igreja da Encarnação, pelas 19 horas. Presidirá à Eucaristia o Rev.º Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada. Estarão presentes S.S. A.A. R.R. os Duques de Bragança.
SINAL
A blogosfera nacional terá a partir de hoje um imparável impulso. Acabou de abrir ao público de todo o mundo o blogue colectivo Jovens do Restelo. Nada será como dantes.
domingo, 30 de janeiro de 2011
QUANDO DADO O SINAL...
Quando, dado o Sinal, o Império for
e quando o Ocidente ressurgir,
no momento marcado hão-de tinir
pelos ares as trombetas do Senhor.
E haverá, pelos céus, só paz e amor.
Um só cálix de oiro há-de fulgir,
Uma só Cruz na terra há-de existir
Sem inspirar receio nem temor...
Será a hora estranha da verdade
E morta a pompa do pagão sentido
Surgirá, então, a outra idade.
Acabará este viver incerto.
Será o Império, único e unido,
Quando der o Sinal o Encoberto.
AUGUSTO FERREIRA GOMES
(1892 — 1953)
e quando o Ocidente ressurgir,
no momento marcado hão-de tinir
pelos ares as trombetas do Senhor.
E haverá, pelos céus, só paz e amor.
Um só cálix de oiro há-de fulgir,
Uma só Cruz na terra há-de existir
Sem inspirar receio nem temor...
Será a hora estranha da verdade
E morta a pompa do pagão sentido
Surgirá, então, a outra idade.
Acabará este viver incerto.
Será o Império, único e unido,
Quando der o Sinal o Encoberto.
AUGUSTO FERREIRA GOMES
(1892 — 1953)
NEVOEIRO
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a hora!
Valete, Frates.
FERNANDO PESSOA
(1888 — 1935)
(1888 — 1935)
DA ELIPSE
A omissão enquanto figura de estilo é a mais mágica forma de edição porquanto leva quem lê a construir uma ponte imaginária entre os dois pontos que vê e a decifrar assim a invisível zona intermédia onde se encontra a síntese do pleno significado da mensagem.
sábado, 29 de janeiro de 2011
CATARINA SAYS...
CORAÇÃO MEU, EM NADA ATEU.
está mais do que provado que o coração se oferece.
até porque a razão sabe muito bem que não é ela que decide a nossa anatomia.
até porque a razão sabe muito bem que não é ela que decide a nossa anatomia.
Foi por causa de ti, naquele lugar, que nada previa:
Em dias iguais a tantos, vi-te pela janela, afinal estava acordada, e não era uma história aos quadradinhos, eras tu, numa rodela a andar às voltas de mim.
Fugi de mim para ti.
Fugir não foi bem assim, corri antes de braços abertos porque o coração estava em turbo.
E, sem pensar se havia travões de medo (porque a vertigem era maior) saltei e disse-te:
Em dias iguais a tantos, vi-te pela janela, afinal estava acordada, e não era uma história aos quadradinhos, eras tu, numa rodela a andar às voltas de mim.
Fugi de mim para ti.
Fugir não foi bem assim, corri antes de braços abertos porque o coração estava em turbo.
E, sem pensar se havia travões de medo (porque a vertigem era maior) saltei e disse-te:
- estou aqui.
A intuição é a regra, mas é preciso ler o manual das instruções... e de nada serve fazer batota.
O meu coração deu-se porque na sua lanterna sabe que o pode fazer.
Sei de mim, sei de ti em mim, não sei de ti.
E chega. Porque sabendo o que sei, gosto mais de mim assim.
O meu coração deu-se porque na sua lanterna sabe que o pode fazer.
Sei de mim, sei de ti em mim, não sei de ti.
E chega. Porque sabendo o que sei, gosto mais de mim assim.
p.s. "you may say i'm a DREAMER, but i'm not the only one"
Catarina Hipólito Raposo
RELATÓRIO & CONTAS
Janeiro, que ainda não acabou, é já o mês, de entre os últimos doze, com o maior número de visitas e de páginas visionadas do Eternas Saudades do Futuro.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
PORQUE RESISTIR E INSISTIR É VENCER
Faz hoje quatro anos, marchei na grandiosa Caminhada pela Vida. Depois, fomos traídos! Não estará na hora de fazermos outra?
LITERATURA DO DIA
Duas biografias de S. Tomás de Aquino: uma, escrita por Chesterton, que não consegui descortinar na biblioteca (o que me deixou furibundo); outra, da autoria de João Ameal, que já está na mesa-de-cabeceira.
SANTO DO DIA
S. Tomás de Aquino (28.1.1225 — 7.3.1274). Doutor da Igreja.
Patrono especial de todas as Universidades e Escolas Católicas.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
MÁXIMAS E REFLEXÕES — III
Da melhor sociedade dizia-se: a sua conversação ensina, o seu silêncio forma.
GOETHE
(1749 — 1832)
(1749 — 1832)
MÁXIMAS E REFLEXÕES — II
Deus queira que o estudo das literaturas grega e romana possa permanecer a base da educação superior.
GOETHE
(1749 — 1832)
(1749 — 1832)
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
SEM AGENDA
O Paraíso
«Avô, o que é o comunismo?» - lancei-lhe seca e ingenuamente.
O meu querido avô paterno, na ocasião já um venerável octogenário, respondeu prontamente e sem hesitação: «É a crença de que é possível o paraíso na terra».
Esta fórmula surpreendeu-me um tanto naquela altura, não lhe abarquei logo o completo alcance, mas não pedi mais explicações - pressenti ser objecto precioso, algo para guardar e examinar pela vida fora. Hoje e desde há já muito, penso não me ter nisso enganado.
Eu tinha então dezoito anos, estávamos no período marcelista. O leitor paciente desculpará este regresso ao passado - prometo que serei breve - mas acho-o necessário, antes de começar os pobres rabiscos sobre a tela. Não gosto em geral de falar de aspectos mais particulares da minha vida e nunca quando isso a ninguém importa, mas isto agora são os preparativos básicos, é como entrar na sala de trabalho, abrir as cortinas e começar a armar o cavalete.
Tive o grande privilégio de ser, literalmente, um bem-nascido - constato-o simplesmente e sem superioridade - sobretudo pelo ambiente familiar, e até certo ponto também social, excepcionais - em contraste com o doloroso espectáculo de outros contextos testemunhados em tempos mais recentes - que pontificou os meus verdes anos. Desses dias agora já remotos queria só enumerar os seguintes factos que penso serem reveladores dos reais contornos daquele referido privilégio, aliás, ao que julgo, comum a muitos outros meus contemporâneos: recordo vivamente a constante dedicação mútua entre os meus queridos pais; o muito mas também exigente amor, deles e dos meus avós, para comigo e os meus irmãos, assim como o afecto geral da restante roda familiar, incluindo as velhas e estimadíssimas criadas; não me recordo de nalgum momento não ter sabido dizer o doce nome de Jesus ou de algum dia ter questionado intencionalmente a minha Casa, a minha Pátria, as minhas obrigações elementares ou a autoridade de quem a tinha, e detinha.
Tudo isto para mim era normal. Na família - e em bastantes outras famílias próximas, também seguramente - estas noções eram aceites e vividas tão naturalmente como quem respira e certamente adquiridas desde o berço em suaves e imperceptíveis doses, dir-se-ia “gota a gota”, transmitidas a qualquer momento e sobretudo através do exemplo, e suponho que sem a preocupação de um imperativo expresso: não seria ainda caso para tal, naquele tempo. Era, e foi, visto agora à distância, todo um ambiente, um fabuloso outro mundo em miniatura, que a certo ponto da minha vida deixou de ser o predominante e depois se foi aceleradamente apagando: se por um lado saí do bem-aventurado “nicho ecológico” da inocência, essa mudança coincidiu também e foi sucedida pela chegada progressiva e em rajadas da série de influências revolucionárias de génese e propagação internacionais, de todos conhecidas, que tanto inebriaram muitos dos meus contemporâneos, inclusive amigos e até queridos familiares, e que também me rondaram, embora com pouco êxito. Vi-me mesmo, não raras vezes e em certos meios, em clara minoria ou solidão. Talvez um pouco mais tarde do que outros da minha geração, mas faça-se-me justiça, sem nunca me ter deixado levar pelas miragens da hora, dei-me conta de como a vida é, e sempre afinal deverá ter sido, uma ingente luta bipolar. Ao longo dos anos fui-me convencendo ser esta luta não necessária ou primordialmente entre pessoas, grupos ou povos mas, sempre à partida, entre impulsos ou consciências e entre visões ou crenças e os seus fantasmas de vária espécie - na sugestiva expressão de João Ameal - a começar dentro de nós próprios e em todos os lugares habitados. E fui, também por isso, ficando de pé bem atrás - Obrigado, meu Avô! - aos apregoados paraísos na terra e a todos os cantados “mundos melhores”. E acabei por achar muito plausível que os casos conhecidos que porventura disso mais se aproximaram tenham sido excepções sempre muito limitadas e parciais.
Contudo, arrisco hoje apontar um desses exemplos, que muito bem conheci: precisamente, o relembrado tempo dos meus verdes anos, neste velho país, Portugal.
E os outros portugueses, qual é a sua história e o que é que hoje esperam? Tal como eu, podem todos falar e ser ouvidos, se o quiserem fazer, certo? Bem…, na verdade, não exactamente. Mas passemos adiante, que essa é uma outra história.
A situação de Portugal, como a do «mundo ocidental» em geral, se é que este ainda existe, parece num beco sem saída. Não falo da «crise» novíssima de agora, que pode ser e é certamente inquietante para muita gente e não sabemos bem como vai acabar, mas que me parece, em todo o caso, um fenómeno perfeitamente secundário, uma consequência mais de um mal muito mais fundo, antigo e persistente a que se chamou e tem chamado, pelo menos até há pouco tempo, a crise do Ocidente, designação herdeira da Civilização Cristã. Esta enorme crise, que é sobretudo espiritual e moral, essa sim, é o nosso maior problema, é o problema. E não sou eu que o digo, evidentemente: já muitos, infinitamente mais autorizados, desde há muito o disseram e descreveram, e continuam dizendo e actualizando.
Em todo o caso, penso também que agora, como sempre - e contra mim falo - o pior de tudo é negar a necessária luta, é adormecer. Enquanto esperamos que este grande interregno em que vimos vivendo esgote os seus dias, e precisamente para que isso venha a suceder com a maior brevidade possível, ou já amanhã ou porventura só daqui a mais quinhentos anos, algo de bom deverá sempre fazer-se, ou tentar-se. Oxalá os portugueses de boa vontade - que deveriam, idealmente, ser todos os portugueses - queiramos, e possamos, em qualquer situação e desde que cada um saiba aceitar a sua parte da caminhada - que poderá ser eventualmente, como a do filho pródigo, voltar atrás no caminho - chegar um pouco mais perto do paraíso possível. Não logo na terra toda, no agora «Planeta», não «para ontem» ou de repente, não «apesar dos inevitáveis custos colaterais», mas sim primeiro na nossa Casa e na nossa Terra, sim só o que convém em cada dia, sim respeitando o que merece respeito, e sobretudo, sim a começar dentro de nós.
E também arrisco dizer, aos que a isso aspirarem - mas também e até sobretudo aos restantes, que nunca nada se perde - que talvez assim, e só no fim de todo o caminho, acabemos por vislumbrar, ao longe ao menos, as verdadeiras portas do Paraíso.
Francisco Cabral de Moncada
«Avô, o que é o comunismo?» - lancei-lhe seca e ingenuamente.
O meu querido avô paterno, na ocasião já um venerável octogenário, respondeu prontamente e sem hesitação: «É a crença de que é possível o paraíso na terra».
Esta fórmula surpreendeu-me um tanto naquela altura, não lhe abarquei logo o completo alcance, mas não pedi mais explicações - pressenti ser objecto precioso, algo para guardar e examinar pela vida fora. Hoje e desde há já muito, penso não me ter nisso enganado.
Eu tinha então dezoito anos, estávamos no período marcelista. O leitor paciente desculpará este regresso ao passado - prometo que serei breve - mas acho-o necessário, antes de começar os pobres rabiscos sobre a tela. Não gosto em geral de falar de aspectos mais particulares da minha vida e nunca quando isso a ninguém importa, mas isto agora são os preparativos básicos, é como entrar na sala de trabalho, abrir as cortinas e começar a armar o cavalete.
Tive o grande privilégio de ser, literalmente, um bem-nascido - constato-o simplesmente e sem superioridade - sobretudo pelo ambiente familiar, e até certo ponto também social, excepcionais - em contraste com o doloroso espectáculo de outros contextos testemunhados em tempos mais recentes - que pontificou os meus verdes anos. Desses dias agora já remotos queria só enumerar os seguintes factos que penso serem reveladores dos reais contornos daquele referido privilégio, aliás, ao que julgo, comum a muitos outros meus contemporâneos: recordo vivamente a constante dedicação mútua entre os meus queridos pais; o muito mas também exigente amor, deles e dos meus avós, para comigo e os meus irmãos, assim como o afecto geral da restante roda familiar, incluindo as velhas e estimadíssimas criadas; não me recordo de nalgum momento não ter sabido dizer o doce nome de Jesus ou de algum dia ter questionado intencionalmente a minha Casa, a minha Pátria, as minhas obrigações elementares ou a autoridade de quem a tinha, e detinha.
Tudo isto para mim era normal. Na família - e em bastantes outras famílias próximas, também seguramente - estas noções eram aceites e vividas tão naturalmente como quem respira e certamente adquiridas desde o berço em suaves e imperceptíveis doses, dir-se-ia “gota a gota”, transmitidas a qualquer momento e sobretudo através do exemplo, e suponho que sem a preocupação de um imperativo expresso: não seria ainda caso para tal, naquele tempo. Era, e foi, visto agora à distância, todo um ambiente, um fabuloso outro mundo em miniatura, que a certo ponto da minha vida deixou de ser o predominante e depois se foi aceleradamente apagando: se por um lado saí do bem-aventurado “nicho ecológico” da inocência, essa mudança coincidiu também e foi sucedida pela chegada progressiva e em rajadas da série de influências revolucionárias de génese e propagação internacionais, de todos conhecidas, que tanto inebriaram muitos dos meus contemporâneos, inclusive amigos e até queridos familiares, e que também me rondaram, embora com pouco êxito. Vi-me mesmo, não raras vezes e em certos meios, em clara minoria ou solidão. Talvez um pouco mais tarde do que outros da minha geração, mas faça-se-me justiça, sem nunca me ter deixado levar pelas miragens da hora, dei-me conta de como a vida é, e sempre afinal deverá ter sido, uma ingente luta bipolar. Ao longo dos anos fui-me convencendo ser esta luta não necessária ou primordialmente entre pessoas, grupos ou povos mas, sempre à partida, entre impulsos ou consciências e entre visões ou crenças e os seus fantasmas de vária espécie - na sugestiva expressão de João Ameal - a começar dentro de nós próprios e em todos os lugares habitados. E fui, também por isso, ficando de pé bem atrás - Obrigado, meu Avô! - aos apregoados paraísos na terra e a todos os cantados “mundos melhores”. E acabei por achar muito plausível que os casos conhecidos que porventura disso mais se aproximaram tenham sido excepções sempre muito limitadas e parciais.
Contudo, arrisco hoje apontar um desses exemplos, que muito bem conheci: precisamente, o relembrado tempo dos meus verdes anos, neste velho país, Portugal.
E os outros portugueses, qual é a sua história e o que é que hoje esperam? Tal como eu, podem todos falar e ser ouvidos, se o quiserem fazer, certo? Bem…, na verdade, não exactamente. Mas passemos adiante, que essa é uma outra história.
A situação de Portugal, como a do «mundo ocidental» em geral, se é que este ainda existe, parece num beco sem saída. Não falo da «crise» novíssima de agora, que pode ser e é certamente inquietante para muita gente e não sabemos bem como vai acabar, mas que me parece, em todo o caso, um fenómeno perfeitamente secundário, uma consequência mais de um mal muito mais fundo, antigo e persistente a que se chamou e tem chamado, pelo menos até há pouco tempo, a crise do Ocidente, designação herdeira da Civilização Cristã. Esta enorme crise, que é sobretudo espiritual e moral, essa sim, é o nosso maior problema, é o problema. E não sou eu que o digo, evidentemente: já muitos, infinitamente mais autorizados, desde há muito o disseram e descreveram, e continuam dizendo e actualizando.
Em todo o caso, penso também que agora, como sempre - e contra mim falo - o pior de tudo é negar a necessária luta, é adormecer. Enquanto esperamos que este grande interregno em que vimos vivendo esgote os seus dias, e precisamente para que isso venha a suceder com a maior brevidade possível, ou já amanhã ou porventura só daqui a mais quinhentos anos, algo de bom deverá sempre fazer-se, ou tentar-se. Oxalá os portugueses de boa vontade - que deveriam, idealmente, ser todos os portugueses - queiramos, e possamos, em qualquer situação e desde que cada um saiba aceitar a sua parte da caminhada - que poderá ser eventualmente, como a do filho pródigo, voltar atrás no caminho - chegar um pouco mais perto do paraíso possível. Não logo na terra toda, no agora «Planeta», não «para ontem» ou de repente, não «apesar dos inevitáveis custos colaterais», mas sim primeiro na nossa Casa e na nossa Terra, sim só o que convém em cada dia, sim respeitando o que merece respeito, e sobretudo, sim a começar dentro de nós.
E também arrisco dizer, aos que a isso aspirarem - mas também e até sobretudo aos restantes, que nunca nada se perde - que talvez assim, e só no fim de todo o caminho, acabemos por vislumbrar, ao longe ao menos, as verdadeiras portas do Paraíso.
Francisco Cabral de Moncada
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
DAS FORMAS E DAS ARTES
Não me interessam todos os livros, só por serem livros, pois quero-os com literatura dentro. Pela mesma ordem de razão, não gosto de todos os filmes, apenas por serem cinema, mas fascinam-me os que são (sétima) arte.
POESIA MODERNA PORTUGUESA
ÁPICE
O raio de sol da tarde
Que uma janela perdida
Reflectiu
Num instante indiferente —
Arde,
Numa lembrança esvaída,
À minha memória de hoje
Subitamente...
Seu efémero arrepio
Ziguezagueia, ondula, foge,
Pela minha retentiva...
— E não pode adivinhar
Por que mistério se me evoca
Esta ideia fugitiva,
Tão débil que mal me toca!...
— Ah, não sei porquê, mas certamente
Aquele raio cadente
Alguma coisa foi na minha sorte
Que a sua projecção atravessou...
Tanto segredo no destino de uma vida...
É como a ideia de Norte,
Preconcebida,
Que sempre me acompanhou...
MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO
(1890 — 1916)
O raio de sol da tarde
Que uma janela perdida
Reflectiu
Num instante indiferente —
Arde,
Numa lembrança esvaída,
À minha memória de hoje
Subitamente...
Seu efémero arrepio
Ziguezagueia, ondula, foge,
Pela minha retentiva...
— E não pode adivinhar
Por que mistério se me evoca
Esta ideia fugitiva,
Tão débil que mal me toca!...
— Ah, não sei porquê, mas certamente
Aquele raio cadente
Alguma coisa foi na minha sorte
Que a sua projecção atravessou...
Tanto segredo no destino de uma vida...
É como a ideia de Norte,
Preconcebida,
Que sempre me acompanhou...
MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO
(1890 — 1916)
ARTE MODERNA PORTUGUESA
Ser sincero em arte, é fazer a reportagem da natureza, o carnet-mondain das Almas e das Paisagens...
ANTÓNIO FERRO
(1895 - 1956)
(1895 - 1956)
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
BLOGUE DO DIA (136)
Porque é um blogue colectivo de católicos que têm a coragem de pensarem e escreverem como homens de Fé.
É BOM DIZER BEM DO QUE É BOM
Esta é, cá para mim, a melhor revista que se publica em Portugal: Monumentos — não descanso enquanto não tiver a colecção completa.
NEM TUDO É MAU NESTE DESGRAÇADO PORTUGAL (2)
Depois dum rigoroso restauro, os maravilhosos e simbólicos tectos da Igreja do Santíssimo Sacramento voltam a poder ser vistos.
NEM TUDO É MAU NESTE DESGRAÇADO PORTUGAL (1)
Após intervenções necessárias, a histórica e magnífica Igreja do Mosteiro de São Vicente de Fora reabriu ao público.
NÃO BASTA TÊ-LO, É PRECISO MANTÊ-LO
Andei a fazer limpezas no blogue. Retirei da coluna das ligações permanentes uma série de blogues que fecharam ou que estão em «Banho-Maria». E aproveitei a deixa para lá pôr dois ou três que há muito mereciam ali estar.
COISAS QUE NÃO MUDAM
Forasteiro em Lisboa
No Rossio, o prior de Santa Iria
Vendo um palácio, disse ao Canongia:
«Que será isto aqui?»
— Dona Maria...
Onde se representam as tragédias.
Vai correndo a cidade, e sempre atento
Pergunta noutro sítio:
«Isto é convento?»
— Não! isto é o Teatro de São Bento,
Onde se representam as comédias.
JOÃO DE DEUS
(1830 — 1896)
No Rossio, o prior de Santa Iria
Vendo um palácio, disse ao Canongia:
«Que será isto aqui?»
— Dona Maria...
Onde se representam as tragédias.
Vai correndo a cidade, e sempre atento
Pergunta noutro sítio:
«Isto é convento?»
— Não! isto é o Teatro de São Bento,
Onde se representam as comédias.
JOÃO DE DEUS
(1830 — 1896)
LEMBRETE AOS LEITORES
O blogue Eternas Saudades do Futuro tem agora às Quartas-Feiras a coluna «Sem Agenda» de Francisco Cabral de Moncada e aos Sábados a coluna «Catarina Says...» de Catarina Hipólito Raposo. Marquem na agenda.
SABEDORIA ANTIGA — SABEDORIA ETERNA
Moribus antiquis stat res Romana virisque — «Roma deve a sua consistência aos velhos costumes e aos grandes homens».
domingo, 23 de janeiro de 2011
DÚVIDA DO DIA
Em relação ao resultado de hoje, uma única questão interessa:
Terá a senhora dona Abstenção tendências católicas, patrióticas e monárquicas? Quero crer que sim. E, assim sendo, isso é sinal de que Portugal já está de novo com saudades do futuro. Logo se verá o que isto vai dar...
Terá a senhora dona Abstenção tendências católicas, patrióticas e monárquicas? Quero crer que sim. E, assim sendo, isso é sinal de que Portugal já está de novo com saudades do futuro. Logo se verá o que isto vai dar...
CONHECER AS RAÍZES
Evidentemente, a Grécia antiga — a Grécia admirável dos filósofos, dos sábios, dos oradores, dos artistas — cai vítima do seu individualismo substancial, da sua orgia de liberdade, do culto abusivo e desmedido do homem isento de cadeias e disciplinas, do homem ilusoriamente considerado «medida de todas as coisas»...
Nem por isso se negará o alto papel desempenhado pela civilização grega na marcha da História Universal. Nem por isso se contestatrá a legitimidade com que Gonzague de Reynold assinala que «o sentimento pan-helénico (no período da resistência heróica aos invasores persas, no período de Maratona, de Salamina, de Plateias, de Mícale) foi a primeira forma de sentimento europeu — de uma Europa conscientemente oposta a uma Ásia». E é por isso que, com o eminente professor de Friburgo, também, apesar de tudo, nos parece legítimo ver, sobretudo na Grécia do século V, por muitas razões fundamentais — a Proto-Europa...
Nem por isso se negará o alto papel desempenhado pela civilização grega na marcha da História Universal. Nem por isso se contestatrá a legitimidade com que Gonzague de Reynold assinala que «o sentimento pan-helénico (no período da resistência heróica aos invasores persas, no período de Maratona, de Salamina, de Plateias, de Mícale) foi a primeira forma de sentimento europeu — de uma Europa conscientemente oposta a uma Ásia». E é por isso que, com o eminente professor de Friburgo, também, apesar de tudo, nos parece legítimo ver, sobretudo na Grécia do século V, por muitas razões fundamentais — a Proto-Europa...
JOÃO AMEAL
(1902 — 1982)
(1902 — 1982)
sábado, 22 de janeiro de 2011
CATARINA SAYS...
como te oiço?
Há vozes que nos dão imagens.
Tem vezes que uma voz faz-nos rir e sonhar, ou chorar, também.
Desde que toque. No tom vem doçura, ou acidez, vem descanso e temperatura, vem zanga ou revolta..mas qualquer coisa vem. Porque na voz comunicamos ao outro a tonalidade do que nos vai na Alma.
É também uma questão química: de sintonia, entre o que se ouve o que se processa, e que nos suspende, ou desprende. Vozes eufónicas de melodia contagiante, contrariam e compensam outras de disfonia descontentes. Umas põe-no a andar de baloiço, outras obrigam-nos a desligar o botão, por causa da poluição..
Há vozes que nos contam histórias, mesmo que o conteúdo seja um manual de chatices.
Há vozes que nos contam segredos embalados em papel de seda, por causa da melodia.
Há vozes que nos contagiam e ficam em eco para sempre.
Há vozes que são como aqueles búzios que punhamos no ouvido..e ao longe ouviamos o mar...essa, deve ser a tua.
Tem vezes que uma voz faz-nos rir e sonhar, ou chorar, também.
Desde que toque. No tom vem doçura, ou acidez, vem descanso e temperatura, vem zanga ou revolta..mas qualquer coisa vem. Porque na voz comunicamos ao outro a tonalidade do que nos vai na Alma.
É também uma questão química: de sintonia, entre o que se ouve o que se processa, e que nos suspende, ou desprende. Vozes eufónicas de melodia contagiante, contrariam e compensam outras de disfonia descontentes. Umas põe-no a andar de baloiço, outras obrigam-nos a desligar o botão, por causa da poluição..
Há vozes que nos contam histórias, mesmo que o conteúdo seja um manual de chatices.
Há vozes que nos contam segredos embalados em papel de seda, por causa da melodia.
Há vozes que nos contagiam e ficam em eco para sempre.
Há vozes que são como aqueles búzios que punhamos no ouvido..e ao longe ouviamos o mar...essa, deve ser a tua.
Catarina Hipólito Raposo
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
PALAVRAS DUM MESTRE BLOGUISTA E BOM AMIGO
Obrigado, João!
O mundo vivia em paz,
antes de mim.
Mas cheguei eu - e zás!
…e foi o fim.
(Rodrigo Emílio)
antes de mim.
Mas cheguei eu - e zás!
…e foi o fim.
(Rodrigo Emílio)
Estava eu posto em sossego, aguardando a entrada do tenista sérvio Novak Djokovic nos courts do Open da Austrália, quando o telemóvel anuncia a novidade: para meu espanto (e melhoria dos níveis de auto-estima), desafia-me o nosso amigo João Marchante a escrever umas linhas por ocasião do 4º aniversário destas Eternas Saudades do Futuro. Caramba! Logo eu, que há já algum tempo que venho faltando aos treinos nestas coisas da blogosfera. Desafio aceite - e honrado pelo convite - aqui me apresento para prestar testemunho de algo que está à vista de todos quantos por aqui passam regularmente e com convicção de obrigatoriedade: estas Eternas Saudades do Futuro são um espaço de liberdade onde o João consegue aliar, de forma magistral, os conceitos de Tradição e Vanguarda.
É desde logo um espaço de Cultura. O João tem a rara capacidade de nos dar um banho de Cultura por cada vez que o visitamos, intercalando música - muita portuguesa e da boa! -, com pedaços do melhor cinema, com as fotografias que deixam marca, com a pintura de sempre, com lindíssimas imagens do sexo oposto - Deus meu, que sacrilégio nos dias que correm! Valha-nos o facto de ainda ser permitido… Não sendo bastante, vai alternando esses tópicos com o melhor das letras portuguesas (propositada e convenientemente) esquecidas - um Rodrigo Emílio, um Couto Viana, um Lopes Ribeiro… Não posso deixar de o registar sem me lembrar de Alfredo Pimenta e daquela, muito sua, "admirável coisa esta de defender causas vencidas, homens vencidos, sobre quem as vagas alterosas da vitória passam, altaneiras e invencíveis"… Acaso conhecem mais algum sítio onde possamos ouvir a melhor Sétima Legião dos idos anos 80 enquanto nos deliciamos com um texto desse enorme monstro das letras que foi Jean Mabire? Pois é… não conhecem; mas a verdade é que ainda há meia dúzia de dias essa sensação estava disponível, de graça e sem juros altíssimos, aqui na primeira página do Futuro. A coisa tem tanto mais valor quanto é sabido que não há revolução de mentalidades sem que existam preocupações estéticas. E, tenho-o para mim, menos ainda nos (ainda menos luminosos) dias que correm.
Acresce que é um espaço intransigente. O que é uma tremenda vantagem, dado que só não é intransigente quem não crê na Verdade que defende. Mais que não seja porque ajuda a ultrapassar o desânimo que, nestas circunstâncias e perante o estado a que isto chegou, ataca o editor de quando em vez - e eu bem o sei, depois de manter um blogue (menor) durante cinco anos (e mais uns trocados). Ora, creio que essa intransigência, se bem colocada - e é o caso do João -, assume hoje uma importância tremenda: vivemos tempos de vitória do que é relativo, em que é imperioso manter alguns patrimónios doutrinais (algumas âncoras, no fundo…), em que nada - nem a Pátria! - aparenta ter importância significativa, em que tudo é passível de discussão incluindo a Ordem Natural das coisas. Dizia Alain de Benoist há cerca de um mês, por ocasião da sua visita a Lisboa, que "vivemos um tempo em que tudo tem um preço mas nada tem valor". Desde então que venho pensando na ideia e, confesso-me rendido, parece-me uma elaboração tão simples quanto extraordinária; ou extraordinária por ser simples. É exactamente pelo facto de Benoist ter razão que um espaço intransigente é importante.
Diria por fim que é um espaço inteligente. A milhas de se limitar ao comentário diário e directo dos temas de actualidade, o João acaba por tratar todas essas coisas de uma forma indirecta e especialmente inteligente. Se ainda não deram por isso ora vejam com atenção. Dos meus tempos blogosféricos, recordo com especial atenção os ensinamentos do Manuel Azinhal sobre a importância da "Metapolítica", pormenores que aliás me parecem cada vez mais acertados - razão pela qual o menciono nestas linhas. Na verdade, basta olhar a História em diagonal e com absoluta superficialidade (assim mais ou menos como faz um Fernando Rosas) para constatar que a Revolução Cultural e a mudança de mentalidades precedem sempre as grandes alterações sócio-políticas.
Não sei se (todos) sabem, mas já Julius Evola apontava sérios problemas à "grandiosidade sem alma, privada de todo e qualquer fundo de transcendência e de toda a luz de interioridade e de verdadeira espiritualidade". Pois bem, creio que lendo esta ideia nos apercebemos mais facilmente da importância que assumem estas Eternas Saudades do Futuro. E da importância de que este espaço se reveste no quadro de uma juventude cada vez mais estupidificada (muito convenientemente, aliás).
Remato com uma nota mais pessoal. Quando cheguei à blogosfera, corria o mês de Agosto de 2003, já cá estavam o Manuel Azinhal e o Bruno Oliveira Santos - dois "gurus" destas coisas, acrescente-se. Curiosamente, todos terminámos a presença blogosférica, por diferentes razões, mais ou menos pela mesma altura - eles depois de mim, diga-se em abono da verdade. Não imaginam o quanto me alegra e anima que por aqui resista - felizmente! - o João, acompanhado do Duarte Branquinho, do Miguel Vaz, do Humberto, do Nonas, do Mário Martins, e do agora retornado F Santos. Através do João, mas a todos e a cada um deles, deixo estas palavras do muito nosso Rodrigo Emílio:
E à frente
de tão nobre gente,
há então quem dê
um último e ardente
testemunho de Fé.
E agora, se me permitem e não levam a mal, vou ali ver o resto do jogo do Djokovic - um pouco em jeito de homenagem aos rapazes da "Solidarité Kosovo". À hora a que escrevo, acabou de ganhar o primeiro set por 6-2. Desculpem lá ser um sérvio - nacionalidade em baixa, como se sabe, na bolsa de valores do mundo moderno -, mas já agora isto tinha mesmo que ser contra-corrente até ao fim.
É desde logo um espaço de Cultura. O João tem a rara capacidade de nos dar um banho de Cultura por cada vez que o visitamos, intercalando música - muita portuguesa e da boa! -, com pedaços do melhor cinema, com as fotografias que deixam marca, com a pintura de sempre, com lindíssimas imagens do sexo oposto - Deus meu, que sacrilégio nos dias que correm! Valha-nos o facto de ainda ser permitido… Não sendo bastante, vai alternando esses tópicos com o melhor das letras portuguesas (propositada e convenientemente) esquecidas - um Rodrigo Emílio, um Couto Viana, um Lopes Ribeiro… Não posso deixar de o registar sem me lembrar de Alfredo Pimenta e daquela, muito sua, "admirável coisa esta de defender causas vencidas, homens vencidos, sobre quem as vagas alterosas da vitória passam, altaneiras e invencíveis"… Acaso conhecem mais algum sítio onde possamos ouvir a melhor Sétima Legião dos idos anos 80 enquanto nos deliciamos com um texto desse enorme monstro das letras que foi Jean Mabire? Pois é… não conhecem; mas a verdade é que ainda há meia dúzia de dias essa sensação estava disponível, de graça e sem juros altíssimos, aqui na primeira página do Futuro. A coisa tem tanto mais valor quanto é sabido que não há revolução de mentalidades sem que existam preocupações estéticas. E, tenho-o para mim, menos ainda nos (ainda menos luminosos) dias que correm.
Acresce que é um espaço intransigente. O que é uma tremenda vantagem, dado que só não é intransigente quem não crê na Verdade que defende. Mais que não seja porque ajuda a ultrapassar o desânimo que, nestas circunstâncias e perante o estado a que isto chegou, ataca o editor de quando em vez - e eu bem o sei, depois de manter um blogue (menor) durante cinco anos (e mais uns trocados). Ora, creio que essa intransigência, se bem colocada - e é o caso do João -, assume hoje uma importância tremenda: vivemos tempos de vitória do que é relativo, em que é imperioso manter alguns patrimónios doutrinais (algumas âncoras, no fundo…), em que nada - nem a Pátria! - aparenta ter importância significativa, em que tudo é passível de discussão incluindo a Ordem Natural das coisas. Dizia Alain de Benoist há cerca de um mês, por ocasião da sua visita a Lisboa, que "vivemos um tempo em que tudo tem um preço mas nada tem valor". Desde então que venho pensando na ideia e, confesso-me rendido, parece-me uma elaboração tão simples quanto extraordinária; ou extraordinária por ser simples. É exactamente pelo facto de Benoist ter razão que um espaço intransigente é importante.
Diria por fim que é um espaço inteligente. A milhas de se limitar ao comentário diário e directo dos temas de actualidade, o João acaba por tratar todas essas coisas de uma forma indirecta e especialmente inteligente. Se ainda não deram por isso ora vejam com atenção. Dos meus tempos blogosféricos, recordo com especial atenção os ensinamentos do Manuel Azinhal sobre a importância da "Metapolítica", pormenores que aliás me parecem cada vez mais acertados - razão pela qual o menciono nestas linhas. Na verdade, basta olhar a História em diagonal e com absoluta superficialidade (assim mais ou menos como faz um Fernando Rosas) para constatar que a Revolução Cultural e a mudança de mentalidades precedem sempre as grandes alterações sócio-políticas.
Não sei se (todos) sabem, mas já Julius Evola apontava sérios problemas à "grandiosidade sem alma, privada de todo e qualquer fundo de transcendência e de toda a luz de interioridade e de verdadeira espiritualidade". Pois bem, creio que lendo esta ideia nos apercebemos mais facilmente da importância que assumem estas Eternas Saudades do Futuro. E da importância de que este espaço se reveste no quadro de uma juventude cada vez mais estupidificada (muito convenientemente, aliás).
Remato com uma nota mais pessoal. Quando cheguei à blogosfera, corria o mês de Agosto de 2003, já cá estavam o Manuel Azinhal e o Bruno Oliveira Santos - dois "gurus" destas coisas, acrescente-se. Curiosamente, todos terminámos a presença blogosférica, por diferentes razões, mais ou menos pela mesma altura - eles depois de mim, diga-se em abono da verdade. Não imaginam o quanto me alegra e anima que por aqui resista - felizmente! - o João, acompanhado do Duarte Branquinho, do Miguel Vaz, do Humberto, do Nonas, do Mário Martins, e do agora retornado F Santos. Através do João, mas a todos e a cada um deles, deixo estas palavras do muito nosso Rodrigo Emílio:
E à frente
de tão nobre gente,
há então quem dê
um último e ardente
testemunho de Fé.
E agora, se me permitem e não levam a mal, vou ali ver o resto do jogo do Djokovic - um pouco em jeito de homenagem aos rapazes da "Solidarité Kosovo". À hora a que escrevo, acabou de ganhar o primeiro set por 6-2. Desculpem lá ser um sérvio - nacionalidade em baixa, como se sabe, na bolsa de valores do mundo moderno -, mas já agora isto tinha mesmo que ser contra-corrente até ao fim.
Pedro Guedes da Silva
AGORA É QUE É!
Sendo eu um rapaz minimalista e dado a sínteses, fiz questão de ter aqui um só texto a assinalar os quatro anos de vida do meu blogue. Teimoso e caprichoso que também sou, fiz questão ainda de ter o melhor que há. Vai na volta, toca a desassossegar e a convidar para esse efeito o mestre bloguista, e meu bom amigo, Pedro Guedes, autor do eterno Último Reduto. É já a seguir...
QUATRO ANOS DE BLOGUE
Agradeço a todos os que têm acompanhado esta minha aventura a solo. Fizeram-me perceber que afinal não estou só. Há mais pessoas com as mesmas ideias e até há alguns com os mesmíssimos e estranhíssimos ideais: de Norte a Sul, de Lisboa às Américas, por aqui e por ali. Bem-hajam por estarem desse lado, e obrigado por certas vezes surgirem na minha vida ao vivo e a cores.
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
VIVA A VIDA!
Acabei de ler e assinar a seguinte petição online:
Petição Aborto - Vemos, ouvimos e lemos - Não podemos ignorar!
Petição Aborto - Vemos, ouvimos e lemos - Não podemos ignorar!
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
SEM AGENDA
O Ramo e a Árvore
Tenho para mim que as questões fundamentais da vida humana e de cada homem - ser único e irrepetível, misteriosamente destinado a cumprir um alto e mesmo absoluto privilégio entre os seres da natureza e a realizar-se integrado em grupos sociais naturais de diferentes ordens, numa variedade de soluções organizadas e organizadoras, cuja lógica última, se bem que a adivinhe bem real, completamente me escapa - se resumem a umas poucas perguntas:
Que é o universo e a vida? Que é o homem? Há uma boa vida possível, para todos e cada um? Em que consiste e como alcançá-la? Como explicar a coerência e o sentido último intuídos no universo e na nossa vida? Há uma Verdade ou só há verdades? Havendo a Verdade, podemos conhecê-la? O que será Ela?
Perguntas tremendas, esmagadoras, que, suponho, se podem desdobrar em todas as outras que possam fazer-se e para as quais, e a última acima, em definitivo, todas as outras, mais próxima ou mais indirectamente, mais tarde ou mais cedo, convergem. Desde sempre delas se tem ocupado a nata humana, num esforço persistente de gestos modestos ou hercúleos, heróicos ou discretos, tentativas e erros, reformulações e apuramentos, fins e renascimentos, em quantidades inimagináveis. Esse imenso desbravar, a história do espírito humano montado em carne e osso, chegou aos nossos dias através de inúmeros sucessos. Os seus resultados visíveis foram, consoante as visões de partida e as múltiplas, e mútuas, interacções, uma série de sistemas de conhecimento vivido e as respectivas tradições. São as Civilizações e as Culturas. Muitas já morreram e algumas subsistem.
Uma em particular provou ser superior às outras todas - a Civilização Cristã.
Superior, é claro, por aqueles critérios e naqueles resultados que realmente interessam, pois por esses, e só nesses, se realiza o homem - Bondade, Beleza, Justiça. Não está na moda dizê-lo, é mesmo uma grave e tripla heresia afirmá-lo hoje, mas é tal a pura verdade.
Pelo fruto se conhece árvore, nos disse O Divino Fundador. E a inevitável comparação, numa perspectiva histórica alargada, se feita de boa fé, diz-nos isso também precisamente.
Superior, é claro, por aqueles critérios e naqueles resultados que realmente interessam, pois por esses, e só nesses, se realiza o homem - Bondade, Beleza, Justiça. Não está na moda dizê-lo, é mesmo uma grave e tripla heresia afirmá-lo hoje, mas é tal a pura verdade.
Pelo fruto se conhece árvore, nos disse O Divino Fundador. E a inevitável comparação, numa perspectiva histórica alargada, se feita de boa fé, diz-nos isso também precisamente.
Mas, Deus meu, a grande árvore cristã, outrora excelsa, é hoje um ser disforme.
Há uns cinco séculos ou mais, brotou um novo e estouvado ramo do seu garboso tronco, que foi depois entrando em conflito com a restante copa; conseguiu medrar, e à medida que foi crescendo, em ritmo surdo e certo ou em súbitos arrancos, os outros ramos e as suas folhagens foram empalidecendo, definhando e caindo. Felizmente, a árvore reagiu bravamente ao seu próprio mal, gerando de tempos a tempos alguns soberbos ramos novos, vigorosos e bem armados, num ombro a ombro titânico com o corpo estranho.
Contudo, nos últimos tempos e para já, é bem evidente que este conseguiu levar a sua avante. Mas de tal forma se avantajou e ao mesmo tempo torceu que começou a tombar sob o próprio peso, e, cavalgando deitado sobre os outros ramos, mais fracos e pequenos, em muito e cada vez para mais longe do tronco, os ultrapassou.
Contudo, nos últimos tempos e para já, é bem evidente que este conseguiu levar a sua avante. Mas de tal forma se avantajou e ao mesmo tempo torceu que começou a tombar sob o próprio peso, e, cavalgando deitado sobre os outros ramos, mais fracos e pequenos, em muito e cada vez para mais longe do tronco, os ultrapassou.
Agora, não se sabe o que vai acontecer. A grande árvore faz dó, está irreconhecível. Pior que isso - ameaça derribar, dado o peso excêntrico.
O ramo bruto, esse, não para de crescer. E este pobre de mim, de perto a tudo assiste - é uma simples folha.
A árvore, no entanto, vive, vai assim subsistindo. Viverá até quando?
O ramo bruto, esse, não para de crescer. E este pobre de mim, de perto a tudo assiste - é uma simples folha.
A árvore, no entanto, vive, vai assim subsistindo. Viverá até quando?
Até ao fim dos tempos, creio firmemente.
Mas, enfim…, como?…, não sabemos, mas assim será - ouvimo-lo há muito de fonte segura.
Mas, enfim…, como?…, não sabemos, mas assim será - ouvimo-lo há muito de fonte segura.
Francisco Cabral de Moncada
É A HORA!
Chegou a hora da estreia do meu convidado das Quartas-Feiras. Chama-se Francisco Cabral de Moncada. Passará a escrever no blogue Eternas Saudades do Futuro numa coluna semanal da sua autoria intitulada «Sem Agenda».
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
LOGO MAIS, HÁ MAIS... NOVIDADES
A fim de terminar o quarto ano em beleza, o blogue Eternas Saudades do Futuro passou a ter, regularmente, uma convidada e um convidado. Assim, como os leitores mais atentos já repararam, Catarina Hipólito Raposo tem agora aqui publicada a sua coluna semanal, aos Sábados, intitulada «Catarina Says...». Logo mais, estrear-se-á o convidado semanal das Quartas-Feiras. Não perdem pela demora... Até logo!
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
EIS A MINHA PESSOALÍSSIMA DECLARAÇÃO DE VOTO*
Católico, que sou, não voto. Porque nenhum candidato defende a Vida e a Família — valores fundamentais do humanismo cristão e pilares tradicionais da nossa comunidade.
Patriota, que sou, não voto. Porque nenhum candidato dá garantias de defender a Nação Portuguesa contra os ataques materiais e espirituais vindos do exterior e do interior.
Realista, que sou, não voto. Porque este decadente regime republicano não pode continuar a ser legitimado; e, deve ser questionado, a partir de uma abstenção superior à votação.
Patriota, que sou, não voto. Porque nenhum candidato dá garantias de defender a Nação Portuguesa contra os ataques materiais e espirituais vindos do exterior e do interior.
Realista, que sou, não voto. Porque este decadente regime republicano não pode continuar a ser legitimado; e, deve ser questionado, a partir de uma abstenção superior à votação.
*Declaração escrita a propósito das eleições para a Presidência da República de 23 de Janeiro de 2011; porém, intemporal nos princípios, porque baseada em valores eternos.
AINDA O ESCLARECIMENTO ELEITORAL
Deixo aqui a ligação a um artigo de opinião com o qual me identifico totalmente: Votar em consciência, por Padre Gonçalo Portocarrero de Almada.
domingo, 16 de janeiro de 2011
SABEDORIA ANTIGA — SABEDORIA ETERNA
Primum vivere, deindre philosophari — «Primeiro viver, depois filosofar».
sábado, 15 de janeiro de 2011
CATARINA SAYS...
A LUA SEMPRE DECIDIU MUITO DO QUE SE PASSA NA TERRA. AS FASES DENUNCIAM-LHE AS INTENÇÕES.
today i stop the world - he said.
take me to the moon - she said.
take me to the moon - she said.
a lua. não falha. mexe. não falha nunca. vem sempre. mesmo que escondida, a querer que a veja, sem saber que quer. dela não dependem as nuvens ou a cor do céu. mexe nas marés, nas colheitas, nos índios, nas mães futuras que esperam contentes. guardo-a sempre, rente, a mim, e também a ti, que a queres como eu.
um dia vamos? vamos.
silêncio da lua que me remete a um respeito que respeito sempre. impõe-se segura, cheia, ou em fases noutras que fazem parte. lua feminina, discreta, porque nada mais precisa de mostrar ou provar. é o que é. e eu, rendo-me, eufórica por dentro, à sua evidência.
um dia vamos? vamos.
silêncio da lua que me remete a um respeito que respeito sempre. impõe-se segura, cheia, ou em fases noutras que fazem parte. lua feminina, discreta, porque nada mais precisa de mostrar ou provar. é o que é. e eu, rendo-me, eufórica por dentro, à sua evidência.
Catarina Hipólito Raposo
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
DA ALMA DA IMAGEM
Esta belíssima e nostálgica canção vai direitinha para todas as minhas musas-modelos — cine-vídeo-fotográficas — do passado e do futuro.
BLOGUES DO DIA (2)
O Reaccionário, de O Reaccionário.
Tribuna, de Afonso Miguel.
Porque, inteligentemente, entraram no Facebook. É caso, portanto, para dizer: a Tradição está na Vanguarda.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
UMA REVISTA QUE DÁ SAUDADES (DO FUTURO)
Contam-se pelos dedos os projectos nacionais que juntaram os principais nomes da verdadeira cultura portuguesa. Esta revista conseguiu fazê-lo em onze edições consecutivas durante dois anos a fio. Deus queira que regresse. Para já fica o seu notável arquivo.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
TENHO SAUDADES DA DÉCADA EM QUE NASCI
Em 1960, Portugal vivia em divergência política com a Europa mas em convergência económica com ela; agora, vive em convergência política mas em divergência económica.
domingo, 9 de janeiro de 2011
sábado, 8 de janeiro de 2011
CATARINA SAYS...
silêncio assumido.
Marcar encontro consigo próprio é sinal de respeito pelo outro.
Rever a matéria lá dentro é assunto pessoal e às vezes intransmissível, porque as palavras estão todas lá, em formatos geométricos até, em caras e expressões que por isto ou aquilo nos tocam, ou em sons que nos levam a voar.
Mas, para consolidar isto tudo a fim de distribuir outra vez, dando o que se pode em pacote grátis, é preciso mesmo parar, para abastecer matéria de nós em nós.
Rever a matéria lá dentro é assunto pessoal e às vezes intransmissível, porque as palavras estão todas lá, em formatos geométricos até, em caras e expressões que por isto ou aquilo nos tocam, ou em sons que nos levam a voar.
Mas, para consolidar isto tudo a fim de distribuir outra vez, dando o que se pode em pacote grátis, é preciso mesmo parar, para abastecer matéria de nós em nós.
O silêncio é só não falar? o silêncio fala sim, porque nós o ouvimos se quisermos.
O silêncio, digo, não me assusta. Pelo contrário, alimenta-me.
O silêncio, digo, não me assusta. Pelo contrário, alimenta-me.
Muito discreto, porque sem tom, nem som, sem alarmes nem pressas, está lá sempre afinal à minha espera, porque para se fazer ouvir, o silêncio mete-se ao canto. E sempre que me lembro que ele existe, por causa da temperatura do corpo, ou da cabeça, lá vou encolhida à espera duma cobrança que nunca tem factura.
Há tanto de nós dentro de nós, que só o silêncio sabe interpretar.
Marcar encontro com nós mesmos, é vital. E todos ficam a ganhar.
Retirar -me do dia a dia urgente, faz-me mesmo ser mais gente.
Há tanto de nós dentro de nós, que só o silêncio sabe interpretar.
Marcar encontro com nós mesmos, é vital. E todos ficam a ganhar.
Retirar -me do dia a dia urgente, faz-me mesmo ser mais gente.
Catarina Hipólito Raposo
GRANDE NOVIDADE CÁ NA CASA
A fim de animar este meu blogue, convidei uma amiga bloguista a enviar-me um postal semanal para aqui ser publicado. Trata-se de Catarina Hipólito Raposo, autora do Rootsandwings; e, a partir de agora, colaboradora semanal do Eternas Saudades do Futuro. Os postais da Catarina serão publicados aos Sábados, e o primeiro segue já dentro de momentos...
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
DAS ELEIÇÕES PARA A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
A campanha matará o Sistema, a abstenção enterrará o Regime.
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
BLOGUE DO DIA (133)
Império, Nação, Revolução, de Riccardo Marchi.
Um blogue onde o Autor — Historiador italiano com obra publicada e premiada em Portugal — conta com a colaboração dos leitores, pedindo-lhes testemunhos e partilhas de memórias. Ide lá espreitar e ajudai-o a contar a recente História de Portugal.
DIA DA EPIFANIA DO SENHOR E DOS REIS MAGOS
Para celebrarmos enquanto os republicanos, laicos e socialistas nos deixarem, pois eles detestam Reis, fogem como o diabo da Cruz e não podem ver o Menino Jesus nem pintado.
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
GRAÇAS A DEUS!
Perante o panorama dos candidatos à presidência da república, e o triste espectáculo por eles diariamente dado, agradeço à Providência o facto de me ter feito monárquico.
JARDIM PARA HOJE (10)
Jardim Marquês de Marialva.
Sim, este é o verdadeiro nome do jardim que se esplana à volta da monumental Praça de Touros do Campo Pequeno.
BLOGUE DO DIA (132)
Porque Lisboa precisa das suas velhas e belas árvores nos seus antigos e românticos jardins.
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
AOS AMIGOS DO ETERNAS SAUDADES DO FUTURO
Este blogue completará no próximo dia 21 de Janeiro quatro anos de idade. Convido os leitores habituais a enviarem-me mensagens de correio-electrónico sobre o Eternas Saudades do Futuro. Serão publicadas aqui sob a forma de postais ao longo deste mês. Inspirado pelas vossas missivas espero que o blogue arranque em beleza em direcção aos cinco anos de vida. Bem-hajam por estarem sempre desse lado.