sábado, 30 de junho de 2012
sexta-feira, 29 de junho de 2012
CARTEIRA DE SENHORA
DIA 22
Com o começo do
Verão, temo que esteja aberta a silly
season também na crónica da carteira. É esse o seu mais ardente desejo, a
férrea vontade em ficar ao nível dos melhores exemplos jornalísticos, não se
tendo ainda apercebido, a coitada, que também ela é silly season o ano inteiro…
Exigiu que lhe
explicasse o que teria de fazer durante estes tempos de canícula para ficar nos
tops de audiências de crónicas em
blogues nacionais, pensou melhor, corrigiu para europeus e logo em seguida para
mundiais, ainda abriu a boca a delinear o “u” de universais, mas lembrou-se a tempo
que desejar a Via Láctea poderia soar um pouco a megalomania.
Como exemplos da silly season da mais alta qualidade,
referi-lhe os célebres questionários de Verão a “personalidades de alto
gabarito” (algumas estranhamente desconhecidas mas com certeza é falha nossa)
com as perguntas mais estapafúrdias deste mundo e do outro. Aliás, a
“estapafurdice” tem sido o grau de medida do brilhantismo desses questionários.
Pelos vistos a quantidade de perguntas estapafúrdias roça o infinito e ainda
não esgotaram o stock. Olhados pela intelligentsia com desprezo e troça, é
um facto que estes questionários têm resistido ao longo dos anos. Chego a
pensar que é cadeira de Curso com estágio obrigatório.
Sem contar com a
imprensa especializada, que faz do género a sua sobrevivência, é no desporto
que é utilizada abundantemente, mais do que em qualquer outra secção noticiosa.
A falta de notícias é o maior factor de incremento de transferências
verdadeiramente bombásticas de jogadores e treinadores.
Outro exemplo, mais
refinado e utilizado pelas melhores famílias jornalísticas, seria a
não-notícia, que permite que haja silly
season nos doze meses, sem parecer que o é. Dá muito jeito em tempos de
grande austeridade ou vida política conturbada, com tamanho de letra garrafal em
contraste com as pequenas letras atribuídas à descoberta de um caso de
corrupção.
Há ainda a silly season puramente política. A que é
praticada com afinco também todo o ano, quando se finca o pé no acessório para
que ninguém repare no essencial. Pode ser nacional e ainda europeia, com uma
classe de eurocratas altamente especializados na matéria.
Demonstrei assim à
exaustão à dona deste cantinho que já não há estação morta em que se lêem
notícias tolas. Não há uma estação pateta a quem foi dado o exclusivo. Todas
são tolas, e patetas somos nós, quando ainda lemos e nos deixamos levar.
Leonor Martins de
Carvalho
quinta-feira, 28 de junho de 2012
quarta-feira, 27 de junho de 2012
terça-feira, 26 de junho de 2012
domingo, 24 de junho de 2012
24 DE JUNHO, VERDADEIRO DIA DE PORTUGAL
2 A. C. — Nascimento de São João Baptista.
1128 — Batalha de São Mamede, Fundação de Portugal.
1360 — Nascimento de Dom Nuno Álvares Pereira / São Nuno de Santa Maria.
1128 — Batalha de São Mamede, Fundação de Portugal.
1360 — Nascimento de Dom Nuno Álvares Pereira / São Nuno de Santa Maria.
sábado, 23 de junho de 2012
sexta-feira, 22 de junho de 2012
CARTEIRA DE SENHORA
DIA 21
Com excepção do
futebol quando nos corre de feição, e ainda que já tenha finalmente chegado o
Verão, o ambiente está tão pesado, tão cinzento, que as palavras teimam em
moldar-se nessa cor e peso, indiferentes ao nosso querer.
A carteira fez várias
tentativas, mas cada tema parecia mais deprimente que o anterior e fui
recusando, para seu desespero, porque não parava de remexer as suas entranhas
em busca frenética de alternativas ao que me ia sendo sugerido.
Tarefa difícil,
tentar animar quando o mundo nos desanima. A tentação de cavalgar a onda é
muita. Todos temos razões infinitas para nos irmos abaixo, cada qual com sua
cor, e todas escuras, é certo, mas não pode ser. Nem que seja por momentos,
para termos a certeza de que ainda estamos acordados e vivos, que ainda somos,
que seremos, que sentimos, é preciso buscar as cores claras, desenhar sorrisos,
pintar sonhos, esculpir esperanças.
Nada. As palavras
calaram-se. Ou mimetizam o ambiente ou fazem greve. Problema grave, porque não
há quem me faça os serviços mínimos.
Convoco
assembleia-geral e tento chamá-las à razão. Isto não pode continuar. Sim, os
tempos são tristes. Mas tristezas não pagam dívidas e só por acaso ouvi dizer
que temos uma gigante por pagar, que ainda se vai transformar em gigantone.
A porta-voz das
palavras tenta retorquir do alto do seu poder argumentativo. Temos direito à
lamechice, à revolta, ao desespero!
Claro que sim!
Sempre. Ninguém nos cala. Mas a sobrevivência depende também de palavras
sonhadas, sorridas e vividas.
Acabámos num acordo
colectivo de trabalho. Pelo menos uma vez por mês, ajudam à animação e nas
sessões motivacionais, sem pagamento de horas extraordinárias.
À margem da lei
deixo-as cumprir todos os antigos feriados, porque sei que gostam de celebrar e
não afecta a produtividade. Apreciaram especialmente o 1º de Dezembro, sendo
como são, muito patrióticas.
Nada como dialogar.
Abençoadas palavras.
Leonor Martins de Carvalho
P.S. Um dia de folga porque Portugal ganhou aos checos, para que as palavras entrem no espírito da coisa.
quarta-feira, 20 de junho de 2012
terça-feira, 19 de junho de 2012
WEBSITE EM LINHA E EM DESENVOLVIMENTO
Convido os caríssimos leitores desta casa a visitarem o meu novíssimo website, construído e desenvolvido pela Oficina do Site.
Ei-lo:
Ei-lo:
segunda-feira, 18 de junho de 2012
BIBLIOGRAFIA PASSIVA (IMPRENSA)
Estou a compilar todos os textos escritos e publicados, por críticos e jornalistas, em revistas e jornais, sobre as minhas exibições de vídeo e exposições de fotografia, bem como entrevistas que dei. De seguida, terei de passá-los a limpo, com o objectivo de serem introduzidos no meu novíssimo site. Há trabalhos assim. Mas valem muito a pena.
BIBLIOGRAFIA PASSIVA (TEXTOS DE CATÁLOGOS)
Estou a compilar todos os textos escritos e publicados, por convidados meus, nos catálogos das minhas exibições de vídeo e exposições de fotografia. De seguida, terei de passá-los a limpo, com o objectivo de serem introduzidos no meu novíssimo site. Há trabalhos assim. Mas valem muito a pena.
BIBLIOGRAFIA ACTIVA (IMPRENSA)
Estou a compilar todos os textos que escrevi e publiquei, em revistas, sobre vídeo e fotografia. De seguida, terei de passá-los a limpo, com o objectivo de serem introduzidos no meu novíssimo site. Há trabalhos assim. Mas valem muito a pena.
domingo, 17 de junho de 2012
DO TEMPO VIRTUAL
Num blogue considera-se antiga uma coisa publicada há mais de um ano. Confesso que gosto disso, mas não me perguntem porquê.
sábado, 16 de junho de 2012
sexta-feira, 15 de junho de 2012
CARTEIRA DE SENHORA
DIA 20
Não dá para fugir ao
tema, esta semana. A carteira nem deu outra hipótese. Assim, futebol será…
Como declaração de
interesses para total transparência desta crónica, informo que sou benfiquista
de alma e coração (a carteira claro, é sportinguista ou portista consoante os
dias, só para ser do contra).
Os portugueses podiam
vibrar com qualquer outro desporto, até com o curling, mas sabe-se lá porquê, dizem que por influência lá das
Ilhas aliadas, escolheram o futebol. E o hóquei em patins. Os dois desportos
que mais alegrias nos têm dado, mesmo quando perdemos.
Ir ao estádio é um
ritual. Vão em grupos, de dois ou três até à vintena. Ou em casal de namorados
ainda frescos, porque lá mais para diante o rapaz retoma o grupo de origem. Ou
em família, normalmente pais e filhos rapazes, algo entre passagem de
testemunho e cerimónia iniciática.
Uns vão equipados dos
pés à cabeça e equipam assim os filhos e até os cães. Outros, geralmente os que
só arranjaram bilhete no meio de adeptos da equipa contrária, preocupam-se em
não levar mesmo nada que os atraiçoe.
Antes do jogo
verificam se não faltam cachecóis por comprar, porque o último pode ter sido
atirado todo embrulhado em direcção ao relvado com a fúria da humilhação de uma
goleada.
Segue-se a fatal
ronda pelas roulottes, para encher a
pança de desportista de bancada com as típicas bifanas que saciam os nervos e
as cervejolas que os arrasam.
Sentados nos seus
lugares, embalados pelas músicas guerreiras que tentam dar espírito de combate
medieval à coisa, começam a controlar primeiro a sua própria bancada e uma a
uma todas as outras. Actualmente, os espectáculos à americana das meninas ainda
lhes desperta alguma atenção, mas à medida que a hora se aproxima, a tensão vai
subindo e já não sabem onde pôr os dedos, as mãos, os braços. Os pés vão
marcando o famoso ritmo conhecido por nervoso miudinho.
A entrada dos
jogadores, a escolha de campo e a troca de estandartes são seguidas atentamente
como um ritual dentro de outro.
Mal o árbitro apita,
a excitação começa. Levantam-se quando já imaginam um golo na sequência de uma
jogada maravilhosa que ainda agora começou junto da grande área da sua equipa. Tapam
a vista aos que estão sentados atrás, obrigados a levantarem-se, provocando uma
reacção em cadeia.
Em oitenta e oito dos
noventa minutos de jogo, insultam com nomes perfeitamente apropriados árbitro,
adjuntos, jogadores e treinadores da equipa contrária mas também da própria, se
preciso for.
No ténis os
espectadores só viram o pescoço para verem as jogadas. No futebol, a ginástica
é mais completa. Abdominais e pernas: levantam-se e sentam-se, levantam-se e
sentam-se. Braços e dedos: esbracejam, batem palmas, fazem gestos feios.
Maxilares e cordas vocais (órgão mais utilizado): cantam, gritam, insultam.
No fim dos noventa
minutos, perdedores e ganhadores ainda têm adrenalina para a celebração ou para
a decepção.
A linguagem
futebolística pode parecer hermética aos apreciadores de floricultura, mas nada
que umas pequenas lições não resolvam. Para além do básico golo (não confundir
as balizas e saber que trocam na segunda parte), essencial é saber quando é
canto e não pontapé de baliza, quando houve fora de jogo, quando a falta é para
cartão amarelo ou encarnado, quando é penálti, quando é lançamento pela linha
lateral e qual a equipa que lança.
Se aprendeu isto,
pode ir assistir a um jogo e passa a ter o diploma de treinador de bancada,
mesmo que não saiba ainda muito bem os nomes das posições dos jogadores. Já não
passa vergonhas porque aplica os insultos nas alturas certas.
Este retrato
apressado aplica-se em parte aos jogos da selecção, embora a mística seja
diferente, como gostam de dizer os jornalistas da especialidade, os tais que
fazem rolar o esférico pelo relvado.
Alguns, poucos, vibram
mais pelo seu clube do que pela selecção, mas quando esta joga, há quem nem
goste de futebol e inexplicavelmente se ponha eufórico à frente do ecrã.
É das poucas coisas
que ainda une os portugueses, que os anima à volta do nome pátrio: jogos da
selecção portuguesa de futebol e de hóquei.
São jogos diferentes
porque que têm hinos e bandeiras nacionais, em que todos estão do mesmo lado,
sofrem e exultam pela mesma equipa. A deles, a nossa.
É vê-los a cantar o
hino de lágrima no olho e voz embargada, a gritar por Portugal a plenos
pulmões, a torcer pelos novos Magriços, os nossos rapazes, o nosso orgulho.
Prova que nos poderemos unir em volta da Nação noutras ocasiões.
Nestes tempos que só
nos trazem macambúzios vale a pena esquecer os males que temos e os que nos
esperam, por ciclos de noventa minutos em cada jogo da selecção.
Não é ópio. É espírito. É ânimo. É
acreditar. É querer.
“Eia avante, portugueses! Eia avante,
sem temer!”
Leonor Martins de Carvalho
domingo, 10 de junho de 2012
FOTOGRAFIA
João Marchante
1966, Lisboa, Portugal.
1966, Lisboa, Portugal.
EXPOSIÇÕES (SELECÇÃO)
Exposições Individuais:
1998 — Peixe Fora d'Água, Galeria da Sede Nacional da Associação dos Arquitectos Portugueses (actual Ordem dos Arquitectos), Lisboa.
1999 — Noite Americana, Átrio do Ministério das Finanças, Lisboa.
2000 — Vídeos Privados, Galeria Monumental, Lisboa.
2012 — Foto-Síntese, Sala do Veado, Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Lisboa.
1999 — Noite Americana, Átrio do Ministério das Finanças, Lisboa.
2000 — Vídeos Privados, Galeria Monumental, Lisboa.
2012 — Foto-Síntese, Sala do Veado, Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Lisboa.
Exposições Colectivas:
1997 — Projecto Azul, Galeria Por Amor À Arte, Porto.
2000 — Água, Terra, Fogo e Ar *, Monsaraz Museu Aberto, Monsaraz.
2004 — Exposição Colectiva de Fotografia, Baginski Contemporary Photography (actual Galeria Baginski), Lisboa.
2004 — 19 Sentidos Contemporâneos, Álvaro Roquette - Objectos de Arte - Antiguidades, Lisboa.
2007 — Reunião, Baginski, Galeria / Projectos (actual Galeria Baginski), Lisboa.
2000 — Água, Terra, Fogo e Ar *, Monsaraz Museu Aberto, Monsaraz.
2004 — Exposição Colectiva de Fotografia, Baginski Contemporary Photography (actual Galeria Baginski), Lisboa.
2004 — 19 Sentidos Contemporâneos, Álvaro Roquette - Objectos de Arte - Antiguidades, Lisboa.
2007 — Reunião, Baginski, Galeria / Projectos (actual Galeria Baginski), Lisboa.
Colecções:
Está representado em várias colecções públicas e privadas.
Nota: Todas as exposições indicadas são de fotografia, menos a assinalada com um asterisco (*), que é uma vídeo-instalação, com o referido título, exibida na bienal citada.
VÍDEO
João Marchante
1966, Lisboa, Portugal.
VIDEOGRAFIA (SELECÇÃO)
1966, Lisboa, Portugal.
VIDEOGRAFIA (SELECÇÃO)
1987 — No Reino das Minhocas.
1988 — Castelo.
1989 — Uma Paixão Diferente.
1989 — Zonas Intermédias.
1989 — Ela estava com Medo mas foi com eles e divertiu-se bastante.
1990 — Provocação.
1990 — O homem da outra História descobre o sótão da nossa História.
1990 — O Inquérito.
1993 — From Oporto with Love.
1995 — Casting.
1998 — Viagem através das Estrelas.
1999 — Terra.
1999 — Água.
1999 — Ar.
1999 — Fogo.
2000 — Sete (Re)acções (I)morais.
2000 — João Marchante — Vídeo — 1990/1999.
2002 — Voyeur.
2004 — Renascimento.
2007 — Let's Dance.
1988 — Castelo.
1989 — Uma Paixão Diferente.
1989 — Zonas Intermédias.
1989 — Ela estava com Medo mas foi com eles e divertiu-se bastante.
1990 — Provocação.
1990 — O homem da outra História descobre o sótão da nossa História.
1990 — O Inquérito.
1993 — From Oporto with Love.
1995 — Casting.
1998 — Viagem através das Estrelas.
1999 — Terra.
1999 — Água.
1999 — Ar.
1999 — Fogo.
2000 — Sete (Re)acções (I)morais.
2000 — João Marchante — Vídeo — 1990/1999.
2002 — Voyeur.
2004 — Renascimento.
2007 — Let's Dance.
Nota: Vídeos exibidos em Festivais, Mostras, Ciclos e Exposições.
sexta-feira, 8 de junho de 2012
CARTEIRA DE SENHORA
DIA 19
Hoje nem olhei para a
carteira. Quem manda sou eu, e já tinha tema escolhido. Por isso, vão
estranhar. É diferente (porventura para pior), mas se a senhora não mostra de
vez em quando que é dona da carteira, qualquer dia é a carteira a dona da
senhora.
O João Marchante,
dono e senhor deste paço/blogue, fez uma exposição de trabalho seu. Fotografia.
Nem sonhem que vou aqui fazer uma crítica ao trabalho. Não sei. Muito menos a carteira.
Sabemos que gostámos, mesmo que pareça suspeito.
Uma série de
fotografias gigantes de uma adolescente em vários ambientes/cenários posando
(mesmo!) em actividades do dia-a-dia que aparentemente seriam normais, mas onde
o João pôs sempre elementos contraditórios com a adolescência (que é também a
altura das contradições, nem criança, nem adulto) ou com a actualidade. Uma
menina em actividades que podiam ser as suas mas com elementos de adulto ou de
outra época. Retratos/janelas que representam a própria adolescência, a fase da
terra-de-ninguém. Foi o que vi e “li”. Outros terão visto e “lido” outra coisa
qualquer, mas é assim mesmo, a arte. São os nossos sentidos que lhe dão forma.
Disse ao João que
iria escrever sobre o ambiente. O que é que me passou pela cabeça? Vou
confessar-vos uma coisa: esta “artista” convidada não conhecia pessoalmente o
dono deste castelo. Só pode ter sido o nervosismo que me fez dizer aquilo.
E agora? É
quinta-feira, último dia de Corpo de Deus como feriado, são 19 horas e 36
minutos e não sei. Entretanto, 21 horas e 8 minutos, e na mesma.
O espaço escolhido
foi uma sala do Museu de História Natural e tanto o edifício como os que o
rodeiam proporcionam um ambiente único, muito séc. XIX, que contrasta bem com o
contemporâneo. Os ingredientes que fazem com que o bolo tenha a cereja no topo
estavam lá todos e eram de boa qualidade: a comida, a bebida, a música… Bastou
juntar a cobertura de chocolate, as pessoas, e claro que só podia correr bem.
Acabei de imitar uma
revista cor-de-rosa.
Não sou nada perita
em vernissages, fui a muito poucas na
vida. Não quer dizer que não possa fazer as minhas habituais generalizações com
o desplante a que já se habituaram. Por isso, vou passar a vias de facto, e
dissertar não sobre esta em particular, mas como é costume, sobre todas as
outras.
Primeiro a família do
artista. Vem sempre. É o apoio seguro, incondicional. Depois os amigos, o outro
pilar. São estes a principal animação. Apoio incondicional não quer dizer
aplauso. Os pilares estão tão seguros que se permitem dizer mal se for preciso.
Não caem.
Fora destes dois
círculos há toda uma série de pessoas que vão às vernissages. Dos conhecidos aos desconhecidos, dos críticos aos
curiosos. Os discretos e tímidos não vão à inauguração. Vão depois.
Entre os que gostam
de ir ao primeiro dia do resto da vida de uma exposição, encontram-se várias
espécies, famílias ou géneros. Os que entram para sair logo. Os que ficam até
serem expulsos. Os que vão pela comida. Os que vão pela bebida. Os que não
percebem nada (como eu) e se armam em críticos. Os que percebem imenso e logo
ali utilizam aquela linguagem hermética que lhes é particular e que não ajuda
nada os que não percebem. Os espontâneos. Os que pensam que estão na praia. Os
que se vestem à artista. Os que adoram o social. Os solitários.
Voltando à
inauguração da exposição do João Marchante, nem sei se lá estavam todos estes
ou só alguns. Sei que o João estava resplandecente, cirandando por todo o lado,
feliz da vida. Parabéns, João!
Ninguém me mandou ir
de saltos altos. Manias.
Leonor Martins de
Carvalho
quinta-feira, 7 de junho de 2012
sexta-feira, 1 de junho de 2012
CARTEIRA DE SENHORA
DIA 18
Tenho
de apresentar queixa no tribunal internacional dos direitos dos cronistas. A
carteira anda nitidamente a querer brincar. O destino? Querem substantivo mais
debatido em Portugal? Quantas teses de mestrado e quiçá de doutoramento…
Posso sempre dar a
volta e enganar a danada. Que tal destinos turísticos? Aposto que não voltava a
fazer a mesma brincadeira.
Temos vários destinos
ou um só? Podemos escolher por um cardápio? Existe catálogo on-line? Há saldos em épocas
pré-definidas?
Nascemos a ouvir o
sussurrar constante de tradições que nos dizem ser o destino alma gémea da
fatalidade, da sina e do fado. A tradição oblige
e conformados nos querem.
Sem velas e à deriva,
sem rumo e sem destino, parece Portugal vaguear, ultimamente. Como se fosse
nosso destino a ausência de destino. Não. Não é isso. Enganaram-nos. Deram-nos
mapas que não são os nossos, e deixámos que outros traçassem rotas que
desconhecemos. As nossas levavam a bom porto, estas são as que nos fazem
encalhar, deixando-nos sem saída.
Vendemos o nosso
destino sem apelo nem agravo. Teremos de o recuperar, nem que seja em leilão
por telefonema anónimo.
O mar sempre foi o
nosso destino, como o foi dar novos
mundos ao mundo.
Se o destino está
traçado, como dizem os fados, troquemos-lhe as voltas. Um simples lápis e um
compasso traçarão novas rotas, por cima das que o mapa teima agora em mostrar.
Serão muito nossas. E se nos enganarmos, fomos nós. Com os nossos erros podemos
bem.
Afinal que nos falta?
Para cumprir o destino e chegar a bom porto, basta uma rosa-dos-ventos na carta
de marear, um rumo, uma bússola e um astrolábio. Caravela e marinheiros já
temos. Claro que a caravela precisa ainda de ser calafetada e as velas latinas
de serem remendadas, mas os marinheiros são de boa qualidade e experientes em
condições extremas. O senão têm sido os pilotos. São pilotos de água doce, não
sabem navegar em alto mar. Venha com urgência um curso de reciclagem, lembrando
experiências de antanho. Venha um Capitão-Mor do Mar, herdeiro da sabedoria dos
capitães de outrora que motive pilotos, marinheiros e grumetes.
Se como exortava o
poeta falta cumprir Portugal, é esse
o nosso destino. É rota e fatalidade. Que esperamos?
Várias vezes tomámos
o destino nas nossas mãos. Escolhemos um rumo e abraçámo-lo. Foi assim em 1385.
Foi assim nos Descobrimentos. Foi assim em 1640.
Busquemos outros
mundos. Navegar é preciso!