quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007
A páginas tantas, nos cadernos de apontamentos, ou blocos de notas (chamem-lhes como preferirem), encontramos postais, fotografias, bilhetes de concertos, convites de exposições, folhas da Cinemateca dobradas em quatro, folhas sêcas de árvores, recortes de jornais, pedaços de papel com números de telefone, e mais mil memórias dispersas em suporte bidimensional — tudo muito bem prensado pelo peso das capas duras.
DA MESMA ORDEM
As imagens que se põem nos blogues são como as fotografias que se metem entre as folhas de um caderno de apontamentos.
INTANGIBILIDADE DO AMOR ABSOLUTO
Tetralogia de amores frustrados: Amor de Perdição (1862), de Camilo Castelo Branco; Benilde ou a Virgem-Mãe (1947), de José Régio; O Passado e o Presente (1970), de Vicente Sanches; Fanny Owen (1979), de Agustina Bessa-Luís.
terça-feira, 27 de fevereiro de 2007
DE HOMEM PARA HOMEM — III
«Blitzkrieg Bop», Ramones.
Ao vivo, em 1977, no mítico e desaparecido GBGB de NY.
Esta vai para o BOS — de Mozart a Ramones, sempre!
COISAS LEVES E PESADAS
Eu, por mim, nunca serei popular. Todas as minhas obras são feitas para homens escolhidos e não para o povo. Triste sorte a dos que escrevem para as massas, em vez de escreverem para certas pessoas que têm simpatias e tendências iguais às nossas.
Popular! Ninguém se magoe de não o ser. Mozart e Rafael nunca o foram. Não me comparo a esses nomes sublimes; mas tudo o que é grande e ilustrado pertence exclusivamente à minoria. A minoria representa a razão pura; a maioria é o símbolo do turbilhão, da paixão, da irracionalidade...
Popular! Ninguém se magoe de não o ser. Mozart e Rafael nunca o foram. Não me comparo a esses nomes sublimes; mas tudo o que é grande e ilustrado pertence exclusivamente à minoria. A minoria representa a razão pura; a maioria é o símbolo do turbilhão, da paixão, da irracionalidade...
CAMILO CASTELO BRANCO
(1825 — 1890)
(1825 — 1890)
BAÚ DA HISTÓRIA
Tenho um amigo — daqueles que já os nossos Pais e Avós eram amigos, o que é uma garantia, nestes tempos de amigos da onça — que decidiu abrir o baú. Bem sei que é coisa de saudosista (cuidado, palavra maldita!), mas também me quer parecer que, cada vez mais, as pessoas procuram caixinhas de recordações que façam ressoar memórias perdidas. Vão lá espreitar, à confiança; e, se for caso disso, digam que vão daqui.
LONDON AT SUNRISE
Earth has not anything to show more fair;
Dull would he be of soul who could pass by
A sight so touching in its majesty:
This city now doth like a garment wear
The beauty of the morning; silent, bare,
Ships, towers, domes, theatres, and temples lie
Open unto the fields and to the sky,
All bright and glittering in the smokeless air.
Never did sun more beautifully steep,
In his first splendour, valley, rock or hil;
Ne'er saw I, never felt, a calm so deep!
The river glideth at his own sweet will:
Dear God! the very houses seem asleep;
And all that mighty heart is lying still.
Dull would he be of soul who could pass by
A sight so touching in its majesty:
This city now doth like a garment wear
The beauty of the morning; silent, bare,
Ships, towers, domes, theatres, and temples lie
Open unto the fields and to the sky,
All bright and glittering in the smokeless air.
Never did sun more beautifully steep,
In his first splendour, valley, rock or hil;
Ne'er saw I, never felt, a calm so deep!
The river glideth at his own sweet will:
Dear God! the very houses seem asleep;
And all that mighty heart is lying still.
WILLIAM WORDSWORTH
(1770 — 1850)
(1770 — 1850)
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007
THE FAIRIES' SONG
By the moon we sport and play;
With the night begins our day:
As we dance the dew doth fall;
Trip it, little urchins all,
Lightly as the little bee,
Two by two, and three by three,
And about go we, and about go we.
JOHN LYLY
(1554 — 1601)
With the night begins our day:
As we dance the dew doth fall;
Trip it, little urchins all,
Lightly as the little bee,
Two by two, and three by three,
And about go we, and about go we.
JOHN LYLY
(1554 — 1601)
ON STUDIES
1. Some books are to be tasted, others to be swallowed, and some few to be chewed and digested — that is, some books are to be read only in parts; others to be read, but not curiously; and some few to be read wholly, and with diligence and attention. Some books also may be read by deputy, and extracts made of them by others; but they would be only in the less important arguments, and the meaner sort of books; else distilled books are, like common distilled waters flashy things.
2. Reading maketh a full man, conference a ready man, and writing an exact man: and, therefore, if a man write little, he had need have a great memory; if he confer little, he had need have a present wit: and if he read little, he had need have much cunning, to seem to know that he doth not.
2. Reading maketh a full man, conference a ready man, and writing an exact man: and, therefore, if a man write little, he had need have a great memory; if he confer little, he had need have a present wit: and if he read little, he had need have much cunning, to seem to know that he doth not.
FRANCIS BACON
(1561 — 1626)
(1561 — 1626)
[Nota: Não fiz actualização ortográfica.]
UPGRADE
A. envia-me um mail, B. liga-me para o telemóvel, C. faz-me uma chamada para o telefone fixo, D. escreve-me uma carta, E. encontra-se comigo, F. reaparece.
A CADA PESSOA O SEU MEDIUM CONFORME A MENSAGEM E O MOMENTO
Mando um SMS a A., envio um mail a B., ligo para o telemóvel de C., faço uma chamada para o telefone fixo de D., escrevo um post no blog dedicado a E., converso ao vivo e a cores e cara-a-cara e tête-a-tête e o diabo a sete com F.
domingo, 25 de fevereiro de 2007
O SENTIDO DA VIDA
Se não fosse Católico, não amasse a Pátria, e não tivesse na Família uma prioridade, os Domingos seriam de profunda depressão. Assim, são de pura redenção.
DOS LIVROS (2)
Este postal serve apenas e só para registar aqui o meu próprio espanto por ter demorado mais de um mês para que entitulasse «DOS LIVROS» uma «entrada» (tem piada, é a primeira vez que lhe chamo assim; não restam dúvidas de que a Língua está sempre em evolução...) no blogue. Entretanto, aproveitei para rebaptizar o anterior de «DOS LIVROS (1)».
DOS LIVROS (1)
Os meus preferidos são os volumes de consulta: dicionários, gramáticas (mas não as uso; e, nota-se, eu sei), enciclopédias, atlas e bibliografias. Dão-me a sensação de que mando neles.
TUDO
Escrevi o que tinha a escrever, vi o que tinha a ver, li o que tinha a ler, falei do que tinha que falar, tratei do que tinha de tratar. Por hoje, já está. Que mais pode um homem querer?...
PRIMEIRA VEZ
Tive, há pouco, uma surrealista tentativa de utilização da ferramenta (é assim que se diz, tipo oficina, não é?) Chat do Gmail. Hei-de lá voltar, embora aquilo me tenha parecido um bicho de sete cabeças...!
[Nota (em 03.3.07): Entretanto, tornei-me um expert; espero que seja para toda a vida, como andar de bicicleta; mas, com a diferença de que, neste caso, não me esquecerei de quem me iniciou — um eterno bem-haja.]
APANHAR O COMBOIO EM ANDAMENTO
Dei vinte anos de avanço aos computadores, dez à internet e cinco aos blogs.
VAMOS LÁ A VER
Que ainda me chamem «Johnny Fire», ao fim de todos estes anos, só me anima; espero é estar à altura do epíteto, e não me queimar.
sábado, 24 de fevereiro de 2007
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
NOTA SOLTA
Vou ali tomar café e já venho. Com sorte, ainda encontro alguém que goste de conversar (arte esta do campo da Arqueologia).
HÁ MALES QUE VÊM POR BEM
Os tempos difíceis servem para separar o trigo do joio: de um lado, ficam os «amigos de Peniche»; do outro, os Amigos.
(PRE)CONCEITOS — 1
Nada tenho contra os que pensam de forma diferente de mim; mas, repugnam-me — esses sim — os que não têm ideias próprias.
DEDICATÓRIA
Este blogue não é uma agenda. Por isso, poderá acontecer eu falar aqui só amanhã de momentos passados hoje — ou até só daqui a uma semana, ou quando calhar, ou quando me apetecer; trata-se de ganhar balanço com a lucidez da distância para melhor entrar em profundidade nos temas suscitados pelas diferentes vivências. Aviso já é que, actualmente, e de há três meses para cá, adormeço e acordo todos os dias a pensar na debilitada saúde do meu Pai. Vou também aí — por estranho que possa parecer — buscar forças, pois sei que, se pudesse, ele gostaria de ler este blogue. Assim, é ao Pai que em primeiro lugar dedico estas linhas diárias mal amanhadas de aprendiz de escriba.
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007
DESCOBRIMENTOS (III)
Cheira bem, cheira a Lisboa. Um blogue de supremo bom gosto, que se dedica a publicar imagens antigas da Capital; e não só. Obrigatório para alfacinhas de gema e apaixonados de fotografia. Entra-se por aqui.
DESCOBRIMENTOS (II)
Para quem tem fé no olfacto como sentido mais espiritual (estás aí, Sofia?), cheira-me que esta é uma achega aconchegante: Blog de Cheiros, de uma Senhora autora de blogues, que também não tenho o prazer de conhecer.
DESCOBRIMENTOS (I)
Por hábito, não falo com desconhecidos. No entanto, não posso deixar de referir este delicioso espaço, que é feito por alguém que desconheço e que revela ter um carácter original. Ainda por cima, teve a amabilidade de referir o meu blogue (como é que me terá descoberto?...); e, finalmente, tem, no seu, umas ligações irrepreensíveis (diz-me com quem andas...).
PESSOANO (II)
Lisboa dá-me tudo o que preciso, para ver para o exterior. Falta-me só o jardim com vista para o Tejo e tudo, para fazer a minha viagem interior.
PESSOANO (I)
Na impossibilidade de ter várias existências terrenas, vou experimentando ser múltiplas coisas na vida — sem pseudónimos, nem heterónimos, nem nada.
VIDA MODERNA (III)
O pequeno e médio português moderno viaja no sofá à velocidade do «zapping». Se o Infante, o Gama e o Cabral tivessem tido um aparelhómetro desses, ainda hoje aqui estaríamos no cantinho.
VIDA MODERNA (II)
As antigas comunidades foram substituídas, sem nenhuma vantagem, pelas modernas sociedades; mas, andam todos muito contentinhos com o avanço civilizacional.
VIDA MODERNA (I)
Jacques Tati devolve-nos o mundo como que num espelho hiperbólico, pondo bem à vista o ridículo da existência humana nas sociedades contemporâneas.
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007
PEQUENAS EFEMÉRIDES
Este blogue completa hoje um mês. É para vocês que o faço; egoisticamente, bem sei, pois a interacção que a partir daqui se vai fazendo, por e-mail e não só, é, para mim, uma fonte de inspiração e de vida, de que me alimento, qual vampiro...
terça-feira, 20 de fevereiro de 2007
REPOR A ORDEM
Acabei de encontrar um livro que procurava há uma semana na minha biblioteca. Antes assim, que perder um livro é como tirarem-me um «parafuso»...
ALERTA AO LEITOR SOBRE A DIARÍSTICA
De todos os géneros literários, nenhum mais híbrido do que o diário. Nele há de tudo um pouco: a crítica impressionista, o poema em prosa, o esboço de conto, o plano de ensaio, a reflexão intemporal, o comentário circunstancial. De tudo, participa um pouco, nada realiza totalmente. É forma adequada aos temperamentos anárquicos e inconstantes, porque consente a improvisação e a imprecisão, o apontamento e o fragmento. E nem é a via mais segura para a confissão: esta faz-se melhor na terceira pessoa. Por isso os diaristas, que são ao mesmo tempo romancistas, afirmam que o verdadeiro diário se encontra nos seus romances. Depois, é difícil achar a dosagem justa entre o individual e o universal, entre o que é nosso, e nosso permanece, e o que, sendo pessoal, permite no entanto a generalização. Nada é tão difícil como falar de nós próprios: acaba por pecar-se ou por defeito ou por excesso, pela demasiada complacência ou, mais raramente, pela demasiada severidade. Outro perigo do diário reside no predomínio do acidental sobre o essencial, da crónica sobre a introspecção, da opinião sobre a crença. E não vale a pena entrar no problema da sinceridade, pois se toda a arte é artifício, ele tem no diário o seu campo predilecto. Atenção, portanto, à proclamada sinceridade de alguns diários: o autor pretende burlar-nos.
João Bigotte Chorão, Diário Quase Completo, edição Imprensa Nacional — Casa da Moeda, colecção Biblioteca de Autores Portuguess, Lisboa, 2001.
O GRANDE SILÊNCIO
Hoje, apetece-me mergulhar em profundidade dentro deste belíssimo documentário, finalmente estreado comercialmente numa sala de cinema em Portugal, depois da marcante presença no Doc Lisboa 2006. Só estou à espera de companhia para me fazer à estrada, que não estou em idade de me enfiar sozinho na sala escura (na idade do meio, como na primeira e na última, gostamos de ter quem nos quer bem por perto). Obrigado pela dica — com belo texto e tudo —, Inês.
(Ainda não foi desta, Sofia.)
(Ainda não foi desta, Sofia.)
[nota: última frase (entre parênteses) acrescentada a 28. 2. 07]
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007
APOLOGIA DOS BLOGUES
Se é bem certo que não conseguimos escolher quem nos lê — e digo já que há meia dúzia de criaturas a quem dei a dica sobre o meu blogue e que não passaram por aqui, ou fingiram que não... —, por outro lado — e esta é a parte boa —, nem nos melhores sonhos me passaria pela cabeça que através desta janela aberta para o mundo (eis o «blogue-janela» em acção!) eu viria a receber e-mails e telefonemas de pessoas que julgava para sempre arredadas (sem nenhuma razão especial) do meu contacto. Estas, aliás, compensam largamente as outras; têm — além de tudo o mais — a vantagem da surpresa!
domingo, 18 de fevereiro de 2007
MAIS SITES PARA OS ARTISTAS
A minha boa amiga e companheira de ofício (na imagem fixa e na ETIC; para não falar das inesquecíveis aventuras dos anos 80) Luísa Ferreira tem um site (no futuro todos terão o seu, lembram-se?) de se lhe tirar o chapéu. Ora espreitem aqui.
FROM RUSSIA WITH LOVE (ESTA VAI PARA NOVA IORQUE)
Hoje, em Lisboa, às três e meia da tarde, no Grande Auditório da Gulbenkian.
sábado, 17 de fevereiro de 2007
A VIDA TAL E QUAL ELA É
As mulheres têm uma atracção-fatal por loosers; mas, por outro lado, procuram sempre — desesperadamente — os vencedores.
À AZUL GUARDIÃ DE SEGREDOS POR PUBLICAR
As raças afirmam-se pelos génios que contêm. O génio é a voz das Épocas que passam na sua evolução eterna. Passam as épocas, mas a sua voz continua ainda... Portugal que constitui uma raça, que há-de voltar a ser grande quando nós, todos os portugueses que no passado descobrimos o mundo, nos descobrirmos e nos encontrarmos e tivermos a consciência de nós mesmos, Portugal que é uma raça, deu também a esta época um representante. Santa Rita Pintor é em Portugal a mais completa síntese de esta época de estranhas manifestações, que Picasso surpreendeu no seu alvorecer.
Santa Rita Pintor traz consigo a coragem e o orgulho de uma raça.
BETTENCOURT-REBELO, PORTUGAL FUTURISTA, 1917.
Santa Rita Pintor traz consigo a coragem e o orgulho de uma raça.
BETTENCOURT-REBELO, PORTUGAL FUTURISTA, 1917.
IN VINO VERITAS
Os vinhos são como as pessoas: a idade distingue os bons dos que não prestam — os primeiros, amadurecem; os segundos, azedam.
LE VIN DES AMANTS
Aujord'hui l'espace est splendide!
Sans mors, sans éperons, sans bride,
Partons à cheval sur le vin
Pour un ciel féerique et divin!
Sans mors, sans éperons, sans bride,
Partons à cheval sur le vin
Pour un ciel féerique et divin!
Comme deux anges que torture
Une implacable calenture,
Dans le bleu cristal du matin
Suivons le mirage lointain!
Une implacable calenture,
Dans le bleu cristal du matin
Suivons le mirage lointain!
Mollement balancés sur l'aile
Du tourbillon intelligent,
Dans un délire parallèle,
Du tourbillon intelligent,
Dans un délire parallèle,
Ma soeur, côte à côte nageant,
Nous fuirons sans repos ni trêves
Vers le paradis de mes rêves.
Nous fuirons sans repos ni trêves
Vers le paradis de mes rêves.
CHARLES BAUDELAIRE
(1821 — 1867)
(1821 — 1867)
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007
DOS LIVROS QUE NOS TÊM CATIVOS
Antecipando a visão de espanto que uma minha muito atenta aluna, cinéfila e bibliófila dos quatro costados, fará ao ler o livro de Michel Houellebecq, Extensão do Domínio da Luta, que devorei no dia de ontem, em dois tempos. Tentei parar para melhor fruir o prazer propiciado pela sua leitura, mas, não consegui. Experimentei uma ditadura do olhar, como no cinema. Sobre a obra nada mais direi, a não ser que o resultado mais imediato foi ter pegado logo de seguida no segundo título de Michel Houellebecq — As Partículas Elementares — a fim de alimentar mais uma noite de insónia. Pelos autores é que vou; e, se me cheira ser — livremo-nos do ter e do parecer — bom (assim, só, na sua simplicidade), tenho companhia garantida para toda a vida. Por estas e outras, cá em casa, nas estantes, os livros arrumam-se por escritores.
[Óleo sobre Tela: La Lectrice Soumise, 1928, RENÉ MAGRITTE.]
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007
MEIA IDADE
Andei quarenta anos a aprender, vivendo. Agora, espero vir a ter mais outros quarenta anos, para viver o que aprendi.
COISAS DA NET
É impressão minha ou o You Tube e o Site Meter andam mais para lá do que para cá?!...
Calha bem, que assim vou acabar de ler Extensão do Domínio da Luta de Michel Houellebecq.
Calha bem, que assim vou acabar de ler Extensão do Domínio da Luta de Michel Houellebecq.
DE HOMEM PARA HOMEM — II
O meu amigo Pedro Guedes da Silva, que andou no Filipa, mas não é flipado, pois entrou a seguir a 1984 (a propósito, Pedro, vê lá se conheces esta gente), teve a generosidade de querer fazer sair do recato este meu espaço — intimista e confessional —, com aquele seu post.
A terminar, para que os leitores não se sintam enredados em universos sibilinos, faço notar que o título do postal se refere a este outro.
A terminar, para que os leitores não se sintam enredados em universos sibilinos, faço notar que o título do postal se refere a este outro.
APORIAS
Tinha eu ali em tempos exaltado o carácter surrealista — e lúdico — possibilitado por um blogue colectivo, traçando o paralelo com o processo de criação de um «cadavre-exquis», quando, afinal, agora aqui a solo, olho para o ecrã e vejo uma salganhada, na melhor tradição da «escrita-automática». E, o que é grave é que gosto! Já não posso passar sem este meu cantinho de fragmentos colados ao sabor da intuição do momento. E, vai na volta, ainda recebo e-mails de se lhes tirar o chapéu: daqueles que vou levar três dias a responder, para não fazer má figura; ainda para mais, quando vêm de gente bonita, inteligente e culta.
DA IRLANDA COM FULGOR
So the Platonic Year
Whirls out new right and wrong,
Whirls in the old instead;
All men are dancers and their thread
Goes to the barbarous clangour of a gong.
W. B. YEATS, The Tower.
Whirls out new right and wrong,
Whirls in the old instead;
All men are dancers and their thread
Goes to the barbarous clangour of a gong.
W. B. YEATS, The Tower.
AO CUIDADO DOS NAMORADOS CINÉFILOS
O beijo é o ponto final dos metteurs-en-scène sem imaginação e uma simples vírgula para os realizadores que têm mais que fazer...
Os beijos-apoteose, os beijos do cinema, estragaram, desvirtuaram, preocuparam, os beijos naturais, os beijos que se dão na vida. O cinema obrigou-nos a ser os espectadores dos nossos próprios beijos, obrigou-nos a ser críticos severos da nossa ternura e do nosso desejo... Terá saído bem?... E sentimos o apetite de ensaiar, de corrigir, de propor um gros-plan...
Tenho a impressão de que as vedetas, os «virtuoses» do beijo no cinema, devem beijar pessimamente na vida... Os beijos do écran são tão retóricos...
Há beijos no cinema que sabem a números de circo, a números difíceis... E tem-se vontade de gritar, de implorar: «Basta! Basta!»
Os beijos do cinema são beijos com pose mas são beijos sem posse...
In Hollywood, Capital das Imagens, António Ferro, edição Portugal-Brasil, Lisboa, 1931 (prólogo do Autor; capa de Bernardo Marques).
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007
DO CINEMA PORTUGUÊS
«Cinema Nacinal de Dimensão Universal», «Saudades do Futuro», «Alegria de Viver», «Preparando um Centenário», por João Marchante.
A UMA PORTUENSE FEITA AÇOREANA QUE FEZ ANOS ONTEM
«Bela Lugosi's Dead», Bauhaus.
Video-clip com excertos da sequência de abertura do filme The Hunger (1983) de Tony Scott.
terça-feira, 13 de fevereiro de 2007
O ESTADO DOS ESTADOS DO ESTADO
Portugal tem — hoje — o povo mais ignorante, a burguesia mais inculta e a nobreza mais imbecil da Europa.
[Postal reescrito em 14. 2. 07. Volta e meia, irei usar a possibilidade instrumental de reedição propiciada por esta ferramenta on-line que é o blog, sempre convenientemente assinalada entre parênteses rectos. Habituem-se, pois, a reler de cima a baixo este diário na rede.]
LEITMOTIV
Já tinham reparado que Meg Ryan é um anagrama de Germany? Ah, pois é!
A propósito: ainda não desisti de aprender alemão como deve ser... Só estou à espera da professora...
A propósito: ainda não desisti de aprender alemão como deve ser... Só estou à espera da professora...
PARA UMA MARGARIDA INGLESA — A PROPÓSITO DE UMA MARGARIDA AMERICANA
Não me parece que esta rapariga seja alta e magra. Diria até que é equilibradamente mignonne e deliciosamente sloppy (cuidadosamente descuidada; essa é que é essa!) — o que a torna irresistível.
PENSANDO NA TARDE BEM PASSADA NO LARGO DO BARÃO DE QUINTELA COM UMA GRANDE AMIGA QUEIROZIANA
À memória de Eça de Queiroz
(DIANTE DO SEU MONUMENTO)
Nessa estátua se lê, em clara linguagem,
Na perfeita expressão da sua formosura,
Do grande Artista morto a longínqua viagem,
A esplêndida aventura.
Na perfeita expressão da sua formosura,
Do grande Artista morto a longínqua viagem,
A esplêndida aventura.
Nessa estátua encontrais, em mármore revivida
Por outro Artista igual, a sua heróica empresa...
A peregrinação de toda a sua vida
Em busca da Verdade e em busca da Beleza.
Olhos cheios de luz, para a ousada conquista,
Um dia, ei-lo que parte:
Nesse busto de crente, ei-lo o amoroso Artista!
Nessa estátua de Deusa, ei-la a divina Arte!
ALBERTO DE OLIVEIRA
(1873 — 1940)
[Nota: Transcrevo aqui as três primeiras quadras de um poema em dezoito quadras. Estes versos foram escritos para a inauguração do monumento a Eça de Queiroz — em Lisboa, no Largo do Barão de Quintela, em 9 de Novembro de 1903. Foram recitados no local pelo actor Ferreira da Siva, por impedimento do autor.]
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007
À MINHA MUSA
Senhora da manhã vitoriosa
E também do crepúsculo vencido.
Ó senhora da noite misteriosa,
Por quem ando, nas trevas, confundido.
Perfil da luz! Imagem religiosa!
Ó dor e amor! Ó sol e luar dorido!
Corpo, que é alma escrava e dolorosa,
Alma, que é corpo livre e redimido.
Mulher perfeita em sonho e realidade.
Aparição Divina da Saudade...
Ó Eva, toda em flor e deslumbrada!
Casamento da lágrima e do riso;
O céu e a terra, o inferno e o paraíso,
Beijo rezado e oração beijada.
TEIXEIRA DE PASCOAES
(1877 — 1952)
E também do crepúsculo vencido.
Ó senhora da noite misteriosa,
Por quem ando, nas trevas, confundido.
Perfil da luz! Imagem religiosa!
Ó dor e amor! Ó sol e luar dorido!
Corpo, que é alma escrava e dolorosa,
Alma, que é corpo livre e redimido.
Mulher perfeita em sonho e realidade.
Aparição Divina da Saudade...
Ó Eva, toda em flor e deslumbrada!
Casamento da lágrima e do riso;
O céu e a terra, o inferno e o paraíso,
Beijo rezado e oração beijada.
TEIXEIRA DE PASCOAES
(1877 — 1952)
domingo, 11 de fevereiro de 2007
LEITURA PARA HOJE OU O MELHOR DO MUNDO SÃO AS CRIANÇAS
O Melhor do Mundo São as Crianças — Antologia de Poemas e Textos de Fernando Pessoa para a Infância, Manuela Nogueira, Assírio & Alvim, Pessoana / 3, Lisboa, 1998.
EM BUSCA DAS NOVE MUSAS
Eu, rapaz que sempre dei importância aos acasos, não posso deixar de registar aqui que, ontem, uma grande amiga e um grande amigo — dois artistas portugueses que muito admiro como pessoas e que curiosamente não se conhecem entre si — me perguntaram, ambos por telefone, pelo meu trabalho artístico... Não sendo este postal um anúncio, a resposta está no título.
DO BELO ABSOLUTO
Li hoje — de um só fôlego — a colectânea Poesia Grega de Álcman a Teócrito (organizada, traduzida e anotada por Frederico Lourenço, edição Livros Cotovia, Lisboa, 2006). Sem me ver grego, senti claramente que as nossas raízes culturais e estéticas estão ali todas plasmadas. Estou exausto, mas maravilhado.
sábado, 10 de fevereiro de 2007
PAUSA PARA TOMAR BALANÇO
Depois de uma alvorada forçada, para acompanhar actividades desportivas do foro futebolístico, e da respectiva noite anterior mal dormida, devido à já referida incursão cinéfila — e ainda posteriores leituras e escritas postas em dia pela noite dentro —, tenho de acelerar para não adormecer. Dá-me ideia que este som é o apropriado (segue já no próximo postal).
SERÃO PERFEITO
Vi L'Amore — 1.º episódio: Una Voce Umana; 2.º episódio: Il Miracolo (Itália, 1947-1948), de Roberto Rossellini, na Cinemateca Portuguesa. De seguida, a minha tertúlia preferida — 3.º grau do Clube dos Amigos da Sétima Arte — CASA — reuniu-se no bar 39 Degraus, da referida Instituição, onde debatemos as presenças do Sagrado e do Profano neste filme em duas partes. Como convém, as interpretações ficaram em aberto, pois é de Cinema Moderno que se trata. Moderno, mas bafejado pela graça da espiritualidade; e, no entanto, a explodir de sensualidade. Cá por coisas, vou reler o texto de Jean Cocteau — A Voz Humana, radical monólogo para uma mulher subitamente sozinha — que está na origem do primeiro episódio. Estranha forma de adormecer. Depois, vou sonhar com o rosto de Anna Magnani, banhado pela meridional luz solar que queima, ao mesmo tempo que emana (d)o Divino, em Il Miracolo. Finalmente, não digo mais nada, que isto não é uma «crítica», nem tão pouco análise fílmica, mas — apenas e só — notas soltas de visionamento, pela noite dentro, ao correr das teclas.
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007
YOU'VE GOT MAIL
Homenagem pessoal foto-cinematográfica à internet pela quantidade de comunicação de qualidade que me tem proporcionado via correio electrónico desde que embarquei na blogosfera.
E quero mais... (Pensando muito especialmente em alguém que está em Oxford e que não vejo há quinze anos...)
Afinal, há mesmo magia electrónica...!
E quero mais... (Pensando muito especialmente em alguém que está em Oxford e que não vejo há quinze anos...)
Afinal, há mesmo magia electrónica...!
[Nota1: Penúltima frase (entre parênteses) acrescentada a 11. 2. 07.]
[Nota2: Última frase acrescentada a 15. 2. 07.]
[Nota2: Última frase acrescentada a 15. 2. 07.]
POST SCRIPTUM
Escusado será dizer que os aventureiros do postal anterior se comportavam sempre da mesma maneira, ora estivessem no palácio ou na tasca. Destes é que já não há por aí.
QUE SAUDADES
Começar a noite nos salões doirados de uma muito antiga casa senhorial, descermos para tomar café numa velha leitaria, embrenharmo-nos num antro de fado vadio, entrarmos no bar mais in do momento, continuarmos de sítio em sítio — cada vez mais underground; fechando-os a todos —, vermos o nascer do sol no miradouro, e — finalmente — deslizarmos até ao cais para tomar o pequeno-almoço. Tudo isto na Colina Romântica de Lisboa. Ainda se faz?...
DE HOMEM PARA HOMEM — I
Nunca fui rapaz para me deixar impressionar com palmadinhas nas costas e muito menos descambar em elogios mútuos ou andar de condecorações ao peito. Portanto, o que vou dizer vem mesmo cá de dentro: encerrasse eu hoje o blog e bastar-me-ia este post do Paulo Cunha Porto para ter valido a pena esta aventura.
DO TRADICIONALISMO
«Quem não aparece, esquece», diz sabiamente o nosso povo. Circunstâncias obrigatórias várias, de braço dado com outras tantas energias convergentes, ou apenas acasos, fizeram-me reaparecer em algumas ocasiões sociais e aí retomar conversas interropidas há muitos anos; contrariando, assim, uma tendência misantrópica que se vinha agravando ao longo dos últimos tempos. A mais recente actividade — em forma de manifestação gastronómico-cultural (a preferida dos portugueses...) — foi agorinha mesmo. Mais uma vez reencontrei figuras — desta vez eminentes — que marcaram os meus anos de formação intelectual e recordei factos de combates político-culturais pelos meus valores de sempre. No meio das meias-tintas, ainda há Grandes Senhores em Portugal. Distinguem-se pela sua capacidade de fazer corar os conservadores e empalidecer os progressistas.
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007
ALEGRIA DE VIVER
À Inês C. P.
Ontem, tive um fim de tarde de conversa em dia, com memórias à mistura, mas com os olhos postos no futuro, como se quer. Encontrei-me com uma Filipada que partilhou comigo apenas um ano de Liceu — ela de entrada e eu de saída. A miúda cresceu e fez-se uma mulher: achava-lhe piada na adolescência, achei-a interessante agora. É esta, aliás, a evolução própria de uma mulher que seja senhora. Na esplanada, entre imperiais e sob um frio de rachar — que recebemos nos ossos e na alma como um estímulo para a troca de ideias —, recomendou-me Num País Livre (In a Free Country, 1971), de V. S. Naipaul; fiquei a pensar se não teria sido uma indirecta, e que o livro que me queria realmente aconselhar era Meia Vida (Half a Life, 2001), do mesmo autor, certeirinho para este quarentão mais ou menos deprimido. No entanto, com isto tudo — feito o devido balanço —, rejuvenesci um bom par de anos, pois a Filipada em causa é uma encarnação da alegria de viver. Sinto-me contagiado. Oxalá o coração aguente a pedalada.
terça-feira, 6 de fevereiro de 2007
NÃO SABE O QUE HÁ-DE LER?...
Agora, existe um clínico que lhe dá pistas para escolher as melhores letras, neste sítio. Consulte-o.
POR FALAR EM CULTURA...
Acabou de sair o n.º 5 da revista mensal on-line Alameda Digital e este vosso amigo escreve lá mais um artigo para a sua habitual coluna sobre Cinema.
segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007
DA ESTÉTICA
No postal ilustrado animado anterior, temos uma diva do nosso tempo. O fascínio que exerce e que a transforma em musa inspiradora — falo por mim — passa pela palavra; e, aqui, a novidade que introduz na cultura pop contemporânea é o exemplar domínio das línguas românicas, abrindo uma brecha no domínio anglo-saxónico, ao compor em francês no seu primeiro álbum. As ideias devem encontrar a linguagem artística apropriada — uma, pode manifestar-se num bailado; e, outra, numa tela —, para serem comunicadas na sua plenitude (quem nos dera artistas totais — à moda do Renascimento — que se expressassem com igual à-vontade em poesia, dança, pintura, escultura, arquitectura, fotografia, literatura, cinema, teatro, música!). A utilização das línguas obedece, naturalmente, ao mesmo conceito. Havendo da parte de alguém o dom do seu domínio, saber usá-las no momento certo, para canalizar pensamentos e despertar emoções, será apenas uma legítima instrumentalização dos meios na busca da criação do Belo. É só isto a Estética. E nós agradecemos aos estetas.
THESE FOOLISH THINGS REMIND ME OF YOU
«Quelqu'un m'a dit», Carla Bruni.
(Letra: Carla Bruni/Leos Carax; Música: Carla Bruni.)
domingo, 4 de fevereiro de 2007
SOU ASSIM PORQUE... (I)
Aos sete anos li as aventuras do «Tintim», de Hergé (neste ano de 2007 teremos o centenário do seu nascimento — a 22 de Maio —, que não deixarei aqui passar em claro).
sábado, 3 de fevereiro de 2007
DO SOM E DA IMAGEM
O jovem que só recentemente descobriu na música algo mais duradouramente deleitável que melodias que ficam no ouvido, pode passar por uma fase em que o simples surgir de uma tal melodia em qualquer obra o faça desdenhar dela como 'banal'. E um outro jovem, em idêntica fase, pode desdenhar como 'sentimental' qualquer pintura cujo motivo faça um apelo imediato às normais emoções da mente humana. É como se, tendo nós descoberto que há outras coisas a exigir numa casa, para além do conforto, fôssemos levados a concluir que nenhuma casa confortável poderia ser considerada 'boa arquitectura'.
A Experiência de Ler, C. S. Lewis.
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007
EDIE FOREVER
Maureen Tucker canta «After Hours» — canção escrita por Lou Reed em homenagem a Edie Sedgwick (que aparece no videoclip) — no álbum The Velvet Underground (1969) dos The Velvet Underground.
[Nota (6.3.07): Peço desculpa aos meus leitores, mas este video-clip foi retirado do You Tube, por motivos que desconheço, após eu aqui o ter publicado. De qualquer forma, fica assim, que está muito bem.]
ALMADA TODO E TUDO
Acabadinho de vir a lume, o livro Manifestos e Conferências, de José de Almada Negreiros (colecção Obra Literária de José de Almada Negreiros / 5 , edição Assírio & Alvim, Lisboa, 2006), passa pelo crivo do sempre atento Eurico de Barros — que faz o favor de ser meu amigo — numa recensão publicada aqui. O volume já cá canta, e tem feito por me encantar.
AFINIDADES ELECTIVAS
Quando as conversas entre pessoas que não se encontram há vinte anos começam como se tivessem sido interrompidas no dia anterior, estamos perante uma comunhão espiritual só acessível a amigos que se fizeram nos tempos puros da desinteressada e desinteresseira — mas mil vezes interessante — idade da adolescência.
quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007
AINDA AS MULHERES FATAIS
Here she comes, you better watch your step
She's going to break your heart in two, it's true
It's not hard to realize
Just look into her false colored eyes
She builds you up to just put you down, what a clown
'Cause everybody knows (she's a femme fatale)
The things she does to please (she's a femme fatale)
She's just a little tease (she's a femme fatale)
See the way she walks
Hear the way she talks
You're written in her book
You're number 37, have a look
She's going to smile to make you frown, what a clown
Little boy, she's from the street
Before you start, you're already beat
She's gonna play you for a fool, yes it's true
'Cause everybody knows (she's a femme fatale)
The things she does to please (she's a femme fatale)
She's just a little tease (she's a femme fatale)
See the way she walks
Hear the way she talks
«Femme Fatale» (Lou Reed),
The Velvet Underground & Nico (1967),
The Velvet Underground.