segunda-feira, 30 de setembro de 2013
José Custódio de Sá e Faria, engenheiro militar português, teve uma larga e importante trajectória nos territórios que hoje constituem o Brasil, a Argentina e o Uruguai. Enviado à América na sequência do Tratado de Madrid (1750), iniciou as suas tarefas como membro da Comissão Demarcadora que assentaria os limites entre as possessões ultramarinas dos reinos de Portugal e Espanha.
Um extraordinário preparo técnico e um grande talento para o desenho cartográfico levaram Gomes Freire de Andrade a nomear Sá e Faria como primeiro comissário da Terceira Partida Demarcadora (o estudo cartográfico da zona compreendida entre os rios Paraná e Paraguai, o plano da Colónia de Sacramento e o mapeamento do Salto Grande do Paraná são tarefas que o engenheiro luso realiza no período 1753-54).
O quase permanente estado de guerra entre as duas coroas ibéricas pela hegemonia na região leva Sá e Faria a abandonar o esquadro em favor da espada em inúmeras ocasiões, principalmente durante a conquista e ocupação da extensa região de São Pedro do Rio Grande (actual Rio Grande do Sul, Brasil) pelos exércitos espanhóis e as subsequentes tentativas de liberação. Após uma tentativa falhada de reconquista do Rio Grande Sá e Faria deu seguimento aos trabalhos de engenharia no Forte de Nossa Senhora de Igatimí, na fronteira com o Paraguai, e em várias obras de carácter militar no Rio de Janeiro, para onde havia sido convocado pelo Conde de Azambuja.
Em 1777 a Espanha ocupa a ilha de Santa Catarina. José Custódio de Sá e Faria, enviado à pressa para comandar a defesa da fortificação, é derrotado pelas forças organizadas pelo Vice-Rei do Rio da Prata, Pedro de Ceballos. Confrontado com a possibilidade de ser executado por ordem do Marquês de Pombal - o todo-poderoso ministro de D. José I determinara que assim fossem tratados os oficiais portugueses que se rendessem -, Sá e Faria resolve desertar e oferecer seus serviços à Coroa d'Espanha, com a ressalva de que jamais actuaria contra o Reino de Portugal.
Com os bens confiscados e vendidos em hasta pública o engenheiro militar inicia vida nova radicado em Buenos Aires e, em pouco tempo, torna-se o arquitecto mais importante da região. Paralelamente aos trabalhos cartográficos, Sá e Faria realiza uma verdadeira reurbanização da capital vice-reinal, assim como de Montevidéu, da Colónia do Sacramento, de Maldonado, etc.
Rapidamente designado director de obras públicas da cidade, a actividade de Sá e Faria foi febril: da correcção de deficiências urbanísticas e edilícias à construção (então grande novidade) de "casas redituantes" (prédios para arrendamento); da pavimentação de ruas e estudos sobre reservas minerais ao estabelecimento de aldeias na região patagónica; da construção de portos e docas à de igrejas e catedrais.
Em 1791, cansado e doente, Sá e Faria solicita a aposentação e retira-se para Luján, onde vem a falecer em 1792, após quinze anos de intenso trabalho no Rio da Prata. Está enterrado no Convento de Santo Domingo em Buenos Aires.
Algumas das obras de José Custódio de Sá e Faria que importa referir:
No Brasil:
Fortificações várias no Rio de Janeiro (1769); Forte de Nossa Senhora dos Prazeres de Igatimí (1774); fortificações da ilha de Santa Catarina (1763-1777); Igreja de Nossa Senhora da Conceição (Viamonte, 1763); Igreja da Nossa Senhora do Bom Jesus (Triunfo, 1765); paróquia de São José de Taquarí (1765); Igreja da Santa Cruz dos Militares (1a construcção: 1623); Igreja de São Bento (São Paulo); etc.
No Rio da Prata:
Construção de prédio para a primeira gráfica em Buenos Aires (equipamento trazido de Córdoba); "casas redituantes", incl. as pertencentes à Universidade de Buenos Aires; várias obras na "Manzana de las Luces"; "Casa de Comedias" e edifício "Capitular"; Catedral de Buenos Aires (reconstrucção já iniciada por outro português: o mestre de obras Manuel Álvares da Rocha); a "Real Renta de Tabacos"; o Noviciado do Convento de São Francisco; o Armazém e Quartel do Retiro; a Praça de Touros de Montserrat; várias pontes e caminhos (Barracas, São Isidro, etc.); a Catedral de Montevidéu (Uruguai); o templo da vila de Guadalupe (Canelones, Uruguai); a Igreja Matriz de Maldonado (Uruguai); etc.
Até para a semana, se Deus quiser.
Marcos Pinho de Escobar
sábado, 28 de setembro de 2013
DO FACEBOOK (9)*
A abertura a «todo o mundo», o imediatismo, a superficialidade, a ligeireza de trato, a falta de tacto, o deficiente tratamento da Língua Portuguesa (e das outras), o tratamento igualitário do que é diferente (sim, das diferentes Pessoas), a poluição visual (e sonora, já agora), o assédio comercial, o arrivismo social, e etc. e tal, tornam a famosa rede social insuportável para alguém que tenha uma estética e uma ética.
* Alerto os meus caros novos leitores para o facto de ser esta uma série que tenho vindo a dedicar à observação e análise da famosa rede social. Enfim, um fartote!
* Alerto os meus caros novos leitores para o facto de ser esta uma série que tenho vindo a dedicar à observação e análise da famosa rede social. Enfim, um fartote!
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
CARTEIRA DE SENHORA
DIA 86
Não prometo pois não sou política, mas esta poderá vir a ser uma crónica a dois tempos. O antes e o depois de um evento. Não sei se a carteira vai comigo, mas levo a cesta, que é outra das minhas fiéis companheiras.
O evento de que falo é uma sessão em memória de José Hipólito Raposo, meu avô, a propósito dos sessenta anos da sua morte e antecedendo também os cem anos do Integralismo Lusitano.
Embora nenhum dos dezasseis netos o tenha conhecido pessoalmente (a mais velha tinha nascido há pouco tempo quando morreu) a família soube - e de que maneira! -preservar a sua memória. Crescemos todos a ter-lhe respeito e a honrá-lo, sempre com um orgulho imenso. Conhecemos algumas das histórias, o seu percurso difícil, o seu humor especial e mesmo sem os conhecermos, os seus companheiros políticos sempre foram nossos tios. Tal como são família, os seus descendentes.
Só temos de agradecer aos nossos pais e tios (João, José, Teresa, Isabel, António e Francisco) essa capacidade, esse dom de manter viva a herança. Alguns netos nem sequer leram livros de Hipólito Raposo, nem conhecem bem a sua doutrina, mas a sua memória ficou impressa de forma indelével. Saber honrar essa doação e conseguir passá-la aos nossos filhos, é agora a nossa missão.
Lembro-me de quando era pequena a mãe dizer que o avô tinha sido escritor. Um avô escritor! Logo aquilo que eu achava mais importante na vida… Quanta honra! Ingénua, todos os anos ia directa ao índice dos livros ou selectas literárias que usávamos para a disciplina de Português e procurava textos do tal avô escritor. E todos os anos sofria a mesma decepção. Não compreendia. Acabei por me resignar e penso que nem cheguei a perguntar porquê.
Cheguei perto da sua doutrina por instinto, ou estava inscrita nos genes, não sei. Era mesmo esquisito. Então as opiniões que, altaneira, convictamente pensava serem só minhas, eram afinal as do avô ou muito próximas? Passou-me logo o convencimento.
Espero que a sessão lhe faça justiça e que possa dar a conhecer a mais pessoas o seu pensamento e a sua vida.
Com a presença de descendentes dos seus melhores amigos, desde Almeida Braga e Monsaraz a Cabral de Moncada e Pinto de Mesquita, com assistência interessada e oradores entusiastas, fez-se justiça. Ao pensador, ao político, ao escritor, ao Homem.
Um vencido que para nós é eterno vencedor. Nas nossas almas. E guardamos ainda a esperança.
Leonor Martins de Carvalho
Não prometo pois não sou política, mas esta poderá vir a ser uma crónica a dois tempos. O antes e o depois de um evento. Não sei se a carteira vai comigo, mas levo a cesta, que é outra das minhas fiéis companheiras.
O evento de que falo é uma sessão em memória de José Hipólito Raposo, meu avô, a propósito dos sessenta anos da sua morte e antecedendo também os cem anos do Integralismo Lusitano.
Embora nenhum dos dezasseis netos o tenha conhecido pessoalmente (a mais velha tinha nascido há pouco tempo quando morreu) a família soube - e de que maneira! -preservar a sua memória. Crescemos todos a ter-lhe respeito e a honrá-lo, sempre com um orgulho imenso. Conhecemos algumas das histórias, o seu percurso difícil, o seu humor especial e mesmo sem os conhecermos, os seus companheiros políticos sempre foram nossos tios. Tal como são família, os seus descendentes.
Só temos de agradecer aos nossos pais e tios (João, José, Teresa, Isabel, António e Francisco) essa capacidade, esse dom de manter viva a herança. Alguns netos nem sequer leram livros de Hipólito Raposo, nem conhecem bem a sua doutrina, mas a sua memória ficou impressa de forma indelével. Saber honrar essa doação e conseguir passá-la aos nossos filhos, é agora a nossa missão.
Lembro-me de quando era pequena a mãe dizer que o avô tinha sido escritor. Um avô escritor! Logo aquilo que eu achava mais importante na vida… Quanta honra! Ingénua, todos os anos ia directa ao índice dos livros ou selectas literárias que usávamos para a disciplina de Português e procurava textos do tal avô escritor. E todos os anos sofria a mesma decepção. Não compreendia. Acabei por me resignar e penso que nem cheguei a perguntar porquê.
Cheguei perto da sua doutrina por instinto, ou estava inscrita nos genes, não sei. Era mesmo esquisito. Então as opiniões que, altaneira, convictamente pensava serem só minhas, eram afinal as do avô ou muito próximas? Passou-me logo o convencimento.
Espero que a sessão lhe faça justiça e que possa dar a conhecer a mais pessoas o seu pensamento e a sua vida.
Com a presença de descendentes dos seus melhores amigos, desde Almeida Braga e Monsaraz a Cabral de Moncada e Pinto de Mesquita, com assistência interessada e oradores entusiastas, fez-se justiça. Ao pensador, ao político, ao escritor, ao Homem.
Um vencido que para nós é eterno vencedor. Nas nossas almas. E guardamos ainda a esperança.
Leonor Martins de Carvalho
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
SERÁ QUE AINDA HÁ UMA CULTURA LUSÍADA?
Se há coisa que me intriga, na blogosfera portuguesa, é a falta de comparência de gente nova. Gente nova, assim mesmo, sem mais, nem menos. O que quero com isto dizer é que me espanta a rede ser utilizada essencialmente por pessoas que já têm assento — muitas delas há décadas — nos meios de comunicação convencionais (também conhecidos por merdia), os quais, aliás, se limitam a debitar a cartilha do pensamento único e do politicamente correcto. Será que não existe mais ninguém, além dos mesmos de sempre, disposto a usar este espaço de liberdades, ainda para mais gratuito e acessível, num verdadeiro espírito cultural e em prol da alma nacional? Talvez não haja outros — além dos do costume — com alguma coisa para dizer... É que não basta saber escrever, ainda é preciso pensar. E não dá massa. Enfim, uma maçada.
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
A CAUSA DA COISA
A palavra blog resulta da contracção de web e log. Web é, por sua vez, a forma sintética de World Wide Web (WWW), que significa «Teia do Tamanho do Mundo» e se refere à teia constituída por computadores de todo o mundo ligados na Internet (Rede de redes electrónicas). Log é o registo escrito oficial de uma viagem — terrestre, marítima ou aérea — e tem como sinónimo «diário de bordo». Numa primeira fase temos weblog; mas, logo de seguida, encontraremos, simplesmente, blog. Blog será assim um «diário de bordo na teia» ou, melhor dizendo, em Português de Portugal, um blogue é um «diário na rede electrónica».
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
CADERNOS INTERATLÂNTICOS (35)
Foi com profunda tristeza que recebi hoje pela manhã a notícia do falecimento do Prof. António José de Brito. Em Novembro do ano passado ajustei uma deslocação devida ao Porto para poder estar com ele no dia dos seus oitenta e cinco anos. Um monumento de saber, uma lógica implacável, uma memória prodigiosa e, ao mesmo tempo, uma verticalidade tranquila e evoliana, que não cede um grama dos princípios e dos valores, de um homem da sua estatura: de pé entre as ruínas de um mundo virado do avesso e de uma Pátria que a traição tornou exígua e exangue. E tudo sem perder a simplicidade espartana, a ironia ácida, o bom humor que é a manifestação da saúde da alma. Com o seu desaparecimento físico o Portugal autêntico fica ainda mais mais pobre e mais órfão. Em jeito de homenagem ao grande Mestre da filosofia e do nacionalismo português, deixo aqui um pequeno relato que publiquei acerca do nosso primeiro encontro:
Dei um salto ao Porto para conhecer e conversar com um fascista de verdade. Digo "de verdade" pois o vocábulo, esvaziado do seu conteúdo original e habilmente manipulado, foi transformado no pior insulto, usado pela metade da humanidade para desqualificar e condenar - definitivamente e sem perdão - tudo e todos de que/quem não gosta - isto é, a outra metade da mesma humanidade. Sim, este real McCoy, este autêntico nacional-revolucionário, este genuíno totalitário neo-fascista é o Professor António José de Brito. Do encontro com este monstro sagrado do pensamento anti-democrático português dos últimos cinquenta anos, cumpre registar neste curto espaço os aspectos que mais me impressionaram. Não vou referir a inteligência superior, a lógica implacável, a monumentalidade do saber, a trajectória "politicamente incorrecta" e rectilínea ao longo de toda uma vida - tal seria, na expressão de Nelson Rodrigues, o óbvio ululante. Chamo a atenção para a simplicidade e a simpatia, dois rasgos que dificilmente são associados à imagem do catedrático de nomeada. E para a espantosa memória e agilidade de raciocínio de alguém que, aos oitenta e três anos, é capaz de reduzir a pó de pedra interlocutores com um terço da sua idade. Se é certo que há momentos na vida que deixam uma marca indelével, este foi, com toda certeza, um deles.
Até para a semana, se Deus quiser.
Marcos Pinho de Escobar
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
CARTEIRA DE SENHORA
DIA 85
Acabou-se a boa vida da carteira. Levantou-se a custo da espreguiçadeira, tirou com tristeza o chapéu e os óculos escuros e preparou-se com afinco para o trabalho árduo.
Já estamos quase todos de regresso. Desta vez um regresso com direito a aterragem em plena pré-campanha eleitoral para as autárquicas, seguida da campanha propriamente dita e é impossível não dar por isso.
Desde os inesperados melhoramentos proporcionados tanto pelos que vão sair (a pensar na estátua ou na lápide?) como pelos que querem prolongar a estada no pelouro, aos cartazes para todos os gostos (mais para o mau gosto, mas faz parte), a poluição visual e sonora não nos larga.
É escusado falar da pouca-vergonha que proporcionou a que actualmente é a mais célebre preposição portuguesa, as contradanças dignas de campeonato mundial de danças de salão. Até nem sou contra mandatos sucessivos ilimitados, desde que as pessoas em causa sejam eficientes e honestas. Bastava que as investigações das obscuridades e a justiça fossem céleres. E gente mais atenta às contas e aos negócios, que se preocupasse com a preservação do que é seu, sem ir na conversa do “moderno” ou do “progresso”. Atrás de cada uma destas palavras está um construtor, um promotor ou um banco, geralmente até em trio cantador com camartelo atrás das costas.
Com a extinção e agregação forçada de freguesias, que diminuiu o número daqueles Presidentes de Junta que eram quase voluntários, pretendeu-se tornar cada vez mais centralizada e assim, ainda mais partidária, a decisão que devia ser local, utilizando, é claro, a desculpa económica (no caso até falsa) para mais uma decisão política ao gosto dos partidos. Abriu-se o caminho para o aumento dos tachos quando havia ainda em muitos sítios o sentido do Serviço. Começou a jigajoga dos lugares.
Não gosto das troças que grassam nas redes sociais sobre os nomes, os cartazes e os slogans. Claro que sorrio com certas coincidências, os slogans pobrezinhos ou até ridículos, os retratos caricatos, mas depois penso que muitos dos que concorrem são pessoas de boa vontade e fazem o que podem com os meios que têm. E espero bem que tenham orgulho nos seus nomes e nos das suas terras por mais estapafúrdios que sejam. Carregam a História de Portugal.
Era nestas eleições que, em princípio, se votava mais nas pessoas do que nos partidos, mas até nos boletins se vê a falácia. Nada de fotografias dos candidatos. Só símbolos. Além disso, embora as candidaturas independentes sejam toleradas, têm a vida extremamente dificultada. Era bom que onde concorrem verdadeiros independentes, desde que pessoas idóneas (e sabe-se quem são), as pessoas votassem em massa. Seria uma bela lição.
Também era bom que não fosse assim, este triste espectáculo. O poder central em tentáculos estranguladores. Perderam-se as antigas liberdades.
Leonor Martins de Carvalho
Acabou-se a boa vida da carteira. Levantou-se a custo da espreguiçadeira, tirou com tristeza o chapéu e os óculos escuros e preparou-se com afinco para o trabalho árduo.
Já estamos quase todos de regresso. Desta vez um regresso com direito a aterragem em plena pré-campanha eleitoral para as autárquicas, seguida da campanha propriamente dita e é impossível não dar por isso.
Desde os inesperados melhoramentos proporcionados tanto pelos que vão sair (a pensar na estátua ou na lápide?) como pelos que querem prolongar a estada no pelouro, aos cartazes para todos os gostos (mais para o mau gosto, mas faz parte), a poluição visual e sonora não nos larga.
É escusado falar da pouca-vergonha que proporcionou a que actualmente é a mais célebre preposição portuguesa, as contradanças dignas de campeonato mundial de danças de salão. Até nem sou contra mandatos sucessivos ilimitados, desde que as pessoas em causa sejam eficientes e honestas. Bastava que as investigações das obscuridades e a justiça fossem céleres. E gente mais atenta às contas e aos negócios, que se preocupasse com a preservação do que é seu, sem ir na conversa do “moderno” ou do “progresso”. Atrás de cada uma destas palavras está um construtor, um promotor ou um banco, geralmente até em trio cantador com camartelo atrás das costas.
Com a extinção e agregação forçada de freguesias, que diminuiu o número daqueles Presidentes de Junta que eram quase voluntários, pretendeu-se tornar cada vez mais centralizada e assim, ainda mais partidária, a decisão que devia ser local, utilizando, é claro, a desculpa económica (no caso até falsa) para mais uma decisão política ao gosto dos partidos. Abriu-se o caminho para o aumento dos tachos quando havia ainda em muitos sítios o sentido do Serviço. Começou a jigajoga dos lugares.
Não gosto das troças que grassam nas redes sociais sobre os nomes, os cartazes e os slogans. Claro que sorrio com certas coincidências, os slogans pobrezinhos ou até ridículos, os retratos caricatos, mas depois penso que muitos dos que concorrem são pessoas de boa vontade e fazem o que podem com os meios que têm. E espero bem que tenham orgulho nos seus nomes e nos das suas terras por mais estapafúrdios que sejam. Carregam a História de Portugal.
Era nestas eleições que, em princípio, se votava mais nas pessoas do que nos partidos, mas até nos boletins se vê a falácia. Nada de fotografias dos candidatos. Só símbolos. Além disso, embora as candidaturas independentes sejam toleradas, têm a vida extremamente dificultada. Era bom que onde concorrem verdadeiros independentes, desde que pessoas idóneas (e sabe-se quem são), as pessoas votassem em massa. Seria uma bela lição.
Também era bom que não fosse assim, este triste espectáculo. O poder central em tentáculos estranguladores. Perderam-se as antigas liberdades.
Leonor Martins de Carvalho
terça-feira, 17 de setembro de 2013
DO PORTUGAL PROFUNDO
A campanha eleitoral para as autárquicas é provavelmente o momento colectivo em que a comunidade de destino comum que somos fica mais à mostra. Para o bem e para o mal. Há um pouco de tudo. E muito de nada.
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
CADERNOS INTERATLÂNTICOS (34)
Num 16 de Setembro, há cinquenta e oito anos, um golpe militar derrocava Juan Domingo Perón na metade do seu segundo mandato. Governava havia dois lustros e alterara a face da Argentina. Permanece uma personagem que incita amor incondicional ou ódio visceral: para a direita era de esquerda, um insuportável socialista; para a esquerda era de direita, um perigoso nazi-fascista. Para milhões de argentinos foi o “Gran Conductor”. Recebeu uma Argentina rica, tornada ainda mais rica com o fornecimento de carne e trigo aos beligerantes da II Guerra. Pretendeu transformar um país agrícola e livre-cambista em um país industrial, tendente à autarquia. Bateu forte na galinha dos ovos de ouro – os “estancieiros”, os grandes latifundiários produtores agro-pecuários e criadores da riqueza nacional. Com os recursos extraídos destes deu início a uma maciça industrialização, enquanto distribuía benefícios sem conta aos trabalhadores. Criou um sector sindical de vastíssimas proporções com um protagonismo político e económico sem igual. Instituiu um governo de forte autoridade – para muitos uma ditadura – com traços de culto à personalidade e que não permitia grandes espaços à oposição. Rejeitava simultaneamente o capitalismo e o comunismo, os imperialismos plutocrático e marxista. Apostava numa terceira via: a sua doutrina, o “justicialismo” – consubstanciada na "soberania política", na "independência económica" e na "justiça social". Um rígido e burocrático controlo económico criou vastas oportunidades para a corrupção. Muitos estão convencidos de que neste receituário encontram-se várias das razões que explicam o declínio daquele que chegou a ser, por alturas da Guerra de 1914-1918, um dos países mais ricos do planeta. No dia 16 de setembro de 1955 dispunha dos meios de força para manter-se no poder mas optou por não oferecer resistência (três meses antes outra rebelião militar havia deixado um saldo de mais de trezentos mortos na emblemática “Plaza de Mayo”). Viveu dezoito anos no exílio, treze dos quais na Madrid franquista. Enquanto na Argentina o governo militar procurava eliminar tudo o que recordasse o líder deposto, chegando mesmo a proibir que o seu nome fosse pronunciado ou escrito, Perón, desde o exílio, demonstrava sobejamente um poder e um carisma absolutamente extraordinários. Conseguiu negar tranquilidade a qualquer governo constituído contra Perón ou sem Perón. Obteve o reconhecimento de todas as facções ideológicas de que para chagar às massas o caminho obrigatório era Perón. Reuniu sob o seu mando forças antagónicas, da esquerda marxista à direita fascizante. Manipulou todos os grupos com extraordinária mestria, fazendo com que cada facção julgasse representar o autêntico pensamento do estadista exilado. Inabalável na estratégia, foi flexibilíssimo na táctica. Utilizou cada grupo para um fim específico, de acordo com determinado momento histórico ou janela de oportunidade. Por exemplo, incentivou as acções armadas de grupos clandestinos marxistas para pressionar os governos militares. Por fim logrou atingir o que almejava: regressou definitivamente à Argentina e foi eleito presidente pela terceira vez. Teve de enfrentar a rebeldia da organização terrorista “Montoneros”, a qual havia incentivado, mas que nas novas circunstâncias deveria ser desmobilizada e disciplinada. Para tanto diz-se que resolveu usar uma força igual mas de sinal contrário – um grupo armado da ala direita, fascizante. Foi a guerra intra-peronista. Morreu a 1 de Julho de 1974, nove meses após ter iniciado o seu terceiro mandato presidencial. A violência política prosseguiu na sua senda de horror e as vítimas do terrorismo e da guerrilha caíam diariamente. Agreguemos a isto a proverbial incompetência de sua terceira esposa e sucessora – sob a influência de um “bruxo” esotérico armado em conselheiro e ministro todo-poderoso – e uma forte crise económica. A população e os políticos clamavam pelo fim da bandalheira. As condições para a intervenção militar estavam dadas. E esta tem lugar a 24 de março de 1976.
Até para a semana.
Marcos Pinho de Escobar
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
CARTEIRA DE SENHORA
DIA 84
Não é a primeira vez que o dia da crónica ou a véspera coincidem com uma viagem de trabalho e os temas reflectiram isso mesmo. Esta é mais uma. Daí que a carteira não meta prego nem estopa na sua construção, porque o famoso jet lag afecta-a logo na ida, quanto mais na chegada. Que fique derrotada e de mau humor num canto qualquer.
A má gestão do pouco tempo disponível voltou a não permitir que apreciasse Estocolmo como merece e afectou também a crónica. Apenas apontamentos e notas dispersas sem qualquer fio condutor. Preparem-se então para mero alinhavo, bem torto porque agravado pela falta de jeito para a costura.
Muitos bebés suecos, logo no avião e presença constante na rua. Uma diferença flagrante em relação a Portugal.
As personagens de ficção científica mais estrambólicas são afinal pessoas reais, nada devem à imaginação. Percebi isso quando vi hoje uma Avatar. Só não era azul.
Nas casas de banho públicas, até no aeroporto, os lavatórios são sempre dentro dos locais destinados à retrete. Ou seja, a espera é sempre maior. Não descobri a razão lógica de tal disposição e não parece coisa de povo metódico.
É engraçado, nas horas de ponta, observarmos mais bichas de bicicletas do que de carros. E os afogueados do esforço, pedalando pela vida, são a prova viva de que também lá se chega atrasado…
Voltei a confirmar a crise de representação na Europa, mesmo em países onde este sistema está implantado há mais anos e sem as perversões muito nossas. Até me confessam o inimaginável para eles, a abstenção.
Quem esteve na Coreia do Sul diz-me que lá não se vêem livrarias. Todos lêem em aparelhos electrónicos. Este Mundo aproxima-se aterradoramente de uma mistura de argumentos de ficção científica, abarcando o 1984 e o Fahrenheit 451.
Também confirmei que, ninguém achando o presidente sírio boa peça, têm maior receio do que podem trazer os rebeldes, guerrilheiros bem armados, que muito têm perseguido os cristãos. Embora as notícias tentem disfarçar, todos sabem o que se tem passado com os cristãos no Iraque, no Irão, na Líbia, no Afeganistão, no Egipto e agora na Síria.
Podem não se ver muitas caixas multibanco, mas achei original existirem algumas em restaurantes ou bares.
Embora se veja arquitectura moderna, algumas vezes sóbria e bonita, podemos deliciar-nos com a preservação do património e até o aproveitamento de fábricas antigas para apartamentos.
Esplanadas e mais esplanadas. Os povos mais a norte sabem como ninguém aproveitar o ar livre até ao primeiro nevão.
Não me consigo concentrar no avião. Estes suecos são muito faladores. Ainda dizem mal dos espanhóis…
Agora, no metropolitano, estranhei a língua que alguns falavam. Acordei estremunhada. Português! Cheguei a casa.
Leonor Martins de Carvalho
Não é a primeira vez que o dia da crónica ou a véspera coincidem com uma viagem de trabalho e os temas reflectiram isso mesmo. Esta é mais uma. Daí que a carteira não meta prego nem estopa na sua construção, porque o famoso jet lag afecta-a logo na ida, quanto mais na chegada. Que fique derrotada e de mau humor num canto qualquer.
A má gestão do pouco tempo disponível voltou a não permitir que apreciasse Estocolmo como merece e afectou também a crónica. Apenas apontamentos e notas dispersas sem qualquer fio condutor. Preparem-se então para mero alinhavo, bem torto porque agravado pela falta de jeito para a costura.
Muitos bebés suecos, logo no avião e presença constante na rua. Uma diferença flagrante em relação a Portugal.
As personagens de ficção científica mais estrambólicas são afinal pessoas reais, nada devem à imaginação. Percebi isso quando vi hoje uma Avatar. Só não era azul.
Nas casas de banho públicas, até no aeroporto, os lavatórios são sempre dentro dos locais destinados à retrete. Ou seja, a espera é sempre maior. Não descobri a razão lógica de tal disposição e não parece coisa de povo metódico.
É engraçado, nas horas de ponta, observarmos mais bichas de bicicletas do que de carros. E os afogueados do esforço, pedalando pela vida, são a prova viva de que também lá se chega atrasado…
Voltei a confirmar a crise de representação na Europa, mesmo em países onde este sistema está implantado há mais anos e sem as perversões muito nossas. Até me confessam o inimaginável para eles, a abstenção.
Quem esteve na Coreia do Sul diz-me que lá não se vêem livrarias. Todos lêem em aparelhos electrónicos. Este Mundo aproxima-se aterradoramente de uma mistura de argumentos de ficção científica, abarcando o 1984 e o Fahrenheit 451.
Também confirmei que, ninguém achando o presidente sírio boa peça, têm maior receio do que podem trazer os rebeldes, guerrilheiros bem armados, que muito têm perseguido os cristãos. Embora as notícias tentem disfarçar, todos sabem o que se tem passado com os cristãos no Iraque, no Irão, na Líbia, no Afeganistão, no Egipto e agora na Síria.
Podem não se ver muitas caixas multibanco, mas achei original existirem algumas em restaurantes ou bares.
Embora se veja arquitectura moderna, algumas vezes sóbria e bonita, podemos deliciar-nos com a preservação do património e até o aproveitamento de fábricas antigas para apartamentos.
Esplanadas e mais esplanadas. Os povos mais a norte sabem como ninguém aproveitar o ar livre até ao primeiro nevão.
Não me consigo concentrar no avião. Estes suecos são muito faladores. Ainda dizem mal dos espanhóis…
Agora, no metropolitano, estranhei a língua que alguns falavam. Acordei estremunhada. Português! Cheguei a casa.
Leonor Martins de Carvalho
terça-feira, 10 de setembro de 2013
ETERNA DÚVIDA
Sendo Setembro mês de Equinócio, por que razão cheirará sempre tanto a recomeço e a regeneração, qual ponto extremo de partida ou de chegada, como se de um Solstício se tratasse?
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
CADERNOS INTERATLÂNTICOS (33)
Decisiva para o desfecho da chamada II Guerra Mundial foi a decisão de Rosenfeldt, ou melhor, Roosevelt, de armar a União Soviética do “Uncle Joe”. O presidente americano, de certeza embalado na doce melodia dos “amanhãs que cantam”, enviou ao camarada georgiano 490.000 camiões (a ofensiva “aliada” na Europa utilizou 420.000), 23.000 aviões e canhões anti-aéreos, mais de 10.000 blindados de combate, 2.000 locomotivas, 11.000 carruagens de comboio, centenas de milhões de litros de combustível, quase 20 mil milhões de dólares em fornecimentos diversos, etc. Como resultado do simpático gesto do velho Franklin, meia Europa – e não só – pagou a factura com sangue e escravidão por meio século. Ásia, Ibero-américa e África foram devidamente contempladas com o respectivo quinhão. A factura portuguesa, enviada em parcelas, foi pesada – afinal, um Portugal euro-ultramarino, e ainda mais governado segundo o interesse nacional, era um estorvo inaceitável para os grandes senhores do planeta. E que dizer quando pensamos na pobre rica Angola, onde, no meio de matanças e destruições inenarráveis, a tirania marxista sustentada pela URSS e as grandes empresas petrolíferas internacionais coabitavam modelarmente? Cada dia estou mais convencido de que há para aí uma força antiga e oculta que criou uma coisa que dá pelo nome de “capitalismo” e outra conhecida por “socialismo” para melhor dominar as sociedades. Dá com uma ou com outra a fim de manter o gentio na senda desejada. Mais do que sócios no essencial e adversários do acessório, capitalismo e socialismo são criados do mesmo patrão. Aí está uma boa chave para a compreensão da História.
Até para a semana.
Marcos Pinho de Escobar
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
CARTEIRA DE SENHORA
DIA 83
Recostada numa espreguiçadeira, de chapéu de palha e óculos escuros, uma bebida de duvidosa cor pousada em mesinha ao lado, a carteira abraçou e adoptou o vocábulo férias em todo o seu esplendor, ignorando sobranceiramente as minhas tarefas.
Quem tem férias, aproveita-as como pode e sabe. Desfruta os dias todos no mesmo local ou vai estando às pinguinhas em cada sítio, aterra nos mesmos cantinhos seguros de há gerações ou vagueia, aventureiro, pelo desconhecido, quer seja na praia, no campo, na selva ou na cidade, fora ou dentro do país. Todas têm sabor ainda que não o mesmo.
São doces as memórias das férias que fui tendo mas, por variadas razões incluindo aquelas em que estão a pensar, há muito que não largo as raízes. Relembro aqui outras férias, tempos antigos, o clã reunido, a minha avó sobretudo, as tradições, os gestos aprendidos com a Chica e o Adriano Lourenço para tarefas já quase perdidas na voracidade destes tempos que não conhecem a palavra vagar nem a sabedoria de antanho.
Há sempre trabalho, mas como bem sabem, não é a mesma coisa. E com uma qualquer melhoria, mesmo mínima, na casa ou no jardim, conquisto o Mundo.
Confesso que, por vezes, o trabalho, o outro, ainda tem o atrevimento de vir espreitar e pairar um pouco na mente, mas é vencido em batalha leal pelo prazer do dolce farniente e da libertação do relógio.
Além disso, se realmente o quisermos, podemos fingir viver no País do nosso contentamento. Sem politiquices e negócios que nos dão volta ao estômago.
Não há nada que pague o pão à porta, o sapateiro inventivo com solução para tudo, os passeios turísticos na zona, os bailes de Verão, comprar papel de carta avulso, ouvir histórias antigas, bater com a aldraba em casa sem campainha, a hospitalidade do bolo de mel e do licor especial mesmo em visita surpresa, ralharem connosco pelas traquinices de pequena, partilhar memórias, escutar conselhos.
Não há nada que pague a rega do fim do dia, o cheiro a lavado depois, o banho no pequeno tanque após um dia de calor infernal, encontrar os carvalhinhos que rebentaram, beber pelo cocho a água sempre gelada da fonte, reconhecer nos lençóis os monogramas de várias gerações, o desabrochar repentino das beladonas, o regresso dos pássaros ao fim da tarde, o cão a pedir asilo em noite de trovoada, as leituras sossegadas, comer pêras e pêssegos da quinta, ir às amoras, as sestas.
Não há nada que pague uma noite calma de Verão na varanda, ouvindo a conversa da brisa, o silêncio cheio dos ruídos certos, o deslizar lento do tempo pelas horas.
Queremos que sejam eternos esses momentos. Guardá-los no regaço da memória. E depois, sentarmo-nos nele, para sempre.
Leonor Martins de Carvalho
Recostada numa espreguiçadeira, de chapéu de palha e óculos escuros, uma bebida de duvidosa cor pousada em mesinha ao lado, a carteira abraçou e adoptou o vocábulo férias em todo o seu esplendor, ignorando sobranceiramente as minhas tarefas.
Quem tem férias, aproveita-as como pode e sabe. Desfruta os dias todos no mesmo local ou vai estando às pinguinhas em cada sítio, aterra nos mesmos cantinhos seguros de há gerações ou vagueia, aventureiro, pelo desconhecido, quer seja na praia, no campo, na selva ou na cidade, fora ou dentro do país. Todas têm sabor ainda que não o mesmo.
São doces as memórias das férias que fui tendo mas, por variadas razões incluindo aquelas em que estão a pensar, há muito que não largo as raízes. Relembro aqui outras férias, tempos antigos, o clã reunido, a minha avó sobretudo, as tradições, os gestos aprendidos com a Chica e o Adriano Lourenço para tarefas já quase perdidas na voracidade destes tempos que não conhecem a palavra vagar nem a sabedoria de antanho.
Há sempre trabalho, mas como bem sabem, não é a mesma coisa. E com uma qualquer melhoria, mesmo mínima, na casa ou no jardim, conquisto o Mundo.
Confesso que, por vezes, o trabalho, o outro, ainda tem o atrevimento de vir espreitar e pairar um pouco na mente, mas é vencido em batalha leal pelo prazer do dolce farniente e da libertação do relógio.
Além disso, se realmente o quisermos, podemos fingir viver no País do nosso contentamento. Sem politiquices e negócios que nos dão volta ao estômago.
Não há nada que pague o pão à porta, o sapateiro inventivo com solução para tudo, os passeios turísticos na zona, os bailes de Verão, comprar papel de carta avulso, ouvir histórias antigas, bater com a aldraba em casa sem campainha, a hospitalidade do bolo de mel e do licor especial mesmo em visita surpresa, ralharem connosco pelas traquinices de pequena, partilhar memórias, escutar conselhos.
Não há nada que pague a rega do fim do dia, o cheiro a lavado depois, o banho no pequeno tanque após um dia de calor infernal, encontrar os carvalhinhos que rebentaram, beber pelo cocho a água sempre gelada da fonte, reconhecer nos lençóis os monogramas de várias gerações, o desabrochar repentino das beladonas, o regresso dos pássaros ao fim da tarde, o cão a pedir asilo em noite de trovoada, as leituras sossegadas, comer pêras e pêssegos da quinta, ir às amoras, as sestas.
Não há nada que pague uma noite calma de Verão na varanda, ouvindo a conversa da brisa, o silêncio cheio dos ruídos certos, o deslizar lento do tempo pelas horas.
Queremos que sejam eternos esses momentos. Guardá-los no regaço da memória. E depois, sentarmo-nos nele, para sempre.
Leonor Martins de Carvalho
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
LIVRO PARA HOJE (13.000)
Como o Tempo Passa..., de Robert Brasillach, tradução de Paulo Santa Rita, edição Editora Ulisseia, colecção Clássicos do Romance Contemporâneo, n.º 19, Lisboa, 1974.
Fica este volume com o simbólico n.º 13.000 na biblioteca cá de casa.
Com um abraço de obrigado ao confrade e amigo Duarte Branquinho.
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
QUANDO A BOTA NÃO BATE COM A PERDIGOTA
Convidado por um grupo de ilustres jovens académicos conservadores, lá compareci eu ao repasto combinado. Almoçámos no restaurante dum club muito chic. Falaram, entusiasticamente, em tom apologético, da defesa da vida, do casamento tradicional e das famílias numerosas. Curiosamente, embora em idade casadoira e procriadora, eram todos solteiros e sem filhos. Por estas e por outras, não sou conservador, sou tradicionalista.
terça-feira, 3 de setembro de 2013
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
CADERNOS INTERATLÂNTICOS (32)
Certa vez Salazar, referindo-se à vergonha da I República, disse que a política se havia transformado numa actividade pouco digna, para a satisfação de interesses pessoais, apetites de grupos e caprichos das massas. Corrupção em larga escala, enriquecimento à velocidade da luz, nepotismo e clientelismo às carradas, negociatas hollywoodianas, demagogia permanente e na sua versão mais ordinária – constituem o retrato da imensa maioria dos ilustres membros deste areópago indecente que dá pelo nome de Nações (Des)Unidas e que tanto mal vem causando à humanidade desde a sua criação. Mas não é apenas a brigada terceiro-mundista que anda a ostentar tão excelsas qualidades. No chamado primeiro-mundo – a caminho accelerado em direcção ao terceiro – são muitos aqueles que, certamente em diferentes graus, afinam pelo mesmo diapasão. Vejamos, por exemplo, Portugal e a passagem pelo poder de emblemáticas personalidades (denominação um tanto pomposa, reconheço, para a maioria). É injusto, é cobarde, bem sei, mas... compare-se o antes e o depois da hecatombe abrilina. Compare-se o sacrifício pessoal que no Estado Novo impunha o desempenho da função de servir a Nação, com a festança, o regabofe e as conezias proporcionadas pelo direito pessoal de servir-se da Nação. Compare-se o viver modesto dos governantes de antanho com as vidas de estadão dos mediáticos liquidantes e gestores do que resta de Portugal. Compare-se o absoluto respeito por uma escrupulosa separação das esferas pública e privada na realização de gastos com o viver à grande e à francesa com os dinheiros dos infelizes pagadores de impostos. Não, não avancemos mais no tema. É por demais malvado com os egrégios artífices que nos libertaram do malfadado colonial-fascismo e promoveram a invejável grandeza do Portugal de aquém e além-mar.
Até para a semana.
Marcos Pinho de Escobar
domingo, 1 de setembro de 2013
PUTA QUE OS PARIU
Os americanos preparam-se para lançar as suas democráticas bombas sobre a Síria. São já setenta anos de bombardeamentos feitos por esses canalhas contra dezenas de nações. Está na hora de lhes dizermos: basta!
Post Scriptum (01.11.2018) : Passados quase dois anos de liderança Trump já se pode afirmar com alguma segurança que em várias matérias, não tanto noutras, os EUA entraram no bom caminho; ou, pelo menos, desviaram-se do mau.
Post Scriptum (01.11.2018) : Passados quase dois anos de liderança Trump já se pode afirmar com alguma segurança que em várias matérias, não tanto noutras, os EUA entraram no bom caminho; ou, pelo menos, desviaram-se do mau.