quarta-feira, 30 de março de 2011
MACHADADA NA CULTURA
terça-feira, 29 de março de 2011
DA CRIAÇÃO ARTÍSTICA III
DA CRIAÇÃO ARTÍSTICA I
DEVERES SIMPLES DE UM HOMEM DE DIREITA
O resto são conversas.
PARAR E PENSAR A CIDADE
segunda-feira, 28 de março de 2011
EXPRESSO DO OCIDENTE
domingo, 27 de março de 2011
DO DESVARIO EM QUE ANDA O MUNDO
NOTA EDITORIAL
É POSSÍVEL FAZER-SE UMA REVOLUÇÃO ESPIRITUAL?
PODEMOS PASSAR AO LADO DA PRIMAVERA?
sábado, 26 de março de 2011
CATARINA SAYS...
amor é quando a gente mora um no outro...
(daí sentirmo-nos em casa)
- trim trim
- quem é?
- sou tu. posso entrar?
- se és eu, já estás cá, entraste.
- venho lembrar-te que um dia vamos passear de balão.
- vamos. ver o mundo com os nossos olhos, de cima do alto.
- é o balão que nos leva na mesma direcção.
- quero ir contigo prò mundo seja em que direcção for...quero tu porque tu és eu.
- o mundo contigo será melhor, porque nos cumprimos num só.
- onde me viste?
- sempre por aí..
- onde me achaste?
- no lugar de sempre, onde estavas.
- o que mudou?
- foi o vento, e a estação do tempo.
- nada mudou afinal, tudo está igual, porque eu sempre soube. e agora contei-te o meu segredo.
-então foi isso que mudou..
-sim, acrescentou-se foi isto.
- isto é nós.
-é. nunca de mais até.
- amo-te. de sempre.
-amo-te. p'ra sempre.
Catarina Hipólito Raposo
sexta-feira, 25 de março de 2011
SINOPSES BIO-BIBLIOGRÁFICAS DE INTEGRALISTAS LUSITANOS ESQUECIDOS
Iniciou muito cedo produção literária, publicando nos jornais Cegarrega, Mundo Moral e Setubalense a partir de 1911. No ano de 1918 já era director de A Monarquia, jornal do Integralismo Lusitano, Movimento em que militava. Novelista de fôlego, publicou muitas dessas suas obras nas revistas Bertrand, Civilização, Notícias Ilustrado.
Desde sempre se preocupou com temas económicos e sociais e tornou-se Secretário da Presidência do Conselho em 1933. Foi um dos principais teóricos do Corporativismo e contribuiu decisivamente para a legislação que implantou em Portugal o Regime Corporativo. Destacou-se também como membro do Instituto Nacional de Trabalho e Previdência. Ao mesmo tempo que dirigia os Cadernos Corporativos, colaborava com o Jornal do Comércio e das Colónias, o Diário da Manhã e o Século Ilustrado.
Foi ainda um dos fundadores do Círculo Eça de Queiroz.
Dos livros que escreveu, destaco: Fogo de Palha (teatro); Crepúsculo dos Deuses (estudos sociais); A Nação Corporativa; Apologia do Império Português; Portugal, Vasto Império; Factos & Princípios Corporativos; Linha Quebrada (novelas); Código do Trabalho; Portugal e Inglaterra; Problemas do Tempo Presente; As Inocentes (romance); Meridiano de Lisboa.
COMUNICADO
quinta-feira, 24 de março de 2011
DEUS, PÁTRIA E REI
Onde falta Deus, o Rei é como uma árvore sem raíz, casa sem alicerce, poder sem legitimidade; onde falta a Pátria, o Rei não tem razão de ser, porque precisamente o conceito de Pátria é incompleto, se lhe falta aquilo que torna indispensável a existência da Realeza hereditária.
Estas três verdades são irredutíveis; porque se, sem Deus, a Pátria é um mito, sem o Rei, nem o poder de Deus encontra o seu legítimo executor, no mundo da Política, nem a Pátria possui o elo que prende eficazmente, através dos tempos, as gerações, e as torna solidárias ou colaboradoras na procura normal dos seus destinos. É por isto que me oponho sempre ao lugar-comum estafado da «Pátria ao alto!», muito da predilecção de certos pataratas, e não considero doutrinariamente monárquico o que o repete e aplaude.
(...)
E rejeito o lugar-comum, não porque subalternize a Pátria, é evidente; mas porque não distingo a Pátria da Realeza, visto a Pátria portuguesa ter sido obra da Realeza hereditária.
Há quem não goste de que se diga isto e de que se escreva isto. Mas os que não gostam fariam melhor se, em vez de não gostarem, estudassem a História do seu País...
(1882 — 1950)
quarta-feira, 23 de março de 2011
SEM AGENDA
O Urbanismo Modernista e o Novo Urbanismo (Parte III)
Terminada a II Guerra Mundial e nos anos que se seguiram, o urgente esforço de reconstrução do território europeu, principalmente as suas muitas cidades devastadas pelo conflito, traduziu-se numa série de programas de investimento a larga escala nos países mais afectados, como foram a Inglaterra, a Alemanha, a França a Bélgica e a Holanda. Nesses países, assim como, de uma forma geral e pelo menos em certa medida, nos outros países europeus ocidentais menos ou nada atingidos, como foi o caso português, esse enorme esforço, que se prolongou na verdade, ininterruptamente, por cerca de três décadas com o patrocínio maioritário de Estados-providência, foi um processo altamente dinâmico em que as sempre crescentes necessidades de novos alojamentos se ficaram a dever não só às destruições da guerra mas também ao aparecimento continuado de importantes mudanças demográficas tais como superiores natalidades e menores mortalidades, a desruralização progressiva, a mudança dos hábitos familiares e os novos movimentos migratórios.
Naquela primeira conjuntura de emergência, após a guerra, os decisores responsáveis pelo planeamento urbano em cada país abraçaram, qual solução fatal e milagrosa, de uma forma geral e com variações geográficas nas suas formas de concretização, o essencial da doutrina da Carta de Atenas (CIAM, 1933), ou seja, o já mais que uma vez referido (na Parte I e na Parte II deste texto) zoning, que passou a ser, de facto, por substituição das legislações anteriores, a regra geral do urbanismo oficial no pós-guerra. E apesar de todas as evidências que o têm vindo a desaconselhar cada vez mais, o zoning tem sido ciosamente conservado nas legislações nacionais até aos nossos dias. De facto, o típico ambiente construído resultante da sua aplicação, que numa primeira fase de novidade se apresentou como paradigma de progresso e de excitante modernidade, é hoje e de há já muito de todos bem conhecido e experimentado e caracteriza-se precisamente pela aflitiva falta de carácter cívico e urbano, de escala e de qualidade estética necessárias ao equilíbrio humano, de real funcionalidade e sustentabilidade. O tipo de redes viárias desenhadas quase exclusivamente para supostamente satisfazerem os requisitos funcionais do tráfego automóvel entre zonas funcionais separadas - a habitação, o trabalho, a cultura e lazer, etc. - obrigam na verdade, neste sistema, a constantes, penosas e anti-económicas deslocações pendulares e constituem, frequentemente, barreiras físicas inconvenientes dentro da própria cidade.
Por outro lado, as tipologias urbanísticas mais adoptadas (sumarizadas, grosso modo, no modelo "britânico", mais ligado à tradição da Cidade-Jardim, e no modelo "continental", mais directamente tributário das orientações da Carta de Atenas) ignoraram ambas o carácter da rua e da praça tradicionais - não só funcional, de usos mistos, como morfológico e simbólico, de espaços públicos claramente definidos e limitados não só pelos edifícios utilitários e privados como também por alguns edifícios públicos e monumentais, com hierarquia e critério paisagístico. O abandono do modelo tradicional de ruas, praças e quarteirões e o recuo sistemático das construções, ou dentro de lotes ou em espaços abertos, muitas vezes apenas servidas por acessos desligados (os cul-de-sac), conduzem com demasiada frequência à bárbara fragmentação do espaço (sub)urbano, pela multiplicação aparentemente arbitrária das mais variadas construções (circulemos pelo eixo Norte-Sul de Lisboa ou pela VCI do Porto, p. ex.), originando ambientes por força desorientadores e desumanos.
A primeira contestação parcial da Carta de Atenas surgiu dentro do próprio Movimento Moderno, já na década de 50, com o fim dos CIAM - Congressos Internacionais de Arquitectura Moderna, seguido mais tarde pelas vozes dissonantes de vários autores considerados já pós-modernistas, como foi o caso do arquitecto italiano Aldo Rossi, (autor do livro L'Archuitettura della Città, 1966) com a sua crítica da contemporânea falta de compreensão da cidade como artefacto humano construído com o tempo, portador de uma memória, e da importância decisiva dos monumentos e do carácter morfológico dos espaços públicos, mormente a rua e a praça, nesse contexto. Mais radical ainda, no pôr em evidência o valor deste último aspecto das morfologias urbanas, foi o arquitecto luxemburguês Robert Krier, irmão mais velho de Léon Krier, no seu influente livro Stadtraum in Theorie und Praxis, 1975. Contudo e como atrás referi, de uma forma geral o decisivo e nefasto zoning, pela sua própria lógica irreformável, incompatível e hostil à cidade tradicional, foi continuando a vigorar nas legislações e na prática.
Paralelamente, no entanto, a cidade tradicional europeia e os seus insubstituíveis valores vivenciais, nunca deixaram de estar presentes nas intenções de muitos arquitectos e urbanistas, por norma ignorados, para não falar já das suas presenças na vida vivida ou no coração da esmagadora maioria dos cidadãos. E começaram também a surgir, com o tempo, notáveis exemplos de novas e inovadoras iniciativas particulares de inspiração tradicional, ao arrepio das políticas oficiais modernistas e da ortodoxia cultural "urbanística e arquitectonicamente correcta". Entre outros projectos urbanos pioneiros e dignos de menção, ocorre-me referir os dois seguintes, a título de exemplo:
A nova vila marítima provençal de Port Grimaud, pelo francês François Spoerry, 1964;
e o Pueblo Español, em Palma de Maiorca, que é uma espécie de resumo da Espanha concentrada num bairro, muito à semelhança do nosso Portugal dos Pequenitos mas em ponto grande, pelo arquitecto espanhol Fernando Chueca Goitia, 1965.
Em 1984 teve início o notável conjunto urbano de Richmond Riverside, no Rio Tamisa, pelo inglês Quinlan Terry, e a 30 de Maio do mesmo ano o Príncipe Carlos de Inglaterra proferiu em Hampton Court um célebre discurso, também conhecido pelo "the carbuncle speech", que imprimiu sem dúvida um importante impulso ao mais recente movimento de afirmação da arquitectura e do urbanismo tradicionais na Europa. Em 1988, Léon Krier - que tinha estado na Florida com Andrés Douany, onde com este concebeu e lançou a construção da nova vila de Seaside, para além da infuência que exerceu no surgimento do novo movimento New Urbanism, na América - desenhou o plano geral da nova cidade de Poundbury, no Ducado de Cornwall, no Dorset, com o patrocínio do Príncipe Carlos, a qual tem vindo a ser, desde o início da sua construção, em 1993, e até agora, quando ainda só está completada cerca de 30% da sua dimensão total (de 4 bairros autónomos integrados) com conclusão prevista para 2025, um caso paradigmático de sucesso e uma das principais referências do renovado urbanismo de inspiração tradicional a nível europeu.
Detendo-me um pouco no caso de Poundbury, que é uma extensão da pequena cidade de província de Dorchester, e citando um texto de apresentação do Ducado de Cornwall, observa-se que a sua filosofia...«não diz só respeito à arquitectura, como muitas vezes se pensa;...a sua ideia central é que um projecto desta dimensão deverá incluir não apenas casas e apartamentos mas também locais de trabalho, lojas, escolas, locais de lazer e encontro comunitário - delicadamente organizados, ao contrário da maior parte dos mais recentes programas de habitação, sendo para tal necessário que os projectistas consigam criar paisagem natural e urbana e um sistema de ruas e espaços públicos que possam encorajar o crescimento de uma comunidade integrada». O mesmo texto apresenta dez princípios estratégicos de actuação que incluem preocupações tais como a compreensão e integração no lugar; a hierarquia a considerar entre os edifícios e os significados relativos dos seus elementos; a escala humana dos edifícios; a harmonia dos edifícios entre si e com o ambiente; a contenção física das fronteiras do conjunto e dos espaços urbanos definidos (ruas, praças e largos); a utilização exclusiva de materiais naturais da região, não estandardizados; uma decoração artesanal que realce a singularidade de cada edifício; um tratamento artístico generalizado, com simbolismo e significado; a escolha criteriosa da sinalética e da iluminação; e por último, mas muito importante, a promoção do sentimento de orgulho e de participação da comunidade, desde o início.
Tal como no caso do New Urbanism, na América, o almejado ressurgimento da cidade europeia será pautado, como temos visto - apesar das diferenças ditadas pelas respectivas tradições culturais - pelos mesmo conjunto nuclear de princípios básicos, ou seja, a criação de comunidades integradas e participativas, idealmente com variedade sócio-económica, cultural e etária, através de vizinhanças e bairros bem definidos e minimamente autónomos, com usos mistos e não só a habitação, com dimensões ditadas pela facilidade geral de acesso pedonal ao centro (tempo típico de acesso não superior a 5 minutos), e com prioridade para o peão sobre o carro; os tipos de malhas urbanas, espaços públicos, escalas, arquitecturas e materiais, são também, naturalmente e de preferência, os da cidade tradicional, não por qualquer arbítrio de cariz ideológico ou meramente estético, mas porque sempre se têm revelado, de facto, os mais eficazes, sustentáveis e humanos.
Hoje em dia, a corrente do urbanismo e da arquitectura neo-tradicionais forma já uma apreciável rede mundial integrada, com mútua influência entre os seus dois grandes polos americano e europeu. Uma panorâmica do seu desenvolvimento recente na Europa, ainda minoritário relativamente às correntes modernistas dominantes, apesar dos progressos, pode ser vista, por exemplo, no sítio electrónico do forum internacional A Vision of Europe, sedeado em Bolonha. Pelas suas realizações até agora, a frente e o grosso do movimento tem-se distribuído por Inglaterra, França, Alemanha, Bélgica, Holanda, Itália e Espanha.
Como se observa, Portugal situa-se ainda bastante na cauda desses progressos. Até quando?
Francisco Cabral de Moncada
O 9 SERÁ DE «NOVES FORA, NADA»?
terça-feira, 22 de março de 2011
DO FUTURO DO CINEMA PORTUGUÊS
O que quero dizer com isto é que Portugal precisa de fazer um Cinema com uma linguagem autêntica, que corresponda de facto ao modo de pensar e sentir dos Portugueses. O teste parece-me fácil: se o público gostar é porque os filmes são genuínos. Este tornou-se, aliás, o principal problema; as pessoas andam zangadas com os filmes portugueses. Como às vezes sucede na vida, até se zangam com o que desconhecem; mas, cheira-lhes que nem vale a pena espreitar. E — atente-se —, o povo é sábio nos seus instintos, por mais ignorante que possa parecer e — hoje, infelizmente — ser.
O Cinema é uma necessidade cultural do século XXI, como já tinha sido, também, durante todo o século XX — ou, pelo menos, desde que criou, para si próprio, as bases estéticas para se exprimir de forma autónoma em relação às outras Artes (esse nascimento da linguagem cinematográfica deu-se com Griffith, em 1915). Portanto, se um País não for capaz de criar produtos no domínio da maior indústria cultural conhecida, é lícito afirmar-se que está a abrir uma brecha para a entrada de filmes estrangeiros que venham ocupar esse espaço. Não há aqui qualquer nostalgia do tipo «patriotismo da sardinha assada», que, desde sempre, me repugna. Há, isso sim, a consciência de que um Povo só tem futuro se existir culturalmente, e que, sendo o Cinema a maior e mais moderna forma de expressão artística, quem não tem filmes, a que possa chamar seus, é como quem não tem Língua.
Os filmes de uma Cinematografia Nacional reconhecem-se de imediato. Todos nos quedamos fascinados perante o Cinema Clássico Americano (o das décadas de 1930 e 1940), como certamente admiramos — os que o conhecemos… — o Cinema Mudo Alemão e Russo, ou, ainda, nos identificamos com o Cinema Moderno Italiano e Francês, para só falar dos exemplos mais divulgados da História do Cinema.
A estas fitas associamos rostos e corpos — as «estrelas» (do que os americanos chamaram «Star System»). Reside aqui uma lacuna nacional a superar urgentemente: o Cinema Português precisa de novas estrelas, como de pão para a boca. São elas que alimentam os sonhos dos espectadores na sala escura, através de processos de identificação ou negação, amor ou ódio, fascínio ou repulsa (sem entrar em tretas psicanalíticas, que só servem par esvaziar de magia e sensualidade personagens e pessoas). Certo, certinho, é que sem o brilho das estrelas o Cinema não cativa. Uma estrela é mais do que um bom actor. Tem aquele «não sei o quê» que só o espectador, no seu íntimo, sabe reconhecer; e, primeiro do que ele, o realizador — a quem cabe a tarefa de descobrir, revelar e lançar esses seres únicos. Apesar de tudo, Portugal teve já as suas «divas» do celulóide.
Outro aspecto fundamental a não perder de vista são as histórias que estão na base dos filmes. Tecnicamente designados por argumentos ou guiões — após a sua passagem para linguagem cinematográfica —, é nestes que reside o segredo do sucesso das películas.
A propósito, ocorre-me dizer o seguinte: «Pela boca morre o peixe»; isto é, podemos ter uma iluminação magnífica, belos enquadramentos, actores irrepreensíveis, e tudo o mais; mas, se os diálogos forem ridículos — sabem do que estou a falar… —, a fita não tem pernas para andar.
Antes de chegar aos diálogos, no entanto, o tropeção pode ainda dar-se numa outra fase — na história, propriamente dita (aproveito a ocasião para perguntar se alguém sabe porque carga de água é que ultimamente aparece história impropriamente escrita?...). Esta, pode ser baseada numa obra literária (falando-se, assim, em adaptação), ou escrita de raiz (argumento original). Aqui, é obrigatório ter a noção de que escrever para Cinema não é o mesmo do que escrever um livro ou ser-se jornalista… Há toda uma técnica que urge aprender e dominar. Graças a Deus, temos bons exemplos portugueses para estudar.
Se o Cinema é a Arte da repetição (mas essa é outra conversa), aproveito para deixar aqui mais um dito que anda na boca do nosso povo há anos, e que reza mais ou menos assim: «Tendo nós novecentos anos de História, com tantas histórias, porque é que não retiramos daí inspiração para criarmos argumentos para os nossos filmes?». Pois… Não sei, ou prefiro não saber. Mas, é fácil de perceber que a vida de Dom Afonso Henriques daria uma extraordinária longa-metragem, com todos os ingredientes de que os espectadores gostam: um herói, acção, aventuras, perseguições, sexo, amor, batalhas, viagens, paisagens, mistério, segredos, traição, ódio, sangue, e por aí fora… Já que estamos lançados, aproveito para lembrar que todo e qualquer um dos nossos Reis daria um filme de fundo bom em qualquer parte do planeta. Não é exagero, é uma convicção formada no visionamento e análise de centenas de filmes históricos. Um possível slogan para estas películas de época seria: «Oitocentos anos de Monarquia são a nossa garantia».
Pelo meio — entre as histórias, que se escrevem e planificam a fim de passarem a imagens em movimento com som e tudo, e as estrelas, também já nossas conhecidas, que brilham na tela — ficam os recursos técnicos de várias áreas estéticas: imagem, som, montagem, direcção artística (cenários e guarda-roupa). Nestas matérias, não julgo haver problemas de maior. Afinal, temos dos melhores profissionais do mundo nestes ofícios artísticos. Bem sei que alguns andam lá por fora a lutar pela vida, mas talvez regressem para ajudar a criar, definitivamente, uma Indústria de Cinema em Portugal. Havendo mercado, haverá dinheiro e remuneração condigna para quem a merece.
Falemos então agora de mercado, palavra que aparentemente não cola com Arte. Mas se não casar é que é o diabo, pois a Arte ficará solitária e estéril… É chegada a hora de deitar fora todos os preconceitos contra a relação dos filmes com o público. As fitas só têm razão de ser na medida em que comuniquem com as pessoas e que estas se revejam nas películas. Tudo isto pode — e deve — ser feito sem cedências de carácter artístico. Um bom filme deve ser fruído por toda a gente (note-se que o público não é uma massa e é composto por indivíduos de culturas e sensibilidades distintas), com prazer e proveito, à medida dos seus apetites estéticos, ou, simplesmente, lúdicos.
Entendamo-nos: os mais simples contentar-se-ão com a superfície do filme, os mais atentos mergulharão na história, e os mais exigentes tirarão as suas próprias conclusões. As grandes fitas estão assim construídas. São feitas a pensar em todos, mas à medida das necessidades e capacidades culturais de cada um.
É tudo tão simples que quando oiço para aí certos pequenos e médios intelectuais da nossa praça a escreverem palavras extraordinárias sobre Cinema, que só servem para complicar o que é claro como a água límpida, até me arrepio todo.
Finalmente, guardei ainda um pouco de tinta para falar de financiamentos. Embora Portugal tenha hoje — mais do que nunca — uma burguesia burgessa, inculta, e pouco dada a investimentos culturais (salvas raríssimas e honrosas excepções), é aí — apesar de tudo — que reside a esperança para um salto de escala da produção nacional. Os cineastas do futuro terão de libertar-se dos subsídios, e começar a pensar na preparação dos seus projectos com outras mais saudáveis engenharias financeiras. Todas as grandes Cinematografias estrangeiras (tirando a Soviética) se edificaram sobre uma estrutura económico-financeira empresarial privada. Já tinham reparado nisso?
E, por aqui me fico, antes que ofenda alguma alma mais sensível de algum confrade cinéfilo...
Apesar de todo o meu desgosto, atrás expresso, em relação ao actual panorama do Cinema Português (sendo sério, não poderia ter dito outra coisa), a minha esperança é muito maior do que o meu pessimismo e acredito no surgimento, no século XXI, de uma Indústria de Cinema em Portugal (feita por portugueses, mas aberta às co-produções lusófonas e europeias) capaz de produzir obras suficientes, em qualidade e quantidade, para serem exportadas para o planeta inteiro, superando barreiras linguísticas com boas traduções e legendagens, e, especialmente, tratando assuntos que cativem os públicos mundiais pela sua originalidade e identidade.
Em frente, Cineastas do meu País!
segunda-feira, 21 de março de 2011
EXPRESSO DO OCIDENTE
A notícia vai correndo, franjas do país entusiasmam-se: Sócrates falará à Nação pelas 20h00 e algumas almas bondosas mantêm a esperança de que o homem apresente a demissão. Como é evidente, não é esse o argumento da fraca curta-metragem. Convicto de que o seu governo arde em lume brando e de que pior ficará depois de conhecido em todo o seu esplendor o PEC4 - e os que eventualmente se lhe seguissem -, o engenheiro entendeu ser este o momento politicamente mais interessante para se deixar cair e aparentemente assim será: o plano vai ao parlamento, a oposição chumba-o e a criatura, daqui por semana e meia, voltará às televisões com ar de vítima para, então sim, decretar com ar enfadonho mas grave que a oposição não o deixa governar, especialmente agora que "iria aumentar as taxas cobradas à banca" pelo que "assim não há condições para prosseguir o caminho por uma sociedade mais justa e mais solidária". Naturalmente, usará mais meia dúzia de frases feitas mas sem conteúdo, rematando que solicitará ao "Senhor Presidente da República" que "devolva a palavra ao Povo". Feita a declaração - e cá estamos para ver se eu não tenho razão… -, seguirá com o ministro Silva Pereira e uma corte de assessores para a Bica do Sapato (a maior parte dos ministros restantes seriam barrados à porta em face da reserva do Direito de Admissão que vigora na casa), onde degustará algumas das coisas mais simpáticas da restauração ribeirinha enquanto se ri, ele e os demais comensais, da quantidade de malta que daqui por dois meses voltará a sufragar entusiasticamente o PS e as virtudes do xuxalismo democrático.
O que nos leva a outra questão: vão ver os meus caros amigos que, confirmando-se a anunciada marcação de legislativas antecipadas, a maior parte dos nossos patrícios depositará a esperança e o voto nos dois partidos que há mais de três décadas são responsáveis com razoável dose de exclusividade pelo estado a que isto chegou. Não se desse o caso de haver gente que está à rasca e sem qualquer responsabilidade pelas escolhas maioritárias e era caso para dizer que o país tem (e terá) exactamente aquilo que merece. Um case-study para a psiquiatria de massas.
As breaking news não mentem, nada há por estes dias que corra bem ao nosso engenheiro: insensível às amizades dos socialistas portugueses e às necessidades da máquina de calcular do extraordinário ministro Teixeira dos Santos, a coligação militar aliada declara o ataque à Líbia e ao regime de son ami Kadhafi. Por cá, fecha-se mais uma torneira. Por lá, pelos lados dos altos comandos aliados, é toda uma nova oportunidade que se abre. Compreende-se: o complexo militar-industrial andaria fraco de negócios e o presidente Obama, o tal que iria fechar aquela coisa humanitária de Guantanamo e que a fazer fé na esquerda lusitana transformaria o Pentágono num imenso festival de Peace and Love, terá sido sensível à necessidade de transmitir alguma confiança ao sector. Afinal de contas, a Sérvia e o Iraque já vão lá longe e a indústria do humanitarismo aliado não se alimenta a manifestações do bloco… sem dinheiro não há palhaços. De modo que cá vai disto: PUM!
Como bem observou a propósito o meu amigo Bruno Oliveira Santos (que o é também do dono desta recomendável casa que me acolhe às segundas-feiras), "O Nobel da Paz está a bombardear a Líbia. Por este caminho vai ganhar outra vez o prémio."
Mas se Obama é demasiado sensível, outros há que o não são: insensíveis ao facto de, à semelhança dos líbios, também termos que levar com um engenheiro há mais anos do que aconselharia o bom senso e sem que aparentemente tenhamos feito mal adicional que o justifique, as lusas televisões plantaram-se em Viseu para nos massacrarem em formato non-stop com o Congresso do CDS, um partido estimável (de quando em vez…) e onde conto alguns amigos embora ele não conte com o meu voto. A espaços, vou deitando a vista pelo conclave na esperança de uma ideia nova. Nada, zero. Para memória futura ficam as sucessivas lágrimas do dr. Portas que, ao que parece, passou o fim de semana a emocionar-se com os abraços e os elogios característicos do habitual one man show. O mesmo dr. Portas que saneava (e bem!) ministros laranjas ao tempo do Independente e que agora reduziu as suas ambições a três ou quatro pastas ministeriais (com os respectivos assessores), de tempos a tempos, a troco de fazer de muleta do agrupamento laranja - embora a encenação implique que diga o contrário nestas ocasiões de maior fervor clubístico. Diz que é isto a direita portuguesa…
Curiosamente, ao passo que vou espreitando a caixinha que mudou o mundo, ocupo o tempo em simpática sessão de divulgação do melhor que a Direita portuguesa (com letra grande e sem itálico) tem: as artes e as letras. A ajuda num trabalho de casa da minha filha mais velha - onde frequentemente sou forçado a suprir as falhas dos programas de ensino pátrio -, presta-se a uma incursão agradavelmente demorada pela Poesia, pela Portugalidade e pelos aspectos em que as duas se cruzam: percorremos algumas páginas de Rodrigo Emílio e de António Manuel Couto Viana, dois nomes grandes das Letras que felizmente tive o prazer de conhecer e que são convenientemente ignorados pela cultura de mediocridade patrocinada pelo chamado Arco Constitucional e, por maioria de razão, pelos programas oficiais que sucessivamente vão ajudando a formar jovens cada vez mais estupidificados. Ora, convenhamos, eis uma missão de Interesse Nacional que vale muitíssimo mais do que uns milhares de votos no CDS.
domingo, 20 de março de 2011
sábado, 19 de março de 2011
CATARINA SAYS...
O Plano alto é afinal, o lugar de todas as viagens.
Aqui se descobre então a linguagem dos deuses....
Hoje era para ser assim, e foi.
Os anúncios e os avisos chegam, como telegramas encomendados.
Gozo por antecipação, como me preparando, para nada de nada esquecer, e viver plena aproveitando.
A medida minha transborda e tropeço, tropeço de ternura e alegria, não não tropeço afinal..antes me sinto a voar.
Então com os avisos digeridos, acordo hoje para o dia. Sabendo que ia ser assim.
Acordo contente, e receptiva de braços todos abertos. Venham os presentes, porque eu quero mesmo recebê-los....
Dia do Pai + Dia de Lua Maior + Véspera de Equinócio + Sol que promete brilhar na subida da temperatura...
Como posso não estar contente e cheia de tanto festejo num só dia? Agradecendo e vivendo, ou vivendo e agradecendo...desde logo. Viva me sinto de tanta vida à minha volta.
Fui para a praia, luz solta, em nada contida. O mar em chão azul que varre a areia, as ondas estão descansadas. O cheiro que estava guardado daquela praia desde o Verão..bebo cerveja e rio-me, entrego.
Volto para casa, com um fito: vou então procurar a Lua.
O céu estava desenhado, como se um cenário fosse, estrelas por todo o lado suspensas que aplaudem, e eu olho-a, A Lua Maior majestosa e segura.
Estou aqui para que me vejas, parece dizer-me em segredo. A infinitude da Lua, posta em mim naquele momento.
Tem dias assim que nos sentimos imortais, porque perpétuamos em sentimento a beleza das coisas simples.
Tem dias que nascem para nos mostrar que a alegria nos faz maiores.
Festejo a vida, que me acolhe num abraço sem fim.
PORTUGAL ESTÉRIL
Agora, passa-se a vida de casa em casa, quais salta-pocinhas, sem rei nem roque, nem filhos à vista. As casas de família deixaram de ser referências para as terras e para os bairros — o povo ficou órfão dos senhores das terras e os bairros perderam as suas mais dinâmicas e ilustres personagens.
Isto não é fantasia. É — desgraçadamente! — a realidade, nua e crua, e passa-se do Minho ao Bairro Alto. Em trinta gerações de portugueses, contam-se hoje pelos dedos as casas que atravessaram o século XX nas mesmas famílias; e, sem estas âncoras, as comunidades abriram portas à desorganização e ao caos, substituindo o alto exemplo das famílias tradicionais pelas novas referências exóticas, sub-urbanas e pequeno-burguesas da televisão.
É o fim.
DIA DO PAI
LUA CHEIA
BLOGUE DO DIA (141)
sexta-feira, 18 de março de 2011
COM O JAPÃO NO CORAÇÃO
Uma belíssima composição feita na sequência da catástrofe que abalou o Japão pelo muito cá de casa Ryuichi Sakamoto.
Sirva esta desgraça para vermos os filmes de Ozu, Kurosawa e Oshima, lermos os livros de Kawabata e Mishima e ouvirmos os discos de Sakamoto. Será uma forma de nos unirmos espiritualmente ao Povo do Japão.
quinta-feira, 17 de março de 2011
quarta-feira, 16 de março de 2011
SEM AGENDA
terça-feira, 15 de março de 2011
segunda-feira, 14 de março de 2011
EXPRESSO DO OCIDENTE
O parlamento, uma das instituições mais cómicas da desinteressante vida política portuguesa, tratou hoje de debater e votar uma Moção de Censura ao governo e não deixou os seus créditos por mãos alheias: a comédia começou com a apresentação da proposta, momento escolhido pelo proponente - o sempre chiquérrimo bloco de extrema-esquerda - para tratar de dizer em voz alta que a censura também se dirigia às bancadas que, vai-se a ver, poderiam aprovar a proposta. A razão desconhece-se, balançando a dúvida entre o excesso de ganzas do aparelho ou o simples serviço a Sócrates. Certo é que, independentemente do frete ao nosso primeiro, a desastrada Moção logo agradou à oposição dita de Direita que, deste modo, arranjou motivo para tratar de segurar o desgoverno socialista por mais algum tempo. No final, o resumo televisivo do exercício de esquizofrenia seria já estudado pelos melhores gabinetes de psicologia do planeta: as bancadas parlamentares da "oposição" levantavam-se para desancar o executivo recordando as suas compulsivas mentiras para, momentos depois, inviabilizarem a queda do governo. Há quem garanta que é para repetir com brevidade e eu, cidadão atento, até acredito que sim e que uma das próximas encenações possa trazer melhores resultados aos pagadores de impostos cá do burgo. De qualquer modo e na dúvida, sempre vos digo que se perderam esta ocasião, repete sempre mais que não seja pelo menos no período de Natal, no Chen ou no Cardinale. Casas igualmente divertidas e que até ficam a ganhar, parece-me, no profissionalismo dos executantes.
O dia informativo arranca cedo: nos salões da pasta do Tesouro que andam a montar com o dinheiro que diariamente nos levam, o notável Ministro das Finanças anuncia ao país que, afinal de contas, é preciso sacar mais uns cobres. Parece que é o PEC4, o que me permite pensar que esta rapaziada das contas, apesar da distribuição dos famosos Magalhães munidos de folha de cálculo, não as sabe fazer com rigor categórico. Desta vez comem logo à cabeça os reformados, são eles a pagar a sustento dos boys. Isto nas gordas, dado que a lista de pilhagens era grande e, para alguns especialistas em entrelinhas, promete até o pagamento do 13º mês em papel de parede - para não lhe chamar pior. A má-fé do governo não impressiona: anunciam-se as medidas menos de vinte e quatro horas depois da tal Moção, sem dar conhecimento prévio ao Presidente da República (que, não se iludam, vê a pilhagem como "inevitável"), e ao mesmo tempo em que o inenarrável Sócrates seguia para as Europas com discurso pronto e com o intuito de apresentar a quem manda o excel com os novos roubos. O verdadeiro problema desta gente que se apanhou ao leme é que, bem vistas as coisas, aquelas cabeças já engendraram o PEC5, o 6 e os seguintes, mas vão lançá-los a conta-gotas e em função dos seus exclusivos interesses pessoais e partidários. Preparem-se pois, que isto vai doer.
Curiosamente, já ao final da noite, o dr. Passos Coelho subiu ao púlpito para assegurar que não apoia semelhante ataque às nossas carteiras (como já não apoiava o anterior, o Orçamento de Estado, etc.), garantindo com pose nervosa e pretensões de estadista que desta vez o PSD não viabilizará o furto. Pode ser então que tenhamos eleições para breve. Desculpar-me-ão a falta de esperança mas nesta coisa do dr. Passos Coelho, que antevejo um Sócrates laranja, tomo as célebres precauções de São Tomé.
E o governo ficou à rasca! Só entre Lisboa e Porto, mais de duzentas mil pessoas encheram a Avenida da Liberdade e os Aliados, numa manifestação que surpreende pelo seu carácter transversal e heterogéneo. Falo com conhecimento de causa, meus amigos, desci do Marquês ao Rossio, subi ao Camões e voltei a fazer o percurso inverso. Vi comunistas, bloquistas e anarquistas? Vi aos magotes, claro. A manifestação era isso? Não, não era e não foi independentemente do que a imprensa possa querer transmitir - e quem de facto lá esteve sabe bem que não falto à verdade. Cumprimentei aliás inúmeros amigos e camaradas que também disseram presente. E vi outra coisa importante: um protesto que em significativa parte dos casos era genuíno e não instrumentalizado - quem souber fazê-lo que o aproveite, a oportunidade está aí! - e, fundamentalmente, um mar de gente que se percebia (e ouvia) não votar habitualmente. Por cansaço, por desilusão, por revolta. Acresciam centenas de mensagens politicamente interessantes: contra a partidocracia e os seus boys, contra a maçonaria e os seus tentáculos, pela Soberania Nacional e contra a falta de vergonha. Regressei a casa com a sensação de que existe margem bastante para uma alternativa; com a noção de que quem a quiser desenhar terá forçosamente que sair à rua ao encontro destas muitas pessoas que estão fartas, que estão à rasca, que ainda se indignam e que estão disponíveis para reinventar alguma esperança. Fica um conselho: falem-lhes em coisas do mundo real, falem-lhes nas cada vez maiores complicações da vida de todos os dias. É que grande parte dos portugueses está mesmo à rasca e, tentando sobreviver, não tem grande tempo para esoterismos, percebem?
domingo, 13 de março de 2011
DE PORTUGAL AO JAPÃO
LIVRO PARA HOJE (118)
REVELANDO UM SEGREDO
BLOGUE DO DIA (140)
sábado, 12 de março de 2011
CATARINA SAYS...
A PROFUNDIDADE DA INDIFERENÇA É ALÉRGICA À FLOR DA PELE.
MANIFESTAR - É DAR VOZ AO QUE SE SENTE.
DAR VOZ AO QUE SE SENTE DE BEM OU MAL É UMA FORMA DE LIBERDADE.
LIBERDADE DA EXPRESSÃO PELA EXPRESSÃO.
DEVEMOS ISSO A NÓS PRÓPRIOS POR UMA QUESTÃO DE RESPEITO E
CONSIDERAÇÃO AOS SENTIMENTOS DE CONTENTAMENTO
OU DESCONTENTAMENTO QUE NOS HABITAM, A VIDA NA ALMA, NO CORPO E NO ESPÍRITO.
PORQUE UMA SOLUÇÃO SATURADA É UM PROBLEMA, TEMOS DE AGIR E ENFRENTAR A CAUSA,
A ACREDITAR QUE A NOSSA VOZ COMUNGADA COM A DOS OUTROS, FARÁ A AGULHA MUDAR.
MUITAS VOZES A FALAREM DO MESMO TÊM MUITO MAIS FORÇA DO QUE UMA SÓ.
MUITAS VOZES EM CORO, OUVEM-SE MELHOR E CONTAGIAM A VONTADE.
AQUILO DE SER MORNO PELA INDIFERENÇA NÃO DÁ.
O MORNO NÃO TEM SENTIDO PORQUE NÃO TEM ALMA. NÃO FALO DO SILÊNCIO,
FALO SIM DA INDIFERENÇA EGOÍSTA QUE NOS LEVA A FICAR QUIETOS
E A ENGOLIR A CUSTO AQUILO DE QUE DESISTIMOS SEM TER TENTADO,
SÓ PORQUE SIM.
POR ISSO VAMOS, DEVEMOS IR. DAR O CORPO, A ALMA E A VOZ AO MANIFESTO.
FICAR CALADO, NESTE CASO, É CONFORMAR-SE, É DIZER QUE SE ACEITA,
AQUILO QUE NÃO SE ACEITA.
IR EM FRENTE, PARA MUDAR, IR EM FRENTE PARA RECUSAR O ESTADO DAS COISAS,
QUE JÁ NEM TÊM ESTADO - DE TÃO POUCO CONSISTENTES QUE SE TORNARAM.
OS OUTROS NÃO NOS ADIVINHAM, NÃO SABEM O QUE SABEMOS,
NEM O QUE SENTIMOS SE CALARMOS A VOZ.
DAR VOZ À VOZ É ESTAR VIVO, É REVELAÇÃO DA FIDELIDADE A NÓS MESMOS.
TORNAMO-NOS MAIS FORTES POR ISSO.
PORQUE NOS CONFIRMAMOS, ATRAVÉS DE NÓS E DOS OUTROS.
MAIS DO QUE UM DIREITO - ESSE É UM DEVER, NOSSO,
E DOS OUTROS QUE FAZEM PARTE DO MAPA.
A ENERGIA CONVIDA À SINERGIA.VAMOS? JÁ LÁ ESTAMOS.
quarta-feira, 9 de março de 2011
SEM AGENDA
O Urbanismo Modernista e o Novo Urbanismo (Parte I)
A começar na Europa e nos Estados Unidos e a acabar, hoje em dia, na generalidade das metrópoles e, mais ainda, nas gigantescas - para lá de tudo o imaginável - megalópoles dos cinco continentes, não só o seu aspecto visual caótico e incompreensível, como inclusivamente toda a vivência diária experimentada pela generalidade dos habitantes dessas novas paisagens, construídas posteriormente à Segunda Guerra Mundial - as quais afectam e fatalmente condicionam, directa ou indirectamente, tudo o mais num vasto raio em seu redor - não podem deixar de nos fazer sobressaltar, interrogar e indignar.
Este problema das condições da vida urbana actual, trata-se sem dúvida de um resultado parcial, embora obviamente do máximo alcance e importância para todos - pessoas, famílias, comunidades, nações, continentes inteiros - de um conjunto extremamente complexo de fenómenos dinâmicos, a várias escalas - local, regional, continental, mundial - e de várias naturezas - económica, política e geo-estratégica, ambiental, cultural, religiosa - os quais, se bem que infinitamente justapostos e interdependentes, nos conduzem todos, ou a maior parte deles, assim o julgo, à fonte de onde dimanam principalmente: o paradigma de desenvolvimento vigente de há cerca de dois séculos a esta parte, ou seja, a nossa civilização industrial, materialmente tornada possível pelos fantásticos progressos da ciência e da técnica e pelo consumo dos combustíveis fósseis baratos, e culturalmente dirigida pela família das correntes de pensamento que triunfaram, até ver - a ideologia da modernidade - definida com maior rigor a partir dos Iluminados da Baviera e de Rousseau, que se caracteriza pela emergência metafísica do homem rebelde (1), e por isso revolucionária, anti-tradicional e aberta ou dissimuladamente totalitária, que tem vindo a assumir as várias formas históricas de todas conhecidas, desde o liberalismo selvagem do século XIX ao actual liberalismo democrático, híbrido não menos selvagem, radicalmente ateu e mundialista, passando pelos vários totalitarismos sangrentos do século XX. Temos vivido portanto, de há longo tempo, no Ocidente, embora também, aqui e além, com felizes lacunas e oásis, tempos essencialmente revolucionários e contrários às verdadeiras liberdades necessárias à realização da vida humana natural, ou seja, para um crente como eu, aquela que não só nos foi dada, como também nos foi destinado reconhecê-la e praticá-la, pelo Criador de todas as coisas.
Foi este longo parágrafo acima para por ele começar a enquadrar histórica e culturalmente a evolução do urbanismo dos últimos cerca de oitenta anos até ao que hoje se nos apresenta. A arquitectura e o urbanismo modernistas emergiram decisivamente no período de entre-guerras, com a recepção verificada, por algum público mas sobretudo pelas elites bem pensantes da época, das propostas dos arquitectos modernistas dos anos vinte e trinta do século passado, entre os quais se destacou, de longe, pela sua larga influência, o ideólogo da arquitectura e do urbanismo Le Corbusier, em 1926 com a apresentação dos seus 5 pontos da Nova Arquitectura, e posteriormente, em 1933, com a redacção da chamada Carta de Atenas, saída do IV Congresso Internacional de Arquitectura Moderna - CIAM.
A Carta de Atenas, que veio a ser mais tarde, sobretudo depois da II Grande Guerra, a bíblia do urbanismo modernista, revelou-se essencialmente um manual técnico de desenvolvimento industrial. Tendo sido apresentada com o louvável objectivo de resolver o problema das más condições de vida, mormente da classe operária, na cidade industrial, bem como o congestionamento do transito atribuído às malhas urbanas cerradas e a falta de suficiente espaço público para o lazer e a cultura, o seu pressuposto essencial consistiu em pensar a cidade - em consonância com o alegado Zeitgeist - como uma verdadeira máquina - a Cidade Funcional - objecto esse a concretizar primordialmente através do chamado zoning (segregação espacial dos vários tipos principais de funções numa cidade: residencial, comercial, industrial, lazer e cultura, etc., interconectadas por vias de acesso rápido), complementado com a criação de vastas áreas de parque ajardinado, ocupadas com grupos de arranha-céus isolados, para as ocupações terciárias e a habitação das classes superiores, e com numerosas unidades lineares de habitação colectiva extensiva.
O zoning - hoje em dia já largamente desacreditado tanto por força dos muitos efeitos destructivos provocados nas cidades tradicionais europeias (lembro, entre nós, a bárbara destruição realizada em grande parte da Alta de Coimbra para a concentração da Cidade Universitária, ou as ameaças, felizmente não concretizadas, do "saneamento" de uma área significativa da Ribeira do Porto ou da demolição de parte Bairro Alto, em Lisboa) como também, e certamente com maior razão ainda, no caso dos incontáveis novos aglomerados e extensões urbanas, que não merecem o nome de cidade, dado o tipo de vida urbana que neles fatalmente criou, com as constantes e penosas deslocações pendulares entre centro e periferia, a criação de sítios geralmente sem carácter e sem alma e a desumanização ou mesmo a completa anulação de toda e qualquer experiência cívica - continua a reflectir-se, contudo, de forma bem patente e durável, na feição geral dos ambientes urbanos no Ocidente e não só, apesar das tentativas de correcção, as quais, todavia, raramente abordam os aspectos essenciais do problema. O crescente número de demolições e de implosões de edifícios modernistas é deste fracasso apontado um claro sintoma.
Traz-me isto à memória, infelizmente, a verdade contida no seguinte aforismo de Nicolás Gómez Dávila: «o homem moderno destrói mais quando constrói do que quando destrói».
Na próxima semana introduzirei o movimento urbanístico alternativo, nascido há cerca de três décadas nos Estados Unidos e já hoje aí com larga implantação, e com bastante influência também na Europa e noutros pontos do mundo, que dá pelo nome de New Urbanism.
Francisco Cabral de Moncada