sábado, 30 de julho de 2011

ÁLBUNS DA MINHA VIDA (12)



Dummy (1994), Portishead.

ÁLBUNS DA MINHA VIDA (11)



Dry (1992), P J Harvey.

ÁLBUNS DA MINHA VIDA (10)



Henry's Dream (1992), Nick Cave & The Bad Seeds.

ÁLBUNS DA MINHA VIDA (9)



Pablo Honey (1993), Radiohead.

ÁLBUNS DA MINHA VIDA (8)



Nevermind (1991), Nirvana.

ÁLBUNS DA MINHA VIDA (7)



Goo (1990), Sonic Youth.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

ÁLBUNS DA MINHA VIDA (6)



Surfer Rosa (1988), The Pixies.

ÁLBUNS DA MINHA VIDA (5)



Darklands (1987), The Jesus And Mary Chain.

ÁLBUNS DA MINHA VIDA (4)



Rattlesnakes (1984), Lloyd Cole & The Commotions.

ÁLBUNS DA MINHA VIDA (3)



Treasure (1984), Cocteau Twins.

ÁLBUNS DA MINHA VIDA (2)



Hatful of Hollow (1984), The Smiths.

ÁLBUNS DA MINHA VIDA (1)



Closer (1980), Joy Division.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

SEM AGENDA

Sem Agenda

Deus, infinitamente bom, deu-nos a razão suficiente, e enviou-nos as revelações também suficientes, para podermos discernir -- nas verdades da Criação e, sobretudo, naquelas revelações -- a Sua verdade, isto é, a Verdade. E assim, O podermos minimamente discernir, também, a Ele. Ele próprio nos disse, afinal, que ambos eram uma e a mesma coisa. A Verdade é o que é, simplesmente. E não tem nem precisa de agenda.

As verdades todas -- mesmo as mais insondáveis, horríficas e cruéis -- são, directa ou derivadamente, as incontáveis facetas da obra divina ou do próprio Deus. E, contudo, não há dúvida que muitíssimas delas são, ou parecem ser, mais propriamente obra do Diabo... Em que ficamos, então?

Tal como Deus, o Diabo existe e actua quando quer. E quer sempre. Não sobre a Criação, em geral e directamente, que não pode, mas sobre as nossas consciências e as dos seus afins. Fora os insondáveis desígnios divinos, é pois aos actos e às consciências humanas -- imputáveis e puníveis, como ficou demonstrado desde Adão e Eva -- que devemos atribuir as causas mais próximas dos desastres e das atrocidades que nos afligem.

Mas, mesmo o Diabo não passa de uma criatura da Criação, toda esta, sem excepção, boa, de início. E, tal como a nós, mas em grau incomparavelmente superior, a esse Príncipe portentoso foi dada uma consciência e a liberdade. E, enfim, sem desprezar a nossa própria parcela de responsabilidade, enquanto humanos, o que é facto é que, por misterioso pecado, ele escolheu trilhar -- com pleno conhecimento de causa, e querendo e conseguindo, com isso, em muitíssimos casos, levar-nos, depois, com ele -- o caminho sem fim nem saída da errância eterna. Eterna para os que de nós com ele formos e, ao que se sabe, eterna também para ele.

Não era minha intenção que este texto ficasse a exibir um certo ar de sermão não encomendado mas, pelo desenvolvimento lógico da exposição, tal parece inevitável. Com efeito, perguntar-se-á: para quê vir para aqui com tudo isto? Falar da Verdade, e da Criação divina, ainda vá lá, pensarão. Mas do Diabo? Não será isso alta cavalaria a mais, a ser praticada mais competentemente pela autoridade de um Sacerdote?

Ser, seria, sou eu o primeiro a concordar. Mas a dificuldade, tal como a vejo, está precisamente naquele condicional. Porquê..., não sei francamente, mas a grande maioria dos Sacerdotes que tenho ouvido parece que foge a falar do Diabo como o Diabo da Cruz. Excepto quando é assunto em alguma leitura das Sagradas Escrituras, parece que o tema é quase tabu. Que o comum das pessoas, por intuição ou superstição, ache que falar, ou trazer à mente, sequer, a ideia do Diabo, lhes faz mal, ou dá azar, percebe-se. De facto, para quem não estiver preparado, fazê-lo sem mais nem menos pode vir a ser um pau de dois bicos. Curiosamente, até o jornal semanário com o mesmo nome -- de que sou tão só um descomprometido leitor -- que considero ser um dos raríssimos meios informativos recomendáveis da nossa praça, só é avistado de esguelha e como bizarria potencialmente perigosa por muitas das pessoas que têm conhecimento da sua existência. E isso provavelmente nem terá tanto a ver, se não estou enganado, com as suas habitualmente úteis e oportunas diabruras politicamente incorrectas. Ou, se calhar, terá... Em todo o caso, suponho que poderemos dizer que enquanto uns suspeitarão ser O Diabo um pequeno compincha, à nossa moda lusitana, do Diabo, outros, entre os quais eu me conto, vê-lo-ão antes, de facto, mais como exemplo de um inevitável e valoroso adversário do mesmo.

O Diabo é uma realidade, tal como tantas outras realidades misteriosas. Mas tê-lo em devida conta é de crucial importância para as nossas vidas e para a salvação das nossas almas. Como supremo inimigo que é da espécie humana, deve ser encarado com circunspecção, mas de frente. Não há, pois, que ter medo de querer saber ou falar dele, com quem saiba fazê-lo, o quanto baste. O que significa, antes de mais nada, saber que ele existe mesmo, e em pessoa (1). A propósito, e para quem ainda o não fez, recomendo vivamente a leitura do precioso livrinho de C. S. Lewis, The Scewtape Letters, que descreve as recomendações de um diabo veterano ao seu sobrinho aprendiz, e que teve uma versão portuguesa há poucos anos, com o título Vorazmente Teu, pela editora Grifo.

Em resumo, tudo isto, e o largo espaço de exposição que aqui concedi ao maligno -- certamente a seu contragosto -- incluindo as divagações de passagem, foi só para tentar explicar a ideia inicial, de que todas as verdades, mesmo as que se nos apresentam mais diabólicas, provêm, em última instância, do Criador de todas as coisas, o qual ofereceu a liberdade moral aos humanos e às criaturas angélicas. A liberdade para poder pecar, portanto, ou seja, escolher -- com as devidas consequências, é claro -- não seguir a sua Lei. A Verdade, princípio criador de todas as verdades celestes e terrenas, é pois um outro nome do Criador, e é só uma. O pecado, esse, é uma verdade, sim, mas derivada e adulterada. Não é imputável a Deus.

Nada mais aspirando ser, no fundo, que um humilde aprendiz da Verdade, o autor de SEM AGENDA esforçou-se sempre e apenas por tentar mostrar, e apontar, verdades -- ou as suas possíveis aproximações -- verdades do nosso tempo, de outros tempos, de todos os tempos. E, de caminho, algo da sua própria verdade, também.

Tudo o que fazemos tem o seu tempo próprio. A minha colaboração regular das quartas-feiras no ETERNAS SAUDADES DO FUTURO, iniciada em 19 de Janeiro passado, termina hoje. Ao meu nobre amigo, cunhado e anfitrião, João Marchante, quero agradecer o seu convite e incitamento iniciais, e o seu apoio constante. Um forte abraço, João!

Aos meus caríssimos e pacientes leitores e em particular aos que se me manifestaram ao longo destes mais de seis meses -- que todos comparo (à maneira de um resumido simulacro daquilo que é, ou pode ser, a nossa vida) a companheiros de uma longa e atribulada viagem sem retorno (por vezes com descanso por verdes prados ornados de vinhedos, ou matando a sede nas fontes puras de altas serranias) através de um extenso deserto: o seco deserto das verdades penosas, nesta Terra -- quero agradecer a fraterna camaradagem. Bem-hajam!

(1) Cfr., p.ex. VAZ PINTO, António, S.I., 'Revelação e Fé', 2ª Edição (revista), Editorial A.O., Braga, 2001, Vol.I, pág. 537 e segs.

Francisco Cabral de Moncada

DIVA DA SÉTIMA ARTE VISTA DE FRENTE

K. S. T.

DIVA DA SÉTIMA ARTE VISTA DE COSTAS

L. B.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

SEM AGENDA


Plínio Corrêa de Oliveira -- "Doutor da Contra-Revolução" -- segundo Roberto de Mattei (Parte II)

No seguimento do que já foi iniciado na semana passada, concluo hoje um conjunto de transcrições do livro do intelectual italiano Roberto de Mattei, O Cruzado do século XX. Plínio Correia de Oliveira, Civilização Editora, Lisboa, 1997, e particularmente do capítulo desse livro que se debruça sobre a obra-prima do conhecido autor e homem de acção contra-revolucionário brasileiro, Plínio Corrêa de Oliveira (1908-1995): Revolução e Contra-Revolução, São Paulo, 1959.

No intuito de não alongar mais a extensão do textos escolhidos, que hoje resultou algo superior ao que habitualmente aqui tenho apresentado -- e por tal espero me relevem os leitores pacientes -- não incluo, ao contrário do que fiz na semana passada, as interessantes mas muito numerosas notas que povoam o livro. O elevado interesse, a meu ver, dos referidos textos, foi a razão de os não ter mais abreviado.


«A Cristandade no Magistério Pontifíco

"Revolução e Contra-Revolução" baseia-se sobre um pressuposto histórico e filosófico em plena harmonia com o Magistério da Igreja: a necessidade de conformar à lei de Cristo não apenas as pessoas individualmente consideradas, mas também a sociedade e os Estados, sobre os quais se exerce a soberania exclusiva do Redentor. Fruto desta obra de Cristianização da vida social é a Civilização Católica. (...)

A Civilização Cristã, ensina (...) Leão XIII, teve uma concreta expressão histórica na Cristandade medieval.

«Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda a parte era florescente, graças aos favores dos Príncipes e à protecção legítima dos Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda a expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer». (...)

«A conversão dos povos ocidentais -- escreveu Plínio Corrêa de Oliveira -- não foi um fenómeno superficial. O germen da vida sobrenatural penetrou no próprio âmago da sua alma e foi paulatinamente configurando à semelhança de Nosso Senhor Jesus Cristo o espírito outrora rude, lascivo e supersticioso das tribos bárbaras. A sociedade sobrenatural -- a Igreja -- estendeu assim sobre toda a Europa a sua contextura hierárquica, e desde as brumas da Escócia até às encostas do Vesúvio foram florindo as dioceses, os mosteiros, as igrejas catedrais, conventuais ou paroquiais, e, em torno delas, os rebanhos de Cristo. (...) Nasceram por essas energias humanas vitalizadas pela graça, os reinos e as estirpes fidalgas, os costumes corteses e as leis justas, as corporações e a cavalaria, a escolástica e as universidades, o estilo gótico e o canto dos menestreis».

Quais foram as causas da decadência da civilização medieval? Leão XIII na Encíclica Immortale Dei escreve que «o funesto e deplorável espírito de novidade suscitado no século XVI, começou por convulsionar a religião, passou depois naturalmente desta ao campo filosófico, e em seguida a todas as ordens do Estado». O âmbito religioso, juntamente com o intelectual e o político-social, são os três campos atingidos pelo processo de dissolução que o Papa denomina "Direito Novo". Trata-se de um "inimigo" declarado da Igreja e da Cristandade, o qual por sua vez foi descrito por Pio XII nos seguintes termos:

«Ele encontra-se em toda a parte e no meio de todos: sabe ser violento e astuto. Nestes últimos séculos tentou realizar a desagregação intelectual, moral e social do organismo misterioso de Cristo. Ele quis a natureza sem a graça, a razão sem a fé; a liberdade sem a autoridade; às vezes a autoridade sem a liberdade. É um "inimigo" que se tornou cada vez mais concreto, com uma ausência de escrúpulos que ainda surpreende: Cristo sim, a Igreja não! Depois: Deus sim, Cristo não! Finalmente o grito ímpio: Deus está morto; e, até, Deus jamais existiu. E eis, agora, a tentativa de edificar a estrutura do mundo sobre bases que não hesitamos em indicar como principais responsáveis pela ameaça que pesa sobre a humanidade: uma economia sem Deus, um direito sem Deus, uma política sem Deus».

Este inimigo constituiria o objecto específico do estudo de Plínio Correia de Oliveira, que depois de ter analisado a natureza e as formas de acção do adversário, proporá as linhas de uma eficaz reacção para vencê-lo e restaurar a Civilização Cristã. Sintetizando a natureza do irredutível antagonismo existente entre a Igreja e o seu mortal adversário, escreve:

«Este inimigo terrível tem um nome: chama-se Revolução. A sua causa profunda é uma explosão de orgulho e de sensualidade que inspirou, não diríamos um sistema, mas toda uma cadeia de sistemas ideológicos. Da larga aceitação dada a estes no mundo inteiro, decorreram as três grandes revoluções da História do Ocidente: A Pseudo-Reforma, a Revolução Francesa e o Comunismo».

A grande crise do Ocidente cristão

"Revolução e Contra-Revolução" apresenta, antes de tudo, um quadro da nossa época que se resume numa palavra hoje dramaticamente actual: crise.

«As muitas crises que abalam o mundo hodierno -- do Estado, da família, da economia, da cultura, etc. -- não constituem senão múltiplos aspectos de uma só crise fundamental, que tem como campo de acção o próprio homem. Noutros termos, essas crises têm a sua raíz nos problemas de alma mais profundos, de onde se estendem para todos os aspectos da personalidade do homem contemporâneo e todas as suas actividades».

Portanto, no centro da obra do Prof. Plínio está o homem, criatura racional composta de alma e corpo, hoje vítima de uma crise profunda. Embora muitos sejam os factores que compõem esta crise, conserva ela sempre cinco caracteres essenciais:

1. É universal, pois não existe povo que não tenha sido por ela afectado, em grau maior ou menor.

2. É una, no sentido em que não existe uma pluralidade de crises autónomas, sem ligação entre si, mas uma mesma crise assola hoje o conjunto daquela que outrora foi a Cristandade.

3. É total, porque se desenvolve numa zona de problemas tão profunda, que se estende depois a todas as potências da alma, em todos os campos de acção do homem.

4. É dominante, pois ela é como uma rainha que guia forças e acontecimentos aparentemente caóticos.

5. É um processo, isto é, é um longo sistema de causas e efeitos que, tendo nascido nas zonas mais profundas da alma e da cultura ocidental, vão produzindo, desde o século XV até aos nossos dias, sucessivas convulsões.

As etapas históricas da Revolução

(...) Plínio Corrêa de Oliveira assim resumiu este processo:

«1) A Pseudo-Reforma foi uma primeira revolução. Ela implantou o espírito de dúvida, o liberalismo religioso e o igualitarismo eclesiástico, em medida variável aliás nas várias seitas a que deu origem.

2) Seguiu-se-lhe a Revolução Francesa, que foi o triunfo do igualitarismo em dois campos. No religioso, sob a forma de ateísmo, especiosamente rotulado de laicismo. E na esfera política, pela falsa máxima de que qualquer desigualdade é uma injustiça, qualquer autoridade um perigo, e a liberdade o bem supremo.

3) O Comunismo é a transposição destas máximas para o campo social e económico».

As origens deste processo, para Plínio Corrêa de Oliveira, remontam ao século XIV, quando se inicia na Europa cristã uma transformação de mentalidades que no decurso do século XV se torna cada vez mais nítida. (...)

As profundidades da Revolução

O pensador brasileiro distingue na Revolução três profundidades que, cronologicamente, até certo ponto se interpenetram.

A dimensão mais profunda é a das tendências. Quando as tendências desordenadas do homem recusam conformar-se com uma ordem de coisas que as deveria guiar e corrigir, começam por modificar as mentalidades, os modos de ser, os costumes e as expressões artísticas.

Dessas camadas profundas, a crise passa para o terreno ideológico. É a Revolução nas ideias. O Prof. Plínio recorda a frase de Paul Bourget na sua célebre obra "Le démon du midi": «cumpre viver como se pensa, sob pena de, mais cedo ou mais tarde, acabar por pensar como se viveu». Inspiradas pelo desregramento das tendências desordenadas, eclodem doutrinas novas. Estas procuram por vezes, de início, um modus vivendi com as antigas, e exprimem-se de maneira a manter com estas um simulacro de harmonia que habitualmente não tarda em romper-se numa luta declarada.

A revolução nos factos segue-se à revolução nas ideias, onde passa a operar, por meios cruentos ou incruentos, a transformação das instituições, das leis e dos costumes, tanto na esfera religiosa como na sociedade temporal.

O papel das paixões no processo revolucionário


(...) A causa mais profunda deste processo é, para Plínio Corrêa de Oliveira, uma explosão de orgulho e sensualidade que inspirou toda uma cadeia de sistemas ideológicos e uma série de acções a eles correlatas.

«O orgulho leva ao ódio a qualquer superioridade, e, pois à afirmação de que a desigualdade é em si mesma, em todos os planos, inclusive e principalmente nos planos metafísico e religioso, um mal. É o aspecto igualitário da Revolução.

«A sensualidade, de si, tende a derrubar todas as barreiras. Ela não aceita freios e leva à revolta contra qualquer autoridade e qualquer lei, seja divina ou humana, eclesiástica ou civil. É o aspecto liberal da Revolução. Ambos os aspectos, que têm em última análise um carácter metafísico, parecem contraditórios em muitas ocasiões, mas conciliam-se na utopia marxista de um paraíso anárquico em que uma humanidade altamente evoluída e "emancipada" de qualquer religião vivesse em ordem profunda sem autoridade política, e numa liberdade total da qual entretanto não decorresse qualquer desigualdade».

Os autores contra-revolucionários do século XIX, como De Maistre, De Bonald e Donoso Cortés, descreveram bastante bem a Revolução no seu desenvolvimento de erros doutrinais. Mas o que, por seu lado, caracteriza a obra de Plínio Corrêa de Oliveira, é a atenção a dos factores "passionais" e à sua influência sobre os aspectos estritamente ideológicos do processo revolucionário. (...) o autor, (...) de acordo com a linguagem corrente, inclui nas paixões desordenadas todos os impulsos ao pecado existentes no homem em consequência do pecado original e da tríplice concupiscência denunciada no Evangelho: a da carne, a dos olhos e a soberba da vida.

A Revolução tem pois a sua primeira origem nas paixões desordenadas. Como os tufões e os cataclismos, elas possuem uma força enorme, mas para destruir.

As velocidades da Revolução

O processo revolucionário dá-se em duas velocidades diversas. Uma, rápida, é destinada geralmente ao fracasso no plano imediato. A outra tem sido habitualmente coroada de êxito, e é muito mais lenta.

Desenvolvem-se na primeira velocidade os movimentos revolucionários mais radicais, como os anabaptistas no século XVI e as correntes jacobinas e anárquicas dos séculos XIX e XX. Na segunda, as correntes moderadas do protestantismo e do liberalismo que, avançando por etapas de dinamismo e inércia sucessivas, vão entretanto favorecendo o deslizamento para o mesmo ponto extremo.

O fracasso dos extremistas é apenas aparente: criam um ponto de atracção fixo que fascina, pelo seu próprio radicalismo, os moderados. A sociedade acaba por assumir lentamente o caminho para o qual os mais radicais pretendiam levá-la.

Os agentes da Revolução: a maçonaria e as seitas

O mero dinamismo das paixões e dos erros dos homens, afirma Plínio Corrêa de Oliveira, não é suficiente para explicar a marcha vitoriosa da Revolução. Atingir esse sucesso é impossível sem o impulso e a direcção de agentes astutos e conscientes que orientam um processo revolucionário por si mesmo caótico: estes são as seitas anti-cristãs, de qualquer natureza.

Agentes da Revolução podem ser consideradas todas as seitas e as forças secretas que se propõem como fim a destruição da Igreja e da Civilização Cristã. A seita-mestra, em torno da qual todas se articulam, é a maçonaria. Esta, segundo claramente decorre dos documentos pontifícios, e especialmente da Encíclica Humanum Genus de Leão XIII, tem como «último e principal fim, o destruir até aos seus fundamentos toda a ordem religiosa e social nascida das instituições cristãs e criar uma ordem nova segundo a sua vontade, que extrai do naturalismo os seus fundamentos e as suas normas». (...)

Se a denúncia clássica das forças secretas se centrou nos seus canais de infiltração e de controlo no corpo social, sobretudo no que diz respeito aos gânglios políticos e financeiros dos Estados modernos, a obra de Plínio Correia de Oliveira, como bem observa Fernando Gonzalo Elizondo, introduz um âmbito novo:

«É o do estudo e da denúncia das técnicas maçónicas de governo das almas. A explicação em profundidade do conhecimento e manipulação das tendências desordenadas, da criação de ambientes, da difusão, seja por grandes órgãos de comunicação, seja por outros meios, de uma mentalidade que, generalizando-se, garante o êxito do avanço das ideias e dos factos revolucionários».

A meta anárquica da Revolução

(...) A revolução está a destruir no homem contemporâneo a noção de pecado, a própria distinção entre bem e mal e, ipso facto, a negar a Redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo, que sem o pecado se torna incompreensível e perde qualquer relação lógica com a História e a vida.

Recolocando no indivíduo toda a sua confiança, como aconteceu na fase liberal, ou nas colectividades, como sucedeu na fase socialista, a Revolução idolatra o homem, confiando na sua possibilidade de "auto-redenção" mediante uma radical transformação social.

A meta anárquica da Revolução acaba por confundir-se com uma República Universal, na qual todas as legítimas diferenças entre os povos, as famílias, as classes sociais se dissolveriam num amálgama confuso e efervescente.

«Um mundo em cujo seio as pátrias unificadas numa República Universal não serão senão denominações geográficas, um mundo sem desigualdades sociais nem económicas, dirigido pela ciência e a técnica, pela propaganda e pela psicologia, para realizar, sem o sobrenatural, a felicidade definitiva do homem: eis a utopia para a qual a Revolução nos vai encaminhando».

Os valores metafísicos da Revolução

Duas noções, concebidas como valores metafísicos, exprimem o espírito da Revolução: igualdade absoluta e liberdade completa. Estas, são servidas por duas paixões: o orgulho e a sensualidade. «É nestas tristes profundidades que se encontra a junção entre esses dois princípios metafísicos da Revolução, a igualdade e a liberdade, contraditórios em tantos pontos de vista».

A pretensão de pensar, sentir e fazer tudo o que as paixões desenfreadas exigem é a essência do liberalismo. Na realidade, a única liberdade que ele tutela é a liberdade para o mal, contrapondo-se, nisto, à Civilização Católica. Esta, pelo contrário, dá ao bem todo o apoio e toda a liberdade, mas cerceia o mal, tanto quanto possível.

Plínio Corrêa de Oliveira detém-se sobre este igualitarismo radical, mostrando as suas consequências no âmbito religioso, político e social. A negação de qualquer desigualdade conduz, no plano metafísico, à recusa do princípio de identidade e de não contradição. Isto chega às últimas consequências com o panteísmo "igualitário", pois que, se a realidade é privada de desigualdades específicas e de identidade, desaparece também a diferença entre os homens e Deus e tudo fica confusamente divinizado. Neste panteísmo consiste o aspecto gnóstico da Revolução. Aspecto fundamental do pensamento de Plínio Corrêa de Oliveira foi, pelo contrário, o amor ao concreto, ao individualizado, ao "distinto". Ele fez seu o princípio fundamental do tomismo, segundo o qual o objecto próprio da inteligência humana não é o ser indefinido, mas a "quidditas rei sensibilis", as essências específicas do real. É através da experiência directa das essências específicas que o homem pode remontar ao conhecimento do universal e à própria formulação dos primeiros princípios. (...)

«São Tomás ensina -- afirma Plínio Corrêa de Oliveira -- que a diversidade das criaturas e o seu escalonamento hierárquico são um bem em si, pois assim melhor resplandecem na criação as perfeições do Criador. E diz que tanto entre os anjos como entre os homens, no Paraíso Terrestre como nesta terra de exílio, a Providência instituiu a desigualdade. Por isso, um universo de criaturas iguais seria um mundo em que se teria eliminado em toda a medida do possível a semelhança entre as criaturas e o Criador. Odiar em princípio, toda e qualquer desigualdade é pois, colocar-se metafisicamente contra os melhores elementos de semelhança entre o Criador e a criação, é odiar a Deus».

A Contra-Revolução e a Civilização Cristã

(...) «Se a Revolução é a desordem -- afirma o pensador brasileiro -- a Contra-Revolução é a restauração da ordem. E por ordem entendemos a paz de Cristo no Reino de Cristo. Ou seja, a Civilização Cristã, austera e hierárquica, fundamentalmente sacral, anti-igualitária e anti-liberal.»

A Contra-Revolução não é um retorno ao passado, nem uma genérica reacção, mas uma acção «feita contra a Revolução como hoje em concreto ela existe e, pois, contra as paixões revolucionárias como hoje crepitam, contra as ideias revolucionárias como hoje se formulam, os ambientes revolucionários como hoje se apresentam.

Também a Contra-Revolução, como a Revolução, é um processo que conhece várias fases e velocidades. Mas no itinerário do erro à verdade não se admitem as metamorfoses fraudulentas da Revolução. Se a Revolução esconde dos seus próprios adeptos o seu último fim, o progresso no bem obtém-se dos homens fazendo com que esse fim seja conhecido e amado na sua integridade. (...)

Em estado actual, conclui Plínio Correia de Oliveira, contra-revolucionário é quem:

«1) Conhece a Revolução, a Ordem e a Contra-Revolução em seu espírito, suas doutrinas, seus métodos respectivos; 2) Ama a Contra-Revolução e a ordem cristã, odeia a Revolução e a "anti-ordem"; 3) Faz desse amor e desse ódio o eixo em torno do qual gravitam todos os seus ideais, preferências e actividades».

A força propulsora da Contra-Revolução

Se a mais potente força propulsora da Revolução é o dinamismo das paixões humanas, desencadeadas num ódio metafísico contra Deus, contra a Verdade e contra o Bem, simetricamente existe também uma dinâmica contra-revolucionária, que visa regular as paixões, subordinando-as à vontade e à razão. A força propulsora da Contra-Revolução está no vigor espiritual que vem ao homem pelo facto de Deus governar nele a razão, a razão dominar a vontade, e esta, por fim, dominar a sensibilidade. Ele é o servo de Deus mas, justamente por isso, dono de si.

Tal vigor de alma não pode ser concebido sem se tomar em consideração a vida sobrenatural, que eleva o homem acima das misérias da vida decaída. Nesta força espiritual está, para Plínio Corrêa de Oliveira, o dinamismo mais profundo da Contra-Revolução.

«Pode-se perguntar de que valor é esse dinamismo. Respondemos que, em tese, é incalculável, e certamente superior ao da Revolução: 'Omnia possum in eo qui me confortat' (Fil. 4, 13). (...)

A Contra-Revolução e a Igreja

Se a Revolução é um processo que visa destruir a ordem temporal cristã, é claro que o seu último alvo é a Igreja, «Corpo Místico de Cristo, Mestra infalível da verdade, tutora da lei natural e, assim, fundamento último da própria ordem temporal». A Revolução é um inimigo que se levantou contra a Igreja para impedir a sua missão de salvação das almas, que ela exerce não só por meio do seu poder espiritual directo, mas também do seu poder temporal indirecto. A Contra-Revolução que se levanta em defesa da Igreja «não é destinada a salvar a Esposa de Cristo. Apoiada na promessa do seu Fundador, não precisa dos homens para sobreviver. Pelo contrário, a Igreja é quem dá vida à Contra-Revolução, que, sem Ela, nem seria exequível, nem sequer concebível». (...)

A exaltação da Igreja é o ideal da Contra-Revolução. (...)

Isto não obstante, o âmbito da Contra-Revolução ultrapassa, de algum modo, o eclesiástico, porque comporta uma fundamental reorganização de toda a sociedade temporal. Esta restauração social deve inspirar-se na doutrina da Igreja, mas envolve por outro lado um sem número de aspectos concretos e práticos que dizem respeito propriamente à ordem civil. (...)

Além dos confins do Brasil: uma escola de pensamento e de acção

Alguns dos principais temas abordados por Plínio Corrêa de Oliveira foram tratados também por outros pensadores católicos contemporâneos, genéricamente definidos como "tradicionalistas". Basta recordar aqui os nomes do filósofo belga Marcel de Corte, do fundador francês da Cité Catholique, Jean Ousset, do filósofo italiano Augusto Del Noce, do historiador suiço Gonzague de Reynold, do pensador espanhol Francisco Elías Tejada.

"Revolução e Contra-Revolução" não foi, porém, somente uma obra intelectual, mas também o germen vital de um movimento destinado a desenvolver-se e a estender-se por todo o mundo. Plínio Corrêa de Oliveira distingue-se de muitos intelectuais tradicionalistas contemporâneos pelo papel que atribuiu ao pensamento vivo, destinado a comunicar-se por meio da acção pessoal e a organizar-se na conquista do apostolado. Esta inédita união de pensamento e acção não foi compreendida por alguns ambientes tradicionalistas, habituados a conciliar a doutrina contra-revolucionária com uma praxis política inspirada em diversas teorias. Isto sucedeu sobretudo em França, depois da experiência da Action Française. (...)

Ainda que possa parecer singular, na Europa, "Revolução e Contra-Revolução" teve a sua influência mais profunda, além da península ibérica, sobretudo na Itália, país carente de uma cultura tradicionalista no sentido estrito do termo. (...)

Enquanto a revolução contestatária assolava a Itália, nascia, em torno dos princípios do livro "Revolução e Contra-Revolução", (...) o grupo Alleanza Cattolica e, em 1973, a revista Cristianità. Em "Revolução e Contra-Revolução" inspiraram-se sucessivamente outros grupos e movimentos, entre os quais o Centro Cultural Lepanto, fundado em Roma, no ano de 1982.

Nobreza e elites tradicionais análogas, perante a IV Revolução

"Nobreza e elites tradicionais análogas" pode ser considerada a continuação ideal e o desenvolvimento de "Revolução e Contra-Revolução".

Num ensaio intitulado "Revolução e Contra-Revolução vinte anos depois", Plínio Corrêa de Oliveira descrevia o aparecimento, depois da Revolução comunista, de uma IV Revolução menos ideológica e mais tendencial, a qual visa extinguir os velhos modelos de reflexão, volição e sensibilidade, para atingir mais rapidamente a meta última da Revolução: instalar, sobre as ruínas da Civilização Cristã, uma sociedade "tribal" e anárquica, submetida ao Príncipe das Trevas. A volta ao modelo humano representado pelas "elites tradicionais" pode constituir, segundo o pensador brasileiro, o principal antídoto a este extremo declínio da sociedade. Com efeito, a revolução da Sorbonne, em 1968, constituiu uma explosão de alcance universal, que acelerou a proletarização da sociedade. O impulso ao contínuo aperfeiçoamento, que caracterizava a Idade Média e os séculos sucessivos, poderia hoje renascer se nele a nobreza encontrasse o sentido da sua própria missão histórica. (...) » Roberto de Mattei

Francisco Cabral de Moncada

terça-feira, 26 de julho de 2011

SANTOS DE ONTEM, HOJE E AMANHÃ

25 de Julho
S. Tiago Maior, Apóstolo.
S. Cristóvão, Patrono dos viajantes.
26 de Julho
S. Joaquim e Santa Ana, Pais da Santíssima Virgem.
Santa Bartolomea Capitánio, Fundadora.
27 de Julho
S. Pantaleão, Mártir.
Beata Maria Madalena Martinengo, Religiosa.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

EXPRESSO DO OCIDENTE

Quarta-feira, 20 de Junho
O Público foi tentar saber quanto custa a um país que está de tanga, a sobreviver da ajuda - ou da usura - estrangeira, a peregrina ideia de levar avante a imposição do acordo ortográfico. Sem sucesso, parece que ninguém faz a mais pálida das ideias. Como é referido no Editorial, não deixa de ser espantoso que num país que faz estudos - e comissões, acrescento eu - sobre qualquer porcaria que não interessa a ninguém, não tenha havido ainda um único serviço que se tenha preocupado com o impacto da aberração nas contas do país. Às tantas, existissem os ditos estudos e talvez pudéssemos constatar que não só não seria necessária a extorsão do subsídio de Natal como ainda sobraria algum para prevenir os esbulhos vindouros. Não sendo assim, não só nos pilham a identidade como - para variar… - também nos vão ao bolso.

Quinta-feira, 21 de Junho
Informam as gazetas que Nogueira Leite, um dos prestimosos comentadores de serviço à onda laranja, verá premiados os seus inegáveis méritos abichando a vice-presidência da Caixa Geral de Depósitos, instituição cujas nomeações oscilam entre o escândalo e a comédia. Está reposta então a verdade dos factos - aquela que sustenta com convicção de obrigatoriedade que, uma vez atingido o pote, rosas e laranjas soltam idêntico perfume. Tão normal que já ninguém se espanta, ninguém se indigna. No café, o português observa a notícia, esboça um leve sorriso a oscilar entre a pena e a vergonha e lá vai à sua vida, tentando fintar as dificuldades diárias enquanto o dr. Nogueira Leite nos finta a nós.
Muito curioso que no mesmíssimo dia em que nos podemos congratular com o sucesso profissional de cartão laranja, o Jornal de Notícias nos diga que sensivelmente um terço dos deputados da anterior legislatura tivessem também assento em empresas públicas. E mais nos relata o diário portuense, citando Paulo Morais: não raras vezes, as empresas em questão tinham interesses cruzados com os assuntos que os estimáveis senhores deputados acompanhavam na sua desgastaste labuta parlamentar. Tudo coincidências, com toda a certeza. Tudo coincidências que, mais uma vez, não espantam ninguém.

Sábado, 23 de Julho
O tema de fundo do Expresso é um mimo: agentes (pouco) secretos transferindo-se (maila papelada) para posições de relevo em empresas também elas um pouco secretas, documentação confidencial que ao que parece qualquer cavalheiro com as credenciais certas poderá conhecer sem dificuldades de maior, teias de complexos interesses a que não falta uma fortíssima (e activa) presença da maçonaria e que de imediato me recordam o nome de uma das maiores séries televisivas de sempre - "La Piovra". O estado a que chegaram muitos Estados democráticos - sequestrados por uma canalha medíocre que tudo parece conseguir, de facto, em tempos de um individualismo sem limites - é desolador. Mas é ao mesmo tempo de tal maneira evidente, que espanta que possa existir uma alma que ainda não tenha percebido como todo este lixo funciona. Talvez por isso, garantem os pasquins - e nem era preciso, qualquer um de nós o observa à sua volta -, há cada vez mais gente a querer mudar de ares, com vontade de tentar uns tempos lá fora. Quem tiver juízo não os pode condenar.

Domingo, 24 de Julho
Com estas linhas que hoje assino, este Expresso do Ocidente que semanalmente transporta temas da mediocridade ao estimulante espaço do João Marchante, atinge o redondo número de vinte publicações. Um bom motivo, aliado à proximidade deste Verão que ameaça sofrer as maçadas do menos badalado arrefecimento global, para que vos poupe ao meu pessimismo antropológico até ao final de Agosto. Nos próximos tempos, imagino-me à beira-Atlântico entretido entre a família, muitas braçadas, as páginas do Nelson Rodrigues e outros pequenos prazeres, numa espécie de rotina que ajuda a viajar à meninice. Tenham então os meus caros amigos umas boas férias e aproveitem o que há. Enquanto há.

Pedro Guedes da Silva

25 DE JULHO DE 1111

D. Afonso Henriques, o Conquistador
(Guimarães, 25.07.1111 — Coimbra, 06.12.1185)
1.º Rei de Portugal: 1128 — 1185

25 DE JULHO DE 1139

O Milagre de Ourique, 1793
DOMINGOS SEQUEIRA (1768 — 1837)
Óleo sobre Tela, 270 x 450 cm

domingo, 24 de julho de 2011

DO SENTIDO DA LITERATURA

Quando não descobrirmos algo de novo na segunda leitura de um livro devemos pô-lo definitivamente de parte porque só um texto que desperta diferentes e infinitas interpretações é enriquecedor.

sábado, 23 de julho de 2011

ANTE-CÂMARA DA MORTE DA MEMÓRIA

A laica, republicana e socialista Câmara Municipal de Lisboa, que desgraçadamente nos desgoverna, prepara-se para eliminar os nomes dos Santos das nossas Freguesias. Já agora, completem o lindo trabalhinho e botem-lhes nomes de empreiteiros e de pedreiros(-livres).

FADO NO CINEMA E FADO DO CINEMA

Em Portugal, no ano de 1947, entre as sete longas-metragens produzidas, surge Fado, História d’Uma Cantadeira, que, dez anos depois, virá a ser o primeiro filme exibido pela Televisão Portuguesa, no arranque da RTP.
O seu realizador é Perdigão Queiroga, nascido em Évora, em 1916, e morto fisicamente num acidente de automóvel, em 1980. Este cineasta, depois de uma fase de aprendizagem das técnicas cinematográficas, trabalha como profissional nas áreas da imagem e da montagem. De seguida, em plena II Guerra Mundial, e Golden Age do Cinema Americano, ruma a Hollywood — para os estúdios da major Paramount (uma das cinco maiores empresas de produção cinematográfica dos E. U. A.) —, onde trabalha em montagem. De regresso à Pátria, inicia a preparação de Fado, que será o seu primeiro filme de fundo, numa obra com dezenas de títulos.
A sua filmografia divide-se, como era hábito nos autores clássicos completos, entre documentários (a que hoje chamaríamos «institucionais») e longas-metragens de ficção. Outro ponto alto da sua carreira viria a ser As Pupilas do Senhor Reitor (1961), a partir de Júlio Diniz, e que foi o primeiro filme nacional rodado em cinemascope (formato de ecrã largo).
Mas vamos ao nosso Fado, História d’Uma Cantadeira (1947), de Perdigão Queiroga, que a isso viemos e nisso estamos. Este filme baseia-se, muito livremente, na biografia da grande Amália Rodrigues, então no auge da sua carreira e beleza. Será esta formidável «cantadeira» a protagonizar a fita, com a qual iluminará a tela, como estrela deste melodrama romântico. Para que a musa lusa brilhe, em toda a sua plenitude, muito ajudarão os belíssimos fados de Frederico de Freitas, as letras de Amadeu do Vale, Linhares Barbosa, Gabriel de Oliveira e João Mota, as «sínteses de fados» de Frederico Valério e Jaime Santos, os versos de Silva Tavares e José Galhardo; e, toda esta equipa de luxo, sob a direcção musical de Jaime Mendes.
Abordemos então agora a história, propriamente dita: os cânones do melodrama, herdados — pelo Cinema — da Literatura e do Teatro do século XIX, estão lá todos; e, de uma forma não muito diferente daquela como eram praticados, à época, em Hollywood, mas convenientemente transpostos para a realidade social da Lisboa dos anos 40 do século passado, como se pretende.
Assim, temos uma fadista pobre de Alfama, com um namorado (o guitarrista Júlio — interpretado convincentemente pelo grande Virgílio Teixeira), que, tornando-se famosa, sai do seu bairro, abandonando o apaixonado companheiro e trocando-o pelos círculos da alta-burguesia e da aristocracia de Lisboa. Por fim, depois de peripécias várias, numa trama narrativa bem urdida, temos um final na boa tradição do happy end da Capital do Cinema. Se destaco esta ligação ao cinema clássico narrativo sonoro, que tinha as suas regras ditadas pelos norte-americanos, é porque o filme tem uma desenvoltura própria dos melhores produtos saídos dessas «fábricas de sonhos» que eram os Estúdios de Hollywood.
Perdigão Queiroga junta-lhe ainda os principais ingredientes da Cultura Popular Portuguesa — olhada por alguns arrivistas com desconfiança, pois talvez lhes faça lembrar o berço que renegam —, e, assim, conseguiu fazer um filme que é um dos maiores êxitos de bilheteira — até hoje — do Cinema Português, ao mesmo tempo que recebeu críticas muitíssimo positivas; conjugação esta não habitual. Capas Negras, de Armando de Miranda, desse mesmo ano e também com Amália, foi demolido pela crítica, e com toda a razão, devido ao cinema pobrezinho que revelava.
Neste caso — no nosso Fado —, o pano de fundo de carácter realista com que são pintados os bairros tradicionais de Lisboa, a excepcional representação do galã português de dimensão internacional — Virgílio Teixeira —, o rosto, a voz, e a naturalidade expressiva de Amália, o rigor fotográfico de Francesco Izzarelli, a fluidez da montagem do próprio Perdigão Queiroga — em «estilo invisível», à maneira de Hollywood —, as presenças de António Silva, Vasco Santana, Eugénio Salvador, Tony d’Algy, Raul de Carvalho, e mais uma mão cheia de outros grandes actores, fizeram toda a diferença.
Convém aqui realçar que o Fado e os Toiros são dois mitos permanentes da iconografia nacional; e, se convenientemente levados para a Cinematografia Portuguesa — com um tratamento narrativo e plástico sempre renovado, de acordo com o espírito dos tempos —, podem constituir-se como uma das matrizes estruturais de um verdadeiro género indígena. Os E. U. A. fazem exactamente o mesmo com os seus géneros: Western, Gangsters, Musical. Esta linha do Cinema Português foi, aliás, logo consagrada no primeiro filme sonoro (sonorizado, no entanto, ainda, em França): Severa, de Leitão de Barros.
Em relação a Fado, História d’Uma Cantadeira, diga-se que o Estado Novo — através do SNI, de António Ferro — pareceu gostar a atribuiu-lhe o Grande Prémio, nesse ano de 1947, demarcando-se, deste modo, de Capas Negras, que, apesar de tudo, teve um maior sucesso de bilheteira na época (e mesmo, também, um dos maiores de sempre, até à actualidade).
De facto, António Ferro, com o seu inovador bom-gosto, sabia o que fazia ao distinguir este filme, pois Fado tem tudo: por um lado, uma extraordinária beleza plástica — esse rosto de Amália nada fica a dever aos de outras divas do Cinema Mundial, muito graças ao já referido director de fotografia italiano, que tinha trabalhado no Camões, de Leitão de Barros, e que tem um estilo visual a fazer lembrar o expressionismo alemão; por outro, a banda sonora, já convenientemente aqui destacada, que reunia os melhores autores da música popular portuguesa de então. Finalmente, os diálogos — esse ponto fraco da Cinematografia Nacional — são convincentes e vivos, e ditos com boa dicção, e ainda melhor interpretação, depois de saídos da pena criativa de Armando Vieira Pinto.
E agora vou mas é rever a fita, que fiquei cheio de vontade, e esperar — pessimista, mas esperançoso que sou — que o Cinema Português se reconcilie com o seu público e possa voltar a erguer produções desta dimensão, para que, como neste caso, não abdicando da requintada expressão estética do autor, possa servir, com narrativas escorreitas e simples, temas onde as pessoas realmente se revejam, pois já basta de décadas de divagações umbiguistas, em tom hermético, para consumo próprio (com honrosas excepções, apesar de tudo).
Bem sei que já não temos Amália, aqui e ao vivo, nem Virgílio Teixeira — e que falta fazem! —, mas há por cá novos e bons actores — potenciais novas estrelas! Estarão os actores portugueses para sempre fadados a fazer telenovelas em estilo sul-americano, ou poderão voltar a brilhar em Filmes Portugueses populares e de qualidade?...
A ver vamos.

MUSA LUSA

Amália Rodrigues
(23.07.1920 — 06.10.1999)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

CINCO MIL MENSAGENS NO BLOGUE

Este é o postal n.º 5000 do Eternas Saudades do Futuro.

NEM TUDO ESTÁ PERDIDO

Dos maiores gostos que vou experimentando, neste mundo-cão, é ter antigos alunos (e já lá vão dezasseis anos lectivos consecutivos) que, quando podiam facilmente fingir que não me viam, atravessam a rua para me vir falar. Os que fazem isto eram os melhores dos respectivos cursos e hoje distinguem-se profissionalmente em Portugal ou no estrangeiro. Assim, sinto que valeu a pena gastar o meu Latim.

GENEALOGIAS ESPIRITUAIS CINEMATOGRÁFICAS

Não é possível compreender o Cinema de Hitchcock sem começar por ver os filmes da sua fase inglesa; e, destes, lançar minuciosa atenção sobre os da Época do Mudo. Depois, é só perceber — salta à vista — que as bases da sua linguagem visual, assim como as do seu núcleo temático principal, têm as raízes mergulhadas, bem fundo, no Expressionismo Alemão — muito especialmente nos mestres Murnau e Lang. Ora vão lá espreitar, que mais logo falamos.

NA MESMA ONDA

Às afinidades ideológicas, racionais, calculistas e intelectuais, sempre preferi as estéticas, espirituais, intuitivas e culturais. Tendência esta que se tem acentuado com a idade. No entanto, verdade seja dita, cada vez encontro menos pessoas na minha frequência de onda.

ESTES JÁ NINGUÉM MOS TIRA

O Eternas Saudades do Futuro completou ontem quatro anos e seis meses de publicação diária de postais. Afinal, um blogue é isto mesmo: um diário pessoal na Internet, em tom de caderno de apontamentos. A principal diferença — mais do que as possiblidades oferecidas por este dinâmico suporte electrónico — consiste no facto de este bloco de notas estar à vista de todos, como se me tivesse esquecido dele em cima da mesa do café e toda a gente estivesse a bisbilhotar o seu conteúdo. E reside precisamente aí o meu maior prazer: imaginar que estão desse lado a ler. E gosto que gostem de o fazer.

SÓ ESTOU BEM ONDE NÃO ESTOU

Proveniente socialmente da burguesia, repugna-me o espírito burguês, que troco pela muito antiga sabedoria popular. Monárquico ideológico que sou, prefiro uma república de aristocratas — no sentido grego e à maneira romana — à nobreza decadente que sempre rodeia a realeza.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

DA SOCIEDADE INORGÂNICA

Num dia assim, com esta luz e este céu azul da cor do mar, Lisboa até parece uma bela cidade para se viver e trabalhar; mas, olhando em volta e tendo de lidar com a gente que agora a povoa — tristes mas contentinhos, baixinhos mas empertigados, indolentes mas «com muito trabalho», todos sempre com a desculpa na ponta-da-língua para as suas incompetências —, é obrigatório concluír que esta nova arraia-miúda (do fidalgo indigente ao plebeu desconfiado, passando pelo burguês usurário) não é digna da grande cidade. Se nunca tivessem saído das suas terras, talvez fossem felizes, entre as suas comunidades naturais, na sua humildade; assim, aqui não passam de incomodativos mosquitos que temos de enxotar a toda a hora do dia. Graças a Deus, à noite desaparecem.

REAL ABERTURA DA ÉPOCA BALNEAR

Praia de Cascais, 1906
CARLOS DE BRAGANÇA (1863 — 1908)
[D. CARLOS I, REI DE PORTUGAL]
Aguarela
Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, Lisboa.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

SEM AGENDA




Plínio Corrêa de Oliveira -- "Doutor da Contra-Revolução" -- segundo Roberto de Mattei (Parte I)

Trago hoje à presença dos meus caríssimos leitores a figura de Plínio Corrêa de Oliveira (1908-1995), nascido e falecido em São Paulo, Brasil, e que é por muitos considerado um dos maiores pensadores católicos do século XX, na esteira de figuras como De Maistre, De Bonald e Donoso Cortés, de cuja escola é herdeiro. O livro de que apresento acima a capa, escrito pelo intelectual italiano e, pode dizer-se, também seu discípulo, Roberto de Mattei, nascido em 1948, constitui precisamente a primeira -- e uma magistral, a meu ver -- biografia que lhe é dedicada, saída a público em Itália com o título Il crociato del secolo XX. Plinio Corrêa de Oliveira, logo em 1996, e em tradução portuguesa, pela Civilização Editora, em 1997.

Como vem referido na breve síntese escrita na contra-capa,...«Destacou-se desde muito novo como eminente pensador católico e intrépido homem de acção. Foi deputado à Constituinte de 1934, professor catedrático na Pontifícia Universidade de São Paulo, jornalista e escritor. É autor de dezanove livros e milhares de artigos.

Ao longo de quase todo o século XX, defendeu o Papado, a Igreja e o Ocidente cristão contra os totalitarismos nazi e comunista, contra a influência deletéria do american way of life e contra o processo de "autodemolição" da Igreja Católica. Nele se inspiraram as Associações de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), disseminadas por 26 países dos cinco continentes, que formam hoje a mais vasta rede de associações de inspiração católica dedicadas a combater o processo revolucionário que investe contra a Civilização Cristã.»...

Decidi começar, hoje, pela transcrição integral do primeiro ponto, introdutório: "Doutor da Contra-Revolução", do Capítulo IV: Revolução e Contra-Revolução, do livro de Mattei, por referência, precisamente, à obra maior, mundialmente difundida e com o mesmo nome, escrita por Corrêa de Oliveira: o seu Revolução e Contra-Revolução, livrinho este (pequeno, em tamanho, mas enorme, em valor) que volta e meia trago para a minha cabeceira. As muitas notas deste ponto introdutório, abaixo incluídas na integra, representam, só por si, para quem se interesse aprofundar, a sugestão de todo um programa de estudos alargados.

Tenciono concluir o tema, na próxima semana, com a exposição de algum do conteúdo doutrinário mais relevante e original deste grande livro de Plínio Corrêa de Oliveira.

Revolução e Contra-Revolução

"Se a Revolução é a desordem, a Contra-Revolução é a restauração da ordem. E por ordem entendemos a paz de Cristo no Reino de Cristo. Ou seja, a Civilização Cristã, austera e hierárquica, fundamentalmente sacral, anti-igualitária e anti-liberal."

"Doutor da Contra-Revolução"

«"Revolução e Contra-Revolução", obra indissoluvelmente ligada ao nome de Plínio Corrêa de Oliveira, veio a lume em Abril de 1959, por ocasião do centésimo número da revista Catolicismo (1).

A palavra "Revolução", que originalmente indicava o movimento celeste dos astros, assumiu novo significado no século XVIII, sobretudo depois da Revolução Francesa, desde então arquétipo de todas as revoluções, mesmo das que historicamente a precederam. O estudo das revoluções é hoje um tema fundamental do pensamento político (2). "Revolução -- afirma o filósofo Augusto Del Noce -- é a palavra chave para entender a nossa época" (3) e "a análise da ideia de revolução é o primeiro problema da filosofia" (4). Guerras e revoluções, observa do seu lado Hannah Arendt, "determinaram até agora a fisionomia do século XX" (5). Mas, enquanto as guerras constituem um dos fenómenos mais antigos do passado, "as revoluções em sentido próprio não existiam antes da idade moderna e são o mais recente de todos os grandes fenómenos políticos" (6).

É com o iluminismo que o termo "revolução" muda de significado. Passa a querer dizer: fenómeno ocorrido numa época, destinado a condicionar em profundidade o curso da História. Voltaire fala frequentemente de uma "revolução dos espíritos", de uma revolução das mentes, da qual os filósofos, os iluministas, espalhavam as sementes. "Ela -- escreveu em 1769 -- já está em curso há 15 anos; e em mais 15, depois de ter tido uma manhã tão bela, verá o pleno dia" (7). Este conceito de uma verdadeira regeneração ou palingenésia da sociedade, de facto assumiu o seu significado moderno graças ao que sucedeu em França, entre 1789 e 1795 (8).

A Revolução, para Plínio Corrêa de Oliveira, não indica a subversão de uma determinada ordem constituída, nem a Contra-Revolução se cifra numa genérica atitude de reacção face a uma realidade à qual se opõe. Ele quer dar a estes vocábulos o sentido preciso que lhe deram, a partir da Revolução Francesa, o Magistério Pontifício e o fecundo filão do pensamento católico que, inspirado nesse Magistério e antecipando-o por vezes, foi chamado "contra-revolucionário" (9).

O autor mais conhecido é o Conde Joseph de Maistre (10), o pensador da Savóia, a quem se deve uma das primeiras reflexões sobre a Revolução de 1789. Mas esta escola de pensamento teve muitos expoentes além dos que se costumeiramente se mencionam. Ainda antes de De Maistre, o jesuíta Pierre de Clorivière (11) intuiu a profundidade da Revolução Francesa, traçando dela um surpreendente quadro: "A Revolução que vimos desencadear-se -- escreve em 1794 -- apresenta três caracteres principais, previstos nas Sagradas Escrituras: ela foi imprevista, é grande, será geral" (12). Nesta linha encontram-se , no século XIX, autores como Louis de Bonald (13), Juan Donoso Cortés (14), Karl Ludvig von Haller (15), o Cardeal Edouard Pie (169, Mons. Charles Freppel (17) e, no início do nosso século, Mons. Henri Delassus (18), valoroso apologeta a quem Plínio Corrêa de Oliveira votou especial consideração. É preciso não esquecer, ao lado desses autores, o ensinamento dos Papas, sobretudo do venerável Pio IX e de São Pio X, cuja carta Notre Charge Apostolique, de 1910, pode ser definida, segundo D. Besse, como "a Contra-Revolução em acção" (19).

O pensamento dos contra-revolucionários, neste sentido, aparenta-se, mas distingue-se, do dos conservadores (20) que têm em Edmund Burke (21) o seu precursor, mas, pelo contrário, entrelaça-se com o dos chamados "ultramontanos", adversários do liberalismo católico e intransigentes defensores do Primado Pontifício no século XIX, como Louis Veuillot (22) em França, Santo António Maria Claret (23) em Espanha e, na Inglaterra, os grandes convertidos como o Cardeal Henry Edward Manning (24) e o P. Frederick William Faber (25).

A tantos nomes de expoentes intelectuais é preciso acrescentar pelo menos o de um estadista que simboliza a Contra-Revolução católica do século XIX: o Presidente do Equador, Gabriel García Moreno (26), cuja figura tem não poucas analogias em relação à de Plínio Corrêa de Oliveira.

"Revolução e Contra-Revolução" inscreve-se , pois, num filão católico que marca com a sua história e a sua fisionomia a história moderna. Esta linha de pensamento caracteriza-se pela fidelidade ao Magistério Pontifício em todas as suas expressões e por uma aprofundada meditação sobre o processo histórico desenvolvido pela Revolução Francesa. A obra de Plínio Corrêa de Oliveira, entretanto, não é uma repetição do pensamento contra-revolucionário precedente, mas uma genial reelaboração dessas concepções com novos desenvolvimentos, que fazem do autor um autêntico mestre desta escola no século XX. Com efeito, se por um lado reelaborou e sistematizou, com extraordinária capacidade de síntese, o pensamento precedente, por outro, enriqueceu-o com dimensões novas e inexploradas.

Notas

1. Plínio Corrêa de Oliveira, "Revolução e Contra-Revolução", Boa Imprensa Ltda., Campos, 1959. A obra teve quatro edições no Brasil e numerosas no mundo hispânico, em França, nos Estados Unidos, Canadá, Itália, Alemanha e Roménia. Foi igualmente difundida na Austrália, África do Sul e Filipinas.

2. Cfr. entre outras obras Jean BAECHLER, "Les phénomenes révolutionnaires", PUF, Paris, 1970; Karl GRIEWANK, "Der neuzeitliche Revolutionsbegriff. Enstehung und Entwichung", Europäische Verlangsnstalt, Frankfurt a. Main, 1969; Roman SCHNUR,"Revolution und Weltbürgerkrieg", Dunker u. Hamblot, Berlim, 1983; "L' Europa moderna e l' idea di Revoluzione", de Carlo MONGARDINI e Maria Luisa MANISCALCO, Bulzoni, Roma, 1990; Charles TILLY, "European Revolutions 1492-1992", Blackwell, Oxford, 1993.

3. A. DEL NOCE, "Lezioni sul marxismo", Giuffré, Milão, 1972, p. 8.

4. A. DEL NOCE, "Tramonto o eclissi dei valori tradizionali", Rusconi, Milão, 1971, p. 156.

5. Hannah ARENDT, "On Revolution", Faber & Faber, Londres, 1963, p. 1.

6. Ibid., p. 1.

7. François ARQUET DE VOLTAIRE, carta de 2 de Março de 1769 in "Oeuvres", Société Litteraire Typographique, Kehl, 1785-1789, vol. XLVI, p. 274.

8. Sobre a Revolução Francesa, além da clássica síntese de Pierre GAXOTTE, "La Révolution française", Complexe, Bruxelas, 1988, cfr. as reedições dos estudos de Augustin COCHIN (1876-1916), "La Révolution et la Libre pensée", Copernic, Paris, 1976 (1924), e "Les sociétés de pensée et la démocratie moderne", Copernic, Paris, 1878 (1925), que influenciaram a "revisão" histórica de François FURET, "Penser la Révolution française", Gallimard, Paris, 1988; F. FURET - Mona OZOUF (org.), "Dictionnaire critique de la Revolution française", Flammarion, Paris, 1988. Sobre as origens culturais: Ernst CASSIRER, "Die Philosophie der Aufklärung", Mohr, Tübingen, 1932; P. HAZARD, "La crise de la conscience européenne", cit.; id., "La pensée européenne au XVIII siècle, de Montesquieu à Lessing", 3 vols., Paris, Boivin, 1947; Daniel MORNET, "Les origines intellectuelles de la Révolution", Colin, Paris, 1933; Bernard GROETHUYSEN, "Philosophie de la Révolution française", Gallimard, Paris, 1956. Sobre o aspecto religioso, cfr. a importante obra de Jean DE VIGUERIE, "Christianisme et Révolution", Nouvelles Editions Latines, Paris, 1986.

9. Falta uma exposição orgânica e aprofundada do pensamento da Contra-Revolução católica; tratam do assunto com heterogeneidade de posições: Fernand BALDENSPERGER, "Le mouvement des idées dans l' émigration française (1789- 1815)", Plon, Paris, 1925, 2 vol.; Dominique BAGGE, "Les idées politiques en France sous la Restauration", PUF, Paris, 1952; Jean-Jacques OECHSLIN, "Le mouvement ultra-royaliste sous la Restauration: son idéologie et son action politique (1814-1830)", Librerie générale de droit et de jurisprudence, paris, 1960; Jackes GODECHOT, "La Contre-Révolution, doctrine et action (1789-1804)", PUF, paris, 1961, R. RÉMOND, "Les droites en France", Aubier Monaigne, Paris, 1982; Stéphane RIALS, "Révolution et Contre-Révolution au XIX siècle", Albatros, Paris, 1987; E. POULAT, "Antireligion et Contre-Révolution", in Id., "L' antimaçonnisme catholique", Berg International, Paris, 1994. Possuem, ademais, grande utilidade a série de artigos escritos pelo prof. F. FURQUIM DE ALMEIDA na secção "Os católicos franceses no século XIX", in Catolicismo, desde o nº 1 (Janeiro de 1951) até o nº 80 (Agosto de 1957).

10. Os escritos do Conde Joseph DE MAISTRE (1753-1821) foram recolhidos nas "Oeuvres complètes" contendo as suas obras póstumas e toda a sua correspondência inédita, Vitte e Perrussell, Lyon, 1884-1886, 14 vols.; ed. ne varietur, ibidem, 1924-1928. Apesar da abundância da bibliografia sobre o autor, falta um estudo exaustivo sobre De Maistre. Para uma introdução cfr. a colectânea "Joseph de Maistre tra illuminismo e restaurazione" (oeg. Luigi MARINO), Centro Studi Piemontesi, Turim, 1975 e Domenico FISICHELLA, "Il pensiero politico de De Maistre", Laterza, Roma-Bari, 1993.

11. Do Padre Pierre Joseph PICOT DE CLORIVIÈRE (1735-1820), cfr. os "Études sur la Révolution", in "Pierre de Clorivière, contemporain et juge de la Révolution", e com introdução de René BAZIN, J. de Gigord, Paris, 1926. Cfr. também o amplo verbete de Pierre MONIER-VINARD, S.J., "Clorivière", in DSp, vol. II (1953), col. 974-979. Clorivière foi o último jesuíta que pronunciou os seus votos solenes em França antes da supressão da Companhia de Jesus e seria o restaurador dela depois de 1814. Foi introduzida a sua causa de beatificação.

12. P. de CLORIVIÈRE, "Études sur la Révolution", cit., p. 115.

13.Sobre o Visconde Louis-Ambois de BONALD (1754-1830), cujas "Oeuvres Complètes" foram publicadas por Migne em três volumes (Paris, 1859), cfr. a clássica obra de H. MOULINIÉ, "De Bonald. La vie, la carrière politique, la doctrine", F. Alcan, Paris, 1916; cfr. também Mary Hall QUINLAN, "The historical thoght of the Viconte de Bonald", Catholic University of America Press, Washington, 1953; Robert SPAEMANN, "Der Ursprung der Soziologie aus dem Geist der Restauration, Studien über L. G. A. de Bonald", Kösel, Munique, 1959; C. CONSTANTIN, in DTC, vol. II, 1 (1910), col. 958-961.

14. Sobre Juan Donoso Cortés, Marquês de Valdegamas (1809-1853), veja-se o estudo introdutório que Carlos VALVERDE acrescentou à sua edição das "Obras Completas", BAC, Madrid 1970, vol. I, pp. 1-166 (com ampla bibliografia). A carta que Donoso Cortés dirigiu ao Cardeal Fornari em 19 de Junho de 1852 pode ser considerada um dos mais lúcidos manifestos da Contra-Revolução católica do século XIX. O texto original está in J. DONOSO CORTÉS, "Obras completas", cit., vol. II, pp. 746-762.

15. Karl Ludwig von HALLER(1768-1854) é autor de "Restauration der Staats-Wissenschaft, oder Theorie des natürlich gesellingen Zustands; der Chimäre des Küstlich-bürgerlichen entgegensetz", Steiner, Winterthur, 1816-1834, 6 vol. Cfr. mais recentemente "La Restaurazione della Scienza politica", de Mario SANCIPRIANO, Utet, Turim, 1963-1976, 3 vol. Sobre Haller, veja-se Michel de PREUX, "Charles- Louis de Haller. Un légitimiste suisse", A la Carte, Sierre, 1996.

16. Sobre o Card. Edouard-Louis PIE (1815-1880) cfr. "Les Oeuvres de Monseigneur l' Evêque de Poitiers" (10 edições, sendo a última de Paris, J. Ledars 1890-94, 10 vol.). Cfr. também Mons. Louis BAUNARD, "Histoire du Cardinal Pie, Evêque de Poitiers", Oudin, Poussielgue, 1886, 2 vols., e os estudos de Etienne CATTA, "La doctrine politique e sociale du Cardinal Pie", Nouvelles Editions Latines, Paris, 1959, e de Theotime de SAINT-JUST, "la royauté sociale de Notre-Seigneur Jésus-Christ, d'aprés le cardinal Pie", Ed. Sainte Jeanne d'Arc, Chiré-en Montreuil, 1988.

17. Mons. Charles FREPPEL (1827-1891) foi consultor do Concílio Vaticano I, em que sustentou a infalibilidade pontifícia, e desde 1869 Bispo de Angers onde fundou em 1875 a Universidade Católica. Cfr. as suas "Oeuvres polémiques", Trident, Paris, 1987 (1989).

18. Mons. Henri DELASSUS (1836-1921), ordenado Sacerdote em 1862, exerceu o ministério em Lille onde, desde 1874, foi proprietário, director e principal redactor da Semana religiosa da Diocese de Cambrai que, com a criação da Diocese de Lille tomou o nome de Semana religiosa da Diocese de Lille e "fez dele um dos baluartes da luta contra o liberalismo, o modernismo e todas as formas de conspiração mundial anticristã" (E. POULAT, "Intégrisme et Catholicisme intégral", Casterman, Tournai, 1969, pp. 258-259). Fez parte do Sodalitium Pianum e São Pio X elevou-o a Prelado Doméstico em 1904, a Protonotário Apostólico em 1911 e ao cargo de decano do capítulo da Catedral de Lille em 1914, reconhecendo, por ocasião do seu jubileu sacerdotal, o zelo com que defendeu a doutrina católica ("Actes de Pie X", Maison de la Bonne Presse, Paris, 1936, t. VII, p. 238). As suas principais obras são "Il problema dell' ora presente", cit., depois refundido em "La conjuration antichrétienne: le temple maçonnique voulant s'élever sur les ruines de l'Église catholique" (Desclée, Paris, 1910, 3 vol., com uma carta de prefácio do Cardeal Rafael Merry del Val).

19. Dom Jean Martial BESSE, "L' Eglise et ses libertés", Nouvelle Librairie Nationale, Paris, 1913, p. 53.

20. Cfr. Pieter VIERECK, "Conservatism", in EB, vol. 27 (1986), pp. 476-484; id., "Conservatism from John Adams to Churchill", Greenwood Press, Westport, 1978; John WEISS, "Conservatism in Europe, 1770-1945", Thames and Hudson, Londres, 1977; Russel KIRK, "The conservative mind: from Burke to Eliot", Regnery Gateway, Washington D.C., 1986 (1953).

21. O nascimento oficial do conservadorismo internacional remonta à publicação da obra de Edmund BURKE (1729-1797), "Reflections on the Revolution in France" em 1790. Sobre Burke a literatura é vastíssima. Limitamo-nos a assinalar as obras de Alfred COBBAN, "E. Burke and the Revolt against the Eighteenth Century", Allen and Unwin, Londres, 1978 (reimpressão da edição de 1929), e "The Debate on the French Revolution (1789-1800)", Adam and Charles Black, Londres, 1960, 2ª ed., e recentemente Crawford B. MACPHERSON, "Burke", Oxford University Press, Nova York, 1980; Michael FREEMAN, "Edmund Burke and the critique of political radicalism", Basil Blackwell, Oxford, 1980.

22. Sobre Louis VEUILLOT (1813-1883), cfr. nota 41 do cap. II, e entre as obras, "L'illusion libérale" in "Oeuvres", cit., vol. 10, pp. 315-361.

23. Santo António Maria CLARET (1807-1870). Fundador da Congregação dos Missionários Filhos do Coração Imaculado de Maria, Arcebispo de Santiago de Cuba (1849-1857), confessor da Rainha Isabel II em Madrid, depois um dos protagonistas do Concílio Vaticano I, no qual defendeu a infalibilidade pontifícia. Foi beatificado por Pio XI em 1934 e canonizado por Pio XII em 7 de Maio de 1950. Cfr. "Escritos autobiográficos y espirituales", BAC, Madrid, 1959 e o verbete de Giuseppe Maria VINAS, in BSS, vol. II (1962), col. 205-210.

24. Sobre o Cardeal Henry Edward MANNING (1808-1892), cfr. David NEWSOME, "The convert cardinals: John Henry Newman and Henry Edward Manning", Murray, Londres, 1993.

25. Sobre o Padre oratoriano Frederick William Faber (1814-1863), cfr. Ronald CHAPMAN, "Father Faber", Burn and Oates, Londres, 1961.

26. Gabriel García Moreno (1821-1875), concluiu uma concordata com a Santa Sé durante o seu mandato presidencial (1863), considerada o modelo das concordatas católicas do século passado, e consagrou a República do Equador ao Sagrado Coração de Jesus (1873). "A sua existência foi uma contínua batalha contra as forças políticas adversas tendentes à descristianização e por isso foi objecto de ódio profundo por parte dos inimigos que o fizeram assassinar à entrada da Catedral de Quito" (Silvio FURLANI, sub voce, in DTC, vol. V (1950), col. 1936). Cfr. também Alphonse BERTHE, C.SS.R., "Garcia Moreno. Président de l' Equateur, vengeur et martyre du droit chrétien", Téqui, Paris, 1926, 2 vols.» Roberto de Mattei

Francisco Cabral de Moncada

GOSTO DISTO:

Duas belas fotografias, retratanto banhistas na praia do Terreiro do Paço. Parece mentira, mas é verdade! E é bom. Lisboa é mágica: com Sol, miúdas giras, Tejo e tudo!

NO DOCE CALOR DA NOITE ESCURA

Claudia Schiffer fotografada a cores por Helmut Newton.

UM BLOGUE COM ARTE:

terça-feira, 19 de julho de 2011

UM BOM EXEMPLO DE SAUDADES DO FUTURO

A Usura vai ser derrotada pela Cultura.

Nota: Mas vamos ter de dar o litro.

UM BLOGUE COM ESTILO:

segunda-feira, 18 de julho de 2011

EXPRESSO DO OCIDENTE

Quinta-feira, 14 de Junho
Com chamada à capa, o i levanta uma questão pertinente: como é que Sócrates vai viver sem ordenado o seu ano de retiro parisiense? A coisa explica-se facilmente: em licença sem vencimento do sacrificado município da Covilhã - onde, não é excessivo recordá-lo, escreveu algumas das mais nobres páginas da arquitectura portuguesa -, sem qualquer outro ordenado, sem poupanças dignas de registo que permitam folgas deste género ou, a fazer fé (o que não é fácil, concedo) na prestação de informação pública a que estava obrigado, como será possível ao cavalheiro fazer vida de estudante rico na capital francesa? Terá uma bolsa de estudo? Viverá da mesada dos pais ou de algum boy mais generoso? Vai tocar ferrinhos no metropolitano? Pequenos biscates de tradução de textos de inglês técnico?... Seja qual for a milagrosa solução encontrada pelo engenheiro, importa saber (d)isto e nem se percebe porque não merece o tema maior atenção das gazetas. Perdoem-me os meus amigos mas sucede que, se já pagamos tanta aldrabice, ninguém levará por certo a mal que possamos ter alguma reserva quando estão em causa histórias que, de todo, não seriam possíveis de levar a cabo ao mais comum dos mortais.
Aparentemente pouco atento a estas eventuais despesas - e à despesa em geral, aliás… -, o novíssimo Ministro da Fazenda explicou ao país como é que, tecnicamente, se processará o esbulho do equivalente a 50% do subsídio de Natal. Indiferente ao método - já basta o objecto para que me irrite muito solenemente -, não lhe prestei grande atenção embora me tenha apercebido de que não explicou o tal "desvio colossal" ultimamente muito badalado. Explico eu: desvio colossal é o que se nota à vista desarmada entre as promessas eleitorais da maioria - atacar a despesa e não a receita, garantiam por feiras e mercados -, e aquilo que agora levam à prática uma vez abichado o pote. A não ser que, identificada a gordura do Estado, o ataque à despesa pública tão desfraldado durante os comícios se referisse às gravatas entretanto cortadas no ministério de Assunção Cristas.

Sexta-feira, 15 de Julho
Sem que se perceba muito bem o motivo, o país parece acordar horrorizado com as miseráveis médias dos exames nacionais do 12º ano. E mais ainda ao saber que à média negativa não escapava sequer a língua portuguesa, que para muitos chega até a merecer a condição de Pátria. Eu confesso não acompanhar nem o choque nem o espanto. Trinta anos de deseducação, estupidificação e facilitismo teriam inevitavelmente que dar os seus frutos - e são esses que agora se vertem nas pautas lineais. E tudo isto desconsiderando ainda os nefastos efeitos da introdução próxima do inenarrável Acordo Ortográfico. Muito a propósito, fique o leitor com umas poucas letras de génio alinhavadas pelo nosso Rodrigo Emílio neste Piparote Final - "Glosa d'uma sátira de João de Deus para a hora actual":

mil e tantos dias, simplesmente,
Que este sistema nos governa, e vêde
Comércio, indústria, tudo florescente!
Os caminhos-de-ferro é uma rede.
E quanto a instrução, toda esta gente
Faz riscos de carvão uma parede.

Sábado, 16 de Julho
Toca a todos: depois dos nossos estimados governantes terem corrido mundo e meio assegurando aos deuses que "Portugal não é a Grécia", chegou agora a vez de outros igualmente delicados declararem solenemente que "nós não somos a Grécia ou Portugal". Mais um murro no estômago de Passos Coelho, talvez dois se pensarmos que a frase assassina vem de Obama, um mentiroso relapso e contumaz mas que ainda há pouco era, para esta gente, uma espécie de farol de todas as luzes e do desenvolvimento da humanidade - isto ao tempo em que os lorpas ainda acreditavam que o homem fechava Guantanamo, ajoelhava à estranhíssima soberania do Tribunal Penal Internacional, proclamava a paz nos cinco continentes e mais o diabo a sete. Pois bem, Obama não quer ser como os seus frenéticos apoiantes lusitanos - o que constitui uma curiosa ironia e não me deixa sem um pequeno sorriso. A ponto de fazer questão de lhe dar razão: com efeito, Portugal não é como os Estados Unidos. Nove séculos de uma História como a nossa não o permitem, mesmo com muito boa vontade. E apesar de carecer de procuração, estimo que os nossos companheiros gregos também não alinhem nisso; só a herança magistral de um Aristóteles não autoriza esse tipo de confianças.

Pedro Guedes da Silva

SOM BEM BOM

BOM SOM

domingo, 17 de julho de 2011

SOM BOM

sábado, 16 de julho de 2011

DO CÓMICO PRESIDENTE DA ANTIGA COLÓNIA INGLESA

Diz o cómico Presidente lá do sítio: «Não somos a Grécia nem Portugal», falando em nome dos Estados Unidos da América.
Pois não, faltam-lhes vários séculos de Civilização.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

QUANDO ME RETIRAR PARA A ILHA DESERTA, LEVAREI ESTA BANDA COMIGO

quinta-feira, 14 de julho de 2011

MINHA CONCLUSÃO AO FIM DE DOIS ANOS NO FACEBOOK

Nem tudo o que vem à rede é social.

LET'S ROCK!

Tivesse eu tempo (eufemismo que serve para dinheiro, idade e pachorra) e estaria batido, todos os três santos dias, num festival que eu cá sei. Possui um alinhamento de bandas feito mesmo ao meu gosto. Aproveito, bem a propósito, para confessar que se há coisas que me têm provocado uma forte sensação de alegria, nos últimos meses, uma delas é ver a juventude do meu país, depois de ter andado toda uma década (ou, até, duas...) entretida a ouvir e a produzir música inaceitável, viver agora um saudável regresso ao Rock (de onde, Graças a Deus, nunca saí). Não querendo deixar nenhum leitor meu na dúvida, fica aqui bem claro que o festival a que me referia é este: Super Bock Super Rock. O qual, além do tal imbatível elenco, que é o mais do que tudo, regista o delicioso subtítulo de Meco, Sol & Rock'n'Roll.

UMA MIÚDA QUE (QUASE) PODIA SER MINHA FILHA

Keira Knightley

quarta-feira, 13 de julho de 2011

SEM AGENDA




Portugal, hoje -- pelos Meandros da Anti-Cidade (Parte III)


Concluo hoje a apresentação, já iniciada nas duas passadas semanas (Parte I e Parte II), do livro Manual de Crimes Urbanísticos -- Exemplos Práticos Para Compreender os Negócios Insustentáveis da Especulação Imobiliária, do urbanista Luís Ferreira Rodrigues e com prefácio de Gonçalo Ribeiro Telles, recentemente editado pela Guerra & Paz, SA, com uma breve abordagem do seu capítulo mais desenvolvido, denominado Exemplos básicos e práticos da criminalidade urbanística.


Neste capítulo e ao longo dos vinte e seis títulos que o compõem, é-nos proposta uma viagem guiada pelo variado, acidentado e tantas vezes misterioso mundo da criminalidade urbanística em Portugal. Criminalidade esta, relembro, que segundo o autor pode em muitíssimas situações significar muito mais do que o simples desrespeito dos regulamentos e das leis: ela é aqui tomada no seu correcto e mais lato significado, ou seja, como devendo ser aferida tanto na sua dimensão jurídica como na sua dimensão técnica e ética, e de acordo com o estabelecimento de uma clara hierarquia de valores (ambientais, culturais, monetários).


Nesta obra, Luís Rodrigues opta por não mencionar casos concretos em lugares reais, para evitar, tal como refere, estar a... «promover a descriminação aleatória de casos»... ao sabor da sua vontade. Considera sim ser preferível...«explicar o modelo abstracto dos problemas, deixando ao espírito crítico do leitor a possibilidade de enquadrar esse modelo numa realidade concreta: a sua».


Dada a variedade e extensão da matéria tratada, julgo que a melhor maneira de "abrir o apetite" ao leitor, sem perigo excessivo de o enfastiar, será dar-lhe a lista dos títulos tratados. Seguidamente o faço, pois. Depois disso, e para terminar, transcreverei, na sua maior parte, o conteúdo de um desses títulos, em jeito de simples amostra.


-- Problemas crónicos do urbanismo
-- Esticar ou espalmar a cidade?
-- A invasão das vias
-- A febre da torre
-- Turismo, PIN & Companhia Ilimitada
-- Velhos esquemas, novos esquemas
-- Loteamentos, cedências e compensações
-- O insustentável peso dos fundos de investimento imobiliário
-- Relativismo na estética urbana?
-- SRU & negócios de reabilitação
-- Irracionalidade do crescimento urbano
-- A técnica do cavalo de Tróia
-- O patinho feio da arquitectura paisagista
-- «É a economia, estúpido!»
-- Trânsito: um drama urbano
-- Afastamentos entre edificações
-- O novelo técnico e burocrático do processo administrativo
-- O cadastro urbano negligenciado
-- O mundo académico e profissional dos fazedores de cidades
-- Centros comerciais ou comércio nos centros?
-- O silêncio dos inocentes
-- Entre o interesse público e o interesse privado
-- Servidões administrativas e restrições de utilidade pública
-- A sustentabilidade não começa no fim
-- O despesismo consentido e sem sentido
-- O ataque à memória e ao património

A sustentabilidade não começa no fim


«(...) mais importantes do que os acessórios são os fundamentos das coisas.

Não raras vezes, verificamos que o enaltecimento do acessório nos faz esquecer aquilo que deveria ser tido por fundamental. Isso pode ser verificado no tão propalado enaltecimento da «arquitectura sustentável» como panaceia para todos os problemas do urbanismo contemporâneo português (e mundial).


Aderindo ao conceito de «desenvolvimento sustentável» -- que entrou em voga após a publicação do Relatório Brundtland pelas Nações Unidas em 1987 -- também a arquitectura pretendeu tornar-se mais respeitável por integrar nos seus processos conceptuais uma componente -- supostamente -- ambientalista.


A especificidade da arquitectura dita sustentável privilegia assim os aspectos técnicos que visam minimizar as impactos ambientais, sociais e económicos negativos que possam eventualmente ser gerados por um edifício. Questões como a melhoria do desempenho energético, térmico e acústico, o aproveitamento eficiente de materiais de construção, a orientação do edifício ou a sua implantação, constituem premissas fundamentais a que o desenho arquitectónico sustentável não se pode esquivar.


Na realidade, «arquitectura sustentável», assim como «desenvolvimento sustentável» não são mais do que pleonasmos: uma arquitectura insustentável é mera edificação e desenvolvimento insustentável traduz-se em mero crescimento. Uma simples casa alentejana de taipa pode ser classificada de arquitectura sustentável (utiliza materiais de construção do local, possui paredes suficientemente espessas para proporcionar conforto ambiental interior, etc.) e, no entanto, existe como arquétipo há centenas de anos.


Nesse sentido, só se começou a privilegiar o conceito de arquitectura sustentável quando se tomou consciência de que muita da arquitectura moderna e contemporânea realizada não passava de mera edificação -- e, como tal, tinha sido projectada apenas a pensar na rentabilização imobiliária e na fotogenia estética sem demais preocupações ambientais, sociais ou económicas.


Pressionados por directivas europeias e pelo aumento crescente do parque edificado (e dos impactos daí decorrentes), os decisores políticos e legisladores começaram a produzir abundante regulamentação tendo em vista a optimização da performance construtiva; surgiram assim documentos como o Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios, Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização em Edifícios, Sistema de Certificação Energética, Normas Técnicas sobre Acessibilidades, Requisitos Acústicos dos Edifícios, etc.


Tudo isto é muito bom mas faz lembrar o homem que comeu demais e que procura atenuar a sensação de mal-estar com o máximo de pastilhas para a azia. Na realidade, a verdadeira sustentabilidade dispensa qualquer tipo de gadgets ou adereços supostamente sustentáveis porque essa dispensa é sinal de que a sustentabilidade existe à priori, ou seja, se um edifício não precisa de aquecimento central, isso significa que a construção é boa em si mesma e tem boa orientação solar, podendo dispensar esse aquecimento; se um edifício não precisa de gastar energia (solar ou outra) a manter caves de estacionamento secas com sistemas de drenagem, isso significa que a sua implantação em terrenos apropriados é boa em si mesma; se não precisa de câmaras de vigilância, isso significa que se situa num bairro seguro; se não precisa de estrutura reforçada, isso significa que não se situa numa zona sísmica ou arenosa; se não precisa de instalar sistemas de insonorização, isso significa que fica localizado numa zona calma e silenciosa, etc. Pensa-se muitas vezes que é toda uma parafernália de apetrechos e tecnologia o indicador inequívoco de sustentabilidade, quando é precisamente o contrário que se passa (figura acima).


Consideramos desejável que cada vez mais os edifícios tenham colectores solares, sistemas de recolha e reciclagem de lixo, formas de aproveitamento de águas da chuva, superfícies de revestimento vegetal, materiais de construção adequados, inovações tecnológicas que sirvam para o nosso conforto, etc. No entanto, não se deve esquecer que essas soluções a jusante devem funcionar num contexto urbano igualmente sustentável, e não como forma de atenuar (ou escamotear) problemas preexistentes de planeamento, que se encontram a montante.


Veja-se, a título de exemplo, algumas das recomendações que deveriam ser aplicadas a montante e que se encontram contidas no Manual para a Elaboração, Revisão e Análise de Planos Municipais de Ordenamento do Território (PMOT) na vertente da Protecção Civil, realizado pela Autoridade Nacional de Protecção Civil (1):


"(...) 7. A construção de estruturas, nomeadamente de edifícios de habitação, em zonas constituídas por solos susceptíveis de amplificar o sinal sísmico ou à liquefacção, deve ser restringida, ou seguir as metodologias construtivas necessárias para evitar o seu colapso.


(...) 13. Nas zonas susceptíveis de tsunamis deve ser restringida, em sede de PDM, a construção de hospitais, escolas e edifícios de grande concentração populacional ou com importância na gestão da emergência, bem como de eixos rodoviários ou ferroviários principais.


(...) 22. Devem ser identificadas cartograficamente nos PMOT as zonas sujeitas a cheias e para estas zonas deve ser proibida a construção ou reconstrução de hospitais, escolas, edifícios com importância na gestão da emergência, edifícios de habitação, edifícios de grande concentração populacional, de indústrias perigosas classificadas segundo a legislação em vigor, de eixos rodoviários ou ferroviários principais, centrais eléctricas e outras estruturas que ponham em perigo pessoas, bens e ambiente.


(...) 28. nas zonas do litoral vulneráveis à erosão é proibida a construção, devendo estas áreas ser destinadas a espaços abertos vocacionados para actividades de recreio e lazer podendo incluir eventuais estruturas ligeiras de apoio. (...)"


Antes de avaliar a sustentabilidade dos nossos edifícios, é de fundamental importância que a avaliemos nos planos que possibilitam a sua implantação. Raramente se ouve falar de «planos municipais sustentáveis» (2), pois, como facilmente se depreende, os planos não vendem, enquanto os edifícios sim (3).


Não basta que instalemos uns quantos gadgets nos edifícios para que isso nos iluda: somos consumidores e poluidores cada vez mais insaciáveis e intensivos. A melhor forma de lidar com esse facto não passa apenas por arranjar novas formas de produção energética ou métodos de reciclagem mas -- ainda que tal possa não nos agradar -- mudar alguns paradigmas de consumo e estilo de vida. Por consequência, estamos também obrigados a mudar alguns paradigmas de desenho urbano e arquitectónico; se não o fizermos, e ainda que não o saibamos, podemos estar inconscientemente a cometer crimes urbanísticos sob a capa do progresso.» Luís F. Rodrigues




(2) Reconheça-se, porém, o mérito de alguns municípios que têm realizado planos municipais de ambiente. Que a transposição dos seus resultados para os PMOT seja uma miragem, isso já será outra história.


(3) Quantas vezes não terá servido o epíteto «sustentável» de engodo publicitário para promover empreendimentos imobiliários claramente insustentáveis?

Francisco Cabral de Moncada